Filosofia

O Sétimo dia

      “ E Deus descansa e abençoa o sétimo dia…”

                                              Gênesis

“Tudo está fechado

Tudo está fechado

Domingo é sempre assim

E quem não está acostumado?

É dia de descanso

Nem precisava tanto

É dia de descanso

Programa Sílvio santos

E antes que eu confunda todo mundo

Antes que eu confunda o domingo

O domingo com a segunda

Domingo eu quero ver o domingo passar

Domingo eu quero ver o domingo acabar

Domingo eu quero ver o domingo passar

Domingo eu quero ver o domingo acabar

Até o próximo, até o próximo, até o próximo domingo

Até o próximo, até o próximo, até o próximo domingo”

Titãs – Domingo

triste

De todos os dias da semana, existe um que talvez seja aquele que, se nele acordássemos de um estado de coma de muitos anos, saberíamos identificar sem muitas dificuldades. O domingo se caracteriza por manter suas trilhas sonoras, cheiros e jeitos de se acordar, almoçar, jantar e rotinas até de pensamentos, imagino, desde tempos imemoriais, tamanha a dificuldade de nos libertarmos dessa verdadeira condenação.

Se Deus realmente criou o mundo e começou na segunda-feira, teria muita curiosidade de saber como ele se sentiu na tarde de seu dia de descanso.

Existe uma certa aura facilmente reconhecível e até já se fala de um termo que se não fosse sério, poderia ser uma maneira de expressá-lo chamado “depressão de domingo”. Parece que esse estado de tristeza e ansiedade tem até uma hora para começar, lá pelas 17 horas, quando o dia se encaminha para o entardecer e a sombra da segunda feira começa a atormentar com o pensamento do início de mais uma semana de trabalho, compromissos, e tudo que envolve essa maneira de encarar a vida como se fosse uma batalha feita de sacrifícios.

De alguma forma, poderemos comparar com o que acontece com muitas pessoas nos feriados de final de ano (se ainda não leu, sugiro a leitura do artigo “Depressão de natal”), claro que de forma mais reduzida, mas com grande semelhança no conteúdo emocional.

Mesmo para aqueles que fazem de seu dia de descanso algo prazeroso, o início da noite traz consigo uma melancolia que se pode quase respirar. A televisão mantém programas há décadas, com alguns personagens que parecem imortais, mantidos por uma audiência hipnotizada que entra em transe nos mesmos horários sempre que tocam as músicas de abertura, que, apesar de alguma variação nos arranjos, vez por outra, nos chamam para os pensamentos de sempre e soam como se fossem alarmes que nos despertam para uma sensação de cansaço do que só começará amanhã.

As crianças vão aprendendo com seus pais a se sentirem tristes e ansiosas quando os veem se preparando desde cedo para esse dia que parece tão importante que decreta o início da semana, sem entender o que acontece de tão especial. Tenho a impressão que nesses horários nos lembramos dos sonhos que não se realizaram, dos amores que se perderam e da vida que se escoa cada vez mais rapidamente. Metaforicamente ou não dormimos na segunda feira pela manhã, acordamos no sábado e tudo está passando tão depressa porque percebemos apenas dois dias dos sete de cada semana.

O domingo torna a segunda feira tão pesada que não deve ser mesmo fácil começar nesse dia aquele regime há tanto adiado, os exercícios físicos ou um novo enfoque nos estudos ou trabalho. Isso pode explicar as estatísticas que mostram a manhã de segunda feira com a maior incidência de infartos e suicídios.

E se mudássemos o nome dos dias, trocar o nome pode dar um novo sentido, por que não? Hoje a quinta feira, por exemplo, ganhou o status do dia preferido da semana, afinal trabalhar na sexta feira fica mais leve sabendo-se que depois vêm os dois dias de descanso para a maioria das pessoas. Na quinta, as pessoas saem à noite e se preparam pouco para sexta, afinal chegam tarde em casa da diversão. Só que isso não incomoda tanto quanto dormir tarde no domingo. Ali precisamos ver os melodramas dos programas do final de tarde e da noite, mas é claro que quando nosso time vence isso traz um certo consolo, mas quando perde…

Mergulhamos nas rotinas para não pensarmos em tudo que nos angustia, para fugirmos das dúvidas do futuro, afinal nossas desculpas para tudo que abandonamos, seja por medo ou falta de persistência, já não nos convencem mais.  As horas que antecedem mais uma semana, nos confrontam com uma espécie de realidade cinza e da nossa falibilidade. No domingo, a morte é uma certeza e se isso acontecer rapidamente deixaremos para trás muito do que daria sentido a vida que sonhávamos na época que éramos imortais.

Se você, caro leitor, é vítima dessa depressão de domingo, sugiro que tome medidas urgentes para mudar essa situação. Esperar que a televisão, por exemplo, tire esses programas do ar para que algo mude, pode esquecer!  Comece por agendar para esse dia atividades agradáveis, principalmente para à tardinha e a noite. Que diferença faz se amanhã é segunda feira ou sexta? Se tiver que trabalhar igual no outro dia, quebre esse paradigma e corte mais isso da sua lista de sofrimentos. Alguns podem argumentar que o fato de estarem sós agrava o problema. Afirmo que não, já que posso dizer que é um condicionamento coletivo que atinge os solitários e os acompanhados, afinal temos os momentos que não podemos fugir de nós mesmos e o domingo para isso chega ser perfeito.

Porque não um bom cinema no domingo à noite? Aquela pizza com os amigos, ou mesmo a caminhada que se faz durante a semana a noite, pode transformar o limão em limonada. Só de saber que terá algo que goste para fazer no final do dia, isso já trará certa leveza para o dia todo.

Vá almoçar na casa da sua sogra no sábado, pelo menos vez por outra, e quebre essa rotina que mais parece um encantamento da bruxa má. Lembre que  atitudes novas, resultados novos!

Conta a lenda que  Jesus ressuscitou em um domingo, faça isso com você também!

Psicopatas

 “Quanto maior o homem, tanto maior também o seu potencial de maldade.”

Sabedoria  Judaica

Psicopata

Quando falamos em psicopatas a primeira coisa que nos vem à mente são os mais famosos, os assassinos frios, que viram motivo de filmes e séries americanas, ou então aqueles que cometem crimes cruéis e, muitas vezes em série, os famosos serial killers. Mas, como tudo, a psicopatia existe em vários níveis e nem todos ficam “famosos”, aliás, a maioria deles continua por aí, provocando seus danos e ninguém pensa na possibilidade de ter em sua convivência próxima algum deles, já que o que se tem em mente são os casos mais graves.

Independente do nível, se diet, light ou hard, psicopata é psicopata e a ideia desse artigo é fornecer alguns indícios que possam ajudar a reconhecê-los e começar a tomar cuidado, e a primeira informação que quero dar é que psicopatia não tem cura, ou seja, se convive com ele(a) e se você descobrir que tem um por perto e for uma pessoa importante, não fique na esperança que um dia ele (a) irá melhorar, isso não é possível, já que hoje a ciência identifica que nos psicopatas as áreas do cérebro responsáveis pela empatia, remorso (sentir o sofrimento do outro e se compadecer), apresentam um desenvolvimento menor ou uma diminuída capacidade de funcionamento. Porém, suas capacidades cognitivas e racionais funcionam perfeitamente, o que os torna frios e calculistas ao extremo. Isso quer dizer que são somente racionais, sem capacidade de sentir emoção, ou seja, os meios justificam totalmente os fins.

Os dados estatísticos falam que três homens e uma mulher para cada cem pessoas são psicopatas. Eles nunca e jamais experimentarão qualquer tipo de constrangimento, sentimento de culpa ou lamentarão o fato de enganarem, magoarem e simplesmente usarem as pessoas para atender seus interesses. Eles acham isso a coisa mais natural, justamente pela parte do cérebro, principalmente a parte relativa a sentimentos, praticamente não funcionar. Por outro lado, eles têm um encanto natural, são charmosos (a) e sedutores (a), e como são ótimos atores, afinal só assim conseguem seus objetivos, fazem com que suas vítimas levem muito tempo até se darem conta de com quem estão metidas.

Um dos sinais que podem ser percebidos é que eles não conseguem o tempo todo esconder sua face má. Ao mesmo tempo em que são simpáticos e agradáveis, às vezes deixam escapar ações ou pensamentos impulsivos, violentos ou preconceituosos. Como ótimos atores, o psicopata se faz de “coitado” para captar a pena e simpatia de sua vítima. Aliás, é importante colocar que as principais presas são justamente pessoas de bom coração, muito solidárias, sentimentais e carentes de afeto e atenção. Eles criam fortes vínculos de amizade ou de relacionamentos afetivos com o objetivo de, no momento apropriado, dar o bote certeiro. Para se aproximar, criam histórias muitas vezes mirabolantes sobre si mesmo, cheias de encanto e o mais engraçado é que quando um psicopata é pego em suas mentiras, é como se nada tivesse acontecido, nem se importam.

Todo o seu encanto está em se apresentarem muito bem articulados (lembre que normalmente são muito inteligentes), divertidos e muito simpáticos. Apresentam conhecimentos sobre várias áreas como filosofia, artes e atualidades, muitas vezes usando alguns termos técnicos com o objetivo de se tornarem mais convincentes e atraentes. Mas se forem questionados por alguém que seja do ramo específico do conhecimento podem ser logo desmascarados, mas como são hábeis em mudar de assunto, normalmente demoram a ser descobertos.

Nos seus relacionamentos são controladores, sempre com  mania de grandeza e fazem sempre o outro sentir-se culpado, assim vão exercendo seu domínio e manipulação de forma sutil e profunda, deixando sempre a outra pessoa em “dívida” emocional.

Apresentam também uma capacidade bastante reduzida de autocontrole e baixíssima tolerância com frustrações, explodindo com violência, ameaças e desaforos. Porém, logo se recompõem como se nada houvesse, sempre explicando sua reação desmedida como uma resposta ao comportamento inadequado de outra pessoa. Lembre que o psicopata é sempre vítima!

De forma geral demonstram uma total ausência de sentimento de culpa por suas ações, apesar de se dizerem comovidos, suas atitudes demonstram o contrário. Aqui, faço um parêntese para reforçar algo que já citei em artigos anteriores; esqueça o que a pessoa diz, avalie apenas suas atitudes. A maioria é ótima de discurso e muito ruim de ação.

Infelizmente, por serem pessoas que convivem normalmente em sociedade, os estudos com psicopatas só podem ser feitos com aqueles que cometeram crimes e estão presos, portanto, nos casos mais graves. Assim, nos EUA, foi feito um experimento com alguns deles, onde era mostrado um vídeo com cenas de extrema violência e crueldade que, em pessoas normais, afetavam (aceleravam) os batimentos cardíacos, justamente pela empatia. Nos psicopatas testados, as piores cenas não alteravam em nada sua emoção, é como se estivessem vendo desenhos animados…

Os psicopatas não gostam muito de rotina, pois tem vício em excitação, logo não se sentirão bem em atividades que exijam muito compromisso e concentração por longos períodos. Não gostam de obrigações de nenhuma espécie, logo são incapazes de serem confiáveis e responsáveis em qualquer área da vida. Se não for do seu interesse, simplesmente não aparecem ou descumprem os compromissos estabelecidos.

Por se tratar de um problema de funcionamento da estrutura do cérebro, o psicopata já nasce assim e assim permanecerá. Seu comportamento doentio já pode ser identificado desde a infância: maltratam animais e outras crianças, mentiras recorrentes, pequenos roubos, trapaças nos jogos e brincadeiras (ignoram as regras para obter vantagens), violência e vandalismo. Todas as pesquisas demonstram que esses tipos de comportamentos na infância e adolescência são fortes indicadores da criminalidade na idade adulta, assim como os estupradores em série normalmente atendem ao diagnóstico de psicopatia. Mas aí você poderia argumentar que nem todos que apresentam esse tipo de comportamento são psicopatas necessariamente. É verdade, mas nunca esqueça que o fator que, somado a esses indícios que indicam a psicopatia, é a ausência de sentimento de culpa e afetividade.

Pela legislação vigente o psicopata só pode receber esse diagnóstico após os 18 anos, antes disso normalmente recebe o nome de “transtorno de conduta”. Esse ponto pode até remeter a discussão da maioridade penal que hoje e de tempos em tempos, volta a baila no Brasil. Como curiosidade, a responsabilidade criminal em alguns países atende a idades bem diferenciadas; Austrália e Suíça é de 7 anos. Dinamarca, Finlândia e Noruega, 15 anos. Na Inglaterra, dependendo do crime com 10 anos ou menos. A questão óbvia é que, em qualquer dessas idades a pessoa sabe o que está fazendo. A educação é sempre caminho, mas no caso do psicopata nada vai cura-lo, e mantê-lo solto (nos casos mais graves) é saber que os crimes se sucederão inevitavelmente.

O que as famílias podem fazer quando, por exemplo, um filho (a) atende aos quesitos e é diagnosticado como “transtorno de conduta”? Nada, além de uma disciplina dura e rígida sempre! Rédea curtíssima, vigilância e um sistema de punição que funcione, poderá, nos casos mais leves e moderados ajustar de alguma forma, mas para a cura ainda não se tem notícia, infelizmente.

A seguir, repasso os comportamentos frequentes que indicam a presença de psicopatia, tendo como fonte o livro “Mentes Perigosas” de Ana Beatriz Barbosa Silva (editora Fontanar), onde mais informações e relatos de casos poderão ser encontrados para maior entendimento do problema:

-Mentiras frequentes

-Crueldade com animais e pessoas

-Não aceita a autoridade

-Impulsividade e irresponsabilidade

-Culpa sempre os outros (papel de vítima)

-Insensibilidade e frieza emocional

-Ausência de culpa ou remorso

-Falta de constrangimento ou vergonha quando pegos nas mentiras ou em flagrante delito

-Dificuldade de manter amizades

-Faltas constantes no trabalho e escola

-violação constante de regras sociais

Evidente que esse é um tema que mereceria mais espaço, mas a finalidade é trazer alguma informação que possa ser útil a identificar se em suas relações possa existir um psicopata e ajudar e entender como são e funcionam essas pessoas. Evidentemente que só um profissional habilitado pode fazer o diagnóstico, mas se preenche a maioria dos quesitos acima, mantenha-se atento!

Nunca esqueça que a grande maioria dos psicopatas não é assassino, mas pode feri-lo material e emocionalmente, sem dó nem piedade, basta ele perceber em você alguma utilidade para seus fins. Eles não tem cara de assassinos ou bandidos, aliás, o mal não tem rosto.

Como formar um “rebanho”

Tudo quanto tenho feito, pensado, sido, é uma soma de subordinações, ou  a um ente falso que julguei meu, por que agi dele para fora, ou de um peso de circunstâncias que supus ser o ar que respirava.

Sou, neste momento de ver, um solitário súbito, que se reconhece desterrado onde se encontrou sempre cidadão. No mais íntimo que pensei não fui eu.

 

Fernando Pessoa- Navegar é preciso

 

Manipulação 1

Deus, sempre ele, desde tempos imemoriais tem sido usado como o maior e melhor modo de controlar as pessoas e manipulá-las. Cabe lembrar que sua existência ainda é controversa, sendo  uma questão de crença, afinal, nunca ninguém o viu ou falou com ele. Até hoje em dia, caso isso aconteça com você, de vê-lo ou ouvi-lo, procure manter um absoluto sigilo, pois se ficarem sabendo seu futuro será um psiquiatra e uma extensa lista de medicamentos.

Assim, aqueles que manipulam as pessoas precisam, para que elas se sujeitem aos padrões de comportamentos desejados, que estejam vivendo duas emoções; o medo de uma eventual punição e a culpa, por terem descumprido alguma “regra”. Some-se a isso, que, para que as regras sejam seguidas tenham, em quem as determine, uma forte autoridade. Dessa forma, quanto mais absurda, maior autoridade precisa ser a do seu autor. Assim, nosso deus, de costas muito largas, coitado, tem visto seu nome ser usado em vão há séculos, para que as pessoas (no caso ovelhas), sigam determinadas normas de conduta, conceitos de certo e errado, que não se discuta ou questione.

E o que é uma norma absurda? É aquela que não seja possível de ser atingida, por estar fora do âmbito humano. Se pensarmos bem, veremos que tudo que é considerado pecado é alguma emoção ou comportamento extremamente natural, ficando, portanto, necessitando de um tamanho esforço pra ser cumprido que o torna irrealizável.  Alguns desses pecados ou mandamentos chegam ao ponto de que é proibido pensar, ou seja, não tem como ser conseguido, afinal não podemos fazer com que nosso cérebro simplesmente não pense. Assim, a pobre ovelha já está em sofrimento, afinal deus está muito irritado com ela por ter esse tipo de pensamento. Então, ela, para se redimir, precisa de uma penitência (punição). Esse tipo de bobagem, como tudo que é cultural e repetido desde a infância vira uma norma de vida e a própria pessoa se pune sozinha pelo seu grave erro (?).

Somente pessoas tristes e quase mortas são manipuláveis, portanto, essas normas visam tirar a alegria, o prazer e a felicidade. Sobra só o sofrimento que nos purifica e nos limpa de nossos pecados que já trazemos, pasmem, desde que nascemos. Isso porque há dois mil e poucos anos crucificaram Jesus que veio para nos libertar e eu, que não estive lá e não participei disso, preciso ter uma vida sem graça e muito chata para pagar esse erro que certamente não cometi, mas que me garantirá um lugar no paraíso dos justos. Inacreditável!

Então, os pastores vão conduzindo seus rebanhos dizendo que comidas gostosas (prazer) é pecado, que sexo é errado, que sentir ira (é instinto) é um pecado capital, que divertimento precisa vir bem depois do trabalho (precisa suar o rosto, lembram?) e que viver é mesmo sofrer, porque um dia, se você fizer tudo certinho ( tiver tido uma vida de sofrimento) será recompensado. Se isso for verdade imagine só a chatice que será viver no paraíso! Que vida eterna mais sem graça, afinal a música permitida provavelmente será a barroca ou sacra, dançar nem pensar, chocolate, riso, romance e divertimento então somente naquele “lugar” para onde vão os que erraram, pecaram e não foram tementes (ter medo) de deus. Imagine só que as pessoas que conseguiram essa façanha precisam ser moralistas, chatas e sem graça. Basta observarmos os exemplos dos futuros candidatos a um lugar no paraíso que ainda estão entre nós. Que tal passar a eternidade com eles?

É claro que todas essas regras não são religiosas no seu sentido último, que seria nos ligar a divindade, mas são normas de conduta e higiene pública. Só acho que os tempos mudaram e passado tanto tempo poderíamos melhorar isso, diminuindo o sofrimento dos incautos que ficam tentando atingir essas metas de comportamento que só serão conseguidas à custa de sua qualidade de vida. Parece que o pessoal do marketing dessas pseudo religiões não estão entendendo que o único público que ainda os aceita são aquelas pessoas que realmente precisam de um cabresto, pois não conseguem viver em liberdade. Os demais, já se afastaram há muito tempo, visto o crescimento de religiões bem mais antigas, vindas do oriente, que parecem respeitar bem mais a inteligência das pessoas.

Essas ideias que nos foram dadas lá trás na nossa infância continuam vigorando, mas já não somos mais crianças! Os pecados que punem os exageros de toda a espécie tem por finalidade nos por em uma certa linha pelo medo. Essa é a maneira de se domesticar as crianças, ameaçando com o “homem da capa preta”, o “lobo mau” e outras chantagens. As pessoas não percebem que cresceram e esses conceitos continuam vigendo em sua mente mesmo depois de adultos e estão norteando suas escolhas.

Assim, nossas religiões ocidentais nada fazem se não reprimir a humanidade das pessoas, as condenando a tristeza e a angústia, onde tudo que é prazeroso é proibido, errado e amoral. Se não podemos ser naturais, somos aleijados! Toda a escolha é correta se for realmente consciente, mas se é feita pelo senso moral é uma obrigação, o que é bem diferente.

Dessa forma, as pessoas mortas-vivas que andam por aí são facilmente condicionáveis e não é difícil lhes vender a ideia que se deve almejar a segurança em tudo como forma de se conseguir a felicidade. Isso é absolutamente impossível já que nada permanece, estando em constante movimento. Assim, é fácil entender as pessoas lutarem para buscar empregos e relacionamentos seguros e estáveis, ou seja, sempre tendo o medo por trás. Diga para uma pessoa realmente livre, se ela aceita em troca de dinheiro passar os próximos trinta anos dentro de um escritório, com uma vida previsível e sem novidades e veja se ela aceitaria.

É justamente por isso que a obsessão pelo dinheiro e o poder tem sido a tônica nesses últimos milhares de anos, porque se pensa que ele vai nos trazer essa liberdade, de se poder realmente viver com alegria e satisfação. Também não vai dar certo, já que se essa plenitude depender dele, faremos o que for possível para tê-lo e isso também é outro nome para a palavra prisão.

Nunca defendo a insanidade, a irresponsabilidade e a falta de ética, mas ser consciente de si e do que realmente se quer. Precisamos de alguma forma nos libertar desse “policial” que colocaram ao nosso lado desde que nascemos e que só nos diz “não” para nossos sonhos de, simplesmente, vivermos com alegria e sem medo.

Sinceramente, se for como parece, estou abrindo mão do paraíso e vou arriscar um local mais animado e quente, afinal a eternidade é longa…

A TERAPIA

“Veio Darwin e nos ligou a um macaco; depois veio Pavlov e nos ligou a um cão; e, depois veio Freud e nos ligou a um falo. E, como os três mosqueteiros eram, na verdade quatro, quero dizer-lhes que, pelo menos um por cento do homem é Deus…”

Oriol Anguera

“Ser normal é a meta dos fracassados.”

Carl. G. Jung

terapia

A psicologia que hoje conhecemos é bastante recente, apesar de o ato terapêutico, enquanto escuta ou psicoterapia, ser tão antigo quanto a existência do homem. Na verdade, a psicologia propriamente dita originou-se da filosofia e eram os filósofos, através de seus questionamentos sobre a verdade, a alma, o universo e tudo que envolve esse mistério que é viver, que primeiro exerceram essa função de psicoterapeutas. Mas, imagino, que desde os tempos mais remotos, quando alguém em angústia se colocava ao lado de outra pessoa, que em silêncio, porque ainda não haviam as palavras, apenas fazia companhia com interesse ou solidariedade, a terapia já existia.

Na medida em que o tempo foi passando, o que hoje entendemos por psicologia, sempre esteve a serviço da cultura dominante em cada época, dando o veredito sobre a sanidade ou a loucura de uma pessoa. Hoje, em sua variação tecnológica, a psiquiatria dispõe de medicamentos cada vez mais poderosos para ajudar a pessoa a manter-se “nos trilhos” ou voltar para eles, sem prejuízo de sua capacidade produtiva, que, no mundo em que vivemos, é o que realmente importa e move todo o sistema de saúde.

O ser humano sempre padeceu de uma enfermidade primária que é a falta de autoconhecimento, já que sem esse saber essencial, as pessoas tornam-se facilmente manipuláveis e perdem sua liberdade. Assim, o que temos visto ao longo do tempo é a psicologia moderna estabelecer limites de normalidade para seres humanos que não tem ideia de quem sejam, ou seja, muito abaixo de suas possibilidades evolutivas. Salvo exceções como os transpessoalistas, Carl Jung e outros que acreditavam que a normalidade é viver a diferença que todos temos, todas as demais formas de psicologia procuram colocar pessoas, que são diferentes entre si, em um “molde” e ajustá-las a ele, sem sequer perceber que isso é a maior violência e insanidade que se possa cometer.

Já escrevi em tantos outros textos, em aulas, palestras e conversas que todas as pessoas que fizeram alguma diferença na história da humanidade eram consideradas loucas em suas épocas. Todos eles pagaram um preço por se recusarem a usar os “óculos” padronizados das massas e decidiram ver a realidade e a interpretarem por sua própria ótica. Apesar de todas as dificuldades, percalços e sofrimento que passaram essas pessoas, elas realmente viveram seu tempo lucidamente, enquanto todos os demais vagaram como zumbis pela sua existência sem nem sequer perceber que estavam realmente vivos.

Por isso que não estranho que em laboratórios de psicologia se façam experimentos com animais. Pavlov nos mostrou como somos condicionáveis com seus cachorros e os símios e ratos ainda são utilizados para que se possa entender como os seres humanos agem. Isso é bem mais do que uma piada de mau gosto. Mas, talvez, você que me lê, possa perguntar:

Mas esses testes realmente funcionam isso está mais do que provado!

Sim, é verdade, mas somente porque uma pessoa completamente inconsciente de si mesma e de seu potencial não difere em nada de um animal irracional, ou seja, que não usa seu potencial humano (superior). Os cachorros, macacos e ratos representam esse ser humano adormecido, condicionável, que vive baseado no medo. Tem dúvida sobre isso? Veja e pesquise sobre a venda de ansiolíticos e antidepressivos em nosso mundo globalizado, moderno e desenvolvido…

A verdadeira psicologia deveria trabalhar sobre o quanto uma pessoa pode se desenvolver e não procurar adaptá-la e acomodá-la a parâmetros de um mundo doente como esse que vivemos. Esse jeito de viver que conhecemos como “normal” é assim: violentam crianças, desrespeitam-se e agridem-se idosos, torna as pessoas compulsivamente consumistas, avalia uma pessoa pelos bens que ela agrega a sua identidade, privatiza a riqueza, globaliza a miséria, sexualiza o pensamento desde a infância e obriga as pessoas a se mutilarem com o intuito de vencer a passagem do tempo e outras tantas, realmente, loucuras.

Portanto cuidado; se você não for assim e não concordar com isso, logo estará se sentindo meio solitário e fora de contexto e precisará de uma “boa” terapia para se engajar novamente e sentir-se acolhido pelos demais.

Trabalhar o potencial de cada um é investir no que torna cada ser humano único. Se fossemos todos iguais, como prega a psicologia da acomodação, todos os DNA’s seriam idênticos. Muitos estudiosos e visionários da verdadeira medicina de almas sempre viram as crises, que hoje chamamos de doenças, como um grito do cachorro, macaco ou do rato que simbolizam essa perda de si mesmo, de querer tornar-se realmente humano! Mas o que se faz? Anestesia-se, acomoda-se, para aceitarmos de bom grado uma vida medíocre, uma angústia suportável pelos bens que compramos e que vão perdendo razão e utilidade cada vez mais rapidamente.

Os sofrimentos psíquicos e, logo adiante corporais, dão-se pelo conflito de quem realmente somos e aquilo que se espera que sejamos. Quando um ser humano coloca em ordem a ecologia do seu Ser, então o equilíbrio ou a cura pode acontecer e isso deveria ser todo o enfoque terapêutico, mas isso só se dá com a vivência de nossa individualidade.

Como nos ensinam os antigos terapeutas do deserto, da época de Jesus, quando nos curamos o universo também se cura. Dessa forma, podemos sim, pensar que a doença do planeta, da sua cultura, é a doença do ser humano, justamente por ela afastá-lo de sua essência.

Vivemos em um mundo que leva a existência muito a sério, tornamo-nos fanáticos pelo que transitório, abandonando nossa verdadeira identidade, aquilo que realmente somos, que nunca nos foi permitido  viver e descobrir, se não estiver dentro do que se considera “normal”.

O ser humano é a mistura da natureza com a aventura, como bem afirma  Jean Yves Leloup. A aventura é a nossa liberdade de interpretar o que nos acontece, dar um sentido novo ao que se passa conosco, à nossa existência, a possibilidade de mudar de vida e de buscar novos desejos e conhecer novas estradas. O terapeuta deveria, porque não, tornar-se um hermeneuta, e sua prática deveria envolver a arte da (re)interpretação, de  ver as situações com outros significados.

Penso que a maior função do terapeuta, talvez não seja a de explicar, mas de estimular a capacidade da pessoa de produzir um novo sentido para aquilo que lhe acontece. A verdadeira psicologia deveria se fundamentar no que cada um tem de mais saudável, mas o que vemos é estruturar-se sobre o aspecto doente e, a partir dai iniciar o que se chama de tratamento.

Nosso limite evolutivo precisa ser parametrizado “por cima”; porque não um Sidarta, Jesus, Sócrates, Mansoor, etc.? Esses até hoje ainda seriam considerados insanos, apesar de milhões se dizerem seus seguidores. Infelizmente o parâmetro do que se espera de uma pessoa é não ser ninguém de especial!

              Há quem diga que um louco perdeu tudo, menos a razão…

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Para saber mais: “Cuidar do Ser” Jean Yves Leloup – ed Vozes

                          Os Mutantes – Pierre Weil – ed Versus

SUFISMO

“ Falo com meu amor interior e digo: por que tanta pressa?
Sentimos que há algum tipo de espírito que ama os pássaros, os
animais e as formigas – talvez o mesmo que deu a você uma cen-
telha no útero de sua mãe.

Você acha lógico estar andando inteiramente
órfão agora? A verdade é que você mesmo se afastou e
decidiu ir sozinho para a escuridão. Agora está emaranhado em
outros e esqueceu que um dia já soube, e é por isso que tudo que
você faz tem em si algum tipo de falha.”
Kabir

sufismo

Falar sobre sufismo é falar de um caso de amor à vida, da alegria de ser e estar consciente e sem medo dessa aventura que é viver. Muitos são sufis sem necessariamente terem sido iniciados diretamente, mas porque seu jeito de sentir a existência os torna assim. Buda era um sufi, Cristo e Maomé também. Mais do que um método, o sufismo é uma maneira de viver. Apesar de ser conhecido como a corrente mística do islamismo, já existia antes de Maomé.

O Sufismo pertence ao milenar grupo de “Escolas da Tradição”, ou seja, são escolas que trabalham para desenvolver a consciência de seus membros com métodos comprovadamente eficientes, alguns milenares, outros adaptados ao que de mais moderno a ciência nos traz. Nesse ponto o Sufismo é único, pois está sempre aberto e em movimento. Em artigo anterior, já falei o sobre o Zen Budismo que, para mim, são as duas Escolas mais eficientes por serem simples e diretas em seu objetivo, cada uma a seu estilo.

O Sufismo é um mundo e não uma visão de mundo, busca a transcendência sem ser uma filosofia de transcendência. Nesse ponto é importante entender o que é “transcendência”. Aqui no ocidente significa algo que não é desse mundo, enquanto que para o oriente, logo, para o sufismo, significa algo que é além do pensamento, e isso faz toda a diferença. O que importa não é diretamente chegar a Deus, mas o caminho até Ele. Muitos sufis não falam de Deus, assim como Buda não falava, mas mostram que a “estrada” até Ele é o que realmente transforma!

Está longe de ser especulativo, porque é prático, com os pés bem fincados na terra, tendo a ação no mundo como meta. Também não é um sistema, na medida em que respeita cada membro, dando-lhe o tempo necessário para ultrapassar etapas, respeitando, portanto, a individualidade. Importante lembrar que todo um sistema busca uma explicação seja para o que venha a se propor. O Sufismo não é assim porque sabe que a explicação está dentro de cada buscador. Portanto, respeita esse Mistério que somos. Como diz Bhagwan Shree Rajneesh, “e’ como um dedo apontando para a lua, o dedo não é a lua, mas nos mostra a direção”.

Esse “método”, se assim podemos chamar, passa pelos contos, poesia, música e silêncios que acompanham os encontros e práticas pessoais. São indícios, favorecem insights, lampejos, não para tornar o “desconhecido” conhecido, porque dessa forma, estaria impondo verdades, mas para que cada um mergulhe em seu próprio Mistério. Os contos, poemas e histórias não são filosóficos, mas indicações (dedos que apontam) e que, além de uma profunda mensagem para reflexão e ensinamento, respeitam, suavemente, o momento de cada um, como uma semente que plantada corretamente escolhe a melhor hora para brotar com vigor.

Os sufis gostam de sentar, conversar e buscar o entendimento escondidos nessas estórias, de pensar livre e profundamente reunidos em um círculo, imagem mais antiga de Deus.

Aquela estória que foi tema de algum encontro, entendida naquele momento, tempos após ganha outro significado, outra profundidade. Por isso, tem por séculos, alavancado consciências e despertando buscadores.

Outras escolas (a maioria delas) têm seu foco na mente, vencê-la e transcendê-la, como o Zen, que é a Escola dos Samurais. O símbolo dos Sufis é o coração. O coração não briga com a mente, é indiferente a ela porque a entende e sabe porque ela é assim, tão mentirosa e insegura. Sua meta é a amorosidade com plena consciência, não são guerreiros, mas amantes, amigos de Deus. Sendo que esse Deus não é uma personificação, mas essa inteligência que cria e faz fluir o universo e que habita como uma centelha no interior de todos nós. O Sufismo busca desobstruir dentro de cada um essa distância e fazer florescer a centelha na sua consciência plena.

Sua pedagogia é feita de lições, histórias e poemas, que para serem apreciadas corretamente precisam de relaxamento, entrega e ausência de tensão. É como tomar um vinho especial ou um chá com um querido e antigo amigo. O caminho é o da leveza, do riso e da confiança.

Os sufis não tem crenças, afinal respeitam todas as correntes e tiram dela o que há de melhor se permitirmos descartar o que sobra, simplesmente porque são pessoas livres, já que crenças significam falta de flexibilidade, tensão e pouca tolerância. Como o caminho é o do coração, buscam a confiança. Crença é da mente, confiança é do coração, por isso que o membro de qualquer religião pode ser um Sufi, desde que esteja de coração aberto e consciência límpida de dogmas e verdades definitivas. A confiança é gentil e livre, a crença agressiva porque está presa. Quando não conseguimos confiar, precisamos de crenças para acalmar nossos medos.

O Sufismo não faz jogos mentais, é prático! Por isso além dos ensinamentos, são oferecidos exercícios que permitem mergulhos profundos no interior, práticas que,  de forma lenta e segura, levam ao autoconhecimento que é o outro nome para Deus. Em suas reuniões, partilham seus sentimentos e percepções. Com isso sempre saem enriquecidos, já que, além do entendimento próprio, ouvem o “sentir” dos demais e a cada sentimento colocado, ampliam e aprofundam o seu.

Sua ritualística é simples, mas de profundo significado. As iniciações são verdadeiros momentos de “despertar” e todo o ensinamento busca manter seus membros perceptivos, vivendo em paz e, por buscarem estar conscientes, aproveitando o que de melhor a vida oferece: o momento presente!

Quando falam de Deus, mostram maneiras de chegar a Ele. Não dizem onde fica o paraíso, mas buscam vivê-lo aqui e agora. Os sufis sabem que fugir do mundo não traz nenhuma descoberta, já que se estão nesse mundo, é para dentro dele, do jeito que ele é que buscam encontra a plenitude. Para o Sufismo qualquer livro é bom; pode ser alcorão, bíblia, Gita, Vedas, Torá etc. Por isso não são nem de longe uma religião, porque sabem onde todas erram, mas trabalham a religiosidade, na medida que sabem que Deus está tão próximo quanto nossa veia jugular. Como dito anteriormente, investigam o essencial de cada religião, filosofia e pensamento, descartando o não essencial, afinal toda essência é eterna, só o que perece é o não essencial.

As estórias sufis não pretendem buscar o status de filosóficas, portanto não existem para serem “discutas”, apenas as ouça como uma criança e vá penetrando no âmago e seu ensinamento vai se revelando. Quando Cristo disse que só as crianças encontrarão o Reino, estava se referindo a essa percepção inocente, viver com leveza em uma saudável brincadeira.

Logo abaixo, uma dessas estórias, assim como o poema de Kabir que ilustra esse texto. Uma das mais curtas e profundas que mostram que a busca é sair dos condicionamentos que nos fazem vagar pela vida sem percepção, apenas repetindo, morrendo sem nunca ter nascido para o que realmente são. Ao final de seus encontros, a despedida não é um “até logo” ou “fique bem”. É um abraço e uma lembrança: Permaneça acordado!!

-Um homem se aproximou de um sufi e perguntou:
-Como se sente?
-Como alguém que acordou pela manhã e não sabe se estará vivo à tarde. Respondeu o sufi.
– Mas isso acontece com todos! Afirmou o homem.
Ao que o sufi respondeu: – Mas quantos tem consciência disso?

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Para saber mais: “A sabedoria das Areias – discursos sobre sufismo” OSHO

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