Reflexão

” A Verdade vos libertará” 2a Parte

 

Para encerrar nossos vídeos do período de férias, apresento uma das 12 partes do documentário ” zeightgeist ” disponível integralmente no youtube. Caso se interesse poderá vê-lo na íntegra. Nesse trecho que apresento, mostra que a ” boa nova”  nem foi tão nova assim, e a história que ouvimos nas aulas de religião, ou no curso da primeira comunhão estava longe de ser algo inédito. Foi apenas uma repetição de fórmulas antigas. Isso não tira os méritos do mito de Jesus, mas nunca é demais sabermos um pouco da verdade. São dez minutos e talvez nem de tempo de comer a pipoca…

Na próxima semana voltamos com novos artigos.

 

 

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Fim de Ano

 

Amigos, ao desejar-lhes um ótimo período de descanso, quero lembrar que nada acaba e tudo é sempre um “fluir”. Os homens inventaram essa história de final de ano porque precisamos de ciclos e oportunidades para recomeçar, portanto, é época de uma parada na caminhada. Dessa forma, enquanto agradeço as visitas ao blog, os comentários e tudo mais, convido a todos a aproveitarem para visitar os artigos não lidos e, se quiserem, comentá-los, basta apenas ir correndo a barra lateral para baixo e ir mudando de página. Procuro sempre escrever sobre assuntos que podem ser pensados a qualquer época, não estando ligados, necessariamente, a algum acontecimento específico. Assim eles não perdem “validade” e podemos refletir sobre eles a qualquer hora. No início de janeiro voltaremos. Enquanto isso, vou postando vídeos interessantes para nossa proposta que é nos conhecermos cada vez mais e, por consequência, termos um melhor enfrentamento no dia a dia. Esse vídeo é muito interessante e engraçado, já que fala com muito bom humor sobre a diferença como homens e mulheres pensam. São apenas 10 minutos de boas risadas e muitas verdades. Sobre essa diferença, de como homens e mulheres “funcionam” escreverei oportunamente.

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=RLbOuHX8rMA[/youtube]

A Questão da Fidelidade (2a Parte)

“Porque eu te amo, tu não precisas de mim.

Porque tu me amas, eu não preciso de ti.

No amor, jamais nos deixamos completar.

Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.”

Roberto Freire – Declaração do amante

Para aqueles que já passaram da casa dos cinquenta anos, com certeza devem lembrar como era um grande assunto na sua juventude quando um casal se separava. As pessoas que passavam por isso recebiam um “carimbo” da sociedade e eram discriminadas como se tivesse algum tipo de doença, os homens bem menos que as mulheres pelos motivos expostos no artigo anterior, mas sofriam também. Hoje em dia tudo mudou. O último censo do IBGE mostra que, se por um lado continuamos casando muito (isso inclui as relações estáveis), nunca houve tantas separações como agora. E a infidelidade feminina iguala-se a masculina, conforme pesquisas de comportamento. O que mudou?

Em minha opinião, basicamente dois aspectos, principalmente: a primeira é que diminuiu a punição social pela separação e, em segundo lugar, o fato das mulheres trabalharem e serem independentes, não mais precisando sujeitar-se a relações insatisfatórias por dependência financeira. Antigamente, esses dois fatores eram os que mais mantinham a maioria dos casais que estavam infelizes juntos. Por um lado, isso ajudava em muito a superar crises conjugais, já que não havia mesmo outro jeito, por outro, pessoas se mantiveram frustradas e infelizes por toda sua vida… Toda essa facilidade que hoje se tem em separar-se traz consigo o inverso: os casais não superam crises (principalmente se não tiverem filhos), mas também não ficam em uniões que não trazem os retornos esperados. Tudo mudou e em muito pouco tempo!

Gostaria de abordar também uma questão que me parece muito relevante e que sempre trato nas conversas com clientes, alunos, palestras, etc. que é a maneira como vemos o casamento em si.

O rito do casamento, na maioria das religiões procura dar a essa união uma “aura” de eternidade, estabilidade, indissolubilidade e comprometimento eterno. Sabemos muito bem que não funciona e isso está diretamente ligado ao tema do artigo anterior!

Durante a época de namoro, tudo sempre é incerto e o casal que está apaixonado procura mostrar um ao outro que é a pessoa “certa” enfatizando as qualidades esperadas e escondendo o máximo que pode seu lado negativo (defeitos) com o objetivo de não decepcionar o parceiro. Isso faz com que a atenção seja total e quase nenhum detalhe passe despercebido. Essa é uma projeção de duas vias baseadas na insegurança dessa fase, o que faz com que o relacionamento seja muito cuidado. Não é à toa que muitos dizem que sentem saudades dessa época…

Quando no casamento prometemos (e fazemos isso porque realmente acreditamos) que será eterno, com as assinaturas, testemunhas, festa e fotos, ganhamos uma segurança (que é contratual e social) por onde iniciam-se todos os problemas que, normalmente vem por diante. Para começar, devido a sentir-se seguros não há mais porque cuidar, já que ou ela é minha mulher ou ele é meu esposo/marido. Imagina-se que aquela pessoa com quem casei, nunca mais mudará e continuará a gostar de mim independente dos problemas e dificuldades, seria isso possível? É claro que não, já que a mudança é um processo inerente a vida, enquanto não mudar é peculiaridade de tudo que está morto. Ao parar de ter os cuidados que tinha com o outro devido a segurança do contrato, coloca-se em risco um dos muitos motivos que fizeram aquela relação prosperar, ou seja, o interesse diário em estar atento às necessidades afetivas um do outro. Osho diz com propriedade que o namoro é algo do coração, portanto vivo, enquanto o casamento* por envolver contratos e compromissos já é algo da sociedade que controla, ligada somente a mente, portanto sem vida. Fica difícil discordar diante do que se vê dia a dia. Tenho tido a oportunidade de presenciar vários relacionamentos, alguns já bem longos que vão muito bem e eles têm como característica esse cuidado, que aqueles que apresentam problemas já não têm mais.

Quando digo que a segurança faz mal e a insegurança faz bem, muitas pessoas pelos seus dogmas e projeções, acham que essa insegurança só pode vir com a possibilidade de relacionamentos paralelos, mas não é. Basta apenas nos lembrarmos que todas aquelas promessas não podem ser cumpridas, já que, no que concerne ao sentimento, jamais poderemos garantir que iremos continuar a gostar de alguém pela vida toda, não há controle sobre isso. Ao saber que tanto o meu sentimento, como da outra pessoa pode morrer por falta de cuidado, isso por si só me ajudará a manter-me interessado e atento e é isso que penso que leva adiante. Ninguém congela em uma foto, tudo muda, quer queiramos ou não. Depois de algum tempo, já não somos mais os mesmos e se não percebemos isso pode abrir-se um distanciamento que, quando nos damos conta, pode estar irrecuperável.

Também é sempre importante mantermos a auto-estima em ordem e isso não pode estar fora de minhas possibilidades. Ao entregarmos nossa auto-estima na dependência de outra pessoa, oferecemos a ela uma segurança em relação a nós que dispensa que sejamos cuidados, afinal demonstramos claramente que sem ele (a) não viveremos bem. Quem está do lado de cima dessa gangorra, normalmente entra em uma zona de conforto perigosa. Aprendemos desde sempre de forma errada que o amor está diretamente ligado ao sofrimento. Se estiver, temos uma relação de dependência de algum tipo o que não combina com esse sentimento trans-humano que é o amor. Para amar, não se pode depender, como nos ensina Roberto Freire na frase que ilustra esse artigo.

Por isso, sempre é bom nos lembrarmos de estarmos atentos às inevitáveis mudanças nossas e do parceiro. Precisamos saber o que é para mim, e para o outro, as atitudes que demonstram nosso querer estar junto. Esses “códigos” mudam com o tempo e, normalmente, não são os mesmos. Se para um é o carinho que demonstra isso, para o outro pode ser atenção e sem a senha certa, não se abre o cofre.

Vemos muitos filmes, lemos muitos livros e poesias que mostram amores “para sempre” congelados na cena ou capítulo final, mas na vida real tudo continua depois da festa e das promessas, a história prossegue. Nesse seguimento, encontramos os conflitos do dia-a-dia, do cansaço e do stress. Nem sempre, como durante o namoro, quando nos encontramos estamos dispostos, felizes e ansiosos para ver o outro(a). Muitas vezes o que queremos é um pouco de sossego e solidão (o que é normal e saudável para homens e mulheres) e somos cobrados com os famosos: “o que é que você tem?”, “No que está pensando?”, e tantos outros…

É sempre importante lembrar que uma relação estável não transforma o “eu” em “nós”. A individualidade precisa ser mantida saudavelmente para que o “nós” seja valorizado. Somos os primeiros e principais responsáveis pelo nosso bem-estar e ao transferirmos para o outro essa tarefa, junto vem as cobranças e o papel de vítima que nunca tira ninguém do lugar.

Portanto é normal idealizarmos esses relacionamentos perfeitos, indestrutíveis e justamente por não serem possíveis, que pagamos os ingressos e vamos às livrarias, para vivermos nessas histórias o que não conseguimos na vida real, justamente por ser real…

Somos seres imperfeitos e fica difícil gerarmos algo perfeito sozinho, ainda mais difícil a dois. Cada pessoa é um “mundo” com suas crenças, expectativas e história pessoal, e se não cuidarmos, com o tempo, ficará difícil acomodarmos dois mundos em um só quarto.

Lembre que somos sempre novos, queiramos ou não, pelas mudanças inevitáveis e se percebermos o outro novo também, todas as possibilidades se abrem! Não devemos nos preocupar em envelhecer com alguém, precisamos nos dedicar a viver bem HOJE com quem está no nosso lado. O amanhã sempre é consequência do hoje. Ansiamos por algo que nos dê segurança, queremos a eternidade, talvez até para muito inconscientemente vencermos a morte. Nessa hora, lembro do nosso poeta Renato Russo que em uma das suas belas melodias nos diz que “para sempre, sempre acaba…”.

Nunca foi a intenção nesses dois pequenos artigos esgotar essa complexa teia que são as relações afetivas humanas, mas abarcar os principais aspectos que na maioria das vezes não pensamos e por onde entram os problemas. O que trato aqui sempre se refere a média do comportamento humano e não às exceções, já que elas apenas comprovam a regra. Pela natureza poligâmica do bicho homem, nossa eventual infelicidade no relacionamento atual, remete a idéia de que com outra pessoa tudo poderia ser melhor e diferente, será? Se fôssemos monogâmicos nem haveria porque discutir esses assuntos, estaríamos condenados a uma só pessoa, quer dê certo ou não. Somos todos “bicho homem” poligâmico, vivendo relação trans-humanas monogâmicas buscando superar nossos limites em busca de superação.

 

*Quando falo de casamento estou dizendo viver junto sob o mesmo teto, compartilhando o dia-a-dia, independente de ter casado oficialmente ou não.

Para aprofundar: Amores perfeitos , Miguel Ângelo Gayarsa

 

A Questão da Fidelidade (1ª Parte)

Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento.
Machado de Assis

Meus amigos, esse assunto que vou tratar hoje é controverso, vai ser extenso, mexe com muitos paradigmas, mas já que, pelo visto, você já leu até aqui e pretende continuar, peço que se desarme das crenças tradicionais e reflita sobre o tema de forma isenta. O livro que indico no final desse artigo como uma leitura complementar foi escrito por um casal de biólogos, baseado em critérios científicos, os demais pontos fazem parte da história e podem ser lidos em obras de psicologia evolutiva, história, antropologia e afins.

Em seu livro “O Mito da Monogamia” David Barash e Judith Lipton mostram através de seus estudos e observações que, nós, humanos somos poligâmicos*, ou seja, nossa natureza mais essencial nos remete a termos relações sexuais com diversos parceiros durante a vida. Para isso não precisa ir longe nem estudar tanto como eles fizeram, basta observar os nossos antecessores símeos. Há historiadores que defendem a tese de que isso foi assim (poligamia) por um longo tempo em nossa história evolutiva. Acontece que, como sempre, tem pessoas mais avançadas, que enxergam longe, e que começaram a observar que várias crianças nasciam com deformidades de vários tipos, e uma observação bem apurada demonstrou que, na maioria dos casos, era o resultado do “cruzamento” de pais com filhos ou irmãos com irmãos. A partir daí criou-se o que hoje se chama de casamento, que mantém desde lá os mesmo critérios de proibição; não podemos nos casar com nenhum de nossos pais ou irmãos. Evidentemente que isso depois passou a fazer parte das religiões primitivas, já que para impor uma norma como essa, precisava ser algo vindo de Deus. Dessa forma, o medo da punição divina fez com que a idéia fosse logo implementada e o mandamento diz que “não cobiçarás”, ou seja, isso é tão verdadeiro que não se pode nem pensar….

Assim o casamento trouxe consigo a proibição do sexo antes de sua realização, o que ajudou a criar a profissão mais antiga do mundo que é a prostituição – que só existe pela natureza poligâmica. Nos tempos antigos esse “serviço” era oferecido apenas aos homens, mas com evolução dos tempos, os garotos de programa já nem são mais novidade.

Não resta dúvida que a ideia do casamento ajudou não só a higienizar o processo reprodutivo como também fortaleceu essa união que passou a ser uma família, que de certa forma já existia antes, já que os pais protegiam suas crias, assim como fazem várias espécies de animais. Com o tempo, o casamento passou também a ser interessante no aspecto econômico, já que ajudou famílias a unirem-se por esse meio e aumentar suas riquezas e influências, mas não é o nosso assunto agora.

Posto isso, vamos a uma importante questão que é a diferença entre amor e paixão. Noto com freqüência em minha prática profissional as pessoas confundirem essas duas situações, o que acarreta muitos problemas. A paixão* faz parte do processo reprodutivo humano, portanto, muito ligada aos instintos. Não fosse por ela, o planeta ainda estaria deserto. Dentro da psicoterapia a pessoa apaixonada sempre é vista como alguém que não está de posse de todas as suas faculdades. Isso agora já está mais do que provado em estudos de imagem que mostram que, quando diante da sua paixão, as áreas do cérebro ligadas ao julgamento e análise simplesmente deixam de funcionar. Existe uma idéia onde a pessoa não se imagina feliz sem a presença da sua paixão e tudo gira em torno disso. A pessoa apaixonada se alimenta mal, dorme pouco e está sempre em estado de ansiedade. Durante esse período a freqüência sexual é muito grande e essa foi mesmo a idéia da natureza. Estudos mostram que esse estado “alterado” tem, em média, uma duração de 1 a 3 anos. Normalmente a pessoa apaixonada vive uma monogamia, já que existe toda uma mudança na química cerebral e em todo o corpo mostrando que só existe aquela pessoa no mundo e que a felicidade só será possível com ela, mas isso passa… A paixão, portanto, é um sentimento exclusivo, já que não se apaixona por duas pessoas ao mesmo tempo.

Terminada a paixão, a relação pode evoluir para uma estabilidade, onde a agitação dá lugar a uma convivência mais tranqüila que pode até se transformar em amor, que é mais calmo, com o incremento da convivência, cumplicidade e uma menor freqüência sexual se comparada ao período anterior. Como é muito bem dito, o amor é um sentimento exclusivo dos seres humanos e nos torna quase divinos. Todavia o amor é um sentimento inclusivo por sua própria natureza. Se somos convidados a amar a todos, isso também vale para a questão afetiva (é ai que se confunde com a paixão). O que quero dizer é que não é anormal a possibilidade de se amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Pode-se amar a pessoa “A” pela sua ternura, companheirismo e a pessoa “B” pela sua sensualidade e temperamento, por exemplo, e se pensar que poder-se-ia casar com qualquer uma das duas (não simultaneamente, claro) e sermos felizes. O que não significa uma atitude de manter-se em relacionamentos paralelos, mas que isso é um aspecto de nossa natureza humana.

Porém não é difícil observar que a maioria das pessoas foram geradas durante o período de paixão, cumprindo a finalidade que a natureza lhe destinou. O que ocorre é que depois voltamos a uma certa normalidade (o amor ou final do relacionamento) que para os cientistas é o retorno à natureza poligâmica.

É sempre importante lembrar que as mulheres tem sido reprimidas desde sempre em relação a sua sexualidade, afinal vivemos em uma cultura patriarcal e, portanto, foram os homens que fizeram as leis e escreveram até mesmo os livros sagrados de todas as religiões, legislando sempre em causa própria. Isso começou a ser revogado com a participação feminina no mercado de trabalho e a invenção da pílula anticoncepcional, dando liberdade sexual à mulher sem o risco de gravidez.

O que quero enfatizar é que depois da paixão, pode-se, por motivos diversos, sentir-se atraído por outra pessoa sem querer dizer que não se goste ou ame aquele que está conosco. Cada pessoa tem critérios diversos que podem tornar alguém atraente para si, sem prejuízo de um sentimento já existente por outrem. E esses critérios normalmente mudam durante a vida. Isso não é nenhum erro, mas acontece justamente pela natureza poligâmica do “bicho homem” enquanto espécie, seja do gênero masculino ou feminino. Noto que muitas pessoas questionam seus sentimentos ao sentirem-se atraídas por outra pessoa, nada mais comum, já que os hormônios funcionam independentes da vontade. Porém, nessa hora, é importante lembrar que se fez uma escolha e, com ela, suas conseqüências.  Quero encerrar essa primeira parte dizendo que, apesar de nossa natureza poligâmica, a escolha por uma conduta monogâmica é perfeitamente possível, desde que saibamos que ela nos exigirá esforço e atenção, afinal a convivência diária traz os desgastes naturais como a rotina e os problemas do dia-a-dia. Penso que manter uma relação monogâmica torna-se muito mais fácil quando enfatizamos suas vantagens comprovadas como: mais tempo de vida, hábitos mais saudáveis, recompensas afetivas mais intensas (como filhos, por exemplo) e tantas outras, mas tendo sempre em mente que por não fazer parte dos nossos instintos, precisamos cuidar disso com carinho e atenção. Esse esforço faz parte de nossa capacidade única que temos como seres humanos que é a de transcender a nossa parte instintiva, já que como muitos dizem, somos meio bicho e meio deus. Nenhum outro habitante desse planeta tem essa possibilidade. Porém, como o ser humano sempre está aberto a todas as possibilidades, também não é um problema a pessoa optar por um estilo de vida sem um relacionamento monogâmico, sentindo-se bem consigo e com a vida sem estar necessariamente casado(a). Saber viver só também tem suas vantagens e penso sempre ser a condição inicial para se viver em harmonia com alguém. Quando pensamos que só seremos felizes na companhia de outra pessoa a tendência é desenvolvermos relacionamentos baseados na insegurança e no medo.

Continuaremos…

*A poligamia aqui não é tratada sob o enfoque de relações simultâneas do ponto de vista sexual, mas de desenvolver interesse por mais de uma pessoa durante a vida.

*A paixão (do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação dificil) é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio. Fonte: wikippédia

 

*Para saber mais: O Mito da Monogamia – David Barash , Judith Lipton

 

 

Cuidado com você mesmo!!

Há uma vitória e uma derrota – a maior e a melhor das vitórias, a mais baixa e pior das derrotas -, que cada homem conquista ou sofre não pelas mãos dos outros, mas pelas próprias mãos.

Platão, Protágoras

Há quem diga, e eu concordo, que nunca cuidamos suficientemente de nosso pior inimigo; nós mesmos. Freud dizia que sofremos de uma compulsão à repetição de comportamentos e que isso era como um instinto. Apesar de ser uma teoria que se sujeita a inúmeros questionamentos, minha experiência profissional mostra que ela é verdadeira. Temos consciência muitas vezes de que determinada ação, relacionamento, conduta, etc. não é mais, ou nunca foi boa para nós, mas não conseguimos nos libertar! Se isso não acontece com você (me permito dizer que de um jeito ou de outro, todos temos isso) certamente conhece alguém para quem já disse não entender o porquê dessa pessoa se manter em determinado sofrimento.

Isso acontece baseado em um pressuposto de que esse(s) comportamento(s) é motivado por fatores dinâmicos que escapam ao controle de nossa consciência, ou seja, não sabemos realmente porque o fazemos. Sempre encontramos desculpas e racionalizações para nos sentirmos no controle de nós mesmos, daí encontrarmos explicações mirabolantes para nossas condutas sofredoras que teimamos em manter.

Quando a pessoa toma consciência e realmente quer mudar, começa a entrar em um conflito, já que ela está tentando mudar o comportamento em si que a faz sofrer, mas não percebe que esse comportamento é causado por uma maneira de ver e vivenciar sua experiência, sendo, portanto, uma conseqüência (sintoma). Essa é a razão de muitas vezes ouvirmos a frase: “já tentei, mas não adianta”. Enquanto a causa profunda não for enfrentada, não será possível a mudança. É a mesma coisa que tomar um remédio para dor de cabeça, quando a causa está na coluna, por exemplo. A dor poderá passar, mas por pouco tempo, já que a real (gerador do sintoma) causa não foi tratada.

E como cada pessoa é realmente única, não existe uma fórmula pronta para essa mudança. Como diz Stanley Rosner* no livro que trata da auto sabotagem, o terapeuta e o cliente entram juntos em uma selva desconhecida. A vantagem que tem o terapeuta é já ter conhecido outras selvas, o que ajuda a antever os obstáculos e dificuldades da aventura.

Todo o problema consiste em que recebemos por educação na primeira infância (até os sete anos em média) uma maneira de entender e interpretar a vida que recebemos das pessoas ou da cultura vigente que tem vários nomes: programa de vida, identificação arcaica, script, etc.

Dessa forma, mesmo querendo superficialmente promover alguma mudança, fico preso a essa interpretação que recebi, me fazendo não ter muito espaço para a mudança, a inovação e nem mesmo imaginar outro jeito. E não há nada de errado, afinal a criança precisa aprender uma maneira de sobreviver e busca isso nos pais, que são seus líderes e heróis. Com o tempo, vamos crescendo e vendo que tem outras maneiras de viver, que até achamos melhor, mas a tendência é termos medo ou nos sentirmos culpados por mudar o que nossos pais achavam correto. Freud disse certa vez que temos uma dificuldade de superar nossos pais, sermos melhores, porque inconscientemente temos medo de perder o amor deles. Apesar de não poder dizer que isso é comum, já presenciei muitas pessoas se sabotando para poder manter seu ídolo acima dela.

Daí justamente começa o conflito. Quero mudar, preciso mudar esse modelo herdado que não me satisfaz, mas sinto uma tensão e um medo de afetar meu relacionamento com a família de origem, formas de viver que adotei baseado nos conceitos de certo e errado que recebi. Quantas vezes já vi o próprio pai ou mãe trazer a criança/adolescente para terapia, na esperança de “ajustá-la” ao que eles (pais) entendem que seja o certo para o adolescente, ou seja, que o jovem se conforme com o que é o “certo” dentro do conceito dos pais.

A questão crucial disso é que esse querer mudar, muitas vezes, é impedido pela própria pessoa, por motivos inconscientes. Veja e medite sobre a figura que está ilustrando esse artigo. Enquanto a luta pela mudança for somente contra o que parece ser (a parte visível do iceberg), nunca será vencida, já que não estamos tendo e verdadeira percepção do que somos de forma completa.

O místico indiano Rajneesh comenta sobre isso dizendo que a infância de todo mundo foi errada de certa forma. Sua analogia é interessante: se o mundo não é como deveria (poderia) ser, é porque as pessoas não são como deveriam (poderiam) ser. Nossos pais foram condicionados pelos seus pais e assim por diante. Assim, diz ele, pessoas mortas estão controlando as vivas. Pessoas que já morreram estão controlando através dos pais que elas condicionaram.

Ele tem toda a razão!!

Se você não perceber e não fizer a sua mudança, estará condenando também seus filhos aos mesmos paradigmas. Se olhar por esse ângulo, vale a pena pensar que sua libertação transcende a você mesmo.

Vá mais fundo na sua auto análise, não tenha medo de enfrentar os fantasmas, esse combate só trará o crescimento e a verdadeira idade adulta. Enquanto isso, ficamos paralisados; o anjinho (o que você realmente quer) e o demônio (o seu programa de vida, juiz interior) ficarão discutindo e o tempo vai passando…..

 

 

*Para aprofundar: O ciclo da auto-sabotagem. Stanley Rosner e Patrícia Hermes. Editora Best Seller

 

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