26 de fevereiro de 2012

Zen Budismo

Um discípulo procurou  Bodhidharma e disse:

– Eu não tenho paz de espírito. Poderia lhe pedir, Senhor, que pacificasse minha mente?

– Ponha sua mente aqui na minha frente – replicou Bodhidharma – Eu a pacificarei!

– Mas é impossível que eu faça isso!

– Então já pacifiquei sua mente!

                                                                                                                                                              

O Zen é completamente diferente de qualquer outra forma de budismo e mesmo de qualquer religião. Isso tem provocado muita curiosidade nas pessoas e despertado um interesse cada vez maior. Ele é indicado para todos aqueles que estão cansados de religiões e filosofias convencionais, basicamente porque dispensa todas as teorias, instruções doutrinárias e qualquer formalidade. Nessa hora, para nós acidentais, fica difícil pensar que algo assim possa ser uma religião, afinal, o que aprendemos é exatamente o oposto. Enquanto as religiões em geral fazem uma descrição emocional ou intelectual de seus ensinamentos, o Zen é fundamentalmente prático, estritamente ligado à realidade, sendo considerado complexo, justamente pela sua simplicidade.

Como diz Allan Watts “Antes de tudo, os credos, dogmas e sistemas filosóficos não passam de ideias a cerca da verdade, da mesma maneira que as palavras não são fatos, mas descrevem algo sobre os fatos. Já o Zen é uma vigorosa tentativa para entrar em contato direto com a verdade sem permitir que teorias e símbolos se interponham entre o conhecedor e conhecido”.

Concordo, afinal a busca do Religare, quando acompanhada de toda essa parafernália ritualística, simbólica e comportamental, leva a darmos voltas sem fim, quase sem sair do lugar. Vejo a busca como pessoal, fundamentada na prática e, é claro, sem intermediários e uma infinidade de pré condições.

O objetivo da escola Zen é ir além das palavras e ideias afim de que a busca interior de Buda possa ser acessível aos demais “mortais”. Não existe nada de excepcional, pois o Zen consiste apenas em uma atitude mental que é aplicada de igual forma a, por exemplo, varrer uma casa ou como a prática rígida de qualquer ritual religioso. Esse tipo de atitude também foi tratada em artigo anterior com o título de “O Sofrimento”.

 Cabe lembrar que sofrimento existe pelo anseio que temos de possuir e manter para sempre coisas que em essência são impermanentes. Essa busca é uma maneira errônea de viver, afinal ela está contra o princípio da vida que é baseado justamente nas mudanças constantes.

De outra parte, o lado criativo de nossa mente é a nossa imaginação e é justamente ela que nos cria essa alucinação da separatividade, nossa ignorância mais essencial. Jung já defendeu a ideia de uma “mente universal” quando definiu o inconsciente  coletivo. O que acontece é que nós projetamos nossa própria ignorância no mundo exterior e o definimos e julgamos baseados nisso. Uma escritura Mahayana mostra isso com clareza quando diz: “As atividades da mente não tem limite e formam o ambiente da vida. Uma mente impura se envolve com coisas impuras e vice versa. Portanto o ambiente que criamos tem os mesmos limites das atividades da mente…Assim, o munda da vida e da morte é criado pela mente, está escravizado pela mente, é regido pela mente. A mente é a mestra de cada situação.”

Explica-se assim com facilidade que as Escolas orientais busquem esse estado que ultrapassa as barreiras da mente para encontrar a dita “iluminação” que nada mais é do que um estado de unidade com o todo, isento de todo e qualquer sofrimento, onde não existe mais o caos do aspecto mental ligado ao que “passa”, mas ao eterno, ligado ao que “é”. O homem comum que sofre o tempo todo olha para o mundo exterior para buscar sua felicidade (salvação), já que aprendeu que está nas formas materiais sua saída para a ansiedade e angústia. Tomara que chegue a hora em que ele perceba que não pode encontrar no exterior aquilo que está no seu interior, e que para chegar lá precisa suplantar a visão separada e desconexa da mente.

O Zen deixa de lado todas as definições e conceitos intelectuais e especulações de toda ordem, buscando sacudir seus adeptos de seus hábitos e crenças arraigados por gerações e de forma simples sair desse estado comprovadamente entorpecido e doentio. Tudo isso baseado na simples forma de sentar-se em meditação sem nenhum objetivo a não ser estar ali, e tomando uma consciência cada vez mais ampliada de cada movimento. Já sabemos que todo o sofrimento é alucinatório porque sempre se fundamenta em pensamentos ligados ao inexistente passado e inexistente futuro, numa roda de preocupações e lamentações sem fim. Estar aqui e agora inteiro de corpo e percepção é o fim da agonia. Uma de suas técnicas mais poderosas é o Koan que nada mais é do que do que um “problema” que é dado ao discípulo para resolver enquanto medita, só que sua solução não é intelectual, a resposta não tem conexão lógica com a pergunta e a pergunta é de tal natureza que embaralha o intelecto. Sua finalidade é de tanto se buscar essa resposta fora do âmbito ordinário da mente, suplantá-la! Quer experimentar?

Aqui está um homem numa árvore, segurando-se a um dos seu ramos com a boca, não se agarrando a nada com as mãos e nem tocando o tronco com os pés. Alguém ao pé da árvore pergunta: O que é o Zen?

Caso não responda essa pergunta não deixará satisfeito quem perguntou; mas, se falar, mesmo se disser uma só palavra cairá para a morte. Que respostas darias se fosses ele?” Um discípulo pode levar anos para chegar a essa resposta, mas se chegar venceu esse estágio mental ordinário de onde vem todos nossos problemas.

Quando for entendido na totalidade, não apenas intelectualmente, mas em cada atitude que o universo é agora, pois tudo está sendo criado nesse momento e o fim do universo também é agora, já que tudo está desaparecendo agora, poderemos almejar sair dessa alucinação que projetamos em tudo e todos.

Além disso o Zen é extremamente bem humorado, na medida quem seus principais mestres sempre responderam perguntas sobre a iluminação, de como chegar até ela de forma desconexa e sem sentido. Isso se dá justamente porque querer saber já é perder o que se busca saber. Certa vez perguntaram ao mestre Tung-shan “o que é o buda?” E ele respondeu: “Um quilo e meio de linho”. Nesse momento em que você e  quem perguntou ficam sem ação, tentando encontrar um sentido na resposta, não houve pensamentos negativos, medos e culpa na sua mente, ou seja, ela foi superada!

Importante entender que essa atitude desapegada diante da vida está longe de significar ir viver em uma montanha meditando o dia inteiro, já que nem lá escaparemos de nossas ilusões a respeito do que seja a vida. Vivemos em um mundo material e precisamos vencer nele também, sabendo que isso é parte, nunca o todo. Esconder-se atrás de uma ideia de espiritualidade ligada a pobreza e necessidades materiais pode muito bem ser uma ótima desculpa para a incompetência.

Mestre Pai-chang disse que o Zen é simplesmente “comer quando se tem fome, dormir quando se está cansado. Quando deseja caminhar, caminha; quando quer sentar, senta-se.”

Muito simples e muito difícil já que caminhamos quando podemos, paramos quando dá. Comemos na hora que nos disseram para comer e dormimos na hora que nos disseram que era certo dormir. Ficamos de pé quando queremos sentar e vice versa… Nada natural, nada escolhido! Apenas fazendo tudo isso contra a vontade esperando uma recompensa que nunca vai chegar.

 É como ter feito uma plantação de batatas esperando encontrar nela abacates.

Portanto, para quem está cansado de esperar milagres, salvação, bençãos e outras improbabilidades, a prática do Zen pode ser um jeito novo e bem mais real de fazer a verdadeira religião: estar bem consigo e com a vida por si mesmo, por entende-la em movimento, por aceitar que nunca poderemos controlar tudo e saber que a felicidade é estar em paz e relaxado…

Isso é ser Zen….

Para saber mais: “ O espírito do Zen” Allan Watts

Mensagens de 40 filmes em 7 minutos

Em época de Oscar, encontrei esse vídeo interessante que destaca mensagens positivas e algumas de profundo significado retiradas de 40 filmes conhecidos. Para aqueles que, como eu, sentem-se melhor com as legendas, caso não estejam aparecendo é só clicar no ícone “cc” que está na barra de ferramentas na parte debaixo do vídeo(seta que aponta para cima) e escolher o idioma.

Pegue pouca pipoca porque passa rápido…

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=3EpQ0yl_Ezs[/youtube]

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