Reflexão

A Prática do RELAXAMENTO

 O relaxamento é a negativa perfeita da excitação nervosa. É a ausência de impulso neuro- muscular. Em termos mais simples, estar relaxado é o oposto fisiológico perfeito de estar excitado ou perturbado.

E.  Jacobson

O relaxamento é uma prática simples, gratuita, com uma série de benefícios físicos e uma infinidade de possibilidades. Mas, apesar de ser simples, é complexa, no seu sentido mais profundo. Sei que parece que estou sendo paradoxal, mas vou me explicar.

É uma prática simples na medida de seus requisitos básicos que são dois: um lugar confortável e a disposição de investir de dez a vinte minutos por dia. O que sempre me surpreende, é que muitas pessoas dizem que é difícil, porque não dispõem desse tempo. Nessa hora, preciso dizer que, se você não tem vinte minutos por dia para cuidar um mínimo de si mesmo, então realmente sua vida está fora dos trilhos.

Apesar de terem várias publicações sobre o tema, o que é bom, vou buscar resumir o procedimento com as informações necessárias para você começar, é claro, se tiver tempo…

Comece se recostando em uma poltrona, evitando deitar completamente. Quando deitamos, o relaxamento normalmente nos conduz ao sono. Isso é bom para quem tem dificuldade para dormir, mas a minha ideia é outra, de se atingir e manter conscientemente esse estado.

Existem cd’s a venda com uma voz guiando todo o processo. Isso pode ajudar no começo, mas depois vira uma bengala, além de ser bem possível, depois de um tempo, não aguentar mais aquela voz.

Então você se recosta e inicia por alguns segundos observando sua respiração. A respiração sempre acontece no “agora” por isso ela sempre será uma boa âncora, já que nossa mente tende sempre a vagar entre passado e futuro. Inclusive algumas técnicas de meditação (que tem semelhanças com relaxamento, mas não é a mesma coisa) usam essa atenção na respiração como uma das formas mais tradicionais. Será natural, nesse período de observação da respiração, que a mente consiga com facilidade levar você para “passear” em algum pensamento (sempre negativo). Quando perceber isso, simplesmente volte, sem brigas nem frustrações, afinal você não vai querer dominar quem te dominou a vida toda na primeira vez….

Passado um ou dois minutos é bem provável que você já esteja frustrado querendo desistir, afinal parecerá que a mente está agitada demais, tentando sabotar sua prática. Não é isso, o que estará acontecendo é que, talvez pela primeira vez, você esteja tomando uma consciência mais direta do estado natural de agitação da mente. Ela é sempre assim, só que até então, não havia essa clara percepção.

Caso tenha superado esse primeiro obstáculo, sugiro que faça três longas e profundas inspirações. Isso ajudará a acionar o processo de relaxamento do corpo e servirá como um condicionamento para facilitar as próximas vezes. É uma maneira de você avisar seu corpo toda vez que inspirar profundamente três vezes que o relaxamento está começando.

Aos poucos seu cérebro estará entrando em alfa que nada mais é do que uma velocidade mais lenta. A partir das inspirações, procure começar relaxando os pés, pernas, etc. Começar pela cabeça pode dar sono. Siga uma ordem natural, evitando, por exemplo, depois de relaxar os pés relaxar os braços. Isso atrapalha.

Pode ser que você gostaria de me perguntar: Como faço para relaxar as partes do corpo? É simples, apenas imagine que elas estão relaxadas. Como já escrevi algumas vezes, nosso corpo responde a tudo que imaginamos como real.

Será inevitável que a cada momento você se desconcentre do relaxamento e vá passear em algum pensamento, quando isso acontecer, como já disse, volte e prossiga de onde estava.

Depois de muitas idas e vindas, você chegará à parte final, relaxando o rosto e a cabeça. Nessa hora, você poderá sentir seu corpo muito pesado, como se estivesse realmente “grudado” no sofá. Isso é normal e apenas significa que o relaxamento foi atingido. A partir daí curta essa sensação de ter trazido paz a você mesmo. A luta contra a mente vai continuar, mas você voltará sempre que precisar, sem briga, sem stress. Aproveite, curta!

Essa prática traz vários benefícios e pode até acontecer para algumas pessoas: percepções novas, vivências, se transportarem pela imaginação (que está livre) para lugares, visualizar cores, etc. Fique tranquilo, nada de mal vai acontecer, simplesmente observe e descanse conscientemente, usando sempre a respiração como guia. Pode até mesmo, mentalmente, dizer: “inspirando…expirando”, como uma forma de manter-se consciente no embate com os pensamentos.

Eu precisaria de muitos artigos para dizer todos os benefícios dessa prática, mas resumidamente, à nível físico temos a prevenção dos estados de estresse, tensão muscular, diminuição dos níveis de ansiedade e fadiga mental dentre outros. Ela é, portanto, considerada um revigorante que atua beneficamente sobre a saúde física, mental e emocional.

Não se esqueça de deixar seu celular ou relógio programado para avisá-lo do final do tempo do relaxamento. Quando ouvir o sinal, simplesmente abra seus olhos e volte às suas atividades.

Por favor, lembre do seguinte: não há nada para acontecer, não há nada a atingir, não há nada que alcançar. Apenas relaxar, só isso!

Porém, um dia, pode acontecer, de você encontrar um ponto dentro de você, onde sua consciência passará a habitar que sempre estará em paz, independente do que estiver acontecendo do lado de fora. Lá existe uma eternidade, onde o medo e a dúvida não existem, já que isso faz parte do que “passa”. Somente nessa hora, que você não espera, já que se virar um objetivo não acontecerá, é que esse diálogo entre Krishna e Arjuna no épico Bhagavad – Gîtâ poderá ser realmente entendido na profundidade do seu ser:

“ …o que realmente existe não pode deixar de existir, da mesma forma que o não – existente não pode começar a existir. O limite entre um e outro é claramente percebido por aqueles que veem a verdade. Não nasce nem morre, nem tampouco tendo existido no passado pode deixar de existir. Inato, imortal, sem princípio nem fim não perece quando morre o corpo.”

Paradigmas

 

O Homem não é feliz sem algum delírio. Delírios são tão necessários quanto a realidade.

Christian Nestell Bovene

Como você aprendeu a ser quem é?

Aprendemos a ser quem somos de acordo com a cultura em que estamos inseridos. Copiamos um modelo de viver daquelas pessoas que são nossas referências, principalmente na nossa primeira infância. Nessa fase, não temos como separar o “joio do trigo” e assimilamos integralmente nossos pais, professores, valores religiosos, etc. Evidente que esse processo segue pela vida afora, mas a assimilação de novos paradigmas* tem um processo um pouco diferente, onde já existe uma consciência crítica, uma espécie de filtro.

Como qualquer animal (também somos), aprendemos tudo por um simples sistema de punição e recompensa. Assim quando fazíamos “certo” vinham os elogios, o acolhimento e nos sentíamos bem. Já quando fazíamos “errado” vinha a punição, o medo de perdermos os elogios e o afeto de nossos heróis. Evidentemente, pelo medo das perdas que os comportamentos “errados” traziam e, sequiosos pelos elogios, buscamos agradar e esconder qualquer atitude, pensamento ou comportamento que gerasse punição.

Nessa hora, é importante entender que não escolhemos em que acreditar, e todos os significados que atribuímos às situações vem de segunda mão. Isso se deposita em nós de tal forma que criamos nosso programa de pensar, ver e entender cada situação que a vida nos oferece. Assim, conforme o artigo sobre a culpa, agora complementado pelo presente texto, surge nosso “juiz” interior.

O medo de sermos rejeitados, de perdermos o carinho e acolhimento, de não sermos “bons”, nos faz buscar uma perfeição, criando recalques e escondendo parte de nós mesmos em um lado escuro, que se não bem entendido e trabalhado, nos perseguirá pela vida, surgindo nos momentos em que não consigo mantê-lo escondido e controlado. É o que acontece quando “perdemos a cabeça”, ali vem o egoísmo, a ira, a inveja e todos os pecados capitais que nada mais são do que esse nosso lado escuro, comum aos seres humanos e que os paradigmas religiosos, principalmente, transformam em pecado.

Pelo programa que recebemos de “certo e errado,” goela abaixo, vivemos sempre pela metade, fazendo muita força para sermos bonzinhos e adoráveis. E é justamente por isso que a maioria das religiões prega o não-julgamento, afinal fico julgando pessoas que estão expondo aquilo que consigo manter escondido. É evidente que se conseguirmos nos manter longe dos pecados será bom, já que tendo a não expor a mim e aos outros a alguns sofrimentos, o que não impede de serem revistos, se servem ou não.

Parece que todos nós precisamos dos paradigmas, e até aí nada de errado, ter uma linha a seguir não é ruim, mas o que penso ser importante é pensarmos sobre esses paradigmas, se eu concordo com eles, se não concordo, se posso me libertar de algum caso não esteja me fazendo bem ou impedindo meu crescimento pessoal. Essa avaliação é que me  faz dono de minha vida. Caso contrário, passarei pela vida como uma pálida cópia de gerações anteriores.

Nessa hora recorremos a nossa imaginação, criando situações utópicas para termos uma vivência mais completa dessa nossa dualidade, onde, muitas vezes, nos permitirmos ser inteiros. Nesses delírios tudo nos é permitido, até viver livremente essa parte reprimida. Mas isso é tão errado pelo programa, que muitas vezes nem compartilhamos com pessoas íntimas sobre eles, já que temos medo do que elas pensarão sobre nós. Em muitas ocasiões, esse conteúdo vem nos sonhos, quando o que vivenciamos é tão impossível ou errado que nem nos permitimos divagar de olhos abertos.

Como em nossa cultura a liberdade está diretamente relacionada ao poder financeiro, a busca da riqueza, muitas vezes está inconscientemente ligada a atingir um patamar de liberdade que me permita ser mais “eu” mesmo. Assim encontramos os ditadores que se tornam cruéis quando atingem o poder, empresários que se permitem tratar seus empregados com desrespeito e ofensas, pais violentos e as pessoas que, depois de atingirem certo grau de poder, se transformam completamente.

Evidente que é normal querermos ser aceitos, mas é importante estarmos de comum acordo com nós mesmos. Posso escolher ser educado, ético e respeitoso com os limites de cada pessoa, mas isso dá muito mais certo quando parte de uma escolha interna, de uma decisão e não de imposição. Penso que devemos educar nossos filhos por valores que acreditamos corretos, mas também respeitarmos suas escolhas com o objetivo de valorizar a individualidade e não de suprimi-la. Fazê-los escolher é mais difícil do que, simplesmente, não darmos escolhas, que é o que ocorre normalmente. Usamos a nós mesmos como parâmetro para educarmos, como se eles fossem uma continuação. Não são! Talvez seja por isso que os domesticamos da mesma forma que fomos para garantir que serão parecidos conosco. Osho disse certa vez que educar é fazer transbordar a essência e que crianças não precisam de nossa ajuda, mas só de serem amadas. Sua idéia é que o que chamamos de educação (isso também inclui a escola) nada mais é do que impor os paradigmas, assim como fizeram conosco. Talvez ele seja entendido nesse ponto daqui a duzentos anos…

Tomara que estejamos felizes, de bem conosco e com a vida, se não estaremos impondo a eles um programa que não deu certo nem para nós.

Os significados que recebemos também nos dizem do que somos e não somos capazes (nada mais limitante), do que devemos almejar, como deve ser nossa vida, e o que é a felicidade. Mas como uma das características do paradigma é não discuti-lo, simplesmente executá-lo, ficamos dizendo que todos que não cumprem meu paradigma estão errados.

No fim, estamos sempre buscando a nós mesmos em meio a essa luta interna entre o que sou, e o que esperam de mim, como diria Fernando Pessoa. Por isso os delírios são, muitas vezes, necessários. Não se culpe por eles e também não se sinta mal, se esse mundo criado pela sua imaginação não estiver de acordo com o que você vive pelos paradigmas que recebeu. Afinal, já que  não escolhemos quase nada, porque não delirar?  Não lembro onde li ou quem disse que nossa imaginação é apenas uma realidade que se esqueceu de acontecer…

 

*Paradigma: Paradigma pode ser entendido por um exemplo, um modelo, uma referência, uma diretriz, um parâmetro, um rumo, uma estrutura, ou até mesmo ideal. Algo digno de ser seguido. Podemos dizer que um paradigma é a percepção geral e comum – não necessariamente a melhor – de se ver determinada coisa, seja um objeto, seja um fenômeno, seja um conjunto de idéias. Ao mesmo tempo, ao ser aceito, um paradigma serve como critério de verdade e de validação e reconhecimento nos meios onde é adotado. Foi o físico Thomas Khun que o utilizou como um termo científico em seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas, publicado em 1962.  (http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/o-que-e-paradigma-705722.html)

Leitura Complementar: O quinto compromisso – Don Miguel Ruiz

A anatomia da CULPA

O que é mais terrível na culpa é que ela atribui ao medo, o maior mal que existe, um enorme direito.

Hugo Hofmannsthal

                                                                                                                                                               

Falar sobre a culpa é falar sobre um dos sentimentos mais dolorosos, algumas vezes eternos, que trazem dor e sofrimento ao ser humano. Apesar de, como uma metástase, espalhar-se por todos os âmbitos da vida, sua origem é simples e precisa ser entendida para que possamos colocá-la no lugar adequado.

A culpa, essencialmente, faz parte do nosso processo de defesa e sobrevivência. Sua natureza está ligada ao passado (não existe culpa quando se pensa no futuro, mas de sentirmos culpa hoje, ao estarmos escolhendo um caminho que pode dar errado, sim!) e sua finalidade é não cometermos atitudes que venham a nos trazer risco à manutenção de nossa vida. O grande problema é que o processo da culpa, assim como o do medo (que falaremos oportunamente) não tem uma análise qualitativa, ou seja, trata tudo de forma igual. Não importa se me sinto culpado por ter causado, ou quase, algum grave acidente ou não ter aceito um convite de emprego; o processo é o mesmo!

Freud, em sua topografia da mente, chamou de Super ego esse “juiz interior” que nos acusa de estarmos fazendo alguma coisa fora da norma e nos punindo com várias formas de sofrimento, por estarmos ou termos agido de forma “errada”. Quando muitas vezes, estamos discutindo interiormente se determinadas atitudes que queremos tomar, ou analisando algo que já fizemos se está, ou foi certo ou errado, se é justo ou injusto, etc, estamos negociando com nosso “juiz” sobre nossa culpa.

Mas afinal, quando sentimos culpa? Normalmente em duas situações:

Quando analisamos alguma atitude no passado que entendemos errada, tendo, portanto, nos trazido prejuízo ou arrependimento de alguma forma. Ora, me permito dizer que, apesar de entender que isso acontece, já que a culpa faz parte dos nossos instintos, punir-se por atos do passado é um grande absurdo! Esse absurdo reside em apenas uma única verdade: não sou mais a pessoa que cometeu aquele ato. Mesmo que, naquela época, eu tivesse a noção de que não era correto o que foi feito, por algum motivo realmente importante a atitude foi tomada.

Como penso que todos concordam que estamos em constante evolução, não posso me culpar por não ser no passado como sou hoje! Esse raciocínio seria involutivo. É claro que podemos alegar que conhecemos pessoas que, com o tempo, estão piores do que estavam há tempos atrás, mas isso é tirar uma conclusão pessoal e projetiva sobre o processo de crescimento. Sabemos que esse processo não se dá em linha reta para todos, que cada um tem seu caminho, portanto, podemos, com certeza, analisar um eventual retrocesso (isso sempre é uma opinião, um conceito) como uma etapa evolutiva. Assim, como costumo sempre dizer, é me culpar por ter tomado uma atitude qualquer no passado quando só sabia somar e diminuir, vendo com os olhos de hoje, quando a multiplicação, divisão, potenciação etc, já fazem parte do meu “saber”. É óbvio que faríamos hoje de outro jeito, mas só pensamos assim porque nos distanciamos do que já fomos, vivemos e aprendemos mais. O que nos pode ser útil é buscarmos as razões de nossa ação, independente de ter sido há  muito tempo, meses atrás ou ontem. O que vale a pena é buscar esse “porque” naquele momento a minha ação foi a melhor que pude executar.  Para isso, portanto, a culpa é muito útil, já que ajuda no auto conhecimento. Assim, culpar-se por ações passadas é na grande maioria das vezes sem fundamento e utilidade, já que estamos tratando de “pessoas diferentes”. O passado é caminho, aprendizado e inexistente (assim como o futuro), a não ser na minha memória. Dessa forma estou punindo com a culpa um inocente: quem sou hoje!

A segunda forma de me sentir culpado é quando ofendo um princípio que está arraigado em meu subconsciente. Desde que nascemos e enquanto estamos vivos, mas principalmente na primeira infância, recebemos uma série de conceitos que advém da família, religião, sociedade, etc. Esses conceitos, que viram decretos lei dentro de nós, chamamos de paradigmas. Não discutimos, apenas cumprimos, já que como disse anteriormente, temos um juiz de plantão que nunca dorme nem tira férias, pronto a nos julgar e sentenciar. Isso é muito interessante já que, na maioria das vezes, nós mesmos nos damos a sentença e iniciamos a pena.

Por exemplo, não estamos satisfeitos no trabalho que executamos, mas nosso paradigma tem seus decretos: “a vida não é fácil”, “Não se troca o certo pelo duvidoso”, “Apesar de não estar bom, seu salário está garantido” e outros tantos. Mas como o processo evolutivo é inevitável, e quero mudar de emprego, demoro muitos meses ou fico me sabotando inconscientemente até que sofra o suficiente para pagar pelo ato de desafiar o paradigma e só depois me permito mudar. É a famosa desculpa:  “sofri o que pude, chega, não aguento mais!”  Esse tempo todo de sofrimento para fazer o que já sabemos que deveríamos ter feito chama-se culpa, e toda a culpa precisa de punição. Há quem diga que a culpa é um belo tempero que sempre poderemos adicionar para tornar tudo pior, mais doloroso, principalmente a auto punição.

Porém, lembre que esses conceitos de certo e errado são relativos, mudam com o tempo e com a cultura vigente. Ao ler qualquer livro de história, nota-se que os seres humanos que fizeram a diferença e que idolatramos através dos séculos, tem um aspecto em comum: desafiaram os paradigmas em busca do que acreditavam! Independente se o status quo concordava ou não. Muitos foram julgados, condenados etc., mas são exemplos que admiramos, pela sua sabedoria e, principalmente, coragem.

Portanto, muitas vezes a culpa está apenas cumprindo sua função e é importante que tenhamos a capacidade de usá-la a nosso favor. Pessoas que não sentem culpa de absolutamente nada, muitas vezes causam danos a si e aos outros. Precisamos, como em tudo, usar a culpa na medida certa, onde ela pode ser importante, mas o excesso ou a falta é sempre um erro. Evite que ela seja um obstáculo a seu crescimento pelo julgamento do “juiz” interior, e que passos em busca de realização e felicidade sejam adiados. A questão é: Você está feliz?

Atribui-se a Cristo a seguinte frase: “Seja quente, ou seja frio, o morno eu vomito!”

A culpa pode até eventualmente ajudá-lo a buscar esse “Ser” como ferramenta de auto conhecimento, mas não mais do que isso.

Cuidado como você lida com a culpa… Ela é morna!

A Prisão que nunca existiu

 

Preste atenção nessa história! Entendê-la não é difícil, mas se você conseguir colocá-la em prática é bem possível que sua vida mude e muito! É uma das mais belas e tem um significado muito especial. Faz parte do sufismo, que é uma das mais antigas Escolas que buscam a elevação da consciência dos seus adeptos. Depois de lê-la espere um pouco antes de continuar. É para ser absorvida como um velho e raro vinho:

Um homem veio até Al-Hallaj Mansoor e fez a pergunta:

O que é libertação?

O sábio Sufi estava em sentado em uma mesquita com belas colunas por toda parte. Ao ouvir a pergunta Mansoor dirigiu-se imediatamente a uma daquelas colunas e, segurando-a com ambas as mãos começou a gritar: – Ajude-me!

O homem não compreendia o que estava acontecendo. Ele apenas tinha perguntado sobre libertação e o outro parecia louco.

Mansoor, segurando a coluna pedia ao homem: – Por favor, ajude-me! A coluna está me segurando e não me solta, liberte-me!

E o homem respondeu: – Você está louco! Você está segurando a coluna e não ela segurando você!

Mansoor disse: Eu respondi. Ninguém o está amarrando…

Parece que é bem mais cômodo e fácil estar preso, ser livre requer ousadia!

Falamos de uma liberdade de ”ser” como se estivéssemos, sem escolha, presos a alguma situação, pessoa, trabalho, etc., como se a condenação fosse definitiva e só um milagre, ou algum acontecimento fora do meu âmbito de ação me trouxesse a liberdade almejada.

Na verdade não precisamos buscar uma liberdade que já existe. Precisamos assumir que seja o que for que esteja nos prendendo é porque queremos estar ali, consciente ou inconscientemente. Só alguém com a estatura de Mansoor poderia, de forma tão simples, mostrar essa verdade. Pessoas como ele ao longo da história precisaram ser assassinadas (ele foi esquartejado) porque são perigosas demais! Um homem livre é sempre um grande perigo, porque ele pode contaminar os demais de forma muito rápida, afinal ser livre é da essência do ser humano. A presença de alguém assim sempre traz duas situações: A primeira é que tomo consciência de meu estado estagnado e aprisionado a algo, e a segunda, traz o perfume da liberdade, que se torna um anseio.

Se os animais, que são inferiores em termos de consciência, quando privados de sua liberdade adoecem e morrem, porque nós poderíamos conviver com alguma espécie de cativeiro? Não seriam os sintomas, que se transformam em doenças, indícios de algum aprisionamento?

Preferimos aspirar a essa libertação porque nos seguramos nas situações e dizemos que estamos presos a ela. O velho hábito, cômodo, de ser vítima!!! Como seria bom se… Quando isso vai terminar? Até quando meu deus? E outras lamúrias…

Já escrevi em artigos anteriores que é muito difícil assumir um estado de liberdade, porque requer muita coragem. Vou me segurando na minha coluna e meus braços vão se tornando parasitas que vão crescendo e se enrolando cada vez mais naquilo que eu estou segurando desde o início. Chega uma hora que minha busca por inocência e o tempo que estou ali, me faz crer que foi a coluna que me pegou. Como pode? Ela está lá, parada e não tem braços…

Você não está preso a nada! Nunca esteve!

É provável que tenha visto pessoas importantes na sua vida segurando também a sua coluna e, é ate´ normal achar que isso estava certo. Só que, a partir do momento em que o desconforto e a tristeza chegaram, permanecer é sempre uma escolha e a responsabilidade é só sua! Não compartilhe, assuma a autoria da sua história! Não espere que seu “sacrifício” vá contar como crédito em algum momento. Não há nada de errado se estiver confortável, se for bom e você estiver feliz, só que não há prisão nesse caso.

Existe uma lei que diz que ninguém pode alegar o desconhecimento da Lei como desculpa por descumpri-la. Da mesma forma, a evolução, o universo em que vivemos também tem as suas leis e essa é uma delas: não existem vítimas!

O filósofo grego Heráclito disse que “A guerra é o pai de todas as coisas”. Sabemos que a grande e verdadeira guerra é travada no nosso íntimo. A tensão que geramos em nós na busca por estarmos bem, lutando contra o que “nos prende” libera a energia do nosso desenvolvimento.

No artigo anterior, encerrei perguntando se seria possível vivermos sem sofrer. Isso só será possível quando assumir minha liberdade e, principalmente, minha responsabilidade pelo que me acontece. Para isso, preciso lembrar que nada me prende, estou iludido, confortavelmente, pensando que estou preso. Por mais que parece que esteja em uma cela, a porta sempre esteve aberta! Por algum motivo, vantagem ou condicionamento me mantenho aqui! Tomar consciência disso é fundamental!

Se, durante esse texto, deixei você irritado (a) ou você pensou que “no meu caso é diferente”, dizendo que a situação está assim (seja qual for) por culpa e acomodação sua, então toquei na verdade! Desculpe-me por querer tirar sua ilusão! Eu sei, desiludir-se é tão desagradável…

Nunca se esqueça de que somente a desilusão é que pode nos impulsionar adiante, já que nos coloca de frente com a verdade. Nossas mudanças sempre são difíceis porque nos levam ao desconhecido, mas isso é do padrão de funcionamento da mente essa acomodação, esse medo de mudar, mesmo que não estejamos felizes. Precisamos aprender a lidar com isso, usando a consciência como guia, mas isso só vai funcionar se não esquecer de que nada vem de graça, tudo é conquistado!

Espero que você agora se sinta mais responsável pelo seu destino.

*Escrevi um artigo com o título: “Você é livre?” que é leitura complementar sobre o tema.

O SOFRIMENTO

O segredo da saúde, mental e corporal, está em não se lamentar pelo passado, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas viver sabia e seriamente o presente.

Sidarta Gautama

 

Nem eu nem você que me lê precisamos ser budistas para nos aproveitarmos dos ensinamentos de Sidarta Gautama sobre esse assunto. Particularmente ainda não encontrei alguém de definisse melhor o sofrimento humano como ele, e ainda mais surpreendente é que sua filosofia sobre o assunto não é estudada com profundidade na academia (faculdades ou universidades). Não que Freud não mereça nosso respeito, mas o ensinamento de Sidarta é imensamente mais útil e comprovável pela experiência, enquanto a teoria psicanalítica já dá sinais de “cansaço” e, em alguns países, já caiu em desuso. Tudo isso, é sempre bom lembrar, dito há 2600 anos…

Apesar do Budismo possuir muitas vertentes, vamos tratar do assunto de forma mais direta, o que quer significar que, de acordo com a abordagem, pequenas diferenças poderão ser encontradas, mas a essência é a mesma.

O mais conhecido de seus ensinamentos é chamado de “As quatro nobres Verdades”, que são: A verdade do sofrimento, a verdade da origem do sofrimento, a verdade da meta e a verdade do caminho. Falaremos muito resumidamente de cada uma delas dentro do enfoque dos dias de hoje.

Buda usou a palavra sânscrita duhkha que significa sofrimento, insatisfação ou dor. Essa insatisfação ou sofrimento ocorre porque nossa mente gira de tal maneira que seu movimento parece não ter princípio ou fim. Como já escrevemos em artigos anteriores, a natureza do pensamento é eminentemente negativa, já que nossa mente busca sempre a culpa (passado) ou medo (futuro) quando em estado livre, já que isso nos ajuda na manutenção da  vida. Quanto mais medo do futuro tiver, mais chances de nos mantermos vivos, já que não mudamos por medo. Evidentemente que isso gera insatisfação, afinal nossa natureza é de crescimento e evolução, fica sempre uma sensação de desconforto, angústia, de que está faltando alguma coisa em nossa vida mesmo que materialmente estejamos bem, com os relacionamentos em ordem, etc. Teimamos em buscar uma segurança impossível para podermos “descansar” e esse momento nunca chega. Se estivermos bem, felizes, tememos perder esse momento e nos esforçamos para buscar mais felicidade. Se estivermos tristes, com alguma dor, seja física ou emocional desejamos fugir dela. Estamos insatisfeitos o tempo todo. Assim, ao compreendemos a verdade de duhkha entendemos a neurose da mente e essa é a primeira nobre verdade; um eterno estar ocupado, uma contínua busca pelo momento futuro, caracterizando uma maneira gananciosa de viver, que atualmente em nossa cultura significa que quanto mais bens materiais tiver, menos vamos sofrer. É incrível que ainda se acredite nisso…

A partir do momento em que tomo consciência dessa insatisfação, precisamos buscar a sua origem. Examinando nossos pensamentos e ações  descobrimos que estamos sempre lutando para buscarmos essa segurança e nos destacarmos no mundo competitivo, então essa luta é a raiz do sofrimento, ou seja, fazemos do medo o sentimento que nos faz viver. Temos medo de morrer, de passarmos necessidades, de não sermos amados e reconhecidos, etc. Somos eternamente preocupados, vivemos o tempo todo projetando o futuro de forma negativa e, o que é pior, dentro de nossa cultura, isso (ser preocupado) é considerado uma qualidade! Essa é, portanto, a segunda nobre verdade, a verdade da origem do sofrimento.

Não é difícil perceber que quando falamos nas duas primeiras nobres verdades estávamos falando do ego, formado pela “educação”que tivemos, seja pela família, sociedades, valores culturais, etc. Como, para mim, educar é ajudar a pessoa a explorar seus potenciais naturais e não impô-los, chamo o que vivemos de domesticação. Muitos pensam que, por ser o ego a raiz do sofrimento, o aspirante à evolução deva pretender vencê-lo ou destruí-lo. Isso não funciona assim, já que é o ego que demarca as fronteiras entre eu e as demais pessoas, portanto ele também tem uma finalidade positiva, o que devo fazer é desobstruí-lo dos condicionamentos e medos para poder chegar a quem realmente sou. Nessa hora entra uma prática diária, de pelo menos alguns minutos de meditação. Essa prática me tornará mais consciente de mim e do que quero, das dificuldades e obstáculos a serem transpostos. O entendimento somente surge quando paro de lutar, quando paro de tentar dominar meus pensamentos negativos e simplesmente observo o funcionamento da minha mente. Escrevi em um artigo anterior que o verdadeiro guerreiro vence sem lutar, já que sabe que ele não é a sua mente, já que tem consciência que ela está condicionada e com medo. Assim, descobriremos que existe uma qualidade sã, desperta dentro de nós que só se manifesta na ausência de luta. Basta, segundo Buda,  abandonarmos o esforço por garantir-nos e estarmos seguros para que apareça o estado desperto. Logo percebemos que o “deixar estar” só é possível por poucos momentos, já que logo volto ao comportamento condicionado. Nesse momento uma disciplina é necessária para atingir o “deixar ser”. Essa disciplina é encontrada em uma caminhada de estudo e busca espiritual. Assim, a terceira nobre verdade é a não luta. Isso não quer significar que não me planejarei para o futuro e tudo mais, só que entendo que preciso parar de correr atrás do próprio rabo como fazem os cachorros e de quem rimos muito quando fazem isso.

Já a quarta nobre verdade é conhecida na maioria das linhas como o caminho óctuplo, ou seja: 1.Visão correta, 2. Intenção correta, 3. Fala correta, 4. Ação correta, 5. Meio de vida correto, 6. Esforço correto, 7. Atenção correta, 8. Concentração correta.

Porém, dentro do enfoque que estamos utilizando falaremos da quarta nobre verdade como a verdade do caminho, que é a prática da meditação dentro de uma consciência ampla de cada atitude e movimento que estejamos fazendo, seja andando, respirando ou fazendo o que for. Esse tipo de prática nos afasta também da ambição espiritual de chegarmos a algum lugar, de atingirmos algum estágio superior, etc. Ao me concentrar no presente, aos poucos, vou domesticando minha mente do vício de estar sempre vagando pelo passado com suas culpas e pelo futuro com seus medos e a ansiedade. Nesse estágio, sempre depois de algum tempo, seja o que estejamos fazendo ganha significado, diminui o sofrimento interior, o medo, etc.

Esquecemo-nos que as atividades podem ser simples e precisas, aprendemos a falar com vagar, sem pressa, já que se estamos sem ansiedade, dizemos o que deve ser dito, no tom e olhar correto. Sem isso, como já escrevi muitas vezes, somos apenas uma cópia de quem nos ensinou a ser assim.

A prática de viver a cada momento com total consciência chama-se meditação shamatha. Isso mesmo, não preciso estar sentado de olhos fechados para meditar, basta apenas estar presente! Isso simplifica o caminho óctuplo, já que dessa forma faço tudo correto. Para os budistas, quando renunciamos a toda esperança de atingir qualquer espécie de iluminação, o caminho espiritual se abre diante de nós, e é assim que funciona. Sei que é difícil colocar em palavras essa maneira de viver e o sentimento que traz. Só mesmo alguém como Lao Tsé pode nos ajudar:

O sábio permanece na ação sem agir,

ensina sem nada dizer.

A todos os seres que o procuram

ele não se nega.

Ele cria, e ainda assim nada tem.

Age e não guarda coisa alguma.

Realizando a obra,

não se apega a ela.

E, justamente por não se apegar,

não é abandonado.

Não há nada a buscar, não há nada a atingir, não há do que temer. Isso não quer dizer inação, mas ação lúcida e sem pretensões ou negociações. Assim é fácil entender porque Sidarta nunca falou de Deus. Sua visão da vida é simples e direta, dispensando um pai protetor e os milagres. As verdades de Buda são plenamente praticáveis no dia-a-dia. Fácil não é, já que aprendemos tudo de outra maneira, inclusive que a dor nos purifica, pode?

Observe que, muitas vezes tudo na sua vida está bem, e aí você busca algum pensamento ou idéia (que tem consciência de ser absurda) para continuar a se pré-ocupar, sofrer e ficar angustiado… Afinal se não estiver preocupado, provavelmente estarei sendo relapso ou descuidado com minha vida. Enquanto esse vício continuar, nada vai te libertar, nem todo o dinheiro do mundo, o relacionamento ou trabalho dos sonhos, já que, no minuto seguinte, terá medo de perder, seja o que for….

Você já imaginou viver sem sofrimento?

 

 

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