março 2012

TIMIDEZ

“Toda vez que te olho

Crio um romance.

Te persigo, mudo

todos instantes.

Falo pouco pois não

sou de dar indiretas.

Me arrependo do que digo

em frases incertas.

Se eu tento ser direto, o medo me ataca

sem poder nada fazer.

Sei que tento me vencer e acabar com a mudez

Quando eu chego perto, tudo esqueço

e não tenho vez.

Me consolo, foi errado o momento, talvez

Mas na verdade, nada esconde essa minha timidez…”

Timidez – Biquini Cavadão

                                                                                                                                                                 

Para falarmos sobre a timidez, precisamos, em primeiro lugar, definir o que em conceito psicológico é a personalidade. É, pela personalidade, que nós incorporamos todas as nossas experiências (tudo que vivemos) com os significados que nos deram e como aprendemos a reagir a cada situação. Entende-se a personalidade como sendo uma parte biológica e outra vivenciada com as respectivas emoções. Para dar um exemplo, é como uma forma de bolo (parte biológica) com a massa do bolo que, dependendo da maneira que será feito, terá texturas e sabores diferentes (experiências de vida).

Evidente que podemos falar de uma série de tipos de personalidade que, dependendo do enfoque se divide de várias formas, mas aqui, quando falamos de timidez vamos simplificar em apenas duas: os introvertidos e os extrovertidos, entendendo-se desde já, os tímidos como fazendo parte do time dos introvertidos.

Buscando simplificar o entendimento, poderemos conceituar o introvertido como aquela pessoa que orienta seu foco de atuação na vida para dentro de si, vendo tudo por um ângulo sempre subjetivo, ou seja, interpreta tudo além da percepção ordinária dos cinco sentidos, característica essa das pessoas extrovertidas. Não é a toa que, a maioria dos artistas tem personalidade introvertida. Dando mais um exemplo, o introvertido com sua subjetividade cria uma obra de arte, como um poema, e o extrovertido tem mais facilidade para declamá-lo em público.

Um dos motivos de grande parte dos introvertidos serem mais “fechados (as)” é o fato de possuírem uma subjetividade que procura por uma realidade ideal, diferente da vivenciada pela experiência cotidiana, e isso pode trazer aquela percepção de afastamento e profunda interiorização. Assim, para o tímido não é fácil captar novos amigos, por outro lado os mantêm com mais facilidade, já que sua maneira de ser o torna um bom ouvinte e uma pessoa com capacidade de entender os sentimentos do outro, que sempre são subjetivos.

A timidez torna a pessoa sempre temerosa da opinião dos outros sobre ela e, para não correr o risco de não gostarem dela ou acharem isso ou aquilo ela busca o afastamento. Dependendo do caso, essa é a causa mais profunda da ansiedade que elas sentem em lugares com mais pessoas. O tímido fica sofrendo, imaginando (sempre negativamente) o que todas aquelas pessoas estão pensando dele (a). Alguns preferem nem comemorar aniversário ou outras datas, já que se sentem constrangidas em estarem no centro das atenções e dos olhares e o que é ainda pior; todas as pessoas teriam a possibilidade de interagir e essa perspectiva para a pessoa introvertida é assustadora!

Basicamente, poderemos definir três grupos distintos, mas inter-relacionados de pessoas tímidas: medo da exposição e serem motivo de chacota e rebaixamento, com medo de passar vergonha em público e com medo de falar algo errado.

Pesquisas* mostram que para as pessoas tímidas algumas situações em presença de outras pessoas podem ser dificílimas e as principais são: falar em público (73%), conversar com alguém que deseja afetivamente (64%), conversar com pessoas que ela entende superior por algum motivo (55%), falar com qualquer pessoa estranha por menor que seja o motivo ou situação (50%) e diante de alguma situação nova (48%). Assim, para os leitores que tiveram oportunidade de ler os artigos sobre ansiedade, fica mais fácil entender que o medo projetado diante de qualquer das situações acima é, para a pessoa introvertida, um obstáculo realmente intransponível. Muitas vezes sou procurado para ajudar pessoas a enfrentarem situações como as descritas acima, que vão desde apresentar trabalho em grupo ou diante dos colegas, um trabalho de final de curso universitário, ou mesmo se aproximar de alguém que interessa afetivamente. Na maioria dos casos, a pessoa tímida tem certeza de que não conseguirá se fazer entender, ou que cometerá erros que farão os demais terem uma opinião negativa sobre ela.

Esses mesmos estudos demonstram que as pessoas do tipo introvertido ficam em média mais horas nas internet, principalmente nas redes sociais e sites de relacionamento. Não é difícil entender o porquê disso, afinal estar atrás da tela do computador traz uma proteção e diminui em muito a ansiedade sobre o outro, além é claro do anonimato que, por proteger a identidade social, facilita uma manifestação mais verdadeira, sem o medo do julgamento alheio.

Também é importante lembrar que a timidez, de certa forma, serve como um mecanismo de defesa que permite a pessoa avaliar toda e qualquer nova situação com muita cautela, só que essa resposta ao novo sempre pode vir em forma de fuga ou de negação, afinal é comum nesse tipo de maneira de ser estar decepcionado porque o mundo externo não atinge sua expectativa interior.

Quando os exames de imagens ficaram disponíveis, as pesquisas mostraram que as pessoas tímidas tem uma função maior do lado direito do cérebro enquanto as mais extrovertidas tem o lado esquerdo mais ativo. Como sabemos, o lado direito do cérebro é mais voltado ao pensamento subjetivo, intuitivo e artístico, enquanto o esquerdo é mais lógico e racional.

Alguns introvertidos, movidos pelo medo da exposição, apresentam manchas vermelhas no rosto e pescoço ou simplesmente ficam “vermelhos”, que nada mais é do que a manifestação física do sofrimento interior que eles estão passando. Nessa hora é sempre bom lembrar que, de alguma forma, todos já passamos por situações que nos deixaram corados de vergonha. Pense o motivo dessa reação. Não seria porque essa situação o deixou mais exposto, sem a máscara que todos criamos para sermos bem aceitos e termos certo controle sobre o que as pessoas pensam de nós? Mesmo uma simples queda na rua, um elogio inesperado, uma palavra dita errada diante de um grupo, etc. nos deixam “nus” e a timidez aparece.

 Nos casos mais extremos temos a chamada “fobia social” que impede a pessoa de, mesmo sendo introvertido, ter uma vida minimamente saudável nesse aspecto, necessitando, portanto, de tratamento adequado. A pergunta que se pode fazer então é: quando a pessoa precisa de alguma ajuda terapêutica ou médica? A resposta é simples; quando sua introversão trouxer um sofrimento e perda de qualidade de vida.

Todos nós temos facilidades em alguns aspectos e dificuldade em outros. Ser introvertido não quer dizer uma timidez generalizada, mas forte demais em alguns pontos, principalmente no contato com tudo que gere expectativa e falta de controle da situação. A pessoa tímida trabalha com uma “certeza” negativa dessas situações que sempre geram stress de alguma forma. Porém é nessa interiorização que encontramos a maioria das formas de arte e expressão. A introversão, quando na medida certa (se é que podemos assim dizer), pode dar uma compreensão do mundo mais profunda, indo além do que simplesmente se percebe pelos meios mecânicos dos sentidos.

O importante é lembrar que a introversão não é uma condenação a que estão expostos os tímidos, mas algo que pode ser melhorado e muito com disposição e, quem sabe, uma ajuda terapêutica. Caso sua introversão ser em apenas algum aspecto da vida, é sinal de que pode ser melhorada, afinal em outros pontos isso não acontece. No caso de ser generalizada, avalie os prejuízos e lembre que o ser humano se caracteriza por ser sempre uma possibilidade em aberto e não há nada que não possa ser modificado.

O introvertido ou tímido “sente” a vida de forma mais intensa, elabora significados para tudo e leva a emoção muitas vezes onde o extrovertido nada vê. Como no exemplo que demos acima, enquanto o introvertido se emociona com a música e busca interpretar a letra fazendo paralelos com sua vida e outras situações enquanto no mesmo momento o extrovertido aproveita a melodia para dançar… Não existe certo e errado, afinal o que seria da arte se não houvesse quem dela se aproveitasse da beleza e do significado? Leonardo da Vinci disse certa vez que a arte existe apenas porque temos dois tipos de pessoas; os que criam e os que a apreciam e a julgam bela.

*Ballone GJ – Personalidade introvertida e timidez.

Fazendo e decifrando Mandalas

Aqueles que gostam de simbolismo e interpretação, teremos em Jaraguá dia 14 de abril (sábado) um curso de interpretação de Mandalas. Ótimo para terapeutas como ferramenta de trabalho, professores e todos aqueles que buscam o auto conhecimento. A ministrante entende profundamente do assunto e vale realmente a pena. Diziam os antigos sábios que uma mandala tinha o valor de 1000 livros! Estarei lá!

Restam ainda algumas vagas… Assim ocupa-se o sábado de forma produtiva, com crescimento e sabedoria e sobra o domingo para o lazer e descanso… As inscrições pelo fone (47) 96077372 com Marinei.

 

2012 – O ano do PONTIFEX

Não nascemos humanos, nos tornamos humanos.

Joseph Campbell

Tarô de Marselha
O Sumo Sacerdote (Papa) Tarô de Marselha

 

É comum, devido a estudos sobre simbologia numérica que faço há muito tempo, as pessoas perguntarem para que cada ano é favorável. Assim, mesmo que já estejamos em março, não é tardio estudarmos um pouco sobre o que nos recomenda esse ano 5, já que 2+0+1+2=5.

Cada número traz em si um ensinamento velado sobre estados de consciência e etapas evolutivas que o ser humano busca da ignorância a iluminação de sua percepção quando atinge a capacidade de “ver” sem julgar.

Dessa forma, assim como em artigo anterior estudamos o número 11, vamos agora buscar as principais características desse número cinco, mesmo que de forma superficial, já que esse blog se destina a busca do autoconhecimento e esse tipo de saber é muito importante.

Para Pitágoras, o cinco representa a liberdade, a busca de desbravar novos lugares e, como o “outro lado” uma inconstância, aversão a rotina de qualquer espécie e uma sensualidade marcante que o faz trocar de parceiro movido pela eterna busca de novas experiências. Por dividir os números mais voltados a realidade (1,2,3 e 4), dos mais voltados a espiritualidade (6,7,8 e 9), ele transita por todos com desenvoltura e explica essa dificuldade de permanecer muito tempo em um mesmo lugar ou relacionamento. O cinco pitagórico é, acima de tudo, livre e descompromissado, sempre pronto a viagens e novas experiências como uma facilidade incrível de se entediar.

Porém, se buscarmos um mergulho mais profundo encontraremos o Cinco ligado a figura do pontifex, que em sua etimologia significa ponte e para os católicos o Papa. Também o Cinco representa o número simbólico da quinta-essência que é a preciosa e indestrutível qualidade só conhecida daquele que transcende os quatro elementos primários (terra, água, fogo e ar) tão comum aos homens quanto aos animais. Poder-se-ia então dizer que a verdadeira humanidade só é atingida quando experimentamos a quinta-essência.

Então a figura do Papa significa a pessoa que faz essa ponte do homem com a divindade, ele exterioriza essa luta em busca do verdadeiro significado da existência. Cabe então ao Papa tornar acessível ao homem o mundo transcendental, que normalmente acessamos apenas pela intuição. Por isso, nos baralhos antigos de tarô ele poderia simbolizar um médico, padre, terapeuta ou guru, ou seja, alguém que ajudaria a “entender” e buscar significado da vida de forma total, não só ligado ao temporal.

Essa busca pela transcendentalidade é sempre importante na medida em que nos ajuda, pelo conhecimento de si, a nos tornarmos cada vez mais conscientes de nossa capacidade para o bem e para o mal que, normalmente, projetamos para fora de nós nas pessoas e situações que criticamos e adoramos.

Na figura que ilustra esse artigo, onde tudo tem um significado, vemos nosso Papa segurando seu cetro com a mão esquerda, o que mostra que essa busca por um significado é via coração e não pela razão, sempre coberta pelos véus dos condicionamentos e pré-julgamentos que, impostos desde cedo, nos tiram a capacidade de vermos por si, mas entendermos tudo com lentes distorcidas e sempre muito, muito antigas…

Assim, o cinco representa o Logos na figura do Cristo, que é o representante de Deus e também um ser humano, o que nos ensina que, pertencemos ao Tempo, mas com essência imortal. Como nos ensina Jung, sem essa interação entre o humano e o transcendente, nem a consciência do homem nem o espírito poderiam evoluir.

O sinal chinês indicativo do homem é o pentagrama, onde a ponta da estrela voltada para cima demonstra o domínio de si mesmo e a vitória da consciência sobre os instintos, onde, quando usado como amuleto, guia e protege o homem. Já quando essa estrela está com a ponta para baixo, temos a desordem intelectual, subversão e loucura, o que simboliza um mau presságio e a magia negra.

Como curiosidade numerológica é interessante observar que o número divino da plenitude e da criação é o 10. Metade é 5. No corpo temos  a simetria que exige que dividamos o corpo em dois lados, sendo que em ambas as partes encontramos o 5: temos 5 dedos em cada mão, portanto 10 no total. Da mesma forma nos pés. Temos 32 dentes, com a soma (3+2) igual a 5. A arcada dentária superior tem 16 dentes que soma 7 (1+6) e a inferior também. Assim temos 7+7= 14 que nos traz o 5 pela redução de 1+4. O número dos sentidos também é 5. Ao adicionarmos os membros, dois braços e as duas pernas juntamente com a cabeça encontramos mais uma vez o 5. O corpo humano cabe assim na estrela de 5 pontas e, segundo os estudos antigos, a corrente vital circula pelo corpo na forma dessa estrela. Abaixo, temos um pantáculo antigo usado como proteção, cheio de simbolismos.

Portanto, o cinco, ou nosso Papa interior é a função em nós mesmos que nos governa o bem-estar espiritual, a consciência inata que nos diz quando erramos contra nós mesmos. Aprender a “ouvir” o Papa torna nossa voz interior tão merecedora de confiança que nos tornamos divinos.

Assim, respondendo a pergunta, 2012 é um ótimo ano para viagens, mudança de rotina, de trabalho e novos relacionamentos. Pitágoras recomendaria evitar as viagens mais perigosas via estimulantes químicos que o cinco gosta de fazer para “viajar” sem sair do lugar ou quando está entediado. Mas, sem dúvida, é um ano para criarmos a “ponte” que nos leve ao nosso mundo interior, buscar o autoconhecimento, estudar filosofias, religiões e buscar uma prática espiritual.

Independente de o mundo acabar ou não como, segundo dizem, os Maias profetizaram, se você conseguir encontrar-se com seu Papa interior, tudo já terá valido a pena.

Use a energia do cinco e arrisque-se!

ANSIEDADE – 2a Parte

      “A segurança é acima de tudo uma superstição. Ela não existe

       na natureza…. E tampouco os seres humanos a vivenciam.”

                                                                Helen Keller

Como observamos em nosso artigo anterior, a ansiedade provoca sofrimento; afinal ela se caracteriza como uma resposta interna a um perigo simbólico ou imaginário, ou seja, sentir-se inquieto, apreensivo ou preocupado sobre o que pode acontecer. No fundo ela representa uma busca desesperada por segurança, estabilidade e não estar em risco. Isso vale para tudo.

Assim, quem está ansioso precisa de algo que elimine no seu corpo e pensamento esse sofrimento. Então nos cabe a pergunta: Qual o antídoto para o sofrimento? O que o ser humano precisa fazer para estancar essa angústia?

A resposta é só uma: PRAZER!!

Só um prazer acalma o sofrimento, dessa forma a ansiedade pode ser vista como participante de diversos vícios e compulsões, já que eles ajudam a fornecer uma carga rápida de satisfação e isso traz alívio. Pensemos nas principais formas de atenuar a ansiedade, evidentemente que não estamos falando das crises graves, onde a medicação e, muitas vezes, a internação são necessários.

Todo o comportamento humano tem uma finalidade positiva a cumprir como nos ensina a PNL (programação neurolinguística) e é mantido enquanto traz resultado. Dessa forma é preciso entender porque precisamos desse comportamento e se não podemos atingir seu objetivo de forma mais saudável.

Podemos começar pela comida. Desde que nascemos, quando choramos (não sabemos nos comunicar de outro jeito) recebemos comida em troca. Assim, criamos um certo condicionamento de que comendo as coisas melhoram, então os sofrimentos são resolvidos com comida. Mas como precisamos de um prazer, o que buscamos para acalmar nossa ansiedade precisa ser gostoso e isso normalmente nos remete a alimentos calóricos. Não conheci ninguém ainda que durante um processo ansioso tenha ingerido uma grande quantidade de chuchu, por exemplo, ou talvez, aquela mulher vivendo uma ansiedade amorosa tenha trocado os chocolates por vários pés de alface. Assim a ansiedade está diretamente ligada a ganho de peso. Importante lembrar que as fórmulas “mágicas” produzem o efeito sanfona, já que os inibidores de apetite podem conter por um tempo, mas quando o “tratamento” termina o peso volta, já que o foco da ansiedade não foi tratado. Quando se come demais ou fora de hora, estamos, na maioria das vezes, buscando anestesiar um sofrimento que, mesmo que estejamos apenas imaginando, para nosso corpo será sempre realidade. Portanto se não buscarmos uma consciência clara de porque estamos ansiosos, nada vai mudar. Além disso, a comida é mais acessível do que as demais formas tradicionais de amenizar a ansiedade que falaremos a seguir.

A bebida alcóolica relaxa, diminui nossos filtros de segurança e nos permite sermos o que queremos ser. Uma pessoa começa bebendo para se livrar de determinadas frustrações e medos e vai formando um círculo vicioso que pode terminar em dependência química. No caso da bebida o maior problema é o período que chamamos de “ressaca”, onde a pessoa se percebe cada vez mais triste e vai necessitando de mais e mais para buscar algum bem estar. O álcool, por ser socialmente aceito e incentivado, é o que muitos buscam para aquietar seu pensamento que está negativado e ajuda a não pensar sobre o que tememos que o futuro nos reserva. A mídia diz apenas que você não deve dirigir quando bebe. Também deveria dizer para não se comunicar, tomar decisões e agir. A pessoa que está alcoolizada (a medicina já provou que não precisa muito para alterar o equilíbrio) não está de posse coerente de si mesmo.

A questão do álcool é complexa, já que associamos muitos prazeres a ele, inclusive o de sentir-se mais relaxado, o que é o oposto de estar ansioso. Não podemos esquecer que lugares ou reuniões sociais estão sempre associados à bebida e acreditamos que isso nos proporciona benefícios emocionais, ajuda a aproximar as pessoas trazendo momentos de felicidade. Não dá para discordar que estar relaxado e momentaneamente feliz faz bem a nível fisiológico. A pergunta é: não dá para se sentir bem de outro jeito? Para encerrar sobre o álcool, não posso deixar de citar o famoso psicólogo Carl Jung que disse: “Álcool em latim é spiritus, a mesma palavra tanto para a mais elevada experiência religiosa quanto para o veneno mais depravado.”

Outra maneira de lidar com a ansiedade é com o uso de drogas de diversos tipos e os motivos são quase os mesmos que embasam o uso do álcool. Só que as drogas, trazem uma grande liberação de hormônios ligados ao prazer, bem como tem a capacidade de desconectar a pessoa da realidade com sua ação sobre o sistema nervoso. Essas “viagens” buscam também aliviar a carga negativa do pensamento ansioso provocando um descanso no sofrimento. Não é a toa que as medicinas mais antigas como a chinesa e a indiana entendem o uso de drogas como uma compensação para a falta de alegria na vida. No caso das drogas, bem como do álcool, é sempre importante lembrar que ninguém tem a intenção de tornar-se viciado, até porque nem todos que experimentam drogas passam a ser dependentes. O grande problema, no entanto, é que a pessoa superestima seu poder de autocontrole e subestima sua força de dependência.

Já quando falamos do cigarro é importante lembrar que a nicotina é uma das, aproximadamente, 4000 substâncias químicas que fazem parte. A nicotina tem como principal característica, no que se refere à ansiedade, a capacidade de trazer conforto e relaxamento. Justamente por isso que os fumantes sempre aliam a presença do cigarro após atividades prazerosas que vão do cigarro após a refeição até depois do sexo… Mesmo que resumidamente e até como curiosidade, importante saber que depois de cada tragada a nicotina vai para os pulmões e daí para o sangue, carregada pelas artérias, e chega ao cérebro em 8 segundos. O tempo de duração da sensação boa não passa de 20 minutos, e quando o nível de nicotina começa a baixar o desejo por outro cigarro cresce e daí já sabemos como funciona.

Para encerrar os mais comuns meios de anestesia da ansiedade temos a compulsão por compras. Como sabemos comprar é um prazer porque nos dá a sensação de “poder”. Normalmente as pessoas acometidas desse mal, compram coisas que nunca chegam a usar e, como em toda a ressaca, se arrependem logo depois do ato. Comprar dá prazer e isso é cultural, ou você já viu em algum comercial alguém chorando por ter comprado alguma coisa? Nesse como em qualquer dos tópicos acima, existe um grande prejuízo para pessoa, sua família, trabalho e amigos. Mesmo o cigarro já pode ser considerado também, já que fumar hoje pode ser decisivo para conseguir um emprego ou mesmo um relacionamento afetivo.

Mas e quando a pessoa não busca uma compensação de prazer diretamente? Nesse caso surge a depressão! Digo isso pelo simples fato de os últimos estudos demonstraram que a ansiedade esta presente em 80% dos casos de depressão. É quando a negatividade constante e crescente do pensamento vai abatendo a pessoa, trazendo uma certeza (sempre imaginária) de que, seja o que for, dará errado. Evidentemente que não é só a ansiedade que provoca depressão, mas a grande maioria das pessoas deprimidas se dizem ansiosas. Portando essa relação de ansiedade com depressão é obrigatória. Como dissemos em nosso artigo sobre depressão, existe a “certeza” de que a tristeza nunca terá fim e o prejuízo à qualidade de vida é inevitável, assim como o uso de medicamentos. Todavia, se a pessoa não buscar entender seu processo e fazer mudanças nunca nada mudará, apenas se manterá de pé movido pelas substâncias químicas. Nessa hora também é importante lembrar a ligação da depressão com dependência química em geral, tendo sempre a ansiedade como pano de fundo.

A ansiedade é a causa das fobias que nada mais são do que a certeza  de que determinada coisa vá acontecer. Quem tem fobia de lugares fechados tem “certeza” de que ocorrerá algum problema e a morte por sufocamento ou sendo pisoteada será inevitável. Assim como quem tem medo de altura não tem dúvida que cairá e morrerá e assim por diante. A fobia é portanto uma reação presente a algum acontecimento doloroso que a pessoa imagina que ocorrerá. Mas todo o problema, como já sabemos, é que nosso corpo responde 100% ao que imaginamos e é por isso que diante do evento fóbico a pessoa fica paralisada, com o terror expresso no olhar.

Da mesma forma, muitas formas de transtornos obsessivos compulsivos são pura ansiedade, só que descarregada na limpeza, organização, verificação (sempre conferir se fechou a porta, por exemplo), sentir-se sujo (certeza de que se contaminará) e assim por diante.

Outra forma de ansiedade aparece nas pessoas controladoras e centralizadoras em excesso, seja profissional ou afetivamente. Essa necessidade de controlar tudo está ligada a uma forte insegurança (medo) de que se tudo não sair ou ser como ela quer perderá o relacionamento, o emprego, o comando, etc..

Seriam necessários muitos artigos para falarmos da ansiedade e suas consequências, mas penso que os tópicos principais foram aqui abordados, desde sua base teórica, no artigo anterior, bem como isso se transforma em problemas na vida prática no presente texto.

Fique com a frase que abre esse artigo como lembrança! Ela toca na raiz de todo o processo ansioso que hoje afeta o mundo inteiro. Entenda e aceite definitivamente que nada pode estar seguro, a não ser que esteja morto. O processo de tudo que é vivo é baseado na constante transformação e querer manter tudo controlado ou seguro é uma impossibilidade. Não há controle sobre o futuro e isso é fantástico!! Como é chato ver um filme que já se sabe como acaba, não acha?

O remédio?

Mantenha-se no presente, consciente de seus atos e lembre que se tem alguma coisa que pode influenciar o futuro é o hoje. Não deixe que a ilusão da negatividade natural do pensamento seja seu guia. Entenda como isso funciona a assuma o comando da sua vida e termine com essa doença de pensar que tudo vai dar errado se perder e todas essas coisas que simplesmente você imagina, destruindo seu corpo de tanta tensão.

Como não há controle sobre nada mesmo, relaxe……

ANSIEDADE

Há um tempo em que precisamos abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, a margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

A ansiedade é considerada o grande mal da humanidade nos dias atuais, e penso ser importante refletirmos sobre ela.

Para começar, é importante ressaltar que a ansiedade é necessária para vivermos bem, mas como tudo, precisa estar na medida certa. Ansiedade significa MEDO e ela pode ser simplificadamente definida como todo e qualquer medo relacionado ao futuro, estando diretamente ligada ao nosso sistema de sobrevivência. Ninguém que se tenha notícia ficou ansioso em relação ao passado.

Quando, por exemplo, alguém lhe oferece algo para comer que não faz parte dos seus registros anteriores, a ansiedade é que faz com que você olhe com cara de desconfiado, cheire, apalpe antes de tomar a decisão de por isso na boca. Na hora de atravessar a rua é a ansiedade ou, nesse caso, o medo de ser atropelado que indica que olhar para os lados pode salvar sua vida. E assim poderia dar uma infinidade de exemplos. A ansiedade em grau elevado e descontrolado provoca o que conhecemos como síndrome do pânico*, que nada mais é do que o medo em altíssimo grau, com sintomas físicos que trazem a clara sensação para a pessoa que passa por isso de que ela irá morrer. Isso faz com que se tenha medo de tudo, de sair de casa, de ir a lugares com muitas pessoas, ambientes fechados, etc.

Nunca é demais lembrar que a ansiedade (sempre ligada ao futuro) e a culpa (ligada ao passado) fazem parte  de um processo de defesa que não tem nenhuma preocupação com a qualidade da vida que levamos. Buscam, pura e simplesmente, nos manter vivos, mesmo que seja fechado dentro de casa. Todo o medo de fazer mudanças, seja do que for, é um processo ansioso, já que esse medo estará sempre presente quando alguma situação nova, que me trará experiências e modo de ser e viver inéditos até então estiver por ocorrer. E é justamente a ansiedade a culpada por criarmos uma série de rotinas em nossa vida, desde sentarmos sempre no mesmo lugar na mesa, repetirmos trajetos, e tudo que fazemos de forma mecânica, já que isso traz uma sensação de segurança, de conhecido, o que diminui o risco de que algo fora do controle me aconteça. Aquele “frio” na barriga durante a espera por uma resposta, a um encontro, uma entrevista ou a como será determinada situação é simplesmente o medo de que tudo dê errado. Daí para se “preparar” e não ser pego de surpresa, você já começa a viver a situação de forma negativa, ou seja, já sofro pelo que ainda não aconteceu como se já tivesse acontecido. É ou não uma loucura?

Fica fácil de entender então que a resistência às mudanças nada mais é do que um simples aviso de que algo que não tenho como saber como será está por acontecer e meu sistema de segurança entra em alerta. Nessa hora nossa mente começa com uma série de argumentos nos justificando que devemos permanecer no conhecido, que tudo pode dar errado, piorar, etc. Portanto é importante entender a ansiedade como um simples processo do corpo, que está com medo de algo que não conhece, só isso!

Por outro lado, como já escrevemos muitas vezes em artigos anteriores, o processo da vida caracteriza-se por constantes mudanças que são sempre novidade. Dessa forma, poderemos entender a ansiedade da seguinte forma: meu corpo não quer mudanças, meu espírito precisa delas, e você (consciência) precisa decidir quem manda.

Assim como a culpa está ligada ao já vivido, e a ansiedade ao que está por vir, ambos não existem e poderemos até dizer metaforicamente que são alucinações que nos acompanham a cada momento. Use sua racionalidade para lidar com a ansiedade, perceba que precisamos tomar decisões, escolher caminhos e aceitar as mudanças. Deixe esse medo sem sentido de lado lembrando que ele apenas faz parte da nossa parte “bicho”, mas não combina muito com a outra parte, humana!

Em relação ao movimento orgânico, todo nosso metabolismo está ligado somente ao que estivermos imaginando, assim sempre que você estiver “alucinando” com a sua ansiedade, imaginando que nada dará certo, que o futuro é de fome e miséria, que a doença na velhice é certa e que todas as pessoas que você ama morrerão, para seu corpo tudo está acontecendo verdadeiramente. Nessa hora o coração acelera, o estômago e intestinos trancam e sua respiração fica totalmente alterada, ou seja, o sofrimento do que imagino torna-se físico!

E como é a cultura em que vivemos?

Toda baseada no medo! Estudamos e buscamos trabalho, relacionamentos, escolhemos quase tudo baseado nesse sentimento. É cada vez mais perceptível, por exemplo, a busca por profissões ligadas a produção e capital, já que assim é bem provável que não passaremos necessidades, já que o salário desse ramo é “certo” e nunca faltará comida em nossa mesa… Se você estará feliz ou não isso é secundário! Muitas vezes precisamos sofrer muito para percebermos que isso não basta, que precisamos buscar fazer algo que tenha a ver com o que realmente somos. Nada como um bom sofrimento para enfrentarmos nossos medos. Pessoas que não tem muito medo, que são despreocupadas demais são consideradas irresponsáveis e pouco “sérias”. Isso quer significar, que se você não demonstrar medo, algo estará errado.

A vida, do jeito que aprendemos a viver, vai elevando nosso nível de ansiedade por todos os lados. A mídia nos “ensina” que se não tivermos determinadas coisas seremos considerados derrotados, incompetentes e fracos. Assim, temos medo de perder o respeito dos outros e estamos cada vez mais ansiosos para cumprir as normas de sucesso impostas, assim trabalhamos demais, corremos demais. A doença é uma questão de tempo. Lembre que seu espírito ou alma não adoece, mas o corpo sim!

A ansiedade na medida certa tem sua importância, já que também pode ser vista como um combustível para atingirmos nossos objetivos e nos sentirmos adequados, mas deve ser entendida e mantida sob controle. Ansiedade de menos é irresponsabilidade, descuido e riscos desnecessários, em demasia é paralisia, involução e sofrimento. É como um copo que deve ser mantido pela metade de sua capacidade, sempre. Quando cheio, uma simples gota o faz transbordar e chega a crise ansiosa.

O medo é um bom empregado, só isso! Ouça o que ele tem a dizer, mas nunca perca a consciência da sua limitação e que ele quer apenas que você se mantenha vivo, se mal ou bem não faz parte de suas atribuições. Isso cabe a você, que, como o grande diretor de sua vida deve decidir escolhendo conscientemente seu caminho. É seu conselheiro pessimista, então, não esqueça de ouvir o que o otimista tem a lhe dizer.

*A síndrome do pânico será tema de artigo específico, tendo o presente texto como pré-requisito para o entendimento.

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