Pior que o preconceito

Coluna publicada no Folha SC dia 12 de Janeiro de 2016.

Diz textualmente o jornal SINEPE/SC (Sindicato das Escolas Particulares de Santa Catarina) na sua edição de novembro 2015 na página 19: “O Sinep/SC manifesta o reconhecimento pelo trabalho de universalização do ensino e o esforço coletivo na consolidação de uma sociedade onde todas as pessoas sejam respeitadas, mas repudia com veemência quaisquer tentativas de descontruir o conceito antropológico de família, cujo fundamento é a união entre homem e mulher.” Como se não bastasse afirma pela escrita do professor Felipe Aquino:  “A genética prova, por nossos cromossomos, que só existem dois sexos: XX (mulher) ou XY (Homem).”

Depois, durante o texto, se contradiz ou busca amenizar, quando afirma que: “Discriminar uma pessoa em virtude de seus hábitos sexuais, origem étnica, religião ou qualquer outra característica análoga é não apenas estúpido como também imoral.”

Para começar,  a posição do Sindicato é claramente homofóbica, na medida em que afirma que a única união “certa” é entre homem e mulher. Essa é uma postura que não respeita os avanços sociais não só aqui, mas no mundo desenvolvido.

Qualquer pessoa minimamente informada e que viva no século XXI, sabe que a união afetiva não se dá por sexo, mas por psicologia. Qualquer casal é composto por um jeito de se expressar Masculino e Feminino,  não tendo a ver com o corpo. A expressão sexual é uma escolha, que, felizmente já é respeitada por lei. Discriminar um casal de pessoas do mesmo sexo é crime!

 A ideia de que uma família só pode dar certo com a presença de um homem e uma mulher não resiste a dez segundos de ponderação; se assim fosse os casamentos não terminariam, seriam eternos. Para procriar sim, você precisa de um macho e uma fêmea, como qualquer espécie. Mas uma olhada atenta mostra que a homossexualidade está presente na raça humana desde sempre e em praticamente todos os mamíferos, fazendo, portanto, parte da natureza. Tudo que existe, só existe por ser natural.

O problema é sempre a moralidade, normalmente ligada a crenças religiosas.

Imoral é ser infeliz, é não poder se expressar livremente.

 Imoral é abdicar das escolhas pessoais em nome de uma cultura que com seus “princípios” gera cada vez mais pessoas doentes, depressivas e angustiadas. E o pior; cada vez mais jovens.

Ser moral é ser feliz!

Ser homossexual ou heterossexual é uma escolha de como se sente melhor em relação ao ato sexual e de que companhia quer para viver ou para formar uma família. Casais homossexuais podem cometer os mesmos erros de casais de sexos diferentes, afinal somos humanos. Pensar que só um homem e uma mulher podem construir um lar saudável basta dar uma passada no Conselho Tutelar e dar uma olhada nos números que talvez mude de ideia.

Discordo do artigo quando diz que o governo quer impor para sociedade a força uma nova ordem, o que vejo é irmos à direção do que acontece nos países mais desenvolvidos. O ideal é olhar quem está na frente no IDH, onde ocupamos o “honroso” 85º lugar. Esse tipo de posição está mais para a “segunda divisão”.

E, se a religião está por trás desse tipo de posição retrógrada, podemos recorrer a Bíblia. Todos conhecem a passagem em que uma “pecadora” foi levada diante de Jesus e os que a trouxeram (os moralistas) perguntaram se ela deveria ser apedrejada, como mandava a lei na ocasião.

Jesus, perguntou em outras palavras, quem eram eles para acusa-la? Saíram todos com rabo entre as pernas.

Fico pensando; porque isso incomoda tanto? Qual o problema?

Sexualidade é escolha, e como tal deve ser respeitada. Se a justiça, que sempre anda mais lentamente, já reconhece em vários países a união entre pessoas do mesmo sexo, é natural que o Brasil, como país emergente, rume nessa direção. Essa posição preconceituosa está mais para Talibã do que para Noruega.

Recentemente nos EUA, uma cartorária, alegando questões religiosas (sempre isso), não quis homologar o casamento de pessoas do mesmo sexo. O que aconteceu com ela? Foi levada para a cadeia junto com sua crença. A Suprema Corte Americana deu a pá de terra que faltava para enterrar essa perversidade medieval.

Não cabe a nenhuma escola ou professor dizer para uma criança que só existe um jeito certo de se expressar sexualmente, uma religião melhor ou regime político ideal. A função da escola deve ser formar cidadãos críticos e isso é ensinar-lhes a pensar e dar-lhes liberdade de se posicionar como quiserem sobre qualquer assunto. Parece que existe um medo que nos “percamos”, como se todos fossemos homossexuais reprimidos e essa liberação acabaria com a sociedade. Sempre teremos hetero e homossexuais, porque isso é assim, naturalmente.

Precisamos de pessoas livres, não de ovelhas.

O historiador Leandro Karnal, uma das mentes mais lúcidas da atualidade brasileira, disse em uma palestra que a primeira grande revolução que a educação brasileira precisará experimentar é acabar com o preconceito dos professores.

Pelo que percebo, infelizmente, ele está certo!