Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

 

                  “ O meu medo é uma coisa assim,que corre por fora

entra, vai e volta sem sair…”

Dalton e Claudio Rabello -Pessoa

                                                                                                                                                                 

De todos os transtornos de ansiedade o TOC  é um dos que mais causa sofrimento, e isso pode ser explicado pelo próprio nome. Não é fácil ter compulsão e obsessão de uma só vez, mas para começar, vamos explicar o que é isso.

Obsessões são pensamentos sempre negativos, estressantes que perseguem a pessoa de forma intrusiva, como diriam os antigos, um disco arranhado que fica repetindo, repetindo… Mesmo que a pessoa saiba que eles são totalmente absurdos e sem conexão com a realidade não consegue se livrar deles, e de tanto repetir, passam a esperar que eles aconteçam, afinal uma mentira dita mil vezes vira verdade. Nessa hora, como já escrevemos tantas outras vezes, o corpo entra em intenso sofrimento, já que está ligado diretamente a imaginação.

Então, para evitar os pensamentos, a pessoa desenvolve comportamentos repetitivos (rituais) como uma forma de atenuar a ansiedade que está sentindo. Esses comportamentos repetitivos também podem ser chamados de manias. Imagine como deve ser sofrido lidar com pensamentos que não quer ter e que se recusam a abandonar sua mente. Fica mais fácil compreender que as manias são, na verdade, tentativas desesperadas de parar de sofrer mentalmente.

Esse círculo vicioso só vai piorando com tempo, e se não for buscada ajuda, o processo se torna crônico e vai ficando cada vez mais severo. Quanto mais a pessoa tenta se livrar desse pensamento que a faz sofrer por meios das repetições de comportamentos, mais os pensamentos se tornam presentes e intensos. Não é fácil!

A dica aqui é simplesmente não lutar! Isso mesmo, se você simplesmente “deixa” eles na sua cabeça, sem reagir, naturalmente eles vão perdendo intensidade, já que é a “luta” que dá essa força. Seu único esforço é lembrar que são “mentiras” da mente e não tratá-los como reais.

Estudos estatísticos• mostram que as pessoas com TOC chegam a levar até 10 anos para procurar auxílio. E isso se deve a alguns fatores:

– Tem consciência que os pensamentos são absurdos e tem vergonha de relatá-los.

– Acredita que conseguirá sozinha resolver o problema, o que é muito difícil.

– Pensa que as compulsões não trarão prejuízos a sua vida.

O que normalmente ocorre, é que a procura por auxílio chega somente quando a rotina e as atividades profissionais ficam comprometidas, o que demonstra o grau elevado em já que se encontra a pessoa. Chega a tal ponto, por exemplo, da pessoa estar pronta para seu compromisso muito antes da hora marcada, já que irá verificar se fechou as portas e janelas inúmeras vezes, o que demanda tempo. Alguns passam a se atrasar, já que cumprir essas intermináveis verificações terminam por, além do tempo que levam, deixar a pessoa mais aflita, afinal poderá perder a hora do seu compromisso.

Normalmente os casos mais avançados de TOC são tratados com ajuda psiquiátrica com remédios que buscam diminuir a ansiedade e psicoterapia, para poder mudar os comportamentos e criar seus próprios mecanismos de defesa.

O que observo em consulentes com um grau intermediário, que o TOC sempre se acentua em situações de vida onde o estresse está presente, normalmente em momentos de decisão, mudança ou conflitos pessoais.

As compulsões mais comuns são:

Mania de limpeza ou lavagem; nesse caso chega a sangrar as mãos de tanto lavar, ou então ficar horas no banho. Isso inclui um medo de contaminação com todo o tipo de objeto, até mesmo do ar que respira.

Mania de ordenação; tudo precisa estar guardado da mesma forma e na mesma ordem. Quando os objetos não estão como deveriam, vem um desequilíbrio e sofrimento de não conseguir fazer nada enquanto tudo não for “arrumado”.

Mania de Verificação; Aqui o espectro é grande. Vai desde confirmar se a porta está fechada, se a pessoa já chegou, se o relógio está mesmo programado, se a lista de compras está pronta etc. Quem vê pode até achar engraçado ver a pessoa fechar a porta muitas vezes, mas não tem noção do sofrimento de quem passa por isso.

Mania de contagem; precisa contar de tudo, carros que passam, degraus da escada, ver se a quantidade de talheres na gaveta não mudou, etc.

Mania mental; pensar em frases ou palavras para atenuar os pensamentos angustiantes. Esse tipo de mania é incentivado por livros de autoajuda, ou teorias místicas. A cabeça fica em diálogo interno sem fim: de um lado o pensamento negativo de outro o pensamento que tenta anular o primeiro. Imagine!

Poderia ainda citar outros tantos, mas o que importa aqui é transmitir a mensagem de que se você sofre de TOC ou conhece alguém de suas relações tido como “esquisito” pelas manias, ajude a procurar auxílio. Dá para melhorar e muito! No final, o TOC vai virar um aviso de que algo não vai bem ou o momento da vida está tenso o suficiente para despertar os sintomas.

A base do TOC é a ansiedade, sendo, portanto, controlável. Mas se o leitor(a) não passa por isso, cabe lembrar que todos, de alguma forma, experimentamos o TOC. É só buscar na memória aquela entrevista de emprego em que você conferiu 10 vezes se o currículo estava na pasta e checou se a roupa estava no lugar outras tantas, ou mesmo de ensaiar uma infinidade de vezes aquele pequeno texto de meia dúzias de linhas com medo de errar e passar vergonha.

A saída é entender o processo da ansiedade e, se já esta sofrendo, procurar ajuda imediata para melhorar a qualidade de vida. Ninguém está livre de ser acometido de algum dos transtornos de ansiedade, onde o TOC é apenas um deles. O mundo que vivemos e a maneira como pensamos a vida é um terreno extremamente fértil para isso.

Procure relaxar, fazer alguma atividade física e se divertir. Não deixe sua vida virar um tormento. Estamos sempre a um passo disso!

Quer se divertir? Assista o filme premiado “Melhor Impossível” com Jack Nicholson, onde ele faz um personagem que tem vários tipos de TOC. É uma maneira ótima se saber mais sobre o assunto.

•Para saber mais: Mentes e Manias – Ana Beatriz Barbosa Silva