setembro 2011

Você é LIVRE?

Se for útil, não vejo problema de um moinho de vento ser um dragão”

Do autor

Em alguns textos anteriores, tenho colocado a questão da liberdade de uma forma um pouco diferente da habitual, enfatizando a idéia de como interpretamos os fatos que nos acontecem e hoje, quero me dedicar a esse assunto com alguma profundidade.

Como sabemos, parte de nossa mente recebeu desde o nosso nascimento um “programa” de vida que fomos aprendendo com nossas figuras referenciais, professores, religião e cultura em geral. Essa programação está sempre em andamento, na medida em que continuo aberto ao que vejo e ouço a cada momento. Chamamos essa parte da mente de subconsciente. Portanto, cada vez que você está conversando consigo mesmo, é com ele que está falando. Nessas horas, o que geralmente acontece, é ficarmos “discutindo” com nosso programa, se podemos fazer o que queremos, se não é errado, pecado etc. Entendo o subconsciente de uma forma mais abrangente que o Super Ego de Freud, mais do que um “juiz”ou censor interior, mas um modo automático de pensar o que seja certo ou errado.

Assim, estamos sempre, de uma forma ou de outra, com nossos pensamentos parametrizados pelo programa, chegando muitas vezes até a ouvir a voz da pessoa que nos incutiu essa idéia na cabeça. Quantos dizem: “como eu gostaria de ser …. e não consigo”. Esse lamento se justifica, porque se no meu programa está inserido o conceito de que não posso ser dessa ou daquela forma, por mais que queiramos é muito, mas muito difícil mesmo que se consiga essa mudança.

Sobre isso, espero escrever mais com o tempo, mas por hora, esse preâmbulo serve para questionar se não existe uma outra maneira de interpretar, de dar um sentido novo a tudo que me acontece. Será que só existe mesmo essa maneira de avaliar as situações?

Gandhi disse certa vez que “existem pessoas presas andando pelas ruas e livres dentro de celas”. Tenho certeza de que ele falava exatamente disso. Todos gostariam de ser mais otimistas, de encarar os obstáculos com confiança, de estarem sempre positivos diante da vida, mas não conseguem. O problema é que a primeira interpretação que faço de tudo que me acontece está automatizada em meu subconsciente, é um pensamento mecânico, que, portanto, não exige nenhuma consciência para ocorrer. Nessa hora, é que podemos exercer nossa liberdade, que é justamente encarar aquela situação de outra maneira e principalmente ter uma nova atitude. Quando conseguimos atitudes novas, com o tempo, vamos nos programando do jeito que queremos ser e não da maneira que nos foi imposta. Vamos a um exemplo:

Suponhamos que uma pessoa seja demitida do seu emprego. Naturalmente ela terá como primeira reação a que já está inserida no subconsciente dela, ou seja, como na maioria dos casos, se sentirá mal, com medo do futuro, de passar fome, de nunca mais conseguir um novo trabalho etc. Imaginemos que, antes de ser demitida, ela tivesse um desejo antigo de ter seu próprio negócio, mas que nunca buscou porque no seu “programa” estava escrito: “é melhor um pássaro na mão do que dois voando”ou “a vida é difícil, melhor não arriscar”…

Agora ela está diante da oportunidade de reinterpretar sua vida de um novo jeito. Ela evidentemente precisará se empenhar, mas se vencer o seu medo e pensar que essa demissão era a oportunidade que precisava para dar início ao seu sonho e tomar atitudes de iniciar seu empreendimento, provavelmente estará dando um novo rumo a sua vida, mas a tendência natural é hesitar e mandar o currículo para as agências de emprego e engavetar seu sonho para revê-lo nas tardes de domingo, naquela hora depressiva que pensamos que amanhã é segunda-feira, ouvindo as velhas trilhas sonoras, afundando no sofá…

Todo o dia, nem percebemos, estamos diante de muitas encruzilhadas que nos levam a caminhos que dão curso a nossa vida. A cada esquina que dobramos ou não, a cada livro que lemos ou não, a cada lugar que vamos, tudo pode mudar es seguirmos por outros rumos. Quando estamos no “piloto automático” de nosso programa nem percebemos isso. Mas sabendo ou não, somos responsáveis por nossas escolhas e o destino é o resultado dessa soma. Sei que já disse isso antes, mas não custa repetir.

Os Sufis (místicos do Islã) ensinam que devemos “pensar para pensar”, ou seja, sermos nós mesmos a escolher o caminho que queremos seguir. Em minha opinião, livre é realmente quem interpreta sua vida do jeito que quer (e assim age) e prisioneiro de si mesmo é quem tem interpretações antigas e que nem suas são, mas foram herdadas e nem se pergunta se é isso mesmo que realmente pensa.

E é justamente por isso que penso que Dom Quixote fez muito bem em reinterpretar os Moinhos de Vento…

 

 

A importância (?) do PASSADO

A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente.                        Soren Kierkegaard

 

 

A psicologia tradicionalmente se debruça sobre o passado e investe longo tempo nas sessões de psicoterapia nas buscas sobre, principalmente  a infância dos clientes com o objetivo de resolver e dar melhor entendimento sobre o presente e projetar melhor o futuro. Esse procedimento é bastante lógico, afinal como já citei em artigo anterior, nossa mente é composta das nossas experiências anteriores e é, portanto, o material disponível para análise.

Quero me propor a pensar isso sobre  outro ponto de vista, sem o objetivo de invalidar a importância do passado em nossa vida, mas relativizá-lo.

Não há dúvida que somos resultado de nossa história. Tudo que passamos na vida, nos moldou e fornece o material de interpretação que temos no agora e serve para pensarmos no futuro. Também é evidente que algumas pessoas que tiveram traumas e experiências extremamente dolorosas em suas vidas, carregam essas marcas, e elas, diante de acontecimentos semelhantes ou que lembrem esses fatos, mantém fortes e intensas reações.

A questão que proponho para reflexão é a seguinte:

Porque quando estamos vivendo momentos felizes, que estejamos nos sentindo satisfeitos e plenos, o passado ou esses acontecimentos não voltam à mente e nos perturbam?

Porque que quando entramos em uma fase não tão boa, o passado volta a nos assombrar?

Para a primeira pergunta a resposta que tenho é que o presente, quando vivido de forma positiva assume seu papel de relevância, afinal não vivemos no passado, mas agora! Nesses momentos nos permitimos facilmente nos desligarmos de lembranças tristes simplesmente por que estamos bem e tristeza não combina com alegria. Isso é claro, até nos lembrarmos do velho condicionamento que “felicidade dura pouco” e ai já iniciamos a preparação para a infelicidade não nos pegar de surpresa. O que fizemos? Começamos a ficar tristes, sem nenhum motivo, a não ser anteciparmos esse sofrimento….

A resposta para a segunda pergunta é muito mais fácil; quando nossa vida não está boa, procuramos no passado as causas. Nessa hora, nossa mente faz uma “busca” procurando algo em nossa história que explique esse mau momento do presente, de preferência, onde sejamos vítimas de alguma situação anterior que tenha sido a culpada pelo nosso insucesso ou momento difícil.

Apenas defendo a tese que o passado deva ter sua importância diminuída, afinal não somos mais a pessoa que passou pela situação desagradável ou traumática. Mudamos!

Quer queiramos ou não, aceitar essa mudança não invalida o que aconteceu, mas se estamos por ai, significa que de alguma forma sobrevivemos. Então, porque não fazer disso algo positivo, como um obstáculo superado que nos deixou mais forte?

É fundamental deixarmos o passado para trás, inclusive nos recusarmos mesmo a fazê-lo de desculpa ou justificativa para o presente. Faz parte da história e só! Somente assim poderemos ter algum domínio sobre nosso futuro.

Não pode fazer bem andar pela vida carregando um imenso peso nas costas do tempo de criança, adolescente e mesmo da fase adulta. Assim não há pernas que agüentem, sem estarmos caindo a todo momento (como nossa foto abaixo) . Qual o problema de deixar tudo para trás? Não é pecado nem irresponsabilidade, mas escolher uma forma melhor de viver.

Sofrer é uma escolha, sabia?

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