– De jeito nenhum Carlos Alberto!
Engoliu em seco. Ter nome composto só serve para saber quando a mãe, desde pequeno, e depois a esposa, estão bravas com ele. Pensou em algo que pudesse dizer para reverter a situação.
– Amor, você não me entende.
– Entender? Nem sua mãe entenderia, se bem que ela…
– Não fala da minha mãe! O assunto é somente entre nós. Estou me sentindo sufocado!
– Sufocado? Nenhuma mulher admitiria isso! Nem seja louco de sair por aquela porta!
O Carlos Alberto sentiu que suas chances estavam diminuindo, mas o tempo estava correndo contra ele.
– Amor…amor, não estou fazendo nada de errado. Todo homem tem seus direitos, mesmo casado.
– Direitos? Carlos Alberto, vivemos em uma cidade pequena. São onze e meia da noite de uma sexta-feira, o que as pessoas vão pensar de mim se te verem sozinho a essa hora na rua? Ainda mais onde você está pensando em ir.
– Então vem comigo amor, vamos juntos.
– Só me faltava mesmo isso Carlos Alberto! Não admito, não concordo e acho ridículo.
– Você prometeu quando casamos…
– Sai dessa Carlos Alberto! Tenho até vergonha.
– Mas vergonha do que?
– Disso, disso!
A situação tinha chegado no limite. Quando o silêncio chega, os argumentos acabaram e alguém vai ter que ceder. Ela estava irredutível. O Carlos Alberto sabia que não tinha muito mais tempo, alguém poderia chegar primeiro e de nada teria valido toda essa discussão. E o pior é que ela já estava quase chorando.
Resolveu jogar sua última cartada:
– Não me importei quando você foi no encontro da sua turma da faculdade, mesmo sabendo que seu “ex” também estaria lá.
Ela estava de costas. Quando virou o rosto, o estômago do Carlos Alberto gelou.
– O que você está querendo dizer com isso Carlos Alberto Souza?
Agora ferrou, pensou o Carlos Alberto. A inclusão do sobrenome não deixava dúvidas: sua última cartada não tinha dado resultado e ainda tinha piorado o que já estava ruim.
A voz do Carlos Alberto saiu fraquinha, quase balbuciando:
– Eu só quis mostrar que sou compreensivo, amor.
– Seu covarde! Como pode dizer uma coisa dessas! Eu já estou formada a mais de cinco anos e estou casada com você!
– Então amor, é isso que quero dizer. Eu confio em você cegamente. Qual problema de eu ir ali para…
– Chega!! Mais uma palavra Carlos Alberto e não sei o que eu posso fazer! Não vou deixar você ir naquele lugar, que essa hora deve estar cheio de gente. Que vergonha!
– Mas é um minuto…
Dessa vez ela gritou:
– NÃO!
A batalha terminou.
Abatido, Carlos Alberto foi para o quarto. Estava sentindo-se incompreendido.
Olhou pela última vez o celular antes de desliga-lo. Agora, ainda teria que dar um jeito para não estragar todo final de semana.
Enquanto tirava a roupa para colocar o pijama, lamentou pela última vez e falou baixinho:
– Estava aqui pertinho. Tudo bem que era um bar…. Não custava nada, bem que ela podia ter compreendido. A essa hora, alguém já pegou aquele Pokemon.