O TEMPO

“Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça…”

                                          Mário Quintana

                                                                                                                                                tempo

Já não de hoje que se fala e se pensa sobre o tempo. Com o perdão do trocadilho, faz tempo que se tenta entender o tempo e dar-lhe uma explicação. Seja para filósofos ou cientistas, quando se fala de tempo, recebemos sempre uma teoria complexa, de entendimento truncado e difícil.

O tempo e sua percepção estão ligados diretamente ao pensamento. Normalmente, trabalhamos o tempo em três dimensões diferentes: presente, passado e futuro. Porém o percebemos de forma muito individual, o que já denota sua característica eminentemente subjetiva. Isso nem é tão difícil de explicar, afinal é só lembrarmo-nos de situações agradáveis onde o tempo passa muito mais depressa do que quando estamos vivenciando momentos mais sofridos onde ele se arrasta. Uma hora de lazer nos traz a percepção de que se passaram poucos minutos, enquanto essa mesma hora em um hospital, ou enquanto esperamos uma resposta importante pode durar horas. Portanto, o tempo depende, ou como diria Einstein; é relativo.

No campo da filosofia, Platão dizia que o tempo era um movimento cíclico e assim tudo que acontecia no passado era repetido e retornava. Sua teoria encerrava o homem na sua liberdade. Penso que Platão, ao falar do tempo, estaria dizendo que sempre repetimos as mesmas coisas, só mudando o cenário (cultura, tecnologia) e concordo. Continuamos, enquanto humanidade, repetindo erros básicos, há séculos. De certa forma, metaforicamente, o tempo não andou muito mesmo. Para Platão, o tempo é um sistema de relações que tem, na história da humanidade, a função de apreender com a experiência através da memória.

Aristóteles, já mais “oriental”, afirmava que o tempo não existia. O presente não tem duração precisa, afinal “é” a cada instante, enquanto o passado já se extinguiu e o futuro ainda não é. Essa é a teoria, mais presente no pensamento budista, nos mostra que nossa relação com o passado e o futuro (que realmente não existem) só nos trazem muito sofrimento, seja pela culpa do que já aconteceu ou do medo do que poderá vir.

Para Kant, o tempo é uma estrutura da relação do sujeito com ele próprio e com o mundo, sendo uma forma a priori da sensibilidade, juntamente com o espaço. Em outras palavras, o tempo e o espaço são anteriores a qualquer percepção que temos das outras coisas. Dizia, portanto, que só podemos conhecer os objetos no espaço e no tempo.

Entendo a ideia de Kant como nossa tendência de fracionarmos a realidade, ao percebermos somente as coisas uma depois da outra. O tempo é um fenômeno da mente, que o cria para poder entender o que acontece. Como não temos a capacidade de ver tudo por inteiro, precisamos partir a realidade. Isso está muito claro em nossa cultura de “especialização”, onde tudo é entendido separadamente. Perdemos o conceito de totalidade e isso está mais claro na medicina moderna, que isola a doença de um significado, ficando restrita ao órgão atingido. A visão holística diz que não existem partes, mas um todo. O paradigma holográfico demonstra que o todo está nas partes, e não que o todo seja a soma das partes.

Já Edmund Husserl, que foi matemático e filósofo, conhecido como o fundador da fenomenologia, dizia que o tempo é uma questão de percepção de consciência, sendo definido pela forma como percebemos as coisas e não pelo relógio. Assim, podemos viver muito tempo em um momento mínimo, ou nada em um momento enorme. Essa teoria pode explicar porque nos lembramos de tão poucas coisas em nossa vida. É como se nossa memória fosse acionada quando a vida nos dá sustos, quando “acordamos”, e de depois voltamos a um estado de inconsciência, automatizado, como já escrevi em tantos outros artigos. Assim, o tempo passa de forma muito individualizada, sendo que as pessoas que se mantêm mais conscientes conseguem percebê-lo de forma mais inteira, enquanto que aqueles que vivem no “piloto automático” notam muito menos sua passagem, se apercebendo dele em datas comemorativas ou quando algo importante acontece em suas vidas. Quem já não ouviu: “Nem vi esse ano passar…”

Já Einstein provou com sua teoria que o tempo é curvo, disse em 1955 que presente, passado e futuro é uma ilusão que ainda persiste. Sua teoria permite especular a possibilidade matemática das viagens no tempo, como nos filmes de ficção. Segundo ele, apoiado pela teoria das cordas, em cada momento coexistem pelo menos dez tipos de dimensões ou realidades, cada uma, é claro, com seu tempo particular.

De uns tempos para cá, muito diretamente ligado ao modelo cultural e econômico que vivemos, começamos quase unanimemente a percebermos a passagem do tempo de forma mais rápida e isso já tem até uma explicação científica. O físico alemão W.O. Schumann constatou em 1952 que a Terra é cercada por um campo eletromagnético que se forma do solo à parte inferior da ionosfera, que se situa a 100km acima de nós. Esse campo possui uma ressonância chamada Schumann (por ter sido por ele descoberta), constante em 7,83 pulsações por segundo, como se fosse um marca passo.

Essa ressonância é coincidente com as frequências do nosso cérebro e comum a todas as formas de vida. Quando os astronautas, pelas suas viagens ao espaço, ficavam fora da ressonância Schumann adoeciam. Mas quando submetidos a um “simulador Schumann” recuperavam o equilíbrio e sua saúde. Por milhares de anos essa foi a frequência do planeta, que mantinha o equilíbrio ecológico.

Porém, a partir dos anos 80 e 90 principalmente, essas “pulsações” passaram dos normais 7,83 para 11 e até 13 hertz por segundo. Não é por coincidência que diversos desastres naturais ocorreram a partir de então, além de perturbações climáticas e atividades vulcânicas. Isso sem falar, porque tudo está ligado a tudo, também cresceram os conflitos e tensões no mundo. A conta que os cientistas fizeram é que essa mudança fez com que passássemos, devido a essa aceleração, a perceber apenas 16 das 24 horas do dia, pelo aumento da pulsação. Assim, essa ideia de que o tempo anda mais rápido já encontra abrigo nos números e gráficos.

Mas isso explicaria a mudança de nossa relação com o tempo?

No sânscrito (idioma muito antigo oriental, que tem sua origem atribuída a grandes mestres) a palavra Kal tem dois significados: tempo e morte! Para Osho, viver o tempo é viver a morte, portanto quando o tempo desaparece a morte também desaparece. Quando conseguimos “desligar” o relógio de nossa mente, o tempo desaparece e, segundo ele, experimentamos o mundo eterno, atemporal.

Quando isso acontece?

Acontece quando estamos em alegria, conectados fora dos parâmetros da mente que se baseia no medo. Nossa estrutura mental, como já disse em artigos anteriores, morrerá com o corpo e é por isso que ela sempre nos joga no futuro, nos preparando para situações ruins. Isso, é claro, tem o objetivo de, caso aconteçam, nos fazer sobreviver a elas. O problema é que, normalmente, elas nunca ocorrem e ficamos fixados no futuro, perdendo o instante raro do presente e, realmente, perdendo tempo!

Além do desequilíbrio do planeta, que reflete o desequilíbrio do ser humano que representa o “cérebro” da terra, a perda ou aceleração da percepção do tempo mostra que o problema é nosso, do jeito que vivemos. Estamos, em função dessa aceleração da vida, somente olhando para frente e não vemos que o “agora” é o que acontece ao nosso lado. Arrisco dizer que fomos nós e não a terra que se desequilibrou, já que um é reflexo do outro, porém pode ser mais fácil acharmos que essa mudança de frequência nada tem a ver conosco.

Erroneamente, os ensinamentos cristãos dizem que a “eternidade” é um tempo continuum, quando na verdade a eternidade é a ausência de tempo. Temos medo de morrer, e o tempo que cada um cria é o intervalo entre seu nascimento e morte, porque nos identificamos com a parte que perece, totalmente desconectados com nossa verdadeira natureza eterna, que se manifesta materialmente em nosso corpo.

A vida eterna não pode começar, já É, mas só para aqueles que saíram da mente que tudo divide e se conectaram com o que está atrás dela; nosso Eu que nunca nasceu e nunca morre.

A cada momento que estamos respirando conscientemente, conectados com o que estamos fazendo no exato instante, vivemos essa eternidade sem sofrimento. Quando nos perdemos na esquizofrenia de reviver o passado ou querer prever o futuro, perdemos a alegria, a eternidade e o medo chega, para nos tirar tudo, até a percepção do tempo.

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Voltamos com novos artigos em Janeiro. Espero que aproveitem esse período de descanso e vivam o tempo presente. Para quem não leu todos os textos, recomendo um passeio pelo blog e convido a deixar seus comentários. Nada termina e nada começa!

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Bibliografia:

Wikipédia
http://clicke aprenda.uol.com.br
http://leonardoboff.com/site
Osho de A a Z – ed. Sextante
Dicionário de Simbolos – ed. José Olimpio

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