PERDAS

Diga teus apegos e te direi o quanto sofres.

Roberto Crema

Nessa semana, quero refletir com você sobre a questão das perdas. Dentro da dualidade da vida, as perdas só acontecem porque, antes houve ganhos. Tanto um como outro fazem parte de fato de estarmos vivos.

A vida, por definição, é algo que tem um fluir onde a mudança é inevitável. Mudamos fisicamente a cada momento (como já coloquei em texto anterior) e, portanto, de certa forma também “nos perdemos” na medida em que o Eu que era já não mais existe, seja pelas experiências, biologia, conhecimento, relações, etc. que nos transformam, quer queiramos ou não. Acredito que um dos motivos maiores do sofrimento das pessoas é a não aceitação dessa mudança, de querermos “congelar” nosso Ser em determinado momento da vida, com o que temos a nossa volta, em que estamos mais felizes e nunca mais mudarmos. Nessa hora, já começa um medo de “perder” esse Eu que está feliz e lá vem a angústia e ansiedade…

Essa saudável insegurança do processo de se estar vivo, que sempre nos torna criativos, dedicados a algo, motivados, só nos faz bem! Mas não, buscamos a anti-vida, a estagnação.

E é justamente aí, que entra nossa relação com tudo que entendemos que seja nosso, ou seja, que sou dono, que me pertence. Nesse rol além de bens materiais, posição social, temos nosso “patrimônio” de pessoas: amigos, pais, filhos e relacionamentos afetivos. Não conseguimos  pensar na idéia de que essas pessoas nos deixem, nem que seja quando morrem. Vinculamos a sua presença a nossa volta, nossa influência sobre elas como a razão de nosso bem estar. Logo, perdê-las, seria perder esse bem estar, e aí vem a dor quase insuportável quando alguém morre, se afasta, etc.

Não precisamos ir muito longe para ligar sem esforço tudo que foi dito até agora ao conceito de APEGO. As tradições orientais trabalham isso há séculos, mas aqui no Ocidente nossas principais religiões, logo, nossa cultura, fazem o contrário; enfatizam o apego valorizando uma cultura de sofrimento, afinal se não sofro é porque não amo… Que absurdo!!

Evidentemente que o que entendemos que seja morrer, por exemplo, também faz parte de apego. Se vejo a morte como fim, reajo de um jeito, se vejo como a continuidade da vida de outro modo, me consola. Isso explica, principalmente no Brasil, a imensa quantidade de cristãos que freqüentam outras religiões ou filosofias que tratam a morte não como um fim, apesar de isso se opor diretamente a religião “oficial”. Muito irônico!

Será que se me propor a aceitar as inevitáveis mudanças, que as pessoas possam deixar de estar do meu lado, seja por o motivo que for, isso me fará infeliz? Tenho repetido que nunca essa plenitude de estar em paz comigo chegará enquanto depender de pessoas ou situações para isso. Meu bem estar não pode estar fora do meu alcance. Buda em suas quatro nobre verdades deixa isso muito claro e até hoje não entendo como seu pensamento (não falei do budismo, da religião) não é estudado nos meios acadêmicos de psicologia, onde os ícones eram e são pessoas realmente inteligentes e que trouxeram contribuições, mas que estão a milhares de quilômetros da evolução de consciência que ele atingiu.

André Gide, filósofo e escritor, observou: “A infelicidade resulta de olhar ao redor e controlar o que se vê.”

Não há como estancar o fluir da vida…deixe que o que termina se vá…só assim você terá braços para abraçar o novo. Isso não quer dizer que não amamos, valorizamos ou sentimos falta, apenas que entendemos que a vida é assim! Não adianta resistir. Adianta?

 

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Rubens Hochapfel
Rubens Hochapfel
12 anos atrás

Muito bem, Eduardo. É esse fluir do relacionamento das pessoas com as outras, o convívio com o meio ambiente e o despego material que melhoram a vida de cada um e de todos que compartilham desta titude de mudança natural. Quantas preocupações seriam descartadas e quantas enfermidades evitadas. Somos então seres em continua evolução deixando um round de insegurança se tornar um bem estar e feicidade alcançada. Continuo no caminho das pedras e vejo cada vez mais, como isso é bom!

Monica Sarah Salomon
Monica Sarah Salomon
12 anos atrás

“Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos – não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.” Paulo Coelho

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