O Ponto de Des-Conexão

“Nossas vidas são condicionadas pelo carma e são caracterizadas por sucessivos ciclos de problemas. Um problema começa, termina e logo tem início outro problema.” Dalai – Lama

Seríamos tão vulneráveis a ponto de sermos influenciados por boas e más “marés”, ou isso é mais uma das nossas intermináveis desculpas para nos eximirmos de nossas responsabilidades?

Não existiria nenhum sentido na vida, de estarmos experimentando uma existência se fossemos joguetes nas mãos do destino. A única lógica possível é de que somos responsáveis por tudo que nos acontece e a “sorte” ou “azar” fazem parte do nível de consciência que experimentamos. Dizem os psicanalistas que a grande parte de nossos atos é totalmente inconsciente de suas verdadeiras razões. É como se justificássemos nossas ações explicando que o motivo é como uma boia que flutua, enquanto a verdade é aquilo que prende essa boia no fundo do mar. Concordo plenamente com isso!

Enquanto não entendermos que a grande verdade é que tudo realmente só depende de nós, estaremos “vagando” pela vida ao sabor dos ventos. Se soprarem a nosso favor, tudo acontece de maneira tranquila, tudo dá certo, e a fase é chamada de “maré de sorte”. De outra parte, tem aqueles momentos em que nada dá certo, que nossos dias já iniciam tortos e já começamos a torcer para que ele chegue logo ao final. Não tem outro jeito a não ser torcermos para tudo dar certo?

Mas afinal, o que é carma? Segundo o Dalai-Lama “Carma é uma palavra sânscrita que significa ação. Designa uma força ativa, significando que o resultado dos acontecimentos futuros pode ser influenciado por nossas ações. Supor que o carma é uma espécie de energia independente que predestina o curso de toda a nossa vida é incorreto. Quem cria o carma? Nós mesmos!” Os sublinhados são meus.

Tudo que fazemos, pensamos, desejamos e, principalmente, nossas ações, sejam elas ativas ou reativas geram o que chamamos de destino, sorte ou azar. Achar que devemos apenas lamentar e dizer que algum acontecimento desagradável ou infortúnio é algo que devemos estar “merecendo” é não saber o que significa carma, mas uma auto piedade, uma lamúria sem sentido e resultado.

Evidente que existem acontecimentos, aparentemente sem nenhum sentido, mas mesmo eles que parecem não ter uma lógica é porque os estamos observando diante de uma pequena fresta que é o tempo presente, ou seja, não temos os dados que os antecedem e sucedem e que, com certeza, os dará o devido sentido e lógica. A categoria de “humano” nos cobra essa atitude pró-ativa diante dos acontecimentos e da liberdade de interpretar o que nos sucede de forma positiva. Isso, como todo o ato e pensamento, gera carma! Só que consciente. Quando a vida lhe oferece uma laranja, pode ter certeza que foi você que plantou a semente de laranjeira. O que normalmente acontece, é que estávamos tão inconscientes que não lembramos que plantamos essa semente (acontecimento) em determinado momento de nossa vida. Quando temos a lucidez de saber o que estamos fazendo, a surpresa ou acidente quase inexistem.

Se formos observar bem, todas as práticas e métodos ensinados pelas mais antigas Escolas da Tradição buscam apenas nos manter conscientes na maior parte do tempo. Isso e apenas isso, faz a diferença entre um animal e um Humano, mas é fruto de trabalho e perseverança. Como sempre friso, nenhum desenvolvimento é involuntário ou algum brinde da natureza. Não existe “almoço grátis”, em nenhum lugar, dimensão ou galáxia. Pode ter certeza disso!

Nossa tendência natural à inconsciência é que nos tira dos trilhos evolutivos e nossa vida nos mostra isso de várias formas, como as marés de azar ou algum sintoma que causa desconforto e dor no corpo que os exames clínicos demoram a detectar.

Nós aprendemos tudo baseados em erro. Todos nós aprendemos a caminhar pelos inúmeros tombos que levamos quando criança e isso vale para todas as etapas. Todo o sistema de aprendizagem leva em conta o erro porque isso é da nossa natureza. O que mais observo é quando as pessoas caem, o que é mais do que normal, ficam muito tempo no chão se lamentando e procurando respostas e explicações, ao invés de se erguerem em atitude positiva e seguirem adiante. Podemos até ao levantar e seguindo, errarmos o caminho, mas temos todas as chances de recomeçar se for o caso, mas em atitude de lamentação e caídos é mais do que certo que o rumo nunca será encontrado.

Nossa desconexão se dá por essa perda de percepção do que realmente queremos, quando ficamos prostrados diante dos obstáculos, aceitando passivamente a dificuldade, quando ela serve para dar o valor e o mérito a conquista que almejamos.

Se seu dia começa errado desde os primeiros minutos da manhã, simplesmente pare e tire um tempo para si. Feche seus olhos, respire conscientemente, retome o controle de si mesmo e não permita que só o final do dia ou da “fase” ponha termo a seu sofrimento. Coloque-se no lugar, ficando muito mais atento aos seus atos e reações, sendo pró-ativo e você verá que terminará seu dia sentindo-se muito bem por ter assumido o domínio de si mesmo e nada vai acontecer a não ser esse bem-estar.

As consequências do carma não precisam de outras vidas para aparecerem, algumas vezes o resultado de nossas ações vem em segundos, aliás sempre vem rápido demais. Nós é que não percebemos, afinal estamos desconectados da realidade, vagando nos pensamentos alucinados que nunca estão no presente e essa é a razão de não percebermos as sementes que plantamos a cada segundo.

Ninguém nasceu pré-determinado para sofrer ou ter sorte, isso é sempre resultado de ação e isso é carma. Certa vez ouvi o técnico da seleção brasileira de vôlei, Bernardinho, que foi perguntado pelo repórter se tinha “sorte” pelos inúmeros títulos que havia ganhado. Ele respondeu que sua “sorte” vinha de muito trabalho. E isso é pura verdade, quem busca com atitude sempre colhe frutos. Essa é a metáfora da frase de que “Deus ajuda a quem cedo madruga”. Não há necessidade de levantar cedo para ter sucesso, mas é o símbolo de ter atitude e perseverança.

Imagine que você está em um barco com os remos em suas mãos. Sabendo para onde vai, terá momentos de ventos favoráveis e irá sem tanto esforço. Quando os ventos mudam, precisará segurar os remos com mais força para se manter no caminho e com certeza chegará forte a seu destino escolhido. Mas se não assumir os remos e não tiver sua rota definida, vagará infinitamente pelo oceano. Como disse certa vez Roberto Crema; “nenhum vento é favorável para o marinheiro que não sabe para onde vai”.

Por fim, lembre-se que você só pode estar de duas formas: conectado ou desconectado. Se estiver conectado, tudo estará diante de sua possibilidade; seus atos, reações e pensamentos. Isso tornará seu carma algo que foi escolhido conscientemente, ou seja, não haverá sorte ou azar.

 Mas se você estiver desconectado, precisará mesmo de sorte, de bons ventos que o carreguem. Mas lembre de que os ventos sempre mudam de rumo e podem não estar indo para onde você gostaria, nunca estarão! E nem seria justo que você chegasse porque isso é mérito!

Se você está me lendo, certamente já passou da idade de ter alguém que não seja você mesmo remando o barco da sua vida, ou de esperar que chegue a algum bom lugar sem remar!

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