O Louco e o Iluminado

“Quando você atinge a iluminação, não se torna uma nova pessoa. Na verdade, você não ganha nada, apenas perde algo: se desprende de suas correntes, de suas amarras, deixa para trás seu sofrimento e vai perdendo outras coisas. A iluminação é um processo de perda.”

OSHO

Quando nos dedicamos ao estudo dos arcanos do tarô, nos deparamos com um profundo ensinamento com a carta que começa e encerra a trajetória do homem, que vai da ignorância até a  busca da “iluminação,” que nada mais é do que um desligamento de todo o sofrimento e das alucinações sobre o passado e o futuro.  Além é claro, do total desapego, que é  não depender de nada externo a ele para se sentir bem.

Todo o mistério e ensinamento é que tanto o louco (ignorante) como o iluminado, são representados pela mesma figura. E o primeiro aprendizado é que a diferença entre esses estados opostos é ao mesmo tempo imensa e sutil.

Tanto um quanto outro estão fora da “curva” de normalidade, e isso é muito interessante, afinal os dois são considerados pela psicologia e psiquiatria como pessoas com alguma patologia. Existe o que se chama de “normal”, que nada mais é do que pessoas diferentes entre si – lembrando que ninguém é igual a ninguém – que tem comportamentos semelhantes, sonhos semelhantes e acham que o certo e o errado é o mesmo para todos. Evidentemente que isso é que é doentio, em minha opinião.

Dessa forma, podemos encontrar dois tipos de loucos, a saber: o primeiro tipo são aqueles que estão abaixo da linha da normalidade, são pessoas realmente doentes devido a distúrbios, enfermidades psicológicas de vários tipos. Esse tipo de loucura é involuntária, já que ninguém escolheu isso para si. Precisa de cuidado e tratamento!

Do outro lado, temos os loucos acima da linha da normalidade, que são pessoas que não temem o desconhecido, não tem medo do ridículo (o que os outros vão pensar), sabem que o “conhecido” as mantêm estagnadas e vão em busca de seus sonhos sem medo. Essa loucura é voluntária e representa a minoria, aqueles que estão realmente vivos e em evolução. São eles que, na verdade, podem até perder tudo, menos a razão!

E é, justamente por isso, que os dois tipos de loucos representam ao mesmo tempo a ignorância e a sabedoria. O louco sábio tem consciência de sua ignorância, por isso busca seus sonhos sem julgar o dos outros, não busca convencer ninguém de suas ideias e, principalmente, está ligado ao que acontece a cada momento, sem se preocupar muito com o futuro, que ele sabe ser mais uma das alucinações dos preocupados “normais”.

Tanto o iluminado como o completo ignorante andam pela vida de forma inocente, quase infantil, parecendo irresponsáveis sobre seus atos, afinal eles não premeditam nada e não esperam nada dos demais. Certa vez li um trabalho que mostrava que os psicóticos (pessoas desligadas da realidade para a psiquiatria) tem uma expectativa de vida maior do que as pessoas ditas normais, afinal eles não se preocupam com nada, se expressam livremente sem repressão, não guardando mágoas nem rancor, muito menos se estressando com a vida. Deve ser por isso que são fortemente medicados e mantidos sob confinamento. Nesse mundo normal, realmente, não há lugar para gente assim!

A consciência é estar inteiro a cada momento e essa é a única felicidade! Tudo que acontece fora de mim, como os problemas do cotidiano, as perdas e tristezas agem sobre cada pessoa diferentemente. Aquele que está inconsciente fica reativo às situações e é governado por elas e seu sofrimento é longo e penoso. Já quando alguma coisa abate uma pessoa consciente, ela tem uma autonomia de, livremente, dar outro sentido ou significado ao que aconteceu e nunca é dominada pela situação.

Por mais simples que possa parecer, lembre que se estamos conscientes nada nos acontece fora do nosso controle. Quando alguém, por exemplo, está comendo demais, usando álcool, drogas  ou qualquer outra forma de atitude contra si mesmo (auto sabotagem), isso só ocorre pela inconsciência de não entender a raiz do seu sofrimento passando a buscar compensações externas.

Agora fica mais fácil de entender que quando estamos lúcidos e congruentes (comprometido com o que sou hoje), estamos experimentando uma espécie de unidade, já quando perco minha percepção da realidade por estar vivendo as alucinações do passado e do futuro estou na dualidade, que, como sabemos, é a raiz do sofrimento humano. Fico dividido em dois: meu corpo e vida aqui, meu pensamento o tempo todo fora do tempo presente, negativando situações e criando um estresse baseado em nada que seja real, apenas em expectativas delirantes.

Osho disse certa vez em uma de suas palestras, que, quando nos aproximamos de Deus temos uma sensação de estarmos ficando loucos, e isso me parece simples de entender. Se vivemos no mundo da dualidade desde quando nascemos, tudo que conhecemos, portanto normal, é dual e sofrido. A evolução tende a nos levar a unidade e ao fim do sofrimento e isso parece mesmo loucura, não acha?

Justamente por isso o caminho evolutivo é sempre uma trajetória solitária, que poucos se dispõem a empreender, afinal,  normalidade cobra um preço caro para quem sai do bando, se arvorando na loucura de ser diferente!

Então, se pensarmos bem, veremos como é profundo o significado dessa mesma carta representar dois extremos, ao mesmo tempo, tão parecidos. Quando alguém lhe disser que essa ou aquela pessoa é louca, procure prestar atenção, fique atento, e cuidado com os julgamentos rápidos, você pode estar diante de um Mestre!

O Louco - Tarô de Marselha

Compartilhe este conteúdo:

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on telegram
Telegram
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter

Caixa de comentários

Participe! E logo abaixo você pode também dar uma nota de 1 a 5 estrelas para esta publicação.

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest

5 Comentários
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
Antonio Carlos Braga
Antonio Carlos Braga
11 anos atrás

Obrigado Eduardo fui rotulado já passados 32 anos de esquizofrênico, mas nunca acreditei nisto, me aposentaram jovem na Embraer, tomo sim os medicamentos, mas nunca alterou nada em minha vida extamente por eu ter perdido o medo do ridículo e não me preocupar com os preconceitos, já publiquei um pequeno livro e tenho mais dois para serem publicados, e fui elogiado pela esxelentíssima senhora presidente da Academia matogrossense de letras não acredito que tenha divagações delirantes e tenho uma vida normal obrigado gosto de Osho e de ler todos os seus valiosos artigos obrigado Braga

Nilsa
Nilsa
11 anos atrás

Grata Eduardo ! Li e reli este tema, e à cada leitura o texto me mostra e ensina algo mais… Penso também no número de pessoas consideradas doentes ( loucas ) ,que receberam ou recebem tratamentos médicos específicos ( por vezes tão agressivos ), quando na realidade a própria ciência ainda se divide sobre este tema ( no meu entendimento tão complexo), levando à diagnósticos errôneos e afastando da realidade e do convívio social pessoas que somente são diferentes ( por opção ou não ) das consideradas”normais”.

Cláudio Cesar de Lima
Cláudio Cesar de Lima
11 anos atrás

Pois é… Se posso pensar que Deus sou eu! E… bruuuuum! Às vezes pensamentos estranhos podem vir, tais como: será tudo isso a realidade ou a “minha” realidade? Certa vez um professor nos disse que ele estava ali como professor mas, que não poderia aquela posição ter sido inventada por ele e que até poderia ser que não estivéssemos ali e que ele estivesse falando sozinho para alunos fictícios? Não podemos inventar tudo?
O “Penso, logo existo” parece estar ficando cada vez mais distante e confuso.
Porém, professor, sei que está aí e que seus artigos nos levam a ter a certeza que realmente estamos aqui, não estamos sonhando, mesmo que ao lê-los tendamos a sonhar.
Parabéns de novo!

Hugo Ribeiro
8 anos atrás

Obrigado Eduardo, estava achando que estava ficando louco.

Optimized with PageSpeed Ninja