“A felicidade não é um ideal da razão mas sim da imaginação.”
Immanuel Kant
“A imaginação tem todos os poderes: ela faz a beleza, a justiça, e a felicidade, que são os maiores poderes do mundo.”
Blaise Pascal
“É a imaginação que governa os homens.”
Napoleão Bonaparte
Em artigos anteriores procurei refletir sobre o fato de sermos seres com potenciais infinitos, habitando um corpo que, por ser de natureza animal, tende ao envelhecimento e a morte. Isso faz com que a inteligência do corpo seja baseada no medo, afinal, é isso que nos mantêm vivos.
Essa fricção entre o eterno e o que perece, transcendente e imanente, explica o que definimos por “humano”. Na parte mecânica desse humano está o cérebro, que também atende, de certa forma, a essa divisão. Duas das suas três partes, ligadas a manutenção da vida, cérebro reptiliano e límbico, e a outra, Neo Córtex, esconde nossa divindade possível.
No Neo Córtex, está a linguagem, o simbolismo e, principalmente, a nossa capacidade de imaginação. Quando usamos nossos atributos de criatura (capaz de criar) é a imaginação que nos permite visualizar o que poderá existir no mundo manifesto, depois que transformarmos o pensamento em matéria. Assim, tudo que hoje existe, produzido pelo homem e que podemos tocar e sentir foi, primeiramente, imaginado pelo seu criador ou, se preferir, inventor.
Portanto, imaginar é atributo exclusivo do bicho homem, e aí pode começar a surgir os problemas. Mas, antes deles, podemos definir o que é imaginar?
O poeta Victor Hugo disse que a imaginação é a inteligência em ereção. Menos erótico, eu a definiria como um pensamento que ganha vida. Pensamos a todo momento, mas só naqueles em que ficamos mais tempo vira uma imaginação, com imagens, roteiro e um final que pode ser alegre, triste ou simplesmente emocionante.
Podemos pensar, porque não, a imaginação como sendo uma energia, que, por fazer parte da nossa natureza está disponível e funcionando continuamente. Essa disponibilidade atende as duas forças que compartilham nosso corpo; a parte animal e a espiritual (ou o nome que você queira dar).
Quando estamos inconscientes a imaginação atende a nossa animalidade. Assim funciona o que a cultura popular costuma chamar de “oficina do diabo”. Sempre que estamos em atividades absolutamente rotineiras, cumprido mecanicamente nossas vidas e sem perceber a passagem do tempo, nossa imaginação funciona em sua parte negativa. Ficamos “pensando” nos problemas que poderemos ter no futuro, doenças, dificuldades de toda ordem, abandonos, etc.
Para quem acompanha o blog, já escrevi inúmeras vezes que essa negatividade tem por objetivo nos trazer uma inquietação para que evitemos que essas previsões aconteçam, pois o sofrimento que advirá delas poderá nos levar a morte. Eu e você já sabemos que isso quase nunca acontece. Mas as pessoas pensam (se é que posso dizer que isso é um pensamento), que essas “pré” ocupações da mente não acontecem justamente por termos nos preocupados com elas. Isso é uma bobagem sem fim, pois a vida é algo totalmente alheio e sem previsibilidade. Mesmo aquilo que esperamos que aconteça, quando ocorre, sempre foi de um jeito completamente diferente do que esperávamos.
Assim, a imaginação, quando não usada com direcionamento, atende ao animal que somos, e isso sempre será ruim. Todos que experimentam algum tempo sem uma ocupação ou têm sua vida muito rotinizada, sabem que a negatividade dos pensamentos só aumenta.
Aqueles que se dão o trabalho de perceberem nitidamente seus pensamentos se assustam com sua impossibilidade ou até mesmo com a capacidade de transformarmos coisas pequenas em grandes tragédias e isso é a imaginação quem faz. O animal só imagina besteiras e isso explica porque alguns animais são usados em experimentos de comportamento humano e porque esses mesmo animais podem testar os remédios que iremos tomar.
De outro lado, quando usamos essa energia chamada de imaginação de forma focada e criativa somos testemunhas de onde podemos chegar e só observarmos toda a tecnologia disponível e novidades e criações que acontecem diariamente. Não há mesmo limite para isso.
Mas observe como precisamos dominar essa energia para conseguirmos usá-la de modo positivo. Sempre que não fazemos isso com frequência, ou abandonamos a criatividade, como temos dificuldade de foco e até de retermos o que lemos em uma página de um livro qualquer, por exemplo. A imaginação precisa ser “domesticada” e quando isso é feito, paramos de pensar em problemas e situações sofridas.
Parece que só podemos imaginar livremente quando somos crianças, depois só o que nos ensinam ou mandam. Toda a pessoa criativa se permite imaginar livremente, não aceitou nenhuma regra. Querer enquadrar a imaginação em certo e errado é um absurdo sem fim.
Evolutivamente precisamos entender que se a imaginação não for dominada e usada em seu lado positivo, ela se voltará contra nós. E o que temos visto? Cada vez mais gente com ansiedade, depressão e compulsões. Isso só acontece porque a imaginação saiu do controle e ao invés de servir a seu dono e encaminhá-lo à evolução, voltou-se contra ele e o adoeceu (possuiu).
Nossa imaginação é, na verdade, nosso maior obsessor e quando está de posse de nós, até pela sua natureza criativa, pode inventar um outro nome ou se dizer passar por um antepassado ou ficar nos trazendo pensamentos delirantes, paranoicos e tantas outras coisas.
Todas as energias que movem o cosmo não são positivas nem negativas, simplesmente se manifestam pela dualidade e podem ser usadas de igual forma por qualquer um desses aspectos.
O que quero dizer é que será o domínio da imaginação que fará diferença no processo evolutivo. Justamente por isso é que sempre estou repetindo que devemos nos esforçar para estarmos sempre conscientes do que fazemos a cada momento. É claro que isso é muito difícil, mas não tem outro jeito. Se a imaginação não for primeiramente entendida e depois dominada, a realidade que vivemos hoje, cada vez mais ampliada pela informação e pelo sistema econômico que nos cobra cada vez mais, não escaparemos dessa epidemia de doenças nervosas que atingem a maioria das pessoas. Olhe em volta, não é difícil perceber.
Em estado livre e sem domínio, apenas pensamentos ruins em relação ao futuro e ao passado, inevitavelmente, já que essa é a natureza do animal. Não repetir sofrimentos passados e evitar possíveis no futuro.
Na atenção consciente isso não acontece, pois a imaginação está controlada com a rédea curta da consciência e só vai para onde deixarmos e ali é ela que nos serve. Esse é nosso potencial e que realmente nos faz dominar o planeta. Do outro jeito, estamos doentes e destruindo tudo a nossa volta.
Precisaria mudar toda a estrutura que vivemos para que possamos evoluir como espécie, já que, por exemplo, na educação temos apenas a finalidade de formar mão de obras e pessoas competitivas. Toda a pessoa competitiva é movida pelo medo da derrota e de imaginar o que poderá lhe acontecer se não atingir o “sucesso”. Isso por si só é a utilização da imaginação de forma negativa, voltada apenas ao interesse da produção e do consumo.
Isso é tão “furado” que as classes mais abastadas apresentam índices altíssimos de doenças psiquiátricas e de consumo de entorpecentes. Esse medo pode realmente gerar grandes fortunas, mas a grande fortuna também significa desigualdade e miséria para muitos. O que surge dessa diferença? A violência.
A imaginação sempre é o primeiro passo da ação consciente, mas não podemos ficar só nela. Como o próprio nome diz:
imagem+ação = imaginação.
Domine sua imaginação, antes que ela o domine e apenas imagine o que mandam aqueles que não estão preocupados com você.
Grata sempre! Ter acesso ao que você escreve e tão generosamente compartilha é sempre um presente, que precisa ser “aberto” por nós leitores, e, mergulharmos sem reservas em nosso mundo mais profundo do qual muitas vezes fugimos, conscientes ou não, mas tão importante e necessário para vivermos com mais leveza e harmonia.
Nilsa, grato pelo carinho!!! Fico feliz que o blog esteja trazendo bons assuntos para reflexão. Abração!!!
Obrigado por mais esse texto, Eduardo. Como sempre, perfeito!!!