FOBIA

“A fobia específica é um medo exacerbado e persistente de objetos ou situações nitidamente discerníveis. A exposição ao objeto ou situação temida (chamada de estímulo fóbico) desencadeia uma resposta de ansiedade que pode chegar à intensidade de um ataque de pânico.”

   DSM-IV-TR  (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais)

                                                                                                                                                           medo de altura

Depois de termos falado no artigo anterior sobre a dificuldade que é perdoar, torna-se mais fácil falar do processo fóbico. O leitor pode até estar se perguntando o porquê que a dificuldade de perdoar tem a ver com fobia? Tenho certeza que até o final do presente texto isso se tornará bem mais claro.

Falar de fobia é falar de medo e, por consequência, de ansiedade. Por isso torna-se importante que possamos estabelecer essa diferença, que existe, apesar de sutil. O medo é um sentimento (emoção) de inquietação diante de um perigo real ou imaginário.

Imaginário?

Sim, já que como nosso corpo responde, através de suas reações somente ao que imaginamos, nada precisa estar ocorrendo verdadeiramente para que sintamos o medo. Já a ansiedade nada mais é do que uma sensação de apreensão sem uma causa evidente ou uma perturbação causada por alguma incerteza (insegurança).  Assim, poderemos resumidamente dizer que o medo é medo de algo e a ansiedade é esse mesmo medo, sem ser específico para alguma coisa. Nos casos das fobias essa diferença é bem mais perceptível.

Mas afinal, o que é uma fobia?

As fobias compõem um grupo de transtornos nos quais uma ansiedade intensa é desencadeada por situações determinadas e que não representam algum perigo real, já que estão sendo imaginadas. Assim, por exemplo, a pessoa que tem medo de altura não frequenta lugares altos porque, dentro dela, existe uma “certeza” de que ela irá cair. Quem tem fobia à água, imagina que se afogará e assim por diante. Dessa forma, quando imagino, meu sistema de defesa (estresse) entra em ação, já que ele acredita em tudo que passa pela nossa cabeça é real naquele momento. Assim, nem pensar de entrar na água se é “certo” que me afogarei, por exemplo. Nosso corpo luta pela vida, lembrem-se disso sempre!

Justamente por isso, estas situações fóbicas são evitadas sempre que possível ou com uma angústia tremenda quando não temos escapatória. As preocupações (pré – ocupação da mente ou imaginação) da pessoa podem se manifestar com sintomas como palpitações, sudorese, falta de ar, tremores, boca seca, extremidades frias, etc, ou uma sensação iminente de desmaio. Frequentemente este tipo de ansiedade se associa com medo de morrer, de vir a passar muito mal, de perder o autocontrole ou de ficar louco, já que nos tornarmos muito mais bichos do que humanos, afinal, nosso sistema de sobrevivência é muito parecido com os dos animais.

Geralmente a simples lembrança ou evocação da situação que causa fobia já é suficiente para desencadear uma ansiedade antecipatória, e aqui o sistema explicado no artigo anterior entra em funcionamento.  Para a medicina, a ansiedade Fóbica frequentemente se associa a uma depressão, o que, me permito, não concordar integralmente.

A diferença entre o sintoma fóbico e o Transtorno Fóbico, pode ser entendida como a diferença que se faz entre o que é sintoma e doença. A Fobia, enquanto sintoma, faz parte da alteração do pensamento, aparece como um medo imotivado e patológico, ilógico e especificamente orientado para um determinado objeto ou situação. Normalmente é acompanhada de intensa ansiedade e outros sintomas que citei anteriormente. O Transtorno Fóbico-Ansioso se caracteriza, exatamente, pela prevalência da Fobia, sintoma, entre os demais sintomas de ansiedade, ou seja, um medo anormal, desproporcional e persistente diante de um objeto ou situação específica.*

Como começa uma fobia?

Diferente de um trauma, que precisa de um acontecimento que o gere, a fobia pode surgir sem que nada precise ter acontecido anteriormente. Para uma fobia aparecer torna-se necessário que o nível de ansiedade esteja alto. Como a ansiedade é um medo inespecífico, tudo pode virar uma fobia. Assim, mesmo que uma pessoa tenha já realizado inúmeras viagens aéreas, por exemplo, em uma crise de ansiedade pode surgir um medo terrível de entrar em um avião, seja pela “certeza” de que ele cairá, seja por imaginar-se preso, sem possibilidade de sair. Lembre que sempre o medo de morrer é o pano de fundo.

Já conheci pessoas que desenvolveram processos fóbicos por histórias ou estórias que ouviram durante a infância e mesmo em idade adulta. Basta o nível de ansiedade estar elevado e você, por exemplo, assistir um programa ou ouvir um relato (não importa se verdadeiro ou falso) que se “entre” na história e se imagine passando por aquilo que pode surgir uma fobia.

Por isso, sempre que uma pessoa tem alguma fobia ou transtorno ansioso de qualquer espécie, torna-se fundamental entender o que é e como funciona a ansiedade para começar a sair do seu problema. Aprender a dominar a mente que está contaminada pelo medo e saber como trazer para si o controle é a única saída, fora isso, é estar tendo seus sintomas mascarados por medicamentos. Os medicamentos podem e devem ser utilizados quando a crise surge, até como condição da pessoa ter um mínimo de equilíbrio, para poder entender a psicoterapia. Depois, penso que ela deve querer se livrar das bengalas e voltar a andar com suas próprias pernas.

Nos artigos que escrevi sobre ansiedade, procurei demonstrar seu funcionamento, sendo as fobias um dos galhos dessa árvore. Em crise aguda de ansiedade, que chamados de transtorno de pânico (tema de um futuro artigo), a pessoa experimenta uma fobia quase generalizada, ficando, normalmente, fechada em sua casa, onde a chance de morrer é bem reduzida. Procure nunca esquecer que nosso sistema de defesa procura sobreviver a qualquer preço, mesmo que seja o da qualidade da vida.

Toda a fobia “vive” da atenção que se dá a ela e na verdadeira alucinação que acreditamos. Quem disse que o avião vai cair? Que certeza é essa que o elevador ficará preso e a pessoa morrerá sufocada? Quem disse que naquele show onde estarão muitas pessoas vai haver um corre – corre e se morrerá pisoteado?

Quando a ansiedade “passa do ponto” nosso pensamento fica contaminado pelo medo e daí qualquer coisa serve. Como é difícil da pessoa entender que o medo pode não ser específico, passa a imaginar que tudo pode acontecer de errado. Justamente por isso é que se pode ter uma fobia em relação a algo que sempre fizemos sem problema algum durante toda a vida.

Todos estamos suscetíveis a desenvolvermos um processo fóbico, basta a ansiedade sair do controle. Para que isso não aconteça, precisamos ter descanso, divertimento e saber relaxar. Sem esse “tempero” somos engolidos pelo mundo que vivemos e sua cultura doente, toda baseada no medo e não é a toa que ansiedade seja o mal do século.

Toda a pessoa que tem uma fobia vai desenvolvendo o que se chama de comportamento de esquiva, ou seja, procura fugir da situação, dando desculpas ou tomando caminhos que evitem a situação que sua imaginação dá como certa. Preferir subir muitos andares a utilizar o elevador, longas viagens de ônibus em troca do avião, não sair de casa alegando frio ou calor, etc…

Qual é a hora de procurar ajuda?

Quando perceber que sua qualidade de vida está sendo afetada. Não demore, toda a pessoa que tem sua vida limitada, com o tempo vai se entristecendo e aí sim, a depressão pode chegar. Não é a toa que em mais de 80% dos casos de depressão a ansiedade é um componente relevante.

Se você tem alguma fobia ou conhece alguém que tem, não faça pouco caso. Toda a pessoa que sofre com uma fobia está sempre em estado de alerta, com um medo constante. Estima-se que 11% das pessoas tenham algum tipo de fobia, e a prevalência é maior em mulheres.

A saída é lutar contra a imaginação e buscar diminuir o nível de ansiedade. Fora isso esse fantasma não nos abandona. Os sintomas físicos de medo e pavor quando se imagina o que pode acontecer paralisa a pessoa e depois de um determinado nível, fica-se irracional, como um bicho acuado e aí não tem bom senso que resolva.

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* site http://www.psiqweb.med.br/site/

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simone belquis
simone belquis
10 anos atrás

Oi Eduardo
Pela primeira vez entendi a diferença entre o trauma (meu caso) e a fobia. Obrigada pelo esclarecimento. Gostaria de pedir um artigo sobre trauma, já li muito do ponto de vista médico, mas o que será a parapsicologia teria a dizer sobre isso.

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