Psicologia

A utopia chamada PERDÃO

“E, quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial perdoe os seus pecados. Mas, se vocês não perdoarem, também o seu Pai que está nos céus não perdoará os seus pecados”.

Marcos 11:25-26

                                                                                                                                                                    perdao3

Uma das coisas mais difíceis é perdoar, justamente por que o tipo de perdão que as religiões exigem é tão complicado que se torna quase impossível de ser conseguido, já que nossa mente não foi projetada para isso. E, nesses casos, torna-se algo muito irônico, já que a pessoa que foi machucada ou ofendida por outrem, sente-se culpada por não conseguir o tipo de perdão que se exige e que se pede para ter validade. Assim, o prejuízo é dobrado; além da ofensa recebida ainda mais a culpa de não perdoar. Haja sofrimento!!

Para entendermos como é difícil, precisamos entender o funcionamento do cérebro, para, por fim, procurarmos o perdão “possível” de ser conseguido. Toda a vez que vemos ou sentimos algum objeto, o processamento dessa informação é realizado no córtex que fica na área externa do cérebro e se parece com uma grande lesma, toda enrolada. Ao receber o estímulo, o córtex faz o trabalho de detalhar o objeto usando seus registros de memória para saber se ele já é conhecido, tendo, portanto um nome. Se não for, sua atenção é despertada e, por medo (preservação) você verificará cuidadosamente se oferece ou não algum perigo.

Agora, imagine que uma vez você foi atacado e mordido por um cachorro e, além do susto, esse incidente tenha trazido muita dor. Esse momento ficará então gravado nas amígdalas* (não são as da garganta), que por não terem um programa muito sofisticado, não analisam se o perigo é algum animal pequeno ou que realmente possa feri-lo novamente. Assustaremos-nos em qualquer lugar, seja no cinema, parque de diversões, casa de amigos, etc, sempre que ouvirmos ou percebermos qualquer sinal da presença de um cachorro, mesmo sabendo que nossa saúde não corre risco algum. As amígdalas dão o alarme ainda que o córtex insista em afirmar que está tudo bem.

 Assim, toda a vez que seu córtex detectar algum estímulo que se chame “cachorro” seu sistema de defesa entra em ação provocando medo, já que isso fez sofrer no passado e pode fazer de novo, e sofrer, para nosso sistema, pode causar nossa morte. É claro que, passado alguns segundos, o córtex, mais sofisticado que as amígdalas, avisará que, eventualmente, o cachorro não oferece risco, por exemplo, por estar preso. Mas do susto você não escapa! Isso explica porque muito dos medos serem irracionais e até motivo de graça por quem não entende o processo.

Toda essa explicação, bem simples, foi dada para dizer que não precisa ser mordida de cachorro, afogamento, acidente de carro ou qualquer outra coisa desse tipo. Pode ser também uma ofensa, uma traição, uma agressão verbal ou física, etc. Todo e qualquer evento que traga susto ou sofrimento ficará gravado no nosso computador chamado cérebro, sem análise de qualidade ou conteúdo. É um sistema igual ao dos irmãos animais que fazem parte da natureza, assim como nós.

E acontece de alguém nos fazer sofrer, seja pelo que for, e depois vem o pessoal do “deixa disso”, dando aquele conselho: Perdoe! Esqueça! Não vale a pena ficar assim! E tantas outras bobagens desse tipo. E você, um ser humano que tem o cérebro funcionando, fica fazendo uma tremenda força para conseguir algo muito difícil, que é apagar do seu sistema o ocorrido para que você possa “amar” aquela pessoa, desejar-lhe toda a felicidade do mundo e, como se já não bastasse, você deveria fazer de tudo para ajudá-la para mostrar que tudo foi “esquecido”.  Por favor!!!! E o pior, como já foi colocado, é que nos sentimos culpados por não conseguirmos perdoar, afinal, se, por exemplo, Jesus nos perdoou, como que não conseguiríamos fazer isso com essa pessoa?

Então, para não parecer tão perverso, você engana a si mesmo, fingindo que esqueceu tudo, que está tudo bem, afinal é isso que Deus, ou seja lá quem for, quer de nós. Depois de um tempo, essa repressão pode muito bem se transformar em alguma doença autoimune (provocadas pelo próprio organismo), por fazermos de conta que nada houve, isso ainda temperado pela culpa (consciência pesada) de não conseguirmos esquecer.

Assim como o latido ativa o sistema, qualquer situação semelhante ou mesmo ver somente a foto do agressor fará com que o ocorrido volte a nossa percepção para que possamos nos defender. Isso é automático, faz parte do corpo e nem quinhentas ou mil preces resolverão, muito menos confessar esse “pecado” para outra pessoa, que também tem um sistema igual ao nosso, possa nos perdoar.

Então qual é o perdão possível?

O que dá para fazer é o que chamamos de ressignificação, que nada mais é do que darmos uma outra versão do acontecimento, entendendo por outro ângulo, encontrando razões e até mesmo, por que não, vantagens no que aconteceu. Podemos entender o mau momento da pessoa, buscarmos entender que ela projetou sobre nós seus problemas e frustrações ou que isso nos ajudará no futuro como um aprendizado que nos tornará mais fortes, etc.

 Isso, com o tempo vai minimizando o efeito, simplesmente, porque nós colocamos isso de outro jeito dentro da nossa consciência. Agora, voltar a ser como antes, esqueça! Se já viu, estamos diante de uma rara exceção ou de um grande ator ou atriz. É a metáfora do copo rachado. Dá para ficar com ele por vários motivos, mas ele não será mais como era antes do evento. Esqueça e nem faça força para isso, que só vai colocar fora energia e ainda se sentir mal por não conseguir o impossível.

Existe uma infinidade de maneiras de dar esse outro sentido, e qualquer uma é totalmente verdadeira, você é livre para isso! Depois de encontrar essa nova “versão”, basta ter atitudes que demonstrem isso e seu perdão possível poderá ser atingido. Mas lembre de que só conseguirá o possível, nada mais!

Conta-nos a história que minutos antes de morrer, Jesus teria olhado para os céus e teria dito: “Pai, perdoe porque eles não sabem o que estão fazendo!”.

Me permito pensar: se Jesus, ao ressignificar o que estava ocorrendo com ele, dando uma desculpa para aplacar uma eventual ira de seu Pai ou mesmo na citação que abre esse artigo, onde Deus não nos perdoará se não perdoarmos, não estaria demonstrando que até Deus tem córtex e amígdalas?

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*Amígdalas – A amígdala, uma pequena mas importante porção do cérebro, está envolvida na produção de uma resposta ao medo e outras emoções negativas. A amígdala é fundamental para a auto-preservação da espécie por ser o centro identificador do perigo, gerando medo e ansiedade e colocando o animal em situação de alerta, aprontando-se para se evadir ou lutar.

Disponível:

http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerDicionario&idZDicionario=72

A HORA DE AVANÇAR

A semente nunca está em perigo, lembre-se disso. Que perigo haveria para a semente? Ela está completamente protegida. Mas a planta está sempre em perigo, a planta é muito delicada. A semente é como uma rocha, dura, protegida por uma crosta grossa. Mas a planta precisa enfrentar mil e um perigos. E nem todas as plantas atingirão o estágio em que poderão florescer em mil e uma flores…

Poucos seres humanos atingem o segundo estágio e, desses, muito poucos atingem o terceiro, o estágio da flor. Por que não podem atingir o estágio da flor? Por causa da ganância, por causa da miséria, não estão prontos para dividir…Por causa de um estado em que há falta de amor. É necessário coragem para tornar-se uma planta, e é necessário amor para tornar-se uma flor.

Uma flor significa que a árvore está abrindo seu coração, liberando seu perfume, oferecendo sua alma, vertendo seu ser na existência. Não continue sendo apenas uma semente. Reúna coragem: coragem para deixar para trás o ego, coragem para deixar para trás sua segurança, coragem para se tornar vulnerável.

Osho – O Livro da Transformação

 

Existem alguns requisitos que se fazem necessários para que as pessoas iniciem sua “jornada” em busca de elevar seu nível de entendimento, buscando fugir da normose e encontrar paz em si mesmas nesse mundo caótico. A cada época evolutiva, a humanidade, dentro do que era possível, sempre, em sua maioria, fez da vida uma grande confusão; seja na época de guerras sem sentido (isso ainda não mudou), seja quando a intolerância religiosa matava milhares e milhões (isso ainda continua), ou atualmente, onde a busca de satisfação e prazeres materiais estão levando todos a um nível altíssimo de ansiedade.

E o mundo sempre será mesmo um caos, justamente para que cada um, por mérito, encontre o cosmo dentro de si. Estar nesse mundo sem ser desse mundo é o princípio das principais Escolas iniciáticas ao longo da história. Se a afirmativa de que somos seres espirituais em uma jornada material for verdadeira, e é, justifica o tumulto exterior (materialidade) e busca interior (espiritual). Assim caro leitor, não perca tempo em esperar que a vida melhore, que as pessoas se tornem mais conscientes e mais fraternas, que acabem os conflitos por interesses econômicos, políticos e religiosos. Isso nunca vai acabar porque a esmagadora maioria das pessoas mantêm-se alheias a tudo, seguindo pela vida como verdadeiros zumbis, mortos evolutivamente, mas parecendo vivas, já que seus corpos continuam funcionando.

Mas, para aqueles que se deram conta de que o modo de se viver e pensar a vida atualmente é doentio, surgirá dentro de si uma necessidade de buscar esse entendimento superior, e isso passa por algumas condições, sem as quais essa busca não poderá ser empreendida.

A primeira delas é ter uma vida ordenada, e o que isso significa? Isso significa que é necessário cuidar de si mesmo, da saúde do corpo e emocional. Ter um sono reparador e não se entorpecer com drogas de todos os tipos, nem buscar compensações em comida, compras e bebidas. Sem que o corpo esteja saudável, não há como a sensibilidade e a percepção possam assimilar o conhecimento e, ao mesmo tempo, tirar proveito das práticas que serão exigidas no processo evolutivo.

A segunda é ter um bom nível intelectual, afinal, para ler e entender é preciso ter uma mente treinada e receptiva às novas informações que chegarão. E isso é dado por leituras variadas, apreciar bons filmes, curtir música de qualidade, ir a um teatro e outras atividades que desenvolvem a percepção e ampliam a sensibilidade. A leitura é fundamental, afinal pensamos em palavras e quanto mais palavras soubermos mais nosso pensamento fica abrangente. E nessas leituras incluem-se biografias de pessoas que se admire, pensadores importantes com quem se afine, ficção, livros que tragam as mais recentes descobertas científicas e aqueles textos que passam pelo tempo sem perder validade e importância. É claro que depois que você se identificar com alguma ideia ou filosofia, ler e ler cada vez mais! Dentro do quesito leitura, também recomendo saber sobre outras correntes de pensamento, mesmo as antagônicas, para sempre estar reavaliando se continuamos onde estamos ou fazemos ajustes em nosso entendimento, já que mudar de ideia é coisa de gente sábia. Ficar preso a qualquer conceito ou crença sempre desenvolve o apego e o medo, afinal poderemos sofrer muito se descobrirmos que não era bem o que pensávamos. Lembre que a vida é baseada em flexibilidade e a rigidez (que tem a ver com nunca mudar de ideia) está ligada a morte.

O terceiro quesito é ser uma pessoa livre. Quando falo de liberdade, não falo de estarmos fora da cadeia, mas de possuirmos as condições de ir e vir no mundo com qualidade. Evidentemente que essa liberdade está muito ligada ao aspecto financeiro. Nenhum dos dois requisitos anteriores será útil se o buscador não dispuser de recursos para comprar os livros, fazer seminários e outras atividades que inevitavelmente surgirão ao longo desse percurso. Mesmo que venha a ser convidado a participar de alguma Escola ou grupo dedicado a estudos com os objetivos acima, isso necessitará de dinheiro, afinal o local de encontro e os livros ou apostilas tem um custo, que sempre é rateado entre os membros.

No mundo que vivemos, e de certa forma sempre foi assim, só é mesmo livre quem tem recursos para poder fazer o que quer. Poderíamos até questionar se, nesse caso, não estaríamos presos ao dinheiro. Na verdade, se não geramos os recursos, não temos liberdade, o que significa que o conceito de liberdade está “preso” ao compromisso de se trabalhar para consegui-lo. É um paradoxo, mas perfeitamente fácil de compreender.

Então, será que termos uma vida ordenada, bom nível cultural e recursos são suficientes para buscarmos essa evolução? Sim, mas desde que estejamos profundamente insatisfeitos com nosso estado de percepção atual e não queiramos assim permanecer. Para isso precisaremos não aceitar mais e nem negociarmos nossos passos evolutivos e estejamos dispostos a enfrentar, sem medo, todas as consequências que as grandes mudanças sempre trazem. Os nossos relacionamentos sempre sofrerão algum atrito, afinal não há como não mudarmos sem afetar nossos relacionamentos e isso sempre tem um preço.

A partir daí, almejar um estado evolutivo maior, buscar e encontrar esse cosmo pessoal e poder compartilhar com pessoas que tenham os mesmos objetivos comporá o que se precisa para a “grande viagem” que se empreenderá até o âmago de nosso ser, onde nada que for externo nos tirará do caminho.

Gurdjieff sempre disse que o ser humano tem muito medo de fazer esse caminho, justamente por ser muito mais cômodo e sem riscos ficar como está, em uma vida mecânica, cumprindo a cartilha do status quo, esperando que a promessa de que se for uma boa ovelha, o grande pai será benevolente com ela no juízo final.

Posso observar que muitas pessoas sonham com essa busca, mas, infelizmente não conseguem ainda, cumprir os pré-requisitos necessários. Talvez elas esperem que algum milagre torne tudo mais fácil ou ainda não sofreram o suficiente para se permitirem embarcar na única viagem que elas vieram cumprir, verdadeiramente, em suas existências.

ALGUÉM ZELA POR NÓS?

“Cada haste de relva tem seu Anjo,

que se inclina sobre ela e sussurra:

cresce, cresce.”

Talmude

Várias religiões e filosofias defendem a ideia de que existe algo ou alguém, destituído de um corpo físico que desde o nosso nascimento zela por nós. Esse acompanhante, segundo essa crença, possui um nível evolutivo superior ao nosso e tem por função nos ajudar em nosso desenvolvimento e, há quem diga, que também cuida de nos tirar de algumas enrascadas que nos metemos pela nossa infantil percepção. Para uns são os Anjos da Guarda, para outros são chamados de Mestres e assim por diante.

A questão que se coloca é se realmente somos tão infantis assim, que, pela vida toda,  temos a necessidade desse guardião estar atento durante 24 horas por dia nos sete dias da semana. As crianças, segundo a crença popular, precisam desse amigo ainda mais atento para evitar que se machuquem, já que não tem ainda o medo de morrer e são repletas de curiosidade. Qualidades essas que, depois de algum tempo, a maioria perde e cai no sono da “normose” levando seu protetor a um tédio, imagino, só mesmo suportável por quem tem uma missão divina.

Fico sempre pensando quando ouço alguém dizer que seu “santo é forte” como andamos mesmo à deriva pela vida. Como necessitamos acreditar na sorte ou azar para justificar nossas ações totalmente inconscientes e termos essa “carta na manga” que é o nosso anjo ou nosso santo predileto a quem recorremos quando nossas possibilidades se extinguem. E, dentro dessa multidão de necessidades, temos os responsáveis por nos arranjarem um cônjuge, a achar coisas perdidas e até mesmo, nos proteger durante as tempestades, onde a natureza mostra sua força e as crianças de todas as idades temem o castigo do papai. Além é claro do anjo que vem nos buscar quando termina nossa passagem, vestido solenemente de preto, como não poderia deixar de ser! Já que vivemos uma época de especialistas por todos os lados, porque não no céu também?

Nosso anjo é essa parte de nós que nos empurra para a evolução, que se deposita nas profundezas de nossa psique e que chamamos de Self, Eu superior, Atman (e tantos outros nomes), que sempre nos diz o que realmente queremos e onde precisamos chegar para nos sentirmos realmente plenos e libertos desses medos que aprendemos e que formam uma parede, atrás da qual se esconde nossa natureza essencial.

O nome não importa tanto quanto tomarmos essa consciência. Os meditadores mais experientes dizem ter encontrado esse ponto de silêncio que os preenche completamente ao suplantar a mente agitada e medrosa que não para de falar que poderemos passar por dificuldades e que tudo dará errado. Dizem eles que essa paz atrás da mente é o paraíso (nirvana), onde tudo fica claro e se enxerga a verdade, sempre escondida pelas nossas interpretações provindas da nossa domesticação.

Carl Jung dizia que os anjos eram “amorais” em certo sentido e, refletindo sobre isso, concluo que isso é mesmo verdadeiro, já que tem horas que o nosso “anjo” ou “eu superior” nos recomenda o que não está dentro da cartilha de certo e errado que cumprimos. Nem sempre o que precisamos e para onde devemos ir é certo para a maioria e sempre que isso acontece, mesmo antes de fazer seja o que for, vem a culpa de desafiar o que está estabelecido.

Meister Eckhart dizia que os anjos representavam as ideias de Deus e para Jung os anjos personificavam a tomada de consciência de algo novo que vem do inconsciente mais profundo, ou seja, quando tomamos ciência de nós mesmos e da nossa trajetória. Assim, consciente e inconsciente ou o lado externo e interno são reconciliados pelo “anjo” que evita que nossa vida se desorganize e se torne um desastre. Temos em nós essa parte ou anjo que mantém um mínimo de equilíbrio e passamos a vida sem tomar ciência da sua existência, apenas usufruindo de seu trabalho.

Já tive oportunidade de escrever em artigos anteriores que sempre observo que as pessoas sempre, sempre sabem o que realmente querem e o que precisam fazer. O que ocorre, é que muitas vezes isso está encoberto da consciência pelo medo. Nosso “eu” saudável está sempre clamando por atenção, mas sua voz ainda é baixa se comparada a que ouvimos desde sempre.

Dizem que Deus se manifesta pela boca dos homens e isso é a mais pura verdade. Nós, de alguma forma, já cumprimos essa tarefa quando prestamos alguma ajuda ou uma palavra desinteressada a alguém que podemos até nem conhecer. Esses são os “anjos” genéricos, que somos em alguns momentos, e outros o tempo todo por vocação.

Cabe-nos, evolutivamente, buscarmos incessantemente nos ouvirmos mais ou nosso anjo, como queiram. Não importa sua crença, o que realmente importa é estarmos disponíveis e de ouvidos bem atentos ao que vem de dentro de nós, a essa voz amorosa que quer nos levar a frente para enfrentar com naturalidade as dificuldades que a vida pode ou não nos trazer, mas que fazem parte do caminho. Só com algum silêncio interior será possível essa “conversa”.

Tenho certeza que de alguma forma todos já passamos pela experiência de perceber que o enfrentamento foi muito mais fácil do que se imaginava e nos lamentamos por não termos tido coragem antes. Nosso problema é que sempre esperamos o último momento, já quando não se aguenta mais. Até então esperávamos o milagre, mas nosso bom anjo sabe que precisamos mesmo é enfrentar para aprendermos a não confiar no medo.

É isso que o Talmude quer dizer com esse “anjo”, ou pelo menos é assim que interpreto, já que sei que temos essa liberdade de sermos o que nossos atos mostram, queiramos ou não. Isso é livre arbítrio, onde a inteligência indescritível que permeia tudo que nos cerca, confia que buscaremos sempre o melhor caminho em busca de evolução.

Tem “alguém” dizendo em seu ouvido: cresce, cresce!

Higiene emocional

 A educação para o sofrimento, evitaria senti-lo, em relação a casos que não o merecem.

Carlos Drummond de Andrade

 

 

Penso ser importante refletirmos se cuidamos bem da nossa higiene emocional. Tenho certeza que a maioria das pessoas cuida da limpeza e conservação do seu corpo, afinal aprendemos isso desde criança como sendo algo importante em nossa vida. Porém vejo poucas pessoas que se preocupam com o que entra pelos seus olhos e ouvidos.

Podemos usar como “gancho” esse trágico acontecimento no último final de semana onde mais de 240 pessoas morreram em um incêndio em uma casa noturna. Da tragédia em si, que vitimou tantos jovens, não há muito mais a acrescentar, até porque a mídia com suas diversas faces expôs durante dias e horas o desespero dos familiares, dos amigos, os corpos, os depoimentos dos especialistas e tudo mais que pudesse manter as pessoas durante horas e dias focadas nesse acontecimento.

Mas, afinal, porque gostamos tanto de ficar assistindo os desdobramentos dessa e de outras tragédias, porque a desgraça e o sofrimento vendem tantos jornais, revistas e mantém as pessoas ligadas nisso?

Solidariedade? Somente até o ponto em que você se movimenta e toma uma atitude de ajuda, como, por exemplo, doar sangue para as vítimas, arrecadar alimentos,  contribuir financeiramente ou despender seu tempo em trabalhar como um voluntário no local do evento.

Se não for nenhum dos itens acima, e isso inclui 98% dos leitores e telespectadores, é puramente um consolo para suas próprias dificuldades e uma acomodação diante dos problemas que não consegue resolver em sua vida. É como se a tragédia do outro me consolasse e tornasse a minha suportável. Como se vendo outras pessoas em sofrimento profundo mostrassem que o meu nem é tão grave assim! Dessa forma, ficar horas, dias vendo  e comentando esses acontecimentos ajuda tirar o foco de mim mesmo, e o pior: me acomoda na minha tragédia pessoal.

Tenho certeza, até porque já ouvi jornalistas comentando, seja em programas sobre o funcionamento da mídia ou até mesmo por pura observação que, se tivéssemos um jornal impresso ou uma televisão apenas de boas notícias (elas acontecem tanto como as más), esta sairia do ar ou entraria em falência em poucos dias. As pessoas não se interessam por isso, justamente porque boas notícias, pessoas realizadas e felizes também mostram o quanto não estamos bem ou tristes com nossos rumos. Isso nos incomodaria, trazendo um desconforto que faria com que trocássemos de canal imediatamente ou não comprássemos mais esse “jornalzinho sem graça”. O que vemos são as boas novas encerrando o noticiário televisivo ou no rodapé de uma página no meio do jornal.

Alguns iludidos podem até dizer que ficam diante da tragédia por horas a fio em solidariedade com as vítimas e suas famílias! Pura bobagem! Infelizmente nossa cultura adora e valoriza toda a forma de sofrimento e sofrer junto vira solidariedade. Não defendo a alienação, mas, se não conhecemos os envolvidos e suas famílias, ficar em agonia e tristeza futricando em cima do assunto é uma atitude, emocionalmente falando, muito pouco inteligente, até porque não gera nada de útil, pelo contrário!

Nossa mente se identifica com tudo que vê e ouve, sendo assim, se, por exemplo, você está assistindo ao relato desesperado de um pai ou uma mãe que perdeu um filho de forma trágica, imediatamente você se colocará no lugar dessa pessoa, buscando, para entendê-la ou solidarizar-se com ela, sentir o que ela está sentindo. Como já sabemos por artigos anteriores, nosso metabolismo é movido unicamente por nossos pensamentos, não importando se são frutos da realidade ou imaginação. Nesse momento de “profunda solidariedade” hormônios de sofrimento (estresse), sensação de angústia e tristeza tomam conta do seu corpo com efeitos não só sobre sua saúde, mas também sobre seus comportamentos e atitudes nas horas e dias seguintes. Lembrando que, na realidade, não está acontecendo nada disso com você!

Ver a notícia, saber o que houve, se algo pode ser feito, fazer uma prece ou oração pelas vítimas e seus familiares é uma coisa, ficar sofrendo junto, aí já é falta de inteligência emocional. Solidariedade é ação, não imaginação!

Assim como uma pedra que cai em um lago cria ondas a seu redor, nossas decisões e ações na vida estão intimamente ligadas ao nosso estado imaginativo, logo, emocional. Imagine que, depois de ficar pensando e se colocando nos lugar das pessoas envolvidas, se seria tão improvável poder ficar sem a concentração suficiente para dirigir, ou  resolver se vai ou não a algum lugar ou ainda se aceita um convite seja para o que for? Todos sabemos que nosso humor é fator decisivo na maneira como interpretamos o que está acontecendo. Cabe nunca esquecer que a cada segundo estamos tomando decisões (a maioria sem sequer estar percebendo) que muda o rumo de nossa vida e decide nosso destino.

Evite tragédias, más notícias e sofrimento de todo o tipo! De um jeito ou outro você vai ficar sabendo, basta abrir a página de seu provedor de internet, ligar o rádio do carro ou passar pela banca de jornal. Saber já basta! A partir daí, se não houver nada prático e útil que você possa fazer, fique na realidade de sua vida, toque seus projetos e curta os momentos em que as tragédias e as notícias desagradáveis não estejam realmente acontecendo com você. Problemas todos temos, cada um os seus, e já são suficientes para sofrermos, imagine acrescentando os que não são nossos!

É incrível que a simples higienização (repito: não é alienação) faz diferença na vida de pessoas com depressão e com níveis altos de ansiedade. Não é uma ideia, mas um fato que comprovo com meus consulentes no consultório todos os dias, já que faço disso uma praxis terapêutica.

Essa semana, uma consulente que está pondo em prática várias mudanças, incluindo esse cuidado com o que vê e ouve, me perguntou se ela não estaria ficando muito “fria” em relação ao sofrimento dessas pessoas. É claro que não, ela está apenas sendo seletiva e cuidadosa com sua emoção, diminuindo inteligentemente sua carga de sofrimento. Na verdade, ela somente está se acostumando a sentir-se bem por mais tempo. Colocaram tantas bobagens na nossa cabeça, que nos sentimos até inadequados quando nos percebemos em bem-estar prolongado com “tantas tragédias a nossa volta”.

Acho até paradoxal quando vejo que eventos estão sendo cancelados em solidariedade as vítimas. É claro que elas merecem todo o apoio de seus amigos, familiares e de todos que possam realmente ajudar. A ironia toda é que 1400 crianças morrem por dia no mundo* de fome e nada acontece, nem se fala… Um avião cai, mata 300 pessoas e vira notícia no mundo todo, no mesmo dia, milhares e milhares morreram em acidentes de trânsito e, salvo que tenha sido alguém famoso ou muitos em um mesmo acidente, não é notícia.

A verdade é que o ser humano, na sua maioria, adora tragédias, desastres e o sofrimento alheio. Espero ter conseguido refletir sobre isso. Até podem ter outros motivos (fiquem a vontade nos comentários), mas penso que não são tão óbvios como os que discutimos nesse artigo.

Quando tomamos banho todo o dia buscamos retirar as impurezas do nosso corpo e trazer bem-estar. Faça isso com seu emocional também! Mas se sofrer pode fazer falta, ao invés de precisar de notícias para isso, torture-se com algum chicote ou deite-se em cama com pregos que o sofrimento é garantido!

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*http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/pelo-menos-cinco-criancas-morrem-de-fome-por-minuto-diz-ong

O Segredo da Flor de Ouro – Um livro de vida chinês

Eventualmente estarei presente em um vídeo para apresentar um livro, tema ou filme no intervalo entre um artigo e outro. Aqui recomento esse livro muito interessante que engloba temas como psicologia e meditação chinesa. O interessante dessa obra é termos Carl Jung e Richard Wilhelm juntos em um texto muito rico.

O livro está disponível para aqueles que quiserem enriquecer sua biblioteca nos sites das grandes livrarias.

Os vídeos tem a intenção de trazer mais agilidade ao blog e poder estreitar o contato com os assinantes e seguidores que se espalham pelos vários estados e por brasileiros que moram no exterior.

 

[youtube]http://youtu.be/5KSUoEMtHpY[/youtube]

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