Filosofia

Heráclito

“A Natureza ama ocultar-se”

“Das coisas lançadas ao acaso, a mais bela, o cosmo”

    Heráclito, fragmentos

Tenho duas pequenas bibliotecas: uma no consultório, onde partilho livros com clientes sempre que eles decidem aprofundar seu entendimento sobre determinadas questões. Se é verdade que a terapia existe para ajudar a trazer compreensão onde os resultados terminaram, é também um espaço de autoconhecimento e desenvolvimento. Aqui no consultório, reina Epicuro. Do alto da estante ele lembra que tudo é mais simples que gostamos fazer parecer. Sua política de desejos simples de obter, da não interferência dos deuses em nossa vida, da importância da amizade e de como podemos lidar com a morte são mesmo “remédios para alma” como seus seguidores definiram sua filosofia.  Como bom atomista, ele não acreditava que a consciência sobreviva a morte, o que torna a vida mais intensa e valiosa. Mas, principalmente, para lembrar que ser feliz é apenas estar em paz consigo e estar livre de dores físicas. Um gênio da simplicidade, dono de um pensamento acessível e praticável por qualquer pessoa.

Já em casa, quem ocupa o lugar de destaque é Heráclito como mostra a foto ilustrativa desse post. Heráclito nasceu e viveu em Éfeso, território que hoje pertence a Turquia. Estima-se que tenha vivido entre 544 e 474 a.C.

 Sua figura sempre foi controversa, era um solitário e não fazia questão de ser conhecido nem admirado, mas foi um filósofo respeitado e influente até hoje. Escreveu um livro intitulado “Sobre a natureza”, que depois de pronto foi colocado no templo da deusa Artêmis (filha de Zeus, deusa da caça e da vida selvagem, irmã gêmea de Apolo) e lá se perdeu. O que temos da sua filosofia são citações de outros da sua época, como Aristóteles e Platão, para falar dos contemporâneos. Suas frases soltas já foram compiladas em livros, como a bibliografia do presente texto, mas seu pensamento ultrapassou séculos e inspirou os filósofos estoicos, como Imperador Marco Aurélio, Sêneca, Nietzsche, Espinoza e até mesmo Freud apenas para citar os mais conhecidos. Parou por aí, claro que não!

Suas máximas ainda ecoam no século XXI e podem nos ser úteis no presente texto, refletiremos sobre duas de suas ideias.

A primeira e talvez a mais conhecida:

 Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos”. (Fragmento 49)

“Não é possível entrar duas vezes no mesmo rio”. (Fragmento 50)

Heráclito percebeu que não só a vida, mas no próprio Universo que nada está parado ou estável. O movimento ou mudança está intrínseco a tudo que está vivo, até os minerais. Quando entro no rio, mudo pela experiência, já não sou quem entrou, quando volto ao rio, nem eu nem o rio somos os mesmos que estavam lá na experiência anterior. Se não existe imobilidade, nada permanece e como bem observou Nietzsche, está inviabilizada qualquer “verdade”, assim como não existe nada que tenha uma “identidade” ou “essência”. Todos esses conceitos são ficções, já que precisariam que tudo esteja parado para que fossem possíveis. Podemos definir o que não muda, tudo que está na impermanência é indefinível!

Mudamos o tempo todo, não só biologicamente como a ciência já sabe há mais de século, mas mudamos nossa percepção da realidade pelo que vivemos ou pelos afetos a que estamos expostos como lembra Espinoza. O rio muda, quem nele entra também, ou seja, a vida é sempre inédita. Gostamos hoje, deixamos de gostar amanhã, não queremos hoje, passamos a desejar depois. Nada pode ser previsto, a mudança é a lei que nunca muda!

Nos desesperamos com isso, toda essa mudança nos deixa inseguros e os mamíferos medrosos que somos querem controle, sem ele só sobra a angústia. A mesma que nosso mais remoto antepassado sentiu quando se deparou com a primeira tempestade, como já citei em texto anterior. Fazemos promessas (prometer nunca mudar), um atentado contra a vida, que sempre são vencidos, inexoravelmente pela imprevisibilidade da mudança! Criamos muitos planos e depois de anos, descobrimos que fomos levados pela força da vida para caminhos que não imaginaríamos que um dia percorreríamos. Nos assombramos por termos pensamentos estranhos, pois a mudança, a vida, leva o corpo a pensar como resultado do que lhe afeta, sente e passa a cada instante. Somos um barco no oceano, que podemos ajustar as velas, aqui e ali, mas os ventos têm suas próprias razões inacessíveis ou necessárias na natureza.

Heráclito percebeu que tudo que acontecia era a manifestação, em cada ser, de algo chamado Vida! Tudo que existe é vida em milhares de manifestações diferentes e com características especiais para cada ser em todos os reinos. Não há como não perceber que o revolucionário “Deus” de Espinoza, que foi descrito no século XVI tem em Heráclito sua base teórica.

Aristóteles com sua lógica, dizia que Heráclito era “estranho”, que deveria ser evitado, mesmo tendo feito citações diretas de suas ideias em seus livros “Ética a Nicômaco” e no capítulo “Meteorologia” da sua Física.  A percepção profunda de Heráclito, sem nenhuma tecnologia ou aparelho, apenas a observação e o pensamento, o filosofar; descrever o que é a realidade em sua última instância! Se, para Aristóteles “A” e “B” são diferentes, para Heráclito são apenas versões de uma mesma coisa; a vida.

Séculos depois, os cientistas com seus telescópios e hoje com suas sondas e satélites mostram que Heráclito estava certo. Tudo se move, o universo inteiro é movimento (mesmo sendo infinito, o que não se sabia em sua época), construção e destruição, assim como em cada corpo, onde células nascem e morrem, lutam para manter a vida. Nada se repete na impermanência, a vida não repete uma folha, um fruto, um inseto, um mamífero, nada! Tudo é único e indefinível por mudar a todo instante.

A passividade diante daquilo que não pudemos mudar, lema estóico que voltou a moda, que existe beleza em tudo, mesmo na baba do Javali como dizia Marco Aurélio. Nós podemos achar feio ou belo, mas para a vida tudo é perfeito porque é necessário que seja assim naquele momento. Como um  pôr do sol que nos faz acreditar em um artista supremo, também o terremoto que mata milhares, a chuva que inunda e a seca que dizima a vida, a peste nos vegetais e espécies animais, tudo é vida! Nós criamos conceitos de belo, feio, certo, errado, justo e injusto, mas a Vida não leva em conta nossas opiniões, ela É! (caso se interesse por esse tema, convido a ler o texto anterior, “A vida que nos leva”.

Quando criamos esses conceitos, definições e a própria moralidade, a Vida já existia desde sempre e ela é necessariamente, ou seja, nada é moral ou imoral, a Vida é amoral. Como interpretamos, é problema nosso, da nossa necessidade de controle de atribuir um nome que possa oferecer entendimento e estabilidade diante do que se move a cada milionésimo de segundo.

A segunda:

“É necessário saber que a guerra é comum e a justiça, discórdia, e que todas as coisas vêm a ser segundo a discórdia e necessidade”. (Fragmento 20)

“De todos a guerra é o pai, de todos é rei; uns indica deuses, outros homens; de uns faz escravos, de outros livres”. (Fragmento 21)

Séculos depois, Nietzsche se apropria do pensamento de Heráclito e diz: “Tudo é guerra, tudo é luta”! Para Heráclito tudo que acontece é resultado de conflito, e é! Dentro do nosso corpo, milhares de células nascem e morrem, lutam contra invasores o tempo todo, como já citei anteriormente. Do lado de fora, seres de todos os tipos com objetivos diferentes convivem no mesmo espaço e tempo, se entrechocando constantemente, já que tem formas de viver que se contradizem. Se a cobra pica com seu veneno para sobreviver, ou você foge ou mata para não morrer e isso vale para tudo, até para pessoas que disputam mesmos objetivos ou se cruzam atrás de sonhos diferentes, lutando por espaço ou até mesmo causando acidentes por estarem no mesmo lugar.

Se tudo é resultado dessa luta constante, Heráclito dirá que não existe injustiça, já que o mais forte sempre vencerá e tudo só poderá ser do jeito que é, como resultado necessário da luta empreendida. Em outras palavras, nada falta a vida! Ela é necessariamente só o que pode ser. Se pensamos ser boa ou má, se desejamos, se falta algo, isso é resultado do nosso medo da nossa falta de controle, chamamos isso de ansiedade.

E a segunda e mais revolucionária constatação; diferente dos que pensam que a natureza de tudo que vive é se preservar e propagar descendentes, nossa verdadeira natureza, como resultado da luta constante é muito mais do que simplesmente sobreviver, é ser mais forte e capaz! Nossa natureza é evoluir como resultado dos aprendizados das vitórias e derrotas que temos todos os dias. A Vida não pede que sobrevivamos, pede que vamos atrás de cada vez mais desenvolvimento, de mais Vida e mais vitórias. A isso Nietzsche chamará de “Vontade de Potência”, Espinoza de “Potência de agir” e Freud de “Libido”.

Heráclito chama os vitoriosos de livres e os derrotados de escravos. Claro que não podemos e conseguimos vencer todas as batalhas, mas a vida que vale a pena precisa de saldo positivo. A cada luta nos transformamos, nunca somos os mesmos depois de cada vitória ou derrota. Aprender com tudo nos tornas deuses, criadores da própria realidade e causa de si mesmo, objetivo último que ultrapassa o limite entre a liberdade e a escravidão.

Em algum lugar do que hoje é a Turquia, 2600 anos atrás Heráclito apenas observou, olhou em volta, para cima, para os lados e para baixo e teve tempo para pensar. Nós estamos sempre ocupados, buscando diminuir nossos medos, buscando uma estabilidade impossível, ou como diria Sidarta; tentando segurar o rio com as mãos.

Enquanto isso, a vida passa e acabará em algum momento para todos que nascem, mas continuará a ser como sempre foi antes e depois de cada um de nós.

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Para saber mais:

Heráclito, fragmentos contextualizados – Alexandre Costa, ed. Odysseus.

A Vida que nos move

“Um pensamento vem quando ele quer e não quando eu quero, de modo que um falseamento da realidade efetiva dizer, o sujeito “Eu” é condição do predicado “penso”. É nesse sentido que não procede a pergunta: Quem pensa, quem interpreta? Não há um autor por trás do pensamento, o pensamento é tudo, não é o homem que pensa, mas a vida!”

                                                 Viviane Mosé – Nietzsche e a grande política da linguagem

“Exigir a imortalidade do indivíduo é querer perpetuar um erro…O que ela contém a maior parte do tempo? Nada mais que uma torrente de pensamentos insignificantes, acanhados, terrestres, cuidados sem fim. Deixá-los, pois, de uma vez por todas, repousar em paz.”

                                                  Arthur Shopenhauer – As dores do mundo

Quem pensa em nós é a vida!

Em artigo anterior (https://eduardocarvalho.net/forca-e-inteligencia/) comentei que a vida é uma “força”, não inteligente ou seletiva que age somente pela sua própria natureza. Essa mesma força que habita tudo que é vivo, que impulsiona para o desenvolvimento de cada ser, animal, vegetal ou mineral recebeu de outro filósofo alemão, Schopenhauer, o nome de “Vontade”. A Vontade não é racional, é um instinto que leva tudo avante, da mesma forma que faz todas as bússolas apontarem para o norte, é a força que move tudo que vive em seus ciclos de nascimento e morte.

Essa força que nos transpassa a cada instante, se mistura com nosso corpo, crenças, medos e angústias se transforma em pensamentos, emoções e sentimentos. Por isso que Nietzsche é conhecido como o “filósofo do corpo”, foi ele quem percebeu que algo pensa em nós, que não é o que conhecemos como “Eu”. Para quem gosta de se observar, não é difícil notar ser tomado, vez por outra, por pensamentos contraditórios ao que pensamos que somos, perceber em si desejos inéditos, vontades disso ou daquilo que nos causam espanto. De onde veio esse pensamento, essa vontade ou desejo? Veio da força que é a vida que, naquele momento, misturando-se com o que estamos sendo, quer, pensa ou deseja.

Schopenhauer defende a ideia de que essa força se preocupa com a vida, com as espécies, nunca com as individualidades. Por isso que nunca conseguimos entender alguma acontecimentos que não fazem justiça a pessoas, como acidentes, doenças que afetam pessoas inocentes, que não mereciam que isso ou aquilo lhes acontecesse. Schopenhauer já tinha pensado sobre isso, e percebeu que o que chamamos de vida busca a manutenção evolução de cada espécie, indivíduos em particular não são relevantes diante de algo mais grandioso.

Nos percebemos, por exemplo, apaixonados por pessoas que a razão mostra que não seriam um bom caminho, da mesma forma que o inseto se joga a morte rumando para a luz, afinal, ele, em si, não importa. Mas a larva que ele deixou plantada em algum lugar vai fazê-lo, enquanto parte da vida, continuar a viver. Da mesma forma que o resultado de uma paixão, interessa a espécie, não aos amantes.

Claro que esse tipo de visão desmonta uma série de ídolos da nossa cultura, onde o “Eu” quer continuar a viver com sua identidade vida após vida, onde cada acontecimento de tragédia ou alegria é interpretado no âmbito da individualidade. Se os filósofos estiverem certos, as evidências os favorecem, quando falamos em “Deus”, não é alguém que se preocupe conosco, com meu futuro, sonhos e aprendizados.

Assim como quando estamos caminhando, sem perceber, matando insetos rasteiros, nunca de propósito, mas porque a vida se move com sua força irracional, nós somos devastados por “acidentes” inusitados, pestes, tempestades e terremotos. Nessas horas, somos as formigas que morreram sem saber o motivo.

Justamente por isso que, por pensarmos individualmente, por acharmos que temos autonomia, que existe algum destino ou que tudo acontece por estar programado nosso desenvolvimento, nos sentirmos inseguros, com medo diante da vida. Posso até ousar e dizer que nossa ansiedade, é a descoberta (na maioria das vezes inconsciente), que estamos desamparados individualmente diante da vida e de sua força que não leva em conta particularidades e desconhece o que chamamos de justiça.

Se não há para quem pedir, agradecer, só podemos contar com nossa própria força e ações para termos uma vida com mais alegria que dores. Nosso corpo não precisa de agentes externos para nos matar, muitas vezes ele mesmo cria suas próprias maneiras de nos deixar doentes. É quando essa força não encontra um bom ambiente ou simplesmente chegou a hora do corpo morrer. Nunca esqueça que a morte é o destino de tudo que nasce. Pode ser só isso!

Parece que não tem saída, estamos à deriva? Sim e não!

Sim, porque estamos a mercê de uma potência infinitamente maior e não, pois se estivermos lúcidos, compreendendo e sabendo do que acontece sem expectativas falsas, poderemos receber essa força que nos transpassa a todo momento com um corpo e pensamentos que podem transformá-la em alegria, conhecimento e vontade de viver cada vez mais!

Quando estamos com medo e preocupados, buscamos resolver esse sofrimento com todo tipo de desejos. Mas como já sabemos, nenhum desejo obtido resolve essa questão, já que a vida é mais forte e potente comparada a qualquer coisa deste ou de outro mundo!

Em seguida o medo volta, um novo desejo, a luta por obtê-lo para parar de ter medo, em seguida retorna o tédio quando percebemos que não resolveu e tudo recomeça em um círculo vicioso sem fim. Como dizem os budistas o samsara de vidas e vidas, sofrimento e medo em cada existência até, talvez, paremos de brigar com o obvio e sobre mais tempo para vivermos dentro do que é real. Talvez o “Nirvana” é só não sonharmos mais e vivermos o que está diante de nós.

Tudo pode acontecer a qualquer momento, sim, do que chamamos de bom e ruim! Como já citei em textos anteriores, nossas ações aumentam nossas chances em uma vida que não nos percebe individualmente, de conseguirmos o que queremos. Daqui a pouco, já queremos outra coisa e nem notamos que algum sonho de tempos atrás foi obtido. Esquecemos dos sonhos anteriores? Não, a vida nos mudou, nos modificou com sua força e sem nem perceber o motivo, viramos à direita ou esquerda quando nossa decisão de antes era ir sempre reto, em frente!

Assim, cada um experimenta uma realidade diferente, nunca estamos no mesmo mundo, já que os corpos e experiências são únicas e a vida toma contorno diferente em cada um.

A citação de Schopenhauer que abre o texto parece sombria, como sua filosofia, aliás, é vista. Porém interpreto de outra maneira; é assim que só pode viver quem espera da vida o que ela nunca foi!

Aproveite o momento sempre inédito, afinal daqui a pouco a vida nos muda, tenhamos planos e junto com eles a abertura de mudar a rota, não sabemos quem seremos daqui a pouco. Se Heráclito, Nietzsche e Shopenhauer nos ajudarem a perceber essa impermanência que nunca daremos conta de controlar e isso nos levar a nunca esquecer que tudo é sempre primeira vez, nada mais importa!

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Para saber mais:

Uma breve história da filosofia – Nigel Warburton

Nietzsche e a grande política da linguagem – Viviane Mosé

As dores do Mundo – Arthur Shopenhauer

A Aposta de Pascal

  ” Em caso de vitória ganha-se tudo, em caso de derrota perde-se nada!”

  “O homem está disposto a negar tudo que não compreende.”

                                                         Blaise Pascal – Pensamentos

Pascal viveu pouco, apenas 39 anos (1623 – 1662) mas deixou seu pensamento marcado na história. Desde criança sempre foi enfermo, e, como não poderia deixar de ser, pensou e filosofou em um corpo doente e isso foi decisivo em sua filosofia. Curiosamente, Pascal não falava bem dos filósofos, preferia se dizer um Teólogo, mas não foi só isso. Com mente brilhante, foi um cientista que fez um dos primeiros estudos sobre o vácuo, criou o barômetro e, em 1642 inventou uma calculadora mecânica que fazia contas de adição e subtração com objetivo de ajudar seu pai que era comerciante. O projeto da calculadora só não foi para frente pelo alto custo de sua fabricação e por ser um instrumento estranho de estética ruim, do tamanho de uma caixa de sapatos, mas funcionava perfeitamente!

Mas antes de tudo Pascal era um católico devoto, que sofria por ter uma mente científica. Se Descartes tentou provar que Deus existia pela lógica, Pascal discordava, dizia que Deus só era possível pelo coração, não chegaríamos e Ele pelo pensamento racional. As razões de Pascal eram óbvias; observava a vida e as pessoas e não conseguia ver a ação divina em nada. Era um pessimista pelo que observava: a natureza feroz com suas tempestades, terremotos, pestes, doenças e as pessoas agindo movidas pelo desejo ambição, sexo e poder.

Onde encontrar o Deus cristão nisso, onde está o amor e nossa natureza divina, imagem e semelhança da criação?

Pascal, assim como outros pensadores cristãos, via a maldade humana como consequência do pecado original, mas a presença do amor divino ainda ficava obscurecida, ele acreditava, mas queria também saber! Lutou muito com seu paradoxo entre o que a razão lhe mostrava e o que seu coração pedia, ficava como aquele que joga uma moeda para cima, cinquenta por cento de chance para cada lado.

Foi assim que ele chegou a um pensamento que ficou conhecido como “A aposta de Pascal” que consta de seu livro “Pensamentos”, publicado após sua morte. Sua aposta é baseada na probabilidade, ou seja, como poderíamos apostar na existência de Deus?

Como saber ninguém sabe, já que Deus é artigo de fé, em outras palavras; você precisa não saber que Deus existe para poder acreditar nele. Ninguém coloca fé no que sabe. Assim, Pascal nos convida a pensar dos dois modos; Deus existindo ou não.

Vamos começar pensando na possibilidade de Deus não existir. A vida será vivida sem a ilusão de alguma continuidade da existência após a morte, sem paraíso ou inferno para passar a eternidade. Também não perderia seu tempo em ir a igrejas, rezar, fazer promessas, deixar de comer carne na Sexta-Feira Santa, se confessar e muito menos pedir ajuda “superior” para resolver seus problemas. Ser uma pessoa correta e ética seria uma decisão pessoal, sem nenhuma recompensa além dos limites da vida do corpo. Não haveria créditos na eternidade!

Porém, Pascal vai alertá-lo de uma questão; como você não tem certeza da existência de Deus, corre o riso D’Ele existir, e aí sua conta de débito de ausência e falta de prática cristã lhe trará grandes prejuízos depois da morte, já que existirá um lugar aonde ir e tudo que você não fez como cristão será levado em conta e seu prejuízo será enorme.

Já para quem acredita é mais fácil, vive essa crença em suas práticas religiosas e vida pessoal, estando garantido no que virá depois.

Para garantir um bom resultado, Pascal sugere que, mesmo que você não acredite, aposte que Deus existe e viva como se isso fosse verdade! Nesse caso, você cumpre os mandamentos, vai na igreja, reza, se confessa, lê a bíblia etc. Assim, se Deus existir, você terá direito ao plano “premium” e receberá todos os benefícios vindouros como a glória eterna, dentre outros.

Mas como fazer, afinal se não acredita, como conseguir acreditar verdadeiramente? A resposta que Pascal dará, em outras palavras, é a seguinte: aja como se fosse, conviva com quem acredita que, com o tempo e pela repetição das práticas você acabará acreditando! Seria ser duro com Pascal, mas ele confiava no lema do marketing: diga (faça) algo mil vezes que…

No fim é o seguinte; o mais lógico e racional é acreditar que Deus existe, segundo Pascal, não há nada a perder, só ganhar. Além é claro de você ser uma pessoa correta que viverá uma vida boa, amando e sendo amado. Como ele mesmo diz: “Em caso de vitória ganha-se tudo, em caso de derrota, perde-se nada!”

Como bom cristão, Pascal não levava em conta outras religiões, por isso sua tese não contemplava outros tipos de deus, como os orientais, por exemplo. Também deixou uma lacuna na sua sugestão; em Deus existindo, Ele sabe de tudo que está em seu coração e, portando, saberia que você não acreditava e que só agiu assim por medo de estar errado se “garantindo” de prejuízos. A natureza de qualquer crença é acreditar que é verdade, o que é sempre complicado, já que uma “verdade”, pela sua própria natureza, não precisaria de nenhuma crença para validá-la. Deus leria seu coração e saberia que você agiu por interesse. Mesmo assim, por agir de acordo, o crente de ocasião teria direito ao “plano básico” que ainda é melhor que o inferno.

O grande problema para os pensadores cristãos sempre foi explicar a onipotência de Deus, que tudo pode, que nada acontece sem sua permissão com o mal que há no mundo, seja da natureza seja nas pessoas. Pascal e Santo Agostinho apostavam que não teria sentido viver se Deus interferisse em nós e no mundo para sermos só pessoas boas. Desde o pecado original já nascemos livres para fazer o mal, sermos desejosos e egoístas. Precisamos vencer esse nosso lado ruim, ligado ao corpo e suas inclinações.

Agostinho passou sua vida pensando em adequar a realidade crua a presença de um Deus de amor, Pascal buscou tornar Deus uma aposta sem chances de perder, já outros como Epicuro, diziam que os Deuses, por não serem desse mundo, nada interferem ou Spinoza para quem Deus é tudo e nunca foi “alguém”.

Seja como for, Pascal mostra que mesmo que não exista, se agirmos como se existisse, de certa forma Ele existirá.

Jogue sua moeda para cima, ela até pode cair em pé, mas as chances são pequenas.

Façam suas apostas!

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Para saber mais:

Pensamentos – Blaise Pascal

Uma breve história da filosofia – Nigel Warburton

Filosofia

“A filosofia é o melhor remédio para a mente”.

  Cícero

“A filosofia é a que nos distingue dos selvagens e bárbaros; as nações são tanto mais civilizadas e cultas quanto melhor filosofam seus homens”.

   René Descartes

” Se quiséssemos apenas ser felizes, seria fácil. Mas queremos ser mais felizes que os outros, então é difícil, pois achamos os outros mais felizes do que realmente são“.

Montesquieu

Um dia, há muito tempo, não se sabe quando, um homem (provavelmente, já que as mulheres cuidavam dos filhos), com tempo de sobra, resolveu pensar sobre a vida. Provavelmente estava inquieto, insatisfeito com uma estranha sensação de desconforto, já que não via razão concreta para tal. Quando temos um problema, ele nos move atrás de resolvê-lo ou de conviver com ele de alguma forma. Não era o caso do nosso precursor.

Tenho quase certeza, se é que é possível um pedaço de certeza, que tudo na sua vida estava bem, não tinha algo concreto para se preocupar. Como nós, começou a usar o que aprendeu no senso comum de seu tempo para responder essas questões difíceis da subjetividade; o que sou, para que ou da morte, essa de forma bem objetiva já que desde sempre queremos entende-la.

Tudo que sabia não dava conta de responder ou de entender a razão desse desconforto tão vago. Podemos até cogitar, que sua questão era saber se sua vida, o que fazia ou até mesmo seus objetivos (que naquela época ainda não se chamavam “metas”) faziam para ele algum sentido.

Especula-se que esse tenha sido o nascimento da filosofia; mãe das religiões, ciências, artes, psicologia, matemática e música.

Ele queria ser feliz? Não, queria entender. Por isso que a felicidade não é um assunto para a mãe de tudo. Compreender, buscar razões e dar sentido não é algo que possa almejar esse difuso conceito que chamamos de felicidade.

 Compreender só aumenta horizontes, traz mais dúvidas, infinitas variáveis. No fim, se tudo der certo, poderá encontrar a serenidade, que até poderia ser um nome de sopa, com seu conjunto de ingredientes que fervem na água, somando gostos, trazendo como resultado um sabor agradável, que esquenta e acolhe.

 Poderíamos até dizer que essa água é algo que todos compartilhamos ou temos condições de usar: bom senso ou razão, como nos lembra o filósofo Marcel Conche. Como a filosofia não almeja a felicidade, até por saber que não é sua função, busca somente a verdade, ou o mais próximo possível que possa chegar. Nietzsche, até diz que a verdade ou “verdades” é uma necessidade que temos, mas que não é possível, que nem deveríamos perder tempo com isso. Ele dizia que essa necessidade servia só para termos a sensação (sempre falsa), que temos algum controle. Como a vida de controlável nada tem, a verdade é uma ficção.

Conche lembra que a religião, de forma muito diferente da filosofia, está na categoria do útil, diz que a felicidade existe, mostra o que devemos fazer, ou como diria a autoajuda, quais os passos necessários para obtê-la. Mas, como ela depende da fé, muitas vezes precisamos afastar a razão para dar-lhe lugar, como diz Kant. Assim,  é a ilusão que pode trazer a felicidade, nunca a verdade. Bingo!

Vejamos o caso do Budismo, uma religião sui generis, já que não fala de nenhum Deus ou Deuses, mas que busca melhorar a vida de seus seguidores com argumentos desse mundo para que nele encontremos a paz. Epicuro já dizia que a felicidade possível é a ausência de perturbação da mente e de dores corporais. Ser feliz pode ser definido como não uma presença de algo, mas como ausência.

Então, o budismo dá mais valor ao que é útil em comparação ao verdadeiro, ou seja, para ser algo ser considerado uma verdade, precisa ser útil. Interessante não acha? Uma verdade que não serve para nada perde seu valor intrínseco, fica vazia e sem utilidade!

Assim, estar em paz ou feliz pode ser resultado de uma religião, mas nunca de uma filosofia, onde a vida imersa em sua multiplicidade e força descontrolada e ininteligível não nos traria paz, mas ao contrário, inquietação!

Sabemos que nenhuma metafísica pode ser demostrada, mas argumentada sempre contando com a fé ou esperança para fazer frente a razão que sempre faz as perguntas desconfortáveis. A metafísica sempre chega para continuar onde a razão por suas próprias condições não pode mais continuar. Parece que se tudo fosse apenas o razoável, todo o sentido da vida terminaria, já que, se algo pode ser eterno e imóvel, porque nós, em tese, fruto dessa eternidade terminaríamos simplesmente de existir, estando em um mundo imprevisível onde viver muito tempo é um acaso que pode ou não acontecer.

Conche lembra que vários “deístas” trazem, por exemplo, várias provas da existência de Deus que não passam de argumentos, já que se fossem realmente provas, apenas uma seria suficiente, da mesma forma que Lucrécio discorre trintas provas da mortalidade da alma, onde, também, se fossem realmente provas, uma bastaria.

Nunca saberemos. Podemos dizer que filosofar não é apenas uma argumentação, mas uma meditação sobre a vida e a morte, onde não encontraremos a resposta. Não morremos de forma igual, muito menos vivemos da mesma forma. Cada vida é uma experiência única, uma meditação particular de cada vivente.

Voltando a Lucrécio e sua frase célebre: “Filosofar é aprender a morrer!”

O espaço tempo de cada vida é compartilhado com todas as formas de vida, mas cada um de nós, vive seu próprio mundo, traduzindo essa particularidade que chamamos de “realidade” de forma subjetiva, lastreada na capacidade de pensar de cada um, com o contexto sempre móvel como inspiração e pré-condição de cada reflexão. Como pensar sobre a vida quando estamos tristes ou doentes? Seriam os mesmos pensamentos em momentos de exuberância? O mesmo vinho pode ser doce ou amargo, de acordo com o instante de cada um.

Como lembra Heidegger: “Mesmo que explicitamente, nada conheçamos de filosofia, já estamos na filosofia, porque a filosofia está em nós mesmos no sentido de que, desde sempre, filosofamos […]. Ser-aí como homem significa filosofar”. Em outras palavras, nenhum de nós consegue viver sem ter alguma reflexão sobre a vida e a morte.

Precisamos de crenças para de alguma forma darmos conta dessa vasta e incontrolável realidade, nem sempre a razão dá conta da angústia de nossa fragilidade. Não está errado, pode até fazer bem. Só deixo minha sugestão de lembrarmos e, quem sabe, criarmos um tipo de crença inovadora; aquela temperada pela dúvida, lembrando que, mesmo bons argumentos não provam nada de forma indubitável. Deixemos um espaço para o vazio do não-saber, será nele que vamos exercitar essa nossa qualidade única nesse mundo; filosofar!

Não precisa ser complicado, muito menos sofisticado, só pensar, começando pela razão, temperando com suas crenças prediletas. Veja se no final faz sentido ou fica estranho. Se ficar estranho, começe novamente, o que não faltam são temperos.

Para começar, siga de onde outros pararam, se achar que o caminho que eles percorreram faz sentido para você.

Para encerrar, vou compartilhar a aposta de Marcel Conche propõe a todos nós, não para deixarmos de crer, mas para dar a tudo o melhor tamanho possível:

“Você diz acreditar que Deus existe ou não existe, que a alma é imortal, ou não: você estaria disposto a pôr em jogo seus bens, ou melhor, sua saúde, ficando estabelecido, por exemplo, que se você estivesse enganado teria um câncer generalizado? Tal suposição ainda que puramente fictícia, basta para mostrar a pouca solidez de uma crença”.

Na verdade, como já disse nesse mesmo texto, nunca saberemos. Então, filosofemos, já que a felicidade, sabidamente, é só argumento!

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Para saber mais:

O Sentido da Filosofia – Marcel Conche. Editora Martins Fontes

A Tirania da Perfeição

” Viver é melhor que sonhar”.

Belchior – Como nossos pais

Para começar, nada falta ao que existe!

Tudo que existe é “perfeito” em si, dentro de uma constante impermanência. Temos uma necessidade de segurar, conter em nosso pensamento todo processo contínuo de mudança que é a vida em todos seus níveis. Por que precisamos dessa ideia de contenção? Para diminuir nossa angústia diante de uma realidade incontrolável, como já escrevi em textos anteriores.

Desse medo surge toda metafísica (conceitos, ideias que não são desse mundo e que não podem ser comprovadas pela razão), toda a “necessidade de verdade” como diz Nietzsche, por não darmos conta emocionalmente de um mundo mais forte e que escancara nossa condição primeira; a vulnerabilidade. Assim, como a metafísica produz deuses que criaram tudo, que controlam e tem ciência de tudo que acontece e acontecerá, que é imóvel enquanto tudo muda, que é eterno quando tudo perece, esse mesmo tipo religião só que implementado na nossa vida concreta, cria os modelos de como devemos ser, agir, comer, trabalhar, que corpo devemos ter e uma série de outras imposições que não só fazem o mercado girar, mas psicologicamente geram a culpa desse modelo não ser atingido e, obviamente, uma sensação de impotência e incompetência. Hoje, dizem os arautos, o “mercado” ou a “vida” pedem isso ou aquilo. Esse isso ou aquilo é o que a eles interessa. Quem é o mercado e a vida? Um jogo de interesses políticos e econômicos que desde que o homem decidiu viver em comunidade começou a funcionar. Afinal, como em qualquer raça, onde tem mais de um o poder passa a ser disputado e exercido, sempre atendendo ao interesse de quem comanda,

Se a natureza é sempre inédita, nada se repete, nenhuma árvore tem duas folhas iguais, como pode haver algum modelo que abarque a necessidade de todas as pessoas? Genética diferentes, emoções diferentes, experiências diferentes… Tudo que busca a perfeição assim como toda a ideia, verdade ou conceito nunca são desse mundo, são meras superstições, criadas por pessoas como eu e você com o objetivo de vender alguma estabilidade ou que nosso medo terminará se essa meta for atingida. É ou não um outro tipo de religião? Seja por interesse ou por medo, os modelos de “como deve ser” é a tirania da época da internet nesse mundo sem fronteiras.

Modelos sempre padecem de um erro básico, mas proposital; partem do ponto que somos iguais, que podemos conseguir igualmente atingir essa expectativa. Quem não consegue, é por não ter se esforçado o suficiente ou é incompetente. O que serve para alguns, não serve para outros e isso é óbvio em um mundo onde não existem dois seres iguais em qualquer reino. Modelos são violências, imposições criminosas para pessoas que não tem como se defender. Toda a média inclui o acima e abaixo e dá para viver de todo jeito. Sal rosa pode ser melhor (por não salgar), mas o sal branco que “faz mal” está longe de ser o problema de uma vida triste, sem sentido e baseada nessa busca por métodos milagrosos. Seja os cinco passos para a felicidade, os dez mandamentos para ser milionário, preces (quando percebemos nossa impotência), zero por cento de gordura no corpo quando não encontramos uma saída melhor para a nossa autoestima etc., são modelos ou os novos “santos” dessa religião do mundo material. Linhaça dourada é sem dúvida ótimo, mas não te ajuda a dormir quando o medo assombra, para isso é mudar a vida ou um sonífero.

Todos somos completos, mudando a cada momento. Parece um paradoxo, mas não é. O processo de mudança, é a única certeza nesse universo, baseado na incerteza, na potência do mundo e nas escolhas que fazemos. Não há nada parado, puro, intocado, seja em nós ou em qualquer lugar desse universo infinito que se expande a cada segundo. Essa é a beleza da mudança; o que virá? Até onde podemos interferir se somos tão menores que o contexto dessa pulsão de força que é a vida?

Somos devir, um vir a ser desconhecido por não termos nenhum controle sobre como a vida nos afetará, nos levará daqui para lá como os ventos fazem com barcos no oceano. Temos velas e remos? Sim, isso sempre nos responsabilizará em parte, mas tudo é muito maior e a chance da tragédia ou da alegria está a no segundo à frente. Lembre-se: não nos falta nada para sermos o que somos agora e é isso que temos para tomar decisões, porque não existe nenhum “eu” estável a ser encontrado que tenha a resposta certa! Estamos imersos na mudança, ninguém É, estamos “sendo” a cada momento o resultado das causas que nos trouxeram até agora e gerando as futuras. A vida não aceita nossas promessas, juramentos e expectativas.

Toda metafísica são mandamentos religiosos, deuses perfeitos e modelos de todo tipo são o que Espinoza define como servidão, em outras palavras; quando o que nos move vem de fora, quando obedecemos e buscamos o que nos mandam não o que queremos. Nem somos ensinados a descobrir o que queremos, já pensou nisso? Desde que nascemos, nos dizem o que devemos querer, como devemos pensar. E quem ensina? Quem também foi domesticado e isso está longe de terminar na infância. Segue vida a fora, já não como pai e mãe, mas como Guru, Sábio, Mestre, influencer ou CEO de qualquer coisa.

O servo não causa nada em si, mas é o resultado de forças externas que agem sobre ele, ele é levado, empurrado para uma vida que não escolhe. Aceita por esperar ganhar algo com isso, seja a proteção divina, a admiração dos demais ou um paraíso qualquer. Toda vida não escolhida é triste e impotente, necessitando de ajudas químicas, reconhecimento dos demais pelo sucesso ou beleza, bens que mostram que somos bem-sucedidos, espiritualizados, paisagens perfeitas ou amores eternos. Mas fazemos isso por uma expectativa e uma causa; a expectativa é parar de nos sentirmos angustiados (por não entendermos essa sensação e aí o conhecimento é fundamental), e a causa é querer ser reconhecido pelos demais como alguém que está “bem” por atender o modelo, seja qual for, não importa a que custo.

Toda ideia de igualdade, identidade, verdade e permanência é uma superstição, todo modelo portanto é uma premissa falsa!

O que queremos por nossa natureza é nos expandirmos, sermos mais fortes, mais conhecedores, sermos melhores em relação a nós mesmos, mais alegres, com vontade de viver cada vez mais. Nunca conseguiremos buscando o que não é desse mundo, como qualquer tipo de perfeição, por exemplo. A vida é nesse mundo concreto que precisa ser entendido por cada um do seu jeito e nele buscar a serenidade ou a conciliação defendida por Camus.

A incerteza como natureza da vida, o mistério do devir e todas as possibilidades que ele traz, seja para o que chamamos de bem ou mal, que nem existem em si, mas são definições sempre provisórias de como nos sentimos, está toda beleza e potencial de viver.

No fim das contas estamos todos sós, já que nada se repete, e a vida é a soma de todas essas possibilidades que estamos sendo a cada momento. O resto trabalha o tempo todo para não percebermos isso.

O que seria dos modelos de ser, agir, vestir, comer, ouvir etc. que nos impõe se lembrássemos disso?

Para começar, só imagine como seria…

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