Felicidade

A CONFIANÇA

“É preciso ter dúvida, só os estúpidos tem uma confiança absoluta em si mesmos”

Orson Welles

Confiança é uma qualidade?

Parece ser unânime que sim, mas se verificarmos um pouco mais a fundo, talvez se chegue à conclusão que não é bem assim. Assim como em artigo anterior tratamos da “Esperança” e mostramos que temos uma ideia errada de seu verdadeiro sentido, a questão da confiança precisa ser melhor entendida.

Diz o dicionário* que confiança é segurança íntima, petulância, atrevimento, bom conceito. Normalmente a confiança que buscamos em nós é essa segurança de que somos capazes de algo, de não termos dúvida do nosso sucesso. A confiança, sob esse ponto de vista ajuda muito, afinal sempre externamos nosso interior em nossas ações e essa “certeza” realmente ajuda as coisas acontecerem. Mas a confiança também tem seu “outro lado” que faz com que, em alguns casos, seja até um tipo de estupidez. Imagino que o caro leitor (a) esteja pensando como isso seja possível e não é difícil de explicar; muitas vezes, a confiança faz com que não reflitamos sobre a situação em questão, partindo do pressuposto, por exemplo, de que se deu certo em outra oportunidade também dará agora. Portanto, a confiança pode afastar a inteligência e análise da questão, fazendo com tomemos decisões equivocadas.

Interessante também refletir que, quanto mais uma pessoa é inteligente, mais insegura ou hesitante será, afinal a inteligência faz com que todas as possibilidades sejam postas na balança da racionalidade e, a diversidade de opções a mantém, muitas vezes, paralisada diante da escolha que precisa ser feita.

Nessa hora, o importante é fazer a escolha. Ficar parado e pensando como seria essa ou aquela escolha só vai criando uma agonia e, logo a seguir, a frustração de estar ainda na mesma situação. Portanto, não demore demais, faça sua escolha e siga adiante! Aí você me pergunta: E se não der certo? Se não der certo, você sabe que fez uma escolha baseada em reflexão e esse caminho também trouxe aprendizados e experiências que vão levá-lo mais rapidamente ao acerto. Não se esqueça de que também pode ser o caminho correto e logo vem à recompensa! O importante sempre é seguir, ir avante. Mesmo que tenhamos que fazer um retorno, mesmo assim estamos caminhando, evoluindo e crescendo. Uma das maneiras de se chegar ao caminho correto é sabermos o incorreto, e isso também é sabedoria.

Por outro lado, temos uma tendência a buscarmos sempre um líder, alguém que possa decidir por nós, só que muitas vezes esses líderes, normalmente pessoas confiantes, nem sempre não são muito inteligentes ou sadios. Veja que a confiança depositada em alguns líderes fez com que algumas pessoas se suicidassem ou matassem milhares e milhões em nome deles. Isso ainda pode ser mais sério até, afinal, temos líderes que nem sabemos se realmente existem, representados por pessoas que se dizem seus “representantes legais ou sucessores” que ao longo da história, e também atualmente, fazem barbaridades. Isso só acontece porque temos essa tendência de nos eximirmos de nossa responsabilidade das grandes decisões de nossa vida. Se for para errar, erre por sua própria escolha! Não sei se você percebeu, mas nos últimos, por exemplo, dois mil anos, tudo mudou; o mundo, as pessoas e as ideias e conceitos sobre tudo. Portanto, cuidado com as velhas soluções!

Desde que nascemos, sempre tivemos alguém que decidiu por nós, dizendo o que deveríamos, comer, vestir, qual o melhor lugar para ir, o que era mais seguro, etc. Aprendemos a ouvir nossos líderes e ter medo de desobedecê-los, de sermos culpados por nosso eventual sofrimento. Não é a toa, que, depois de adultos, tenhamos dificuldade e muita hesitação. Isso foi sempre bem usado, basta perceber, por exemplo, que a palavra “padre” quer dizer “pai”,  “papa” significa “papai”, “madre” significa mamãe e “pastor” é aquele que cuida e conduz, etc. O que não percebemos, é que se precisamos de alguém para nos dizer o que fazer, também significa que não sei decidir, não sei resolver o que é ou não bom para mim. Por isso, desde sempre estamos com medo de desobedecer, seja o pai da terra ou do céu. Aja sentimento de culpa para tudo isso…

É justamente por isso que adoramos líderes confiantes, que sabem o que querem. Só não sei se o que eles querem é realmente bom para você!

Quero dizer que não há nenhum problema na hesitação em si, no fato de ficar em dúvida. Isso apenas significa que muitas possibilidades estão sendo analisadas e que seu pensamento lógico está funcionando bem. O problema é ficar parado e não sair do lugar. Lembre que já frisamos anteriormente (recomendo a leitura do artigo anterior “Porque é tão difícil decidir”), que a pior escolha é não escolher. Qualquer decisão, de um jeito ou de outro, será boa no final. A decisão errada só leva mais tempo para dar certo.

Mesmo que estejamos diante de uma escolha com três possibilidades, por exemplo, ficaremos indecisos entre elas, pensando qual delas é a certa. Se assim pensamos, estamos partindo do pressuposto que as duas outras são erradas, e não são! Porque não podem ser a três certas?

Pense comigo:

Qualquer uma das opções se for assumida integralmente, sem se ficar caminhando olhando para trás, querendo manter as outras possibilidades – o que é impossível e muito sofrido, além é claro de não representar realmente uma decisão -, será uma trajetória de vida. Esse caminho escolhido será como uma estrada e no seu percurso coisas acontecerão; pessoas novas surgirão, aprendizados que levarão a outras escolhas que serão feitas, etc. Se estivermos “ali” buscando melhorar a cada dia, é inevitável que seremos felizes também, assim como seriam quaisquer dos outros dois caminhos que abrimos mão. Não existe destino! Nós o fazemos a cada ato e se estamos conscientes, decididos a nos melhorarmos todas as estradas são boas, afinal todos os caminhos levam a Roma…Todo o problema, então, é de acharmos que só existe um caminho correto e que os demais são errados. Livre arbítrio é escolha!

Não é nenhum problema hesitar, pensar e ponderar. Problema é ficar parado diante da vida. Não espere que ninguém decida por você, não espere nenhum “sinal” do céu, que muitas vezes é uma atitude inconsciente que tomamos, esperando o resultado que é esse “sinal”, que no fim, nós mesmos nos demos. Sempre penso que, no fundo sabemos o que queremos.

 Lembre-se do que já disse: não existe controle sobre o futuro, só podemos decidir em cima do que realmente existe: a pessoa que sou hoje, todo o resto é a mais pura imaginação, futurologia (ciência ainda não inventada).

Essa de dizer que todas as opções podem ser corretas deixou você pensando, não é mesmo?

Então, agora, decida-se!

*Dicionário Caldas Aulete

O Louco e o Iluminado

“Quando você atinge a iluminação, não se torna uma nova pessoa. Na verdade, você não ganha nada, apenas perde algo: se desprende de suas correntes, de suas amarras, deixa para trás seu sofrimento e vai perdendo outras coisas. A iluminação é um processo de perda.”

OSHO

Quando nos dedicamos ao estudo dos arcanos do tarô, nos deparamos com um profundo ensinamento com a carta que começa e encerra a trajetória do homem, que vai da ignorância até a  busca da “iluminação,” que nada mais é do que um desligamento de todo o sofrimento e das alucinações sobre o passado e o futuro.  Além é claro, do total desapego, que é  não depender de nada externo a ele para se sentir bem.

Todo o mistério e ensinamento é que tanto o louco (ignorante) como o iluminado, são representados pela mesma figura. E o primeiro aprendizado é que a diferença entre esses estados opostos é ao mesmo tempo imensa e sutil.

Tanto um quanto outro estão fora da “curva” de normalidade, e isso é muito interessante, afinal os dois são considerados pela psicologia e psiquiatria como pessoas com alguma patologia. Existe o que se chama de “normal”, que nada mais é do que pessoas diferentes entre si – lembrando que ninguém é igual a ninguém – que tem comportamentos semelhantes, sonhos semelhantes e acham que o certo e o errado é o mesmo para todos. Evidentemente que isso é que é doentio, em minha opinião.

Dessa forma, podemos encontrar dois tipos de loucos, a saber: o primeiro tipo são aqueles que estão abaixo da linha da normalidade, são pessoas realmente doentes devido a distúrbios, enfermidades psicológicas de vários tipos. Esse tipo de loucura é involuntária, já que ninguém escolheu isso para si. Precisa de cuidado e tratamento!

Do outro lado, temos os loucos acima da linha da normalidade, que são pessoas que não temem o desconhecido, não tem medo do ridículo (o que os outros vão pensar), sabem que o “conhecido” as mantêm estagnadas e vão em busca de seus sonhos sem medo. Essa loucura é voluntária e representa a minoria, aqueles que estão realmente vivos e em evolução. São eles que, na verdade, podem até perder tudo, menos a razão!

E é, justamente por isso, que os dois tipos de loucos representam ao mesmo tempo a ignorância e a sabedoria. O louco sábio tem consciência de sua ignorância, por isso busca seus sonhos sem julgar o dos outros, não busca convencer ninguém de suas ideias e, principalmente, está ligado ao que acontece a cada momento, sem se preocupar muito com o futuro, que ele sabe ser mais uma das alucinações dos preocupados “normais”.

Tanto o iluminado como o completo ignorante andam pela vida de forma inocente, quase infantil, parecendo irresponsáveis sobre seus atos, afinal eles não premeditam nada e não esperam nada dos demais. Certa vez li um trabalho que mostrava que os psicóticos (pessoas desligadas da realidade para a psiquiatria) tem uma expectativa de vida maior do que as pessoas ditas normais, afinal eles não se preocupam com nada, se expressam livremente sem repressão, não guardando mágoas nem rancor, muito menos se estressando com a vida. Deve ser por isso que são fortemente medicados e mantidos sob confinamento. Nesse mundo normal, realmente, não há lugar para gente assim!

A consciência é estar inteiro a cada momento e essa é a única felicidade! Tudo que acontece fora de mim, como os problemas do cotidiano, as perdas e tristezas agem sobre cada pessoa diferentemente. Aquele que está inconsciente fica reativo às situações e é governado por elas e seu sofrimento é longo e penoso. Já quando alguma coisa abate uma pessoa consciente, ela tem uma autonomia de, livremente, dar outro sentido ou significado ao que aconteceu e nunca é dominada pela situação.

Por mais simples que possa parecer, lembre que se estamos conscientes nada nos acontece fora do nosso controle. Quando alguém, por exemplo, está comendo demais, usando álcool, drogas  ou qualquer outra forma de atitude contra si mesmo (auto sabotagem), isso só ocorre pela inconsciência de não entender a raiz do seu sofrimento passando a buscar compensações externas.

Agora fica mais fácil de entender que quando estamos lúcidos e congruentes (comprometido com o que sou hoje), estamos experimentando uma espécie de unidade, já quando perco minha percepção da realidade por estar vivendo as alucinações do passado e do futuro estou na dualidade, que, como sabemos, é a raiz do sofrimento humano. Fico dividido em dois: meu corpo e vida aqui, meu pensamento o tempo todo fora do tempo presente, negativando situações e criando um estresse baseado em nada que seja real, apenas em expectativas delirantes.

Osho disse certa vez em uma de suas palestras, que, quando nos aproximamos de Deus temos uma sensação de estarmos ficando loucos, e isso me parece simples de entender. Se vivemos no mundo da dualidade desde quando nascemos, tudo que conhecemos, portanto normal, é dual e sofrido. A evolução tende a nos levar a unidade e ao fim do sofrimento e isso parece mesmo loucura, não acha?

Justamente por isso o caminho evolutivo é sempre uma trajetória solitária, que poucos se dispõem a empreender, afinal,  normalidade cobra um preço caro para quem sai do bando, se arvorando na loucura de ser diferente!

Então, se pensarmos bem, veremos como é profundo o significado dessa mesma carta representar dois extremos, ao mesmo tempo, tão parecidos. Quando alguém lhe disser que essa ou aquela pessoa é louca, procure prestar atenção, fique atento, e cuidado com os julgamentos rápidos, você pode estar diante de um Mestre!

O Louco - Tarô de Marselha

A VONTADE

   “Somos dominados por tudo aquilo com que nos identificamos. Podemos dominar e controlar   tudo aquilo com que nos desindentificamos.”

                                                                Roberto Assagioli.

Para a psicossíntese* a vontade não é um atributo disponível facilmente para quando precisemos usa-la. Na verdade, é considerada uma força que guia nossa intuição, impulso, emoção, imaginação, sensação e pensamento em direção a objetivos imediatos e transcendentes. Isso quer dizer que a vontade é um atributo do Self, ou seja, de nossa porção conhecida por Eu superior, não ligada ao corpo físico. Nessa hora torna-se importante diferenciar vontade de desejo. Desejo é emoção, impulso instintivo, mais ligado ao biológico, ao eu pessoal ou inferior.

Dentro desse enfoque, a vontade é a força central da nossa individualidade e precisa ser descoberta dentro de cada um para poder se falar em autoconhecimento. É no exercício da vontade, e não dos desejos, que realmente colocamos nosso verdadeiro Ser em ação. É a vontade que nos faz querer, muitas vezes, além da própria razão, que nos faz acreditar algo ser possível quando para os demais não é. Portanto, só pode ter esperança (nunca deixar de ter atitude em busca de algo), quem tem uma vontade forte. E justamente por não estar ligada ao corpo físico e sua sobrevivência, que a vontade é uma força transhumana em minha opinião. Não é uma satisfação de um desejo, mas a conquista de um sonho ou objetivo!

A verdadeira liberdade do ser humano é seu poder de escolha, e isso precisa incluir sua interpretação dos acontecimentos. Para isso é necessária a vontade, e é só com ela que poderemos nos libertar dos paradigmas e condicionamentos que nos aprisionam, nos proporcionando a oportunidade de realmente podermos dizer que “vivemos nossa própria vida”. Só a vontade, portanto, pode vencer o medo e a insegurança que nos impedem de evoluir, diante dos obstáculos naturais do crescimento.

Dentro desse raciocínio, enquadro a vontade como pré-requisito para a determinação e a confiança. Portanto, caso você esteja esperando um dia acordar com “vontade”, “confiança”, ou sentir uma forte “determinação” para dar o passo que falta, lamento informar que isso nunca vai acontecer. Por ser um atributo superior, a vontade só pode ser exercitada diante do medo e da insegurança que são atributos inferiores, como já frisei, ligados ao físico. Não dá para chegar ao segundo andar sem subir as escadas que estão no primeiro andar. No caminho evolutivo não tem elevador nem milagres. Se existissem, isso seria uma injustiça aos que se dispõem a avançar e não existe injustiça na “Lei” que rege a existência.

Para Assagioli, a vontade é uma experiência direta, portanto indescritível, acima da multiplicidade. Não há como falar da vontade, por ser superior, em palavras que reduzem significados. É como querer explicar a cor verde a um cego, por exemplo. Para ele, a vontade tem uma polaridade masculina (assertividade, agressividade e controle) e uma feminina (aquiescência**, complacência e dedicação). Como tudo que contém em si em igual força o masculino e feminino, a vontade é completa em si mesma, demonstrando seu caráter superior.

Assim, é a vontade humana que nos permite direcionar nossa vida (não existe destino), e se, certas situações estão fora de nosso controle, poderemos escolher como enfrentá-las; seja com coragem ou medo, alegria ou tristeza, tranquilidade ou desespero. Uma se escolhe (superior) a outra é automática (inferior), já percebeu?

Em interessante artigo sobre a vontade, Marina Pereira R. Boccalandro***, afirma que, “…como as animais são mais livres que os vegetais, porque podem mover-se no mundo físico, os humanos são ainda mais livres porque podem mover-se no mundo das ideias. O sistema nervoso humano está capacitado para ser o menos previsível de todas as espécies. Muitas vezes podemos agir automaticamente, seguindo velhos hábitos, mas podemos também inventar, criar e modificar não só os comportamentos, como também o nível das ideias dentro das artes, ciências, filosofia, religião e tantas outras áreas.”

Nesse ponto, me sinto à vontade e, sem constrangimento, para me opor a Descartes com sua famosa frase “Penso, logo existo”, já que esse “pensar” muitas vezes é automatizado pela programação a que estamos sujeitos e dos desejos, sempre ligados  a necessidade de alguma satisfação imediata. Pensar, em minha opinião, não é, necessariamente, “existir”, já que ninguém tem controle sobre seus pensamentos. Insurjo-me a redefinir a famosa frase para: “Tenho Vontade, logo existo!”.

Assim, se sua Vontade anda em baixa, pode observar que sua vida também não está em bom momento, ou “tudo vai indo”…

Todos temos um dom que é necessário ser vivido para que possamos nos tornar realizados e felizes, e se não cumprimos essa missão nos tornamos mais sofridos. Para a maioria das pessoas, viver esse talento só é possível com o exercício pleno dessa vontade que está acima de tudo que nos mantém estagnados, vencendo até mesmo os próprios preconceitos contra aquilo que gostamos em nós mesmos. Essa mesma vontade é a que, por exemplo, supera diagnósticos médicos, levando a sobrevida por objetivos superiores e que deixa a ciência sem explicação, ou mesmo quando alguém faz um “milagre” que podemos dizer, porque não, como um pleno exercício da vontade. Afinal, só com uma força acima do humano se pode agir como um deus.

Para Willian James, a vontade é um ponto central por onde a ação significativa pode ocorrer. Para ele, é a vontade que mantém  uma escolha entre alternativas o tempo suficiente para permitir que a ação ocorra. Isso é muito interessante, já que podemos interpretar esse pensamento da seguinte forma: Tenho vontade de algo, e preciso mantê-la firme, enquanto ela caminha ao lado do medo e da dúvida (certo ou errado), até que minha ação se manifeste no sentido de por em prática a ação necessária. É outra maneira de ver, mas de acordo com o que já foi dito anteriormente. Interessante lembrar que muitas pessoas auto-realizadas, que atingiram grandes objetivos pessoais, relatam que não “pensaram” muito para fazer o que fizeram. Isso mostra que o pensamento, muito ligado aos condicionamentos, é inimigo da vontade, estando ela, realmente, em nível acima do que é normal. Por isso, só pensar está longe de “existir”.

Portanto, a vontade como qualidade é necessária ser trabalhada, como tudo que queremos desenvolver, mas nunca se deve esquecer seu caráter superior, ou seja, que não é algo que se conquista facilmente sem esforço. Precisa se querer muito, e sempre!

Maslow, famoso psicólogo transpessoal disse certa vez que “se você deliberadamente planejar ser menos do que você é capaz de ser, então eu o previno que você será profundamente infeliz pelo resto de sua vida.”

Não é uma condenação, mas uma constatação de que sem a vontade, a evolução ou felicidade não é possível.

Afinal, já que me dei ao direito de enfrentar Descartes, posso lhe perguntar:

                                                     Você Existe?

______

*Psicossíntese – A Psicossíntese ajuda ao entendimento e ao controle dos problemas, à melhoria dos relacionamentos, à compreensão das potencialidades criativas, à contribuição interior para um amplo contexto social e planetário e, ainda, à busca do significado e finalidade da vida. Isso leva ao reconhecimento daquilo que é básico na natureza transpessoal ou espiritual de cada ser humano, sugerindo que esse auto-controle começa com o auto-conhecimento e a auto-compreensão. A Psicossíntese utiliza princípios e técnicas relevantes da consciência pessoal de forma a proporcionar uma abordagem holística centrada no crescimento e desenvolvimento humanos. Foi criada pelo psiquiatra italiano Roberto Assagioli.  Fonte: Wikipedia

** Aquiescência- Estar ou pôr-se de acordo. Dicionário Caldas Aulete.

*** Livro “Espiritualidade na Prática Clínica” ed. Thomson

 

 

 

Somos todos UM

 

Nesse domingo de “folga” dos artigos, ofereço um documentário muito interessante. Apesar de já ter sido lançado há muitos anos está longe de perder a validade. Os produtores saíram mundo afora com uma câmara de vídeo amador para conversar com pessoas, muitas famosas, outras nem tanto, sobre Deus, espiritualidade, etc. Vale a pena assistir ou baixar em seu computador para ver quando estiver inspirado.

Até semana que vem!!

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=ZMt80IQ_a90[/youtube]

O SENTIDO DA VIDA

“ Não encontrarás teu caminho nessa rua;

se existe um caminho,

ele está na tua estrada de suspiros…

…mas quando vossas máscaras de bom senso e tolice por fim tornarem-se brancas,

vereis que esperança e medo são a mesma coisa.”

Hakim Sanai – O Jardim amuralhado da verdade

Quantas vezes já aconteceram, seja em conversas descompromissadas, seja dentro da psicoterapia, das pessoas perguntarem ou se questionarem sobre o “sentido da vida”. Penso ser interessante nos dedicarmos a essa reflexão, e podemos começar perguntando se esse “sentido” seria algo certo e acabado, ou seja, existe uma resposta objetiva a esse questionamento?

As religiões, cada uma dentro de sua visão do que seja o certo e errado, através dos  sermões a seus seguidores ou dos mandamentos, tem como objetivo colocá-los dentro desse “sentido” que, se devidamente cumprido, os levará ao paraíso ou seja lá qual for a recompensa divina por teres seguido essa receita. O grande problema dessa prática é que se algo de desagradável acontece na vida da pessoa ela tende a abandonar essa prática religiosa já que ela não deu os resultados esperados, levando a conclusão de que esse “caminho” não era o correto, afinal, se fosse, esse acidente, perda ou frustração não teria acontecido. Mas, como hoje as religiões estão cada vez em maior quantidade, pode o “fiel” agora desiludido, procurar outra “verdade definitiva” que o leve adiante…

Mas e se não houver um sentido realmente?

 Não vamos nunca esquecer que os grandes Mestres que deram origens às principais religiões nunca deixaram nada escrito de próprio punho, ou seja, o que temos deles são as “versões” de seus seguidores, muitas vezes escritas dezenas ou centenas de anos depois do desaparecimento físico do Mestre. Alguém disse certa vez que o Mestre nunca é o problema, já que normalmente é alguém de consciência muito desenvolvida, mas os discípulos é que são o verdadeiro problema, afinal são eles que criam as instituições religiosas e estão muito distantes da capacidade e da percepção daqueles que os inspiraram colocando o desejo de poder em primeiro lugar. É engraçado, para mim, alguém se dizer “representante” de Deus, ou autorizado por ele a ditar normas de conduta. Nessa hora, dr. Freud não hesitaria em detectar uma crise narcisista!

A vida por si só não tem sentido algum em si mesma!

De que “vida” estamos falando? Nossa vida física é baseada em uma série de casualidades, acidentes, imprevistos de toda ordem. Qual o sentido de uma criança morrer, por exemplo? Qual o sentido de alguém nascer em uma família ou país miserável sem nenhuma chance de ter um mínimo de condições de se desenvolver? Qual o sentido de alguém estar dentro de casa e morrer porque um carro ou avião caiu na sua cabeça? Qual o sentido de uma pessoa que dedicou sua vida a ajudar e minimizar o sofrimento dos demais ser abatida por toda a sorte de infortúnios? E tantos outros acontecimento sem nenhuma lógica ou justiça.

Talvez devêssemos mudar uma palavra e perguntar: Qual o sentido da existência?

Existir não é necessariamente viver, é um processo evolutivo, existir tem a ver com uma determinação de dar um sentido a sua vida, independente das causalidades, de se buscar por escolha própria o rumo que damos aos nossos dias. A existência pressupõe uma autonomia, um ser dono de suas decisões e do destino por consequência. Quando isso ocorre, qualquer acidente ou frustração que os imprevistos possam trazer não tiram a pessoa do seu caminho, já que foi ELA que deu e escolheu seu “sentido”, sua estrada e aonde quer chegar. Assim, tudo de errado ou triste que possa acontecer é visto dentro de  outra perspectiva, interpretada pelo ângulo de que faz parte do sentido que escolhi dar, são as “pedras” do caminho que só valorizam a caminhada e dão ainda mais força para buscar a realização que queremos.

Assumir o sentido da existência pressupõe um transcender, já que somos rodeados de pessoas que seguem algum “sentido” pré-estabelecido, baseado no medo, de que podem ser punidos (por quem?) ou culpados se saírem da linha, dessa estrada por onde milhões e milhões de pessoas já percorreram, terminando suas passagens sem terem se encontrado ou tendo vidas medíocres, passando em branco, sem terem experimentado um momento sequer de verdadeira realização, principalmente se seus sonhos não eram aceitos como “certos” pelas cartilhas que seguiam.

Quer saber? A vida não tem nenhum sentido, se tivesse, todos estaríamos felizes e realizados, era só seguir a receita única que serviria para todos!

O “sentido” são suas escolhas, e esse é seu carma. Aliás, essa palavra é muito mal entendida, já que no ocidente trata-se apenas de efeitos e ações ou vidas anteriores (se houver). Carma, na verdade, é nossa suprema liberdade, ou seja, nossa responsabilidade que insistimos em transferir para outrem de dar o sentido de nossa vida. Quando sei onde quero chegar, todas as minhas ações, que sempre geram consequências, são destinadas a me levarem ao destino que escolhi.

De algum jeito estando conscientes ou não, estamos dando um sentido a nossa existência. Se não escolhemos isso baseados em quem realmente somos, não nos servirá de desculpa na hora do resultado final, porque a “Lei” diz que colheremos o que plantamos, independente de termos percebido o que estávamos semeando.

Então, dito o que foi dito lhe pergunto: Sua existência tem sentido? Qual o sentido que tuas ações estão dando à tua vida? Quando você se levanta pela manhã para seu trabalho ou estudo, você sabe exatamente aonde quer chegar e por quê?

Independente de quanto tempo vamos viver, de que forma vamos morrer, nada disso será relevante se nós estamos dando sentido a nossa existência! Tudo terá valido a pena e mesmo que nossa passagem aconteça antes do grand finale, o caminho percorrido já nos preencheu de sabedoria e experiência.

Caso o leitor (a) estiver em um daqueles momentos em que a vida perdeu o sentido, ou quando algo que achávamos que duraria a vida inteira acabou mais cedo que esperava, ou alguma perda ou mudança brusca o deixou sem chão, por mais estranho que possa parecer isso pode ser uma boa notícia! O boa nova é que agora você poderá escolher o sentido que dará daqui para frente! Escolha sua, já pensou?

Também é bom não esquecer que estamos sempre em processo de mudança e que poderemos ter, durante a vida, novos sentidos a cada etapa. Mudar de sentido, escolher outro, qual o problema? Ninguém aos vinte anos é igual aos quarenta e escolher novos sonhos é normal e até saudável. Que chatice estarmos condenados a verdades imutáveis!!

Então, sugiro que pare de se lamentar e mexa-se!!!

Futuramente falaremos da “jornada do herói” a que todo ser humano está, pela sua liberdade, condenado a empreender, já que isso justificará sua existência. Até lá, poderemos pensar que ser herói é ser quem realmente sou, vivendo meus verdadeiros talentos. E porque isso é heróico?

Por que, por mais incrível que possa parecer, não se consegue isso sem vencer muitas batalhas internas que sempre projetamos na exterioridade. É mérito mesmo! É conquista! Quantas vezes já ouvimos que o “paraíso” e o “inferno” estão dentro de cada um de nós e não em algum outro lugar.

Para chegarmos ao paraíso, que nada mais é do que escolhermos o sentido de nossa existência, precisamos antes vencermos a nós mesmos em primeiro lugar e isso inclui nossos medos mais antigos e arraigados.

 Nada é mais heroico que isso!

Optimized with PageSpeed Ninja