“A humanidade está a meio caminho entre as feras e os deuses”
Plotino
Como tudo evolui, isso também inclui as idéias ou conceitos do que se entende por desenvolvimento humano. Assim, hoje, a psicologia transpessoal* defende que o desenvolvimento psicológico prossegue ao longo da vida, ou seja, nossas emoções, sentido de moral, missão de vida e, é claro, senso de identidade continuam a crescer no que entendemos por idade adulta. Dessa forma, a idade adulta está longe de representar uma maturidade psicológica, já que por esse conceito, nunca paramos de mudar ou avançar na evolução da consciência. O que atrapalha esse entendimento é o fato de termos sempre o mesmo nome e um conjunto de ações repetitivas que nos dão a ilusão de uma unidade.
Por esse ponto de vista precisamos rever o conceito de normalidade, que diante desse potencial de crescimento, passa a ser algo que poderíamos chamar de um crescimento limitado. Segundo Abraham Maslow: “Aquilo que chamamos de normalidade, é na verdade, uma psicologia da média, tão medíocre e tão amplamente difundida que nem a percebemos como tal”. No Brasil, o professor Hermógenes (que está em vídeo de um artigo anterior) chamou de “Normose” essa patologia da normalidade. Ele talvez tenha definido ainda mais profundamente o conceito de Maslow. Para ele, a normose é o conjunto de normas, conceitos, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir que são aprovados pelo consenso ou pela maioria de uma determinada sociedade. Em outras palavras, torna iguais pessoas diferentes, potenciais diferentes e talentos diferentes. Carl Jung chamava de participation mystique a primitiva inconsciência partilhada pela massa da espécie humana, assim mais uma vez, vemos que a consciência mais elevada sempre necessitará de esforço e de busca. Nada mais justo do que o “prêmio” para quem trabalha por ele.
Porém a questão que me parece mais profunda é que a normose ou forças que impedem o crescimento da consciência dos indivíduos não vem apenas da sociedade, mas de nós próprios.
Como já escrevi anteriormente nossa mente recusa o novo pela sua função primária de manter a vida. Essa função não se preocupa se estamos felizes ou não, apenas se estamos sobrevivendo. Assim, como a evolução sempre nos remete a novas situações, a entendimentos e percepções novas da realidade, abandonando assim modos já conhecidos de viver, sentimos medo dessa mudança. Como resultado desse processo, negamos nossos potenciais mais avançados. Essa recusa de crescer foi tratada por psicólogos e filósofos com termos diferentes, mas que valem a pena ser descritos para entendermos melhor isso. Para Erich Fromm, famoso psicólogo humanista, chamava de “mecanismo de fuga”, enquanto Maslow chamava de “complexo de Jonas”, referindo-se a lenda bíblica do personagem que tentou escapar de sua missão divina. Já para Kiergaard esse medo tinha o nome de “tranqüilização pelo trivial”. Outros adotaram um nome que prefiro: “repressão do Sublime”. A idéia central, portanto, é que nossos melhores potenciais permanecem estagnados porque a sociedade os reprime e nós os negamos. Aliás, certa vez, Nelson Mandela disse que “temos medo de assumir nossa grandeza”. Ainda sobre esse aspecto, é natural entender essa resistência em evoluir, já que sabemos que todo aquele que atingiu um certo grau de desenvolvimento e compreensão sempre será um solitário em relação ao curso geral da espécie humana, e está condenado a esse abandono até que outros atinjam o mesmo nível de compreensão.
Pelo aspecto social, um dos mecanismos que favorecem esse processo é o que se chama “coação para o meio termo biossocial”, que nada mais é do que uma força que empurra os extremos para um meio termo. Mas como isso funciona? Na verdade todas as qualidades excessivas ou insuficientes são incentivadas a uma espécie de equilíbrio. Se de um lado, por exemplo, uma pessoa tem uma grande tendência para a liderança é incentivada a se controlar enquanto que alguém muito submisso será apoiado a se impor mais em suas ações. Dessa forma teremos um perigoso equilíbrio que torna todos muito parecidos. Já sabemos que a sociedade por seus mecanismos culturais tem a força de conduzir as pessoas para dentro de suas normas com o intuito de mantê-las sob certo controle.
Assim, o meio social ajuda a colocar-nos dentro de suas normas, mas cria obstáculos quando alguém quer ultrapassá-las. Basta olhar a história e ver inúmeros exemplos de grandes sábios que acabaram seus dias assassinados por saírem do “padrão”, mesmo que tempos depois tenham sido reconhecidos, mas já sem oferecer mais perigo ao status quo.
Tudo isso serve para nos perguntarmos: quais as capacidades especiais que tenho? Quais as minhas habilidades que me diferenciariam do comum? E, obviamente, o que eu poderia fazer para descobri-las? A frase de Plotino que abre esse artigo serve de resposta, querendo dizer que estamos a meio caminho do pleno potencial que temos como humanos.
É sempre interessante notar a angústia que todas as pessoas chegam, mesmo quando cumpriram o seu “programa de sucesso”. Esse desconforto é justamente a negação dessa individualidade, desse progresso de consciência não buscado.
Para não ficar muito longo, continuaremos essa abordagem em outro artigo, por hora fica a busca pelas respostas e a reflexão de nossa anulação.
*Psicologia transpessoal é uma abordagem da Psicologia não aceita pelo Conselho Federal de Psicologia e a-cientifica, ou seja, não possui fundamento científico algum, entretanto é considerada por Abraham Maslow (1908-1970) como a “quarta força”, sendo a primeira força a Psicanálise, seguida do comportamentalismo, e do Humanismo. É uma forma de sincretismo teórico, que abarca conteúdos de muitas escolas psicológicas, como as teorias de Carl G. Jung, Maslow, Viktor Frankl, Fritjof Capra, Ken Wilber e Stanislav Grof. Surgiu em 1967 junto aos movimentos New Age nosEUA, pelo pensamento de Maslow, que dizia que o ser humano necessitava transcender sua Psique, conectando-se a outras realidades, procurando pela Verdade, de forma a entender sua existência e ajudar a si próprio. (Wikipédia)
Para saber mais, recomendo a leitura do livro “caminhos além do ego” da editora Cultrix
Bom dia,
Muito interessante….Parece que tudo na verdade é uma questão de consciência, de estarmos conscientes dos mecanismos que nos influenciam. Talvez fosse interessante pensarmos uma maneira de atingirmos as “massas” através de um nível de consciência alcançado com nossos esforços. Se assim fosse estaríamos influenciando a sociedade que por consequência influenciaria o indivíduo e teríamos mais pessoas conscientes de sua real situação e o que devem fazer para continuar evoluindo. Penso que uma das maneiras seria através de nossos pensamentos…
Blogs como o seu divulgando essas idéias também são grande influência para a sociedade. Fico feliz em partilhar essas idéias contigo e com várias outras pessoas…
Parabéns e um grande abraço,
Léia.
Léia, seu comentário vem a acrescentar muito! É verdade que necessitamos de uma nova consciência, mas sempre vem a dúvida: ela não é procurada por não sabermos da existência ou da possibilidade, ou porque temos um apego ao que somos e temos hoje que essa mudança poderá fazer-nos “perder” essas relações, pessoas, etc.?
acredito que cada pessoa tem seu tempo de evolução que isso é natural não tendo como influenciar grandes massas até porque cada pessoa é um ser único vários mestres tentarão e hoje temos um monte de religiões deturbando a realidade .se conseguirmos transcender nossa própria consciência naturalmente as pessoas ao nosso redor também iram evoluir de uma certa forma. assim no decorrer do “tempo” todos entraremos em contato com nossa essência nosso “EU”.
Verdade Tiago, a sabedoria é por o conhecimento em prática! Grato pelos comentários!
Não tenho certeza de que me fiz entender. Minha intenção era ressaltar a importância do poder do pensamento e a influência que alguém que alcançou um estado de consciência pode exercer sobre os outros. Acredito verdadeiramente que é possível influenciarmos tanto as pessoas à nossa volta como o Universo inteiro, Ghandi Disse: “O amor de um únco ser, neutraliza o ódio de milhões”, se é assim com o amor, também pode ser com a consciência. Não quero dizer que podemos manipular as pessoas, mas que se pudermos ajudá-las a se despertarem as mudanças acontecerão para todos nós. Sei que cada um tem seu tempo e que talvez algumas pessoas ainda não querem despertar devido aos apegos, mas isso não me impede de ajudá-las através dos meus pensamentos. Porque acredito que o que todos querem no final é encontrar uma razão para sua existência ainda que estejam buscando em coisas desse mundo. Na verdade se juntarmos nossas idéias, todas possuem algo em comum e agradeço por poder compartilhar isso com vocês através desse blog, que como disse anteriormente é uma influência muito positiva na vida das pessoas.
Léia, seu pensamento ficou claro, como sempre! E isso é bom porque abriu uma ótima troca de idéias sobre o tema: devemos ou não irmos além de nós? Não imaginei que esse assunto ia dar tantos bons frutos! Escrevi uma 2a parte que será publicada no domingo. Quando as pessoas trocam idéias, conceitos e se posicionam, esse blog cumpre sua função. Muita paz!!!
Olá a todos…
Gosto muito de sempre “dar uma olhada” nas discussões deste blog, que realmente é muito bom, pra poder me manter atualizado!
Digo isso porque é muito bom pensarmos e criticarmos nossa vida, num todo, pois senão, é muito fácil vivermos na Normose do mundo.
Gostaria apenas de dizer que, na minha opinião, as forças do amor e do exemplo são os melhores “motores” para as pessoas “mudarem”… Mas, pelo que já vi até hoje, o livre arbítrio de cada um é mais forte que qualquer pensamento, intenção, ou oração externos à pessoa, e se ela não desejar realmente “mudar”, ela não irá mudar… pelo menos profundamente!
Para matemáticos e engenheiros, é uma simples questão de vetores! Digamos que as “vontades” são representadas por vetores…
Se os vetores se coincidirem numa mesma direção, ótimo! A resultante será a soma! Mas, se os vetores forem para direções diferentes, ou seja, vontades diferentes, a resultante será menor que os vetores originais e para uma direção indesejada!
Concordo com a afirmação: “Ninguém evolui por ninguém e ninguém evolui sozinho!”
Penso que o “querer” é muito importante! E, como disse um mestre, “não basta querer, tem que querer muito e tem que querer sempre!”, pois como eu escrevi acima, se “relaxar nessa convicção”, é muito fácil para qualquer um voltar para Normose!
Bem, espero ter contribuído para a tarefa de se fazer pensar individualmente para um aumento de consciência!
No mais, gostaria de propor os filmes “SAMSARA” e “PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO e PRIMAVERA OUTRA VEZ”!
Abraços
Henry, ótimo vê-lo por aqui!! Essa questão é mesmo polêmica. Já sabemos que um grupo de pessoas pode influenciar muitas outras com seus pensamentos. Mas ai entra essa questão que você coloca do livre arbítrio. É claro que é lícito emitirmos bons pensamentos (energias) com a intenção das pessoas diminuírem seus níveis de violência, conflito, etc. Eticamente cabe a pergunta: não estaríamos nesse caso interferindo no livre arbítrio delas? Existem bons argumentos para as duas respostas possíveis a essa pergunta. Por isso é muito bom quando expressamos nossa opinião, e trocamos essas maneiras de “ver”. Podemos mudar de idéia ou ficarmos com a nossa opinião, mas de qualquer forma sempre de um jeito “novo”pela revisão que fizemos pelo contraditório.
Nossa adorei!!!o tema, chego a ficar com medo deste mundo ,pois agora que li que podemos ficar isolados dessa massa …pois cada um tem sua evolução e cada vez mais nos procuramos comentários inteligente com conteudos para que possamos agregar no nosso dia dia..parabéns pra vc que está nos ajudando..
Maria José,
Fico contente em saber que o blog está cumprindo sua função de refletirmos sobre nós e tudo que nos envolve. Abraço!