Além do NORMAL (2a parte)

Você não existe para se tornar um robô e não existe para se tornar igual a mais ninguém. Você tem que se tornar você mesmo! Essa é a maior coragem do mundo, porque a sociedade inteira tenta forçá-lo a se tornar outra pessoa.

OSHO – O cipreste no jardim

 

 

Continuarei nessa semana o artigo anterior de mesmo nome, com o intuito de aumentar a abrangência do assunto. Por isso, caso não tenha sido lido, recomendo que o faça (está logo abaixo), para ter o entendimento amplo sobre o tema.

Se realmente acreditamos que todo o ser humano tem potenciais inexplorados, talentos não utilizados e que essa vivência é fundamental para sua saúde, no sentido mais amplo do termo, e se concordamos que o meio social tem cumprido a função de impedir o florescimento desses talentos, o que fazer?

Penso que uma educação que tivesse essa finalidade seria a saída. O que sempre acompanhamos é o sistema educacional servir a ideologia dominante. Hoje, a escola se dedica a formar mão de obra para o capital, apenas isso. Freud disse certa vez, com acerto, que só a arte seria capaz de libertar o ser humano da angústia existencial. Evidente que Freud não contemplava aspectos mais transcendentes da existência em sua teoria, mas é inegável que quando estamos praticando alguma forma de arte, o bem que isso traz é inquestionável! Mas hoje, a aula de educação artística é relegada e tratada de forma pouco séria. Entendo que a arte, para uma criança é muito mais importante para o seu desenvolvimento do que ensinamentos de matemática, geografia ou ciências que poderiam esperar uma idade mais favorável. Mas como a idéia não é libertar, mas “domesticar”, a educação é tratada da forma que é.

Mais uma vez citando Maslow, ele defendia a idéia de que esse desenvolvimento poderia se dar mais facilmente em um ambiente “eupsíquico”, que seria um meio favorável a essa prática. Isso significaria a convivência com pessoas que valorizam o desenvolvimento da consciência (transpessoal), o que permitiria uma facilitação do processo, na medida em que, em uma atmosfera segura podemos abandonar nossas defesas e medos e nos dedicarmos a experimentação. Hoje isso acontece em cursos e workshops que, felizmente, tem sido cada vez mais ofertados.

Esse estado de desenvolvimento, que revoga os condicionamentos e levam a verdadeira liberdade, já que não mais existe o medo e o apego é chamado pelas Tradições religiosas de diversas formas a saber:

Ele e ele tornaram-se uma só entidade. (Abuláfia, Judaísmo)

O Reino dos Céus está dentro de vós. (Cristianismo)

Atman (consciência individual) e Brahman (consciência universal) são um só. (Hinduísmo)

Da compreensão do Eu decorre a compreensão de todo este universo. ( Upanixades)

Aquele que conhece a si mesmo conhece seu Senhor. ( Islamismo)

O céu, a terra e o homem formam um só corpo. ( Neoconfucionismo)

 

Nesse momento entra em questionamento a meditação como meio de se atingir essa compreensão mais ampla da realidade. Penso que a meditação, seja pela técnica que for, por si só talvez não seja suficiente e não para todos. De alguma forma, noto que as pessoas que tem usufruído mais dos seus benefícios já tem algum tempo de “caminhada”, ou seja, conhecimentos teóricos, mudanças pessoais já realizadas que fazem da meditação algo que se encaixa dentro de um contexto. Aqueles que ainda não atingiram esses pré requisitos sempre tem pouca persistência no processo e não conseguem resultados, nem os mais iniciais como uma tranqüilidade maior, mais tolerância e uma percepção consciente das agitações da mente.

Diz a tradição, que depois que a consciência é transformada e ganha uma estabilização não se chegou ainda ao final da jornada. Depois que as questões mais profundas são resolvidas, uma paz interior é alcançada, existe um direcionamento para o sofrimento humano de forma geral, conduzindo a um sentimento que só quem chega nesse estágio pode descrevê-lo que é a compaixão. Isso quer significar que a pessoa se volta para o “outro”, com a intenção de levar essa luz encontrada às demais pessoas. Esse é o estágio que Campbell chamaria do “retorno do herói” que na verdade é o que aconteceu com todos aqueles que contribuíram para a humanidade.

Maslow e outros transpessoalistas defendem a idéia que essa evolução é tão essencial quanto o abrigo e a alimentação e que quando isso não é atingido desenvolvem-se doenças de toda a ordem que nos seus sintomas iniciais nunca são detectados pelos exames, já que é uma espécie de mal estar existencial que se somatiza no corpo de alguma forma. O que vemos é a tentativa de sanar essa angústia com compensações de toda ordem; alimentação exagerada, compras, drogas,  e outras formas de agregar alguma coisa ao meu “Eu” que me faça sentir melhor, diminuindo o sofrimento.

Na verdade, só uma consciência ampliada pode me dizer quem realmente sou, o que realmente quero. Ao final desses dois artigos fica a idéia de que tudo começa, que toda a busca se inicia pelo auto conhecimento, da descoberta de quem sou, para só assim iniciar uma caminhada que possa me levar de “volta para casa”…

 


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