A Prisão que nunca existiu

 

Preste atenção nessa história! Entendê-la não é difícil, mas se você conseguir colocá-la em prática é bem possível que sua vida mude e muito! É uma das mais belas e tem um significado muito especial. Faz parte do sufismo, que é uma das mais antigas Escolas que buscam a elevação da consciência dos seus adeptos. Depois de lê-la espere um pouco antes de continuar. É para ser absorvida como um velho e raro vinho:

Um homem veio até Al-Hallaj Mansoor e fez a pergunta:

O que é libertação?

O sábio Sufi estava em sentado em uma mesquita com belas colunas por toda parte. Ao ouvir a pergunta Mansoor dirigiu-se imediatamente a uma daquelas colunas e, segurando-a com ambas as mãos começou a gritar: – Ajude-me!

O homem não compreendia o que estava acontecendo. Ele apenas tinha perguntado sobre libertação e o outro parecia louco.

Mansoor, segurando a coluna pedia ao homem: – Por favor, ajude-me! A coluna está me segurando e não me solta, liberte-me!

E o homem respondeu: – Você está louco! Você está segurando a coluna e não ela segurando você!

Mansoor disse: Eu respondi. Ninguém o está amarrando…

Parece que é bem mais cômodo e fácil estar preso, ser livre requer ousadia!

Falamos de uma liberdade de ”ser” como se estivéssemos, sem escolha, presos a alguma situação, pessoa, trabalho, etc., como se a condenação fosse definitiva e só um milagre, ou algum acontecimento fora do meu âmbito de ação me trouxesse a liberdade almejada.

Na verdade não precisamos buscar uma liberdade que já existe. Precisamos assumir que seja o que for que esteja nos prendendo é porque queremos estar ali, consciente ou inconscientemente. Só alguém com a estatura de Mansoor poderia, de forma tão simples, mostrar essa verdade. Pessoas como ele ao longo da história precisaram ser assassinadas (ele foi esquartejado) porque são perigosas demais! Um homem livre é sempre um grande perigo, porque ele pode contaminar os demais de forma muito rápida, afinal ser livre é da essência do ser humano. A presença de alguém assim sempre traz duas situações: A primeira é que tomo consciência de meu estado estagnado e aprisionado a algo, e a segunda, traz o perfume da liberdade, que se torna um anseio.

Se os animais, que são inferiores em termos de consciência, quando privados de sua liberdade adoecem e morrem, porque nós poderíamos conviver com alguma espécie de cativeiro? Não seriam os sintomas, que se transformam em doenças, indícios de algum aprisionamento?

Preferimos aspirar a essa libertação porque nos seguramos nas situações e dizemos que estamos presos a ela. O velho hábito, cômodo, de ser vítima!!! Como seria bom se… Quando isso vai terminar? Até quando meu deus? E outras lamúrias…

Já escrevi em artigos anteriores que é muito difícil assumir um estado de liberdade, porque requer muita coragem. Vou me segurando na minha coluna e meus braços vão se tornando parasitas que vão crescendo e se enrolando cada vez mais naquilo que eu estou segurando desde o início. Chega uma hora que minha busca por inocência e o tempo que estou ali, me faz crer que foi a coluna que me pegou. Como pode? Ela está lá, parada e não tem braços…

Você não está preso a nada! Nunca esteve!

É provável que tenha visto pessoas importantes na sua vida segurando também a sua coluna e, é ate´ normal achar que isso estava certo. Só que, a partir do momento em que o desconforto e a tristeza chegaram, permanecer é sempre uma escolha e a responsabilidade é só sua! Não compartilhe, assuma a autoria da sua história! Não espere que seu “sacrifício” vá contar como crédito em algum momento. Não há nada de errado se estiver confortável, se for bom e você estiver feliz, só que não há prisão nesse caso.

Existe uma lei que diz que ninguém pode alegar o desconhecimento da Lei como desculpa por descumpri-la. Da mesma forma, a evolução, o universo em que vivemos também tem as suas leis e essa é uma delas: não existem vítimas!

O filósofo grego Heráclito disse que “A guerra é o pai de todas as coisas”. Sabemos que a grande e verdadeira guerra é travada no nosso íntimo. A tensão que geramos em nós na busca por estarmos bem, lutando contra o que “nos prende” libera a energia do nosso desenvolvimento.

No artigo anterior, encerrei perguntando se seria possível vivermos sem sofrer. Isso só será possível quando assumir minha liberdade e, principalmente, minha responsabilidade pelo que me acontece. Para isso, preciso lembrar que nada me prende, estou iludido, confortavelmente, pensando que estou preso. Por mais que parece que esteja em uma cela, a porta sempre esteve aberta! Por algum motivo, vantagem ou condicionamento me mantenho aqui! Tomar consciência disso é fundamental!

Se, durante esse texto, deixei você irritado (a) ou você pensou que “no meu caso é diferente”, dizendo que a situação está assim (seja qual for) por culpa e acomodação sua, então toquei na verdade! Desculpe-me por querer tirar sua ilusão! Eu sei, desiludir-se é tão desagradável…

Nunca se esqueça de que somente a desilusão é que pode nos impulsionar adiante, já que nos coloca de frente com a verdade. Nossas mudanças sempre são difíceis porque nos levam ao desconhecido, mas isso é do padrão de funcionamento da mente essa acomodação, esse medo de mudar, mesmo que não estejamos felizes. Precisamos aprender a lidar com isso, usando a consciência como guia, mas isso só vai funcionar se não esquecer de que nada vem de graça, tudo é conquistado!

Espero que você agora se sinta mais responsável pelo seu destino.

*Escrevi um artigo com o título: “Você é livre?” que é leitura complementar sobre o tema.

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sandra gomes lima
sandra gomes lima
12 anos atrás

Estamos presos a nós mesmos,a nossas crenças e nossos “achismos”.Se sairmos da mediocridade cotidiana de nossa vidinha e tivermos coragem de dar um passo em direção ao novo,à mudança, nossa vida começará a ter outro sentido.Nós teremos outro sentido…….

fernando canton
fernando canton
12 anos atrás

Prezado,
a responsabilidade sobre nós mesmos talvez seja a mais assustadora tarefa de nossas vidas…
A verdadeira liberdade é para os seres que nada temem.
Cresçamos !

abraços e obrigado
fernando canton

Cláudio Cesar de Lima
Cláudio Cesar de Lima
12 anos atrás

Permito-me citar Millôr: “Pra ser feliz de verdade é preciso encarar a realidade” Encarar a realidade pode nos parecer difícil, mas impossível não vê-la; ela está ali, talvez nos oprima, nos deprima e seguir Osho ou outros, apesar dos grandes ensinamentos não a impede de ali permanecer e, portanto, nossas crenças ensinadas desde a mais tenra idade protesta, chia, debate-se e é o que aparentemente nos segura, nos prende numa coluna que criamos a cada dia e a cada dia parece que ela (a coluna) aumenta mais e mais, acorrenta-nos como uma hera que se abraça a uma árvore e que dela tira vida, mas que pode matá-la.
Vivemos, então, acomodados pela carícia do medo, da falta de coragem, de encarar um novo mundo, de ver a vida de outra forma, por mais fantástica que aos outros possa parecer e que horrorizados nos cobrarão os mesmos ensinamentos que tiveram e que acham que é a verdade absoluta, como se houvesse essa verdade.
Libertar-se não é, portanto, apenas libertar-se do medo, mas encarar uma nova verdade, ou até mesmo uma mentira que nos foi imposta, para que a comparemos e assim chegarmos a uma conclusão que nunca será definitiva.
Mudar é necessário, não apenas pelo fato de “ir contra”, mas para experimentar uma nova porta, portas abertas que surgem a nossa frente, mas que sequer as olhamos, achando que ali há, como na época dos descobrimentos portugueses um abismo cheio de serpentes aladas, monstros que soltam fogo pelas narinas e que, ao abri-las, certamente algo nos engolirá. Vencer isso, ou procurar vencer, é se inteirar com belos achados como este do professor Eduardo O. Carvalho que me parece, diferentemente do que disse anteriormente, deve ser seguido, assim como outros, como Osho.
Obrigado sempre pelos seus belos artigos e por nos ensinar a largar de vez qualquer coluna que insiste em nos prender.

Léia
Léia
12 anos atrás

Suas palavras são profundas e belas e refletem realmente a importância de vivenciarmos a liberdade em nosso cotidiano. Se nos sentimos incomodados com as mesmas é porque toda mudança gera incômodo e dessa forma talvez já estamos reconhecendo que de alguma maneira estamos presos a algo. O estado de incômodo requer ação, ou avançamos e modificamos nossas vidas a fim de nos sentirmos livres internamente ou dizemos a nós mesmos que isso não faz sentido e retornamos ao estado anterior, é uma questão de escolha. Acho as palavras de Ghandi tão lindas quanto às do conto acima: “A prisão não está nas grades e a liberdade não está nas ruas; há homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.” Precisamos refletir….

Paz!

Daniel Behnke
12 anos atrás

Muito bom, forte e revelador o seu texto como sempre. Mas em um momento você comentou “(…) afinal ser livre é da essência do ser humano.” e no final do texto falou que “(…) mas isso é do padrão de funcionamento da mente essa acomodação (…)”.

Tendo dificuldade de diferenciar a “essência” da nossa “programação” afinal, somos programados para fazermos (ou não fazermos) muitas coisas, essa programação define nossos padrões de pensamentos, reações, ações, etc., então meu discernimento não consegue chegar a essa diferenciação.

A boa notícia para mim é que minha dúvida não dificulta o entendimento do texto, e sendo assim, concordo plenamente com tudo, mesmo que a conclusão do texto seja dolorosa para muitas pessoas.

A um tempo comecei a me responsabilizar por tudo que acontece comigo, no início não foi fácil, mas depois isso acabou se tornando algo normal e essa dificuldade desapareceu, tornando essa situação adversa em algo que facilita a vida, afinal, hoje eu perco menos tempo procurando culpados e mais tempo me concentrando no Agora, afinal, ele acaba resolvendo os problemas facilmente sem nenhum esforço.

Patrícia melo
12 anos atrás

Olá,

Acabei de postar seu texto em meu blog, gosto muito do que escreve.

Namastê!

trackback
11 anos atrás

[…] não tenha lido, recomento a leitura dos artigos: “A prisão que nunca existiu”, “Zen Budismo” e a “A prática do Relaxamento” como aprofundamento do presente […]

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