dezembro 2015

Fim de ano

Amigos, ao desejar que todos tenham um ótimo final de ano; que descansem e se divirtam muito, quero informar que os textos do blog retornam em 10 de janeiro. Até lá, somente a crônica do dia 5 janeiro será acrescentada como de hábito.

Estarei  retornando ao consultório a partir de 13 de janeiro. No período entre 02 e 10 de janeiro estarei com conexão a internet limitada; somente a leitura de emails.

Para finalizar uma sugestão:

Agradeça mais, peça menos e aja muito!

2016, como todo ano, será sempre resultado das nossas ações!

Uma mudança necessária*

– Senhor, precisamos conversar!

– Fala Pedro, você me parece ansioso.

– Sempre fui Senhor, desde a minha vida lá na Terra, quando me senti pressionado para salvar meu pescoço e neguei três vezes que conhecia Jesus, nunca mais fui o mesmo.

– Entendo, mas agora que você está na vida eterna não precisa mais ficar assim. Como aqui ninguém morre mais, não há motivo para a ansiedade. Respira Pedro, respira.

Depois de Pedro fazer a respiração que aprendeu no Yoga, ficou com o semblante mais sereno e continuou:

– O natal Senhor, não está mais dando certo. Precisamos rever.

– Como assim? Começou ontem, como  pode não estar funcionando?

– Lembre que o Senhor existe desde sempre. Dois mil anos lá na terra até que é bastante tempo.

– Essa coisa de tempo sempre me confundiu. Mas afinal, qual é o problema?

– Nossas pesquisas mostram que quase  metade dos cristãos fica triste nessa época. Como se fosse uma espécie de depressão. Chamam por lá de Christmas Blues.

– Mas porque eles ficam tristes, não entenderam minha mensagem?

– Sabe o que é Senhor, é a época do ano que aumenta a ansiedade pela quase obrigação das pessoas de se sentirem felizes. Tem uma pressão para que todos se amem e se perdoem. Alguns dizem que tem que fingir que gostam de alguns parentes e outras coisas.

– Sei, estou entendo.

– E tem ainda a coisa da morte…

– Morte? Natal não tem a ver com morte, é justamente o contrário!

– Eu sei, mas como é um encontro de família, todos lembram os que já morreram e aí fica pior. Andei vendo uns vídeos no Youtube Celestial e realmente não está indo nada bem. Tem ainda as coisas que eles se comprometeram de fazer e não conseguiram, de mais um natal que um ou outro problema continuou sem solução.

– Poxa, não sabia que estava desse jeito! Você sabe Pedro que comando o universo inteiro e a Terra é um planeta pequeno, em uma galáxia sem muita graça. Acho que preciso aumentar o número de anjos. Faça um edital.

– Mas Senhor, eu tive uma ideia.

– Olha Pedro, pelo que andei lendo a sua última ideia fez chover na primavera inteira. Pense bem antes de sugerir alguma coisa!

Pedro ficou em silêncio olhando para o chão. Pensou em dizer que todos têm maus momentos e quase perguntou sobre os dinossauros, a inquisição e as pestes, mas resolveu se calar. Tem horas que Ele fica bravo como era no Antigo Testamento e aí a coisa pega.

Respirou mais uma vez e resolveu falar:

– Pensei em mandar alguns sonhos reveladores. Como o Senhor sabe, sempre que queremos fazer alguma mudança por lá enviamos ideias. Lá eles chamam de inspiração e nos desenhos animados fazem uma lâmpada acender. Na verdade, eles já perceberam que vivem em uma espécie de escuridão.

– Mas a escuridão é natural, Pedro. Quando eu criei a Luz, era isso que queria dizer.

– Mas eles ainda são crianças Senhor. Veja o nosso departamento de pedidos; continua sempre abarrotado,  continuam precisando de nós como no primeiro dia, não fazem muita coisa sozinhos.

– Verdade, fico esperando que cresçam, mas sei que demora.

O Senhor ficou vagando em pensamentos, olhando para o vazio. Pedro, ao vê-lo pensando, sentiu um aperto no coração, mas teve uma dúvida; se Ele pensa, pode errar, ou seria uma insegurança?

Repentinamente o Senhor voltou a assumir a postura confiante de sempre e perguntou:

– Afinal, qual sua ideia, não me venha com outro dilúvio!

– Não Senhor, um já foi bastante e preciso reconhecer que os resultados não foram os esperados. Minha ideia para salvar as pessoas dessa tristeza no natal são as crianças.

– Como assim as crianças?

– Tudo começou com o nascimento de Jesus, não foi?

– Sim…

– O que eles ainda não perceberam é que o natal só funciona com crianças. Crianças não tem ansiedade, não se preocupam e vivem intensamente o presente, por isso são sempre alegres.

– Foi por isso que mandei Jesus dizer que só sendo assim eles viriam para o reino dos céus.

– Eu sei Senhor, mas eles não entenderam. Então minha ideia é mandar sonhos inspiradores de que só se poderá comemorar o natal em lugares onde tiver crianças. Dessa forma, resolvemos dois problemas; O primeiro é fazê-los entender que para estar em paz e harmonia é fundamental estar despreocupado e sem medo para confraternizar de verdade. E o outro é que temos milhões de crianças abandonadas por lá. Família sem criança é tão sem graça como natal sem criança. Meu plano é que todas as famílias sempre tenham uma criança em casa. Depois que os filhos entrarem na adolescência precisa adotar uma criança. Isso garantirá que o melhor da vida sempre estará em cada família.

– Parabéns Pedro, que grande ideia! Como pretende começar?

– Senhor, vou  mandar isso em sonho para um colunista e inspirá-lo a publicar.

– Tomara Deus que dê certo Pedro!

– Mas o Senhor é Deus…

– É mesmo, deixa prá lá, modo de dizer….

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* Resolvi transcrever no blog a íntegra da coluna publicada no jornal Folha SC em 22/12/2015, tendo em vista não só a data, mas pelo assunto se relacionar com os textos aqui publicados, já que muitos assinantes do blog não  terem acesso à publicação da coluna no Facebook.

O pior tipo de adeus

O dicionário britânico Collins incluiu uma palavra em 2015 nos seus verbetes: ghosting. Essa palavra tem origem na palavra Ghost que significa “fantasma”, e é fácil de entender o motivo.

Ghosting é o nome que se dá quando alguém termina um relacionamento sem dar nenhuma explicação, simplesmente some. Se ainda não conseguimos sumir no mundo real, no virtual é muito fácil; basta bloquear o número da pessoa e não atender nem responder chamadas. Claro que isso acontece pelo mesmo motivo, afinal as relações depois do advento da internet começam de forma efêmera e quase inusitada pela via de aplicativos que contêm uma ou outra imagem, nem sempre condizente com a realidade, e muito, muito poucas palavras.

O que podemos esperar de um relacionamento que começa com meia dúzia de palavras abreviadas e alguns “kkk” ou “rsrsr”? Claro que tem os “smiles”, que são aquelas carinhas que tentam querer expressar o sentimento de quem está no outro smartphone. Depois de algumas mensagens as pessoas resolvem, finalmente, se encontrar e somente aí, conversar. Como sabemos, se tem uma coisa que tem pouca possibilidade de expressar algo complexo, são as palavras. Nada como o frente a frente para começarmos a difícil tarefa de conhecer alguém. Escrever é uma coisa, ouvir e ver os olhos de quem fala é muito diferente!

Então quando esse encontro acontece, aquelas poucas imagens e as ainda mais insignificantes poucas palavras criam um no outro uma ideia baseada em quase nada de quem é aquela pessoa que está na frente. É muito difícil uma expectativa ser atendida, afinal ela se forma tendo como base a própria pessoa, tendo, portanto, muito pouco a ver com o outro.

Daí, se tudo corre bem, em função dos tempos atuais, segue-se o primeiro “ficar” que, normalmente, inclui a relação sexual quase imediatamente.  O que, para os “antigos” levaria semanas e para os ainda mais antigos (alguns vivos até hoje), levaria meses ou somente após as juras no altar, acontece em 24 horas.

Não está em discussão se estava certo como era “nos antigamentes” ou agora. A questão é que tudo mudou de forma muito brusca em um tempo curto demais. Em poucos anos ou bytes, mudou o comportamento, mas as pessoas não mudaram tanto assim. Temos em nós nossos pais e avós, e os parâmetros deles estão no nosso subconsciente e essa realidade tão diferente ainda não se ajustou.

Então, em poucos dias conhecemos alguém e sem ainda nem saber seu sobrenome decor, já compartilhamos a intimidade, sem ainda, é claro, ter falado de assuntos realmente importantes sobre si. Tudo se esgota na fase inicial e dali a poucos dias, vem a dúvida de quem realmente é essa pessoa, se é a “certa” ou se a que respondeu a última chamada do aplicativo não seria melhor?

Assim, o mais fácil é simplesmente “desaparecer”, evitando que essa pessoa nos contate, e fique sem o mais importante: saber o motivo do rompimento desse relacionamento (se é que podemos chamar assim), tão frágil.

Para quem desiste e bloqueia o contato fica só alguma culpa de estar causando sofrimento à outra pessoa, mas isso se esquece logo, assim como os milhares de posts que vemos todos os dias, onde, quando muito e se for relevante, clicamos em um “curtir”.

Já quem foi deixado sem explicação, o que sobra é um vazio e uma diminuição brusca da autoestima, afinal a mente fica procurando as respostas e o que vem, normalmente, são defeitos que se passa a acreditar que se tem. Só isso explicaria o fato do outro ter simplesmente sumido. Só pode ser  por terem-se falhas  graves. São perguntas demais sem resposta.

Dessa forma, esse acúmulo de informações que recebemos diariamente vai nos distraindo de uma convivência mais humana e isso inclui estar junto, conversar e compartilhar silêncios. Quando isso acontece não é porque tem coisas que não se diz, mas se sente. O silêncio vem de cada um estar dando uma olhada em seu mundo virtual, se informando sobre o que seus amigos estão fazendo ou assistindo um vídeo que será esquecido minutos depois.

Nos grandes centros, alguns restaurantes estão incentivando, até dando descontos, para quem deixa seu celular na recepção e se dispõe a conversar enquanto  janta ou almoça junto. Claro, muitos abrem mão, afinal, como ficar durante uma hora desconectado?

Como nos ensinou Darwin, todas as espécies evoluem e se adaptam ao meio, mudando seus corpos de acordo com as necessidades, imagino que se nada mudar daqui a alguns milhares de anos os bebês nascerão sem boca, mas com seis dedos em cada mão.

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