outubro 2015

Grávido

               convite eduardoo

Sabiamente a natureza que não quis que os homens engravidassem. Foi uma boa medida, afinal não lidamos bem com dores e também não somos muito bons de acordar a cada duas horas. No dia seguinte tem trabalho e precisamos estar aptos a trazer comida para casa, já diriam os antigos.

Uma das maneiras metafóricas de experimentar uma gravidez é o processo de escrever e publicar um livro.

Como tudo, começa com uma ideia, quase um prazer, digamos intelectual, de deixar registrado aquilo que pensamos ou contar uma história, seja verdadeira, ficcional ou um pouco de cada. Se for esse o caso, objetivo  também é expressar nossas ideias e inquietudes, só que  colocando os personagens para falar por nós.

Depois que o texto está pronto e isso é como uma relação sexual que termina, começa o processo de gestação, que envolve a revisão (às vezes mais de uma), correções e tudo mais. Vão alguns meses nessa etapa e, muitas vezes, só o escritor, sua família e os profissionais envolvidos no projeto é que sabem que estamos grávidos. É bom não divulgar muito, já que problemas podem ocorrer e o projeto do livro ser abortado por algum motivo. Também é dolorido quando acontece por isso o sigilo faz parte para não gerar uma  ansiedade desnecessária.

Assim como os pais, a parte final do processo é de muita expectativa. Se para eles começa a procura pelo nome da criança, para o escritor é o momento de definir o título da publicação, a capa, cores, tipo de papel, diagramação,  fontes e outros detalhes. De tudo a escolha do título e da capa, para mim, é o mais difícil. Precisamos dizer e não dizer, levando o leitor, principalmente aquele que não nos conhece, a ter curiosidade de manusear o livro e se interessar por ele. A capa é como ver o rosto do bebê e por isso é também é muito importante e precisa de cuidado.

São muitas conversas, sugestões,  e a busca por desvendar o pensamento do leitor, de como ele se sentirá folheando o livro, esperando que encontre em alguma página aberta ao acaso, algo que o toque e transmita a ideia de que a obra poderá ser útil ou trazer momentos de prazer.

Depois é esperar que a impressão fique pronta e que tudo esteja conforme os modelos e testes. Nessa etapa, é como fazer os exames de ressonância magnética e ver o bebê inteiro, vendo aquelas imagens onde só o médico diz que vê alguma coisa com clareza.

 Marcamos o dia do lançamento que é como o parto, quando nosso “filho” ganha vida própria, saindo de nossas mãos e controle, ganhando sentido na mão de cada leitor.

O dia do lançamento é sempre especial e quando ele é concorrido, com muitas pessoas presentes é quase um prenúncio de que sua vida será longa e ele deixará “papai” satisfeito, caindo no gosto dos leitores e atendendo todas as expectativas.

Amanhã, estarei tendo o parto do meu segundo filho e estou convidando a todos. Assim como o anterior “Céu, inferno e outros lugares”, “61824….” tem como objetivo ajudar na busca do autoconhecimento, trazendo informações úteis para nossa vida. Mesmo podendo ser lido separadamente, sendo completo em si mesmo, é inegável que ele se une com o anterior, abordando assuntos e buscando reflexões que possam ajudar a nos entendermos melhor com a pessoa mais difícil que conhecemos; nós mesmos.

Nesses dois volumes, deixo minhas impressões como psicoterapeuta, buscando sempre uma linguagem fácil de ser entendida e é um daqueles livros que pode ser aberto em qualquer lugar, podendo ficar na sua cabeceira, para ser relido ou consultado.

“Nunca” é uma palavra que não gosto de usar, mas minha intenção com esse segundo livro é encerrar esse tipo de escrita e abordagem. Se, por acaso, um dia voltar a publicar, o assunto será outro e o estilo também.

Então, amanhã, dia 28 no Bistrô e Empório Richter, que fica ali, quase em frente ao restaurante Madalena, estarei recebendo os amigos e me despedir de mais esse “filho”, esperando que todos possam comparecer.

O horário é das 19hs às 22hs, para que, sem pressa, todos cheguem, tomem uma taça de vinho  e eu possa fazer uma dedicatória especial, esperando que o livro seja um bom companheiro.

As mulheres dirão que estar grávida é mais difícil e dolorido, concordo!

Mas como também foram quase nove meses, tem um nome que escolhi e é para ser a minha “cara”, me dei ao direito se me sentir, literariamente, grávido!

Verdadeiramente órfãos

“Ser agnóstico é como enfim tirar a venda, mas descobrir-se cego.”

                                                                                 Rodrigo Quito

Ograndepensador

Essa foi uma daquelas notícias que ninguém dá importância:

“O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou que até 2030 quase metade da população global terá problema de abastecimento. Isso vai acontecer porque, daqui a 17 anos, a demanda por água vai superar a oferta em mais de 40%.”*

Poderia citar tantas outras sobre outros tipos de esgotamento do planeta, mas vou deixar apenas essa, já serve para nossa reflexão.

Em outros artigos desse blog já  falei que a ideia que temos de Deus, como sendo um “pai” ou uma figura quase humana nos mantêm infantis por toda uma vida, já que no nosso inconsciente (estou sendo otimista), temos a ideia de um Deus que está cuidando de nós; aquela história de crianças que não sabem o que fazem. Como tudo que é dito mil vezes…

Assim, vivemos achando que se algo bom acontece é “graças a Deus”, e se for sofrimento “Deus sabe o que faz”, ou a ótima: “cada um carrega uma cruz que suporta o peso”.

Interessante observar que isso nos coloca sempre na condição de uma vítima, sem autonomia, ou seja, sempre terá quem me cuide, seja Deus ou um Anjo da Guarda qualquer designado para esse fim. De forma coletiva pensamos da mesma forma, e isso pode estar por trás do nosso descaso ou falta de consciência ecológica.

Esse alerta da ONU é baseado em dados científicos e existem outros estudos que mostram que até 2040, mais da metade da população mundial poderá morrer por problemas ligados a exaustão do planeta. Esses dados não são ficção científica, estamos falando daqui a 25 anos e, se não fosse pela destruição, provavelmente todos nós poderíamos estar vivos nessa data.

Cabe lembrar que o ser humano não faz parte da cadeia alimentar. Alguns dizem que estamos no topo, mas na verdade somos a única espécie que, se deixasse de existir, garantiria que esse pequeno planeta azul duraria  muito mais. Somos desnecessários aqui e deve ser por isso que só fazemos mal.

Existe um equilíbrio na natureza que o Homem insiste por ignorância e ganância, que no fim é a mesma coisa, afetar com sua conduta destrutiva. Nenhuma espécie destrói seu habitat, só mesmo o humano.

O sonho do mundo é viver uma vida de consumo, como os EUA,  por exemplo. Só que  se isso ocorrer fará com que precisemos de outros planetas iguais ao nosso só para dar conta da demanda dos recursos necessários para gerar energia e matéria prima para produzir tudo que queremos comprar.

Fico pensando se tudo isso não está acontecendo por termos a ideia de que nenhuma tragédia acontecerá, que nada se esgotará porque “Papai do Céu” está cuidando e certamente intervirá de alguma forma para que seus filhos não morram pelas suas burradas. Vai que Deus é um daqueles pais que não colocou o filho no mundo para sofrer.

Penso que não seja.

A história da humanidade está repleta de erros que custaram milhões de vidas e não percebi nenhuma intervenção divina. E se o conceito que temos de Deus enquanto humanidade estiver errado? Afinal foram pessoas como eu e você, algumas que hoje em dia certamente estariam acompanhadas por um psiquiatra, inventoras dessa ideia de um pai protetor, que nos cuida como crianças, a quem pedimos ajuda para atender aquilo que não nos sentimos capazes de conseguir ou para termos a desculpa para os erros crassos em nome do desenvolvimento e da felicidade geral.

Estamos destruindo o planeta e não teremos ajuda “externa”, pois se ela existisse teria evitado muitas das bobagens que já fizemos, como duas guerras mundiais e tantas outras no decorrer da história, para dizer o mínimo.

Qualquer ecologista principiante sabe que não existe crescimento sustentável, isso é uma mentira. Todo o crescimento ou destruição não pode ser recomposto. Da atmosfera aos lençóis freáticos, estamos matando esse organismo vivo que é o planeta Terra e morreremos juntos, esperando uma redenção. Temos prognósticos nada animadores sobre doenças que estão por vir, justamente pelo desequilíbrio que estamos produzindo em larga escala.

Então, estive pensando e cheguei a uma conclusão que uma das saídas filosóficas para o problema seria mudar o conceito de Deus. Já que ninguém pode discutir crenças, lá vai mais uma:

E se Deus apenas seja um impulso de vida e que depois estamos cada um por nossa conta? A isso damos o nome de “livre arbítrio”. Seja individualmente, seja coletivamente, estamos fazendo coisas para atender nossos desejos de riqueza e poder,  gerando resultados que teremos que assumir. Se a lei do Carma existir, estamos ferrados!

Dessa forma, talvez a solução possa ser nos tornarmos todos Agnósticos**.

Sei que isso faria com que as Igrejas de todos os tipos perdessem finalidade e muita gente teria que arrumar outro programa para os domingos pela manhã. Alguns canais de televisão perderiam parte ou toda sua programação, além é claro de muita gente, mais muita mesmo teria que fazer outra coisa para sobreviver.

O agnosticismo é a visão que mais tem crescido ultimamente no mundo, principalmente nos países mais desenvolvidos onde o nível cultural é o mais elevado. Obviamente, isso não é uma coincidência; afinal quanto mais se estuda, mais se consegue pensar com alguma lucidez e observar que algumas histórias de ninar fazem parte do mundo da fantasia.

Reconhecer que a natureza como um todo  é movida por uma “inteligência “ superior e que a vida é algo tão magnifico que não poderia ser causada por nenhum acidente, é um conceito religioso em si mesmo. Mas saber que isso possa ser tão grandioso que não possamos entender é muito justo pela nossa insignificância. Vivemos em um planetinha minúsculo em uma galáxia pequena diante de milhões de outras em um Universo sem fim. É como querer que uma ameba entendesse  os textos de Kant.

Sei que isso nos deixaria desamparados em um primeiro momento, afinal estamos acostumados à ideia de sermos cuidados, mas em seguida começaremos a assumir nossa responsabilidade de forma totalmente diferente. Viraríamos adultos e rápido.

Isso poderia trazer uma nova visão ecológica, bem mais fatalista, já que tomaríamos consciência de que somos responsáveis e estamos caminhando para a autodestruição. Toda e qualquer prática que levasse ao esgotamento dos recursos seria rechaçada de pronto e teríamos um lugar para viver por mais tempo. Mas a condição é assumirmos que estamos por nossa conta, sem ajuda.

Tenho um filho de 5 anos e saber que ele poderá morrer jovem por falta de água e ar para respirar atesta que somos um fracasso enquanto humanidade. Muito da falta de consciência vem não só da ignorância, mas da ideia que nada nos acontecerá, que estamos protegidos por sermos a “imagem e semelhança” do criador.

Tudo que existe é assim, de certa forma entregue ao acaso e a grande maioria das espécies que já habitaram esse mundo desapareceram. As poucas que podem ser consideradas antigas não sobreviveram por serem fortes ou qualquer qualidade superior, mas pela sua capacidade de adaptação. Isso é uma forma de inteligência que precisamos aprender com os lagartos, tartarugas e moluscos. Se eles estão aqui há muito mais tempo do que nós, é por possuírem um tipo de inteligência que nos falta. É uma questão de lógica,  é só observarmos os fatos e não há como negar.

Nosso problema, como diz sabiamente o filósofo Mario Sérgio Cortella ***, é nos acharmos “grande coisa”, de estarmos acima das consequências da destruição que promovemos.

Esse tipo de pensamento tem fundo religioso, de nos acharmos quase deuses, quando na verdade somos só um pouco melhores do que os macacos, com bem nos mostrou e provou Darwin.

Assumir nossa ignorância mais essencial, que nada sabemos sobre esse Criador, levar em conta que tudo pode ser totalmente diferente do que esperamos confortavelmente, possa ser a alternativa mais rápida para não nos destruirmos.

Não somos crianças que não sabem o que fazem, somos autores e responsáveis por cada ato e nisso não há quem possa nos perdoar.

Quando o Papa Bento XVI esteve visitando os campos de concentração de Auschwitz saiu de lá abalado e perguntou em voz alta: Deus onde você estava que deixou isso acontecer? Via-se no seu rosto que ele estava em dúvida na sua ideia de Deus e teve seu momento agnóstico.

Essa Força criadora estava no lugar de sempre, aquele que não tenho noção de onde seja e que pode ser em todos os lugares, para o que entendemos por bem e mal. E não fez nada, porque mesmo que Ele exista, não é da conta dele. Só mesmo estando cego por alguma crença para não perceber. Observe a história e me diga que se o meteoro que dizimou os dinossauros, as pestes e nossa ganância que matou milhões e continua matando tem sido impedida por alguém.

Sinceramente, você acha mesmo que tem alguém cuidando do seu ou do nosso destino?

                                 homem com ursinho de pelúcia

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*http://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2013/03/22/quase-metade-do-mundo-pode-ficar-sem-agua-ate-2030-alerta-onu.htm

**Agnosticismo – doutrina que reputa inacessível ou incognoscível ao entendimento humano a compreensão dos problemas propostos pela metafísica ou religião (a existência de Deus, o sentido da vida e do universo etc.), na medida em que ultrapassam o método empírico de comprovação científica.

*** Palestra disponível em:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=3rzvOqrtWIc[/youtube]

Sobre a questão da história do planeta e dos seres mais adaptados sugiro a leitura do livro: “Uma breve história de quase tudo” de Bill Bryson editado pela Companhia das Letras.

Voto de esperança

Pelo que soube, além de mim, outros cinco mil eleitores participaram da escolha dos participantes do Conselho Tutelar. Foi um número expressivo e minha primeira vez. Não me lembro de, em eleições anteriores (se houveram), tanta repercussão, bons candidatos e uma disputa acirrada pelas vagas. Votar sempre é bom até em reunião de condomínio e o clima no ginásio era de organização e de eleição mesmo!

Todos que lá estiveram assumiram a corresponsabilidade pelos seus candidatos e agora é esperar que o trabalho apareça e tenha a mesma divulgação nas redes sociais e na imprensa que a campanha eleitoral. Essa é uma boa forma dos assuntos da juventude ganhar um espaço positivo.

A questão da infância envolve uma grande complexidade e uma linha tênue separa aqueles que precisam de ajuda pelas dificuldades familiares que podem leva-los a caminhos sem volta, daqueles que, como em todas as faixas sociais, são um perigo para a comunidade. Assim como os bons, temos crianças e adolescentes maus por natureza e precisamos lidar com isso sem romantismo.

As notícias são preocupantes e conforme a publicação do Mapa da Violência, que se baseia em dados coletados pelo Ministério da Saúde, as faixas em que as taxas de suicídio mais cresceram no Brasil, entre 2002 e 2012, foram as dos 10 aos 14 anos (40%) e dos 15 aos 19 anos (33,5%).

Quando, nessa idade, crianças e pouco mais que isso querem morrer só pode ser porque o mundo dos adultos é mesmo insuportável e fico pensando que qualquer medida nesse sentido busca apenas atenuar o problema. Para solucioná-lo, precisamos mudar o conceito de sociedade que adotamos e, não só pelos dados acima, mas também pelos números que só crescem da venda de psicotrópicos, demonstra que perdemos a mão e estamos todos doentes.

A cada eleição, elegemos os políticos que nada mais são que o “Conselho Tutelar” dos adultos, afinal, são eles que fazem as leis e regem a sociedade dos maiores de dezoito anos e os resultados não são nada animadores. Não é um consolo, nem poderia, mas é só ver mundo afora para notar que esse não é um problema em verde e amarelo.

Só na semana passada, mais uma vez, nos EUA um atirador matou dez pessoas, incluindo crianças em uma escola e, na Inglaterra, um menino de 14 anos foi condenado a cinco anos de prisão por ter esfaqueado um professor negro e se vangloriado nas redes sociais, para citar dois de muitos. Por aqui, como fazemos parte dessa aldeia global, teve gás de pimenta em uma escola em Jaraguá do Sul. Fico me perguntando se esse aprendiz de terrorista precisa ser “entendido na sua revolta” ou deve ficar de “molho”, como na Inglaterra (país de primeiro mundo que adoramos idolatrar) para pensar no seu ato. Essa é uma das discussões que precisamos ter.

A verdade é que o modelo globalizado faliu por privilegiar a geração de riqueza em prol do gênero humano, enquanto que, de outro lado, e como consequência, cresce o radicalismo de quem vê esse modo de pensar a vida como vindo do “demônio” e corta cabeças e destrói relíquias para protestar. São dois extremos, portanto, errados; um mata ostensivamente, enquanto o outro leva as pessoas para o descontrole e o suicídio.

Não é fácil ser criança nesse mundo doido de adultos doentes.

Não sei até onde os eleitos do Conselho Tutelar podem ir, mas espero que a festa democrática desse domingo possa repercutir na maneira como lidamos com nossos jovens por aqui.

Mas uma coisa é certa; o grande comparecimento voluntário demonstra que nossa cidade está preocupada e interessada.  Estamos todos disponíveis para debater a questão e encontrar saídas, mas tenho certeza que a solução está nos adultos e o que vem acontecendo com a infância mostra que quem deveria cuidar é quem mais precisa de ajuda.

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