Quando nos perdemos…

    “Tem uma pergunta que me inquieta: o louco sou eu ou são os outros?”

Albert Einstein

 

 

Talvez tenhamos nos perdido quando nos expulsaram do paraíso por termos comido do fruto do conhecimento. Ao me ligar ao “mental” e transitório perdi o contato com a unicidade do divino. De lá pra cá, fico buscando a paz no conflito diabólico do que vejo e me obrigam a acreditar e do que sinto, mas que me dizem que não existe…

Talvez tenhamos nos perdido quando acreditamos que nosso amigo invisível (para os outros) da minha infância não existia, mas como? Se eu o via e falava com ele?

Talvez tenhamos nos perdido quando deixamos de ser crianças, quando víamos sentido em tudo sem nos preocuparmos com o certo e errado. Quando nos permitíamos sermos verdadeiros e não fazíamos concessões, afinal não tínhamos medo de não sermos amados, porque não víamos maldade nas pessoas.

Talvez tenhamos nos perdido nessas confusões que nem nos damos conta; quando lemos que Jesus teria dito que só as crianças merecem o reino dos céus, mas todos ao meu redor dizem que preciso ser um adulto responsável e, portanto, preocupado e angustiado… Quando na escola e na igreja dizem que somos todos iguais e vejo meus ídolos cheios de preconceitos e me cobrando que seja como eles, afinal isso é certo! Quando me dizem que devemos trabalhar em conjunto e depois me dizem que o mundo é competitivo e escasso, que se não chegar na frente, me faltará comida e abrigo. Mas se isso for verdade, não somos irmãos, mas competidores…

Talvez tenhamos nos perdido quando, na Idade Média quando as bruxas e os magos que sempre fomos, foram queimados porque viam uma ligação em  tudo que os rodeava e os papas e cardeais diziam que nosso Deus traçava nosso destino à revelia de nós mesmos e que só existia uma verdade…

Talvez tenhamos nos perdido quando acreditamos que o mundo tem fronteiras e milhões morrem lutando para manter essas divisões que só trazem sofrimento e separatividade. Quando aceitamos as barbáries das religiões passivamente porque devemos respeitá-las. Perdemos a nós mesmos quando acreditamos que possa existir só uma maneira de se viver e que quem não acredita na minha, está errado.

Nos perdemos quando não temos paciência de fechar os olhos e encarar nossos fantasmas, achando que todas as saídas estão do lado de fora, e não paramos de buscar essas soluções em uma ânsia sem fim.

Nos perdemos quando precisamos anestesiar a infelicidade, achando que uma dose, um doce ou algum remédio milagroso me trarão a paz que procuro.

Nos perdemos quando achamos que tudo pode ser adiado; uma visita, uma viagem, um abraço e um reencontro. Mesmo na eternidade não há tempo para tudo, meu egocentrismo nega a verdade de que são minhas escolhas que fazem minha estrada, me fazendo crer que tem “alguém” que guia meus passos e que sabe para onde está me levando.

Nos perdemos quando nos ensinaram que só a ciência é verdadeira, já que pode ser “comprovada”, quando crio ídolos humanos perfeitos. Galileu em sua genialidade dizia que os cometas eram apenas ilusão de ótica e hoje morremos de medo de que uma dessas ilusões nos destrua. Ele estava errado! A gramática e as metas da ciência são incompatíveis com certa espécie de verdade. Há níveis de realidade que são por demais misteriosos para o bom senso científico. A própria física que tem se encontrado com a filosofia demostra que o visível é apenas 1% da realidade que vemos. Continuamos perdidos preferindo desacreditar no 99% que os poetas, crianças e sábios povos primitivos habitam.

Nos perdemos quando perdemos a capacidade de me observar no outro, apenas me preocupando em criticar o que vejo nele e não gosto de lembrar que também sou, mas quando não percebo que tudo que admiro também é meu e ele está me mostrando para onde devo rumar.

Nos perdemos quando não observamos nosso corpo, que, cuidando da nossa evolução, nos diz que não estamos felizes e fora de rota através dos sintomas que insistimos em negar ou amenizar, persistindo um trajeto imposto de fora para dentro e que nem percebemos que não escolhemos.

Nos perdemos quando não assumimos que somos inigualáveis, e anulamos o que temos único para sermos iguais, padecendo da doença da normalidade que nos faz um rebanho. Pensando assim, precisamos mesmo que alguém nos conduza.

Nos perdemos quando temos medo de assumir as consequências de sermos livres e vivemos um roteiro e não é a toa que precisemos de muitos personagens para seguir passando pela vida sem viver.

Nos perdemos, como diziam os antigos gregos, quando não nos “espantamos” mais com as belezas e os milagres que passam diante de nós todos os dias porque estamos vivendo uma rotina doentia que não nos levará a nenhum lugar, a não ser a um médico e uma farmácia, justamente por vivermos dormindo quando deveríamos estar acordados para apreciar.

Nos perdemos quando reverenciamos homens que pregaram a liberdade de sermos quem somos aos domingos e, no demais dias, nos anulamos seguindo os conselhos dos que se dizem representantes deles…

Enfim…
Vivemos todos com medo, medo de não sermos amados, reconhecidos, acarinhados, protegidos, de perdermos as pessoas que amamos, de passarmos fome, etc. Mas é normal, afinal sempre é o medo o sentimento que temos quando estamos perdidos…