abril 2012

A Possível Leveza do Ser

“Eu já me dei ao poder que rege meu destino.

 Eu não me prendo a nada para não ter nada a defender…

 Eu não tenho pensamentos para assim poder ver.

 Eu não receio nada para assim poder me lembrar de mim mesmo.

 Desprendido e natural…”

                                 Carlos Castañeda

                                                                                                                                

As palavras do Mestre Castañeda, famoso por suas aventuras com seu Xamã Don Juan, fez história na década de 70 com seus livros e hoje é cult, principalmente para quem já ultrapassou a barreira dos cinquenta. Seus versos acima podem nos convidar a uma reflexão mais detalhada para procurarmos mais a fundo sua mensagem. Vejo grande significado nessas palavras, e convido o leitor a nos debruçarmos sobre elas, com atenção.

                Eu já me dei ao poder que rege meu destino…

Existe mesmo uma força ou inteligência que nos conduz? Penso que não. Se assim fosse, seríamos marionetes e nosso livre arbítrio não existiria. Nossa realidade é sempre resultado de ações, pensamentos e atitudes anteriores e nada na natureza acontece sem uma razão. É um fatalismo cômodo aceitarmos o “destino”. Se, por exemplo, o destino quis que seu pneu furasse, isso significaria que deveria ficar sentado a beira da estrada pelo resto da vida?

O poder ou “lei” que rege toda a existência é baseado em uma só palavra: Liberdade! Somos livres para tomar nossas decisões e arcar com suas consequências, sejam elas boas ou más. É incrível, mas tudo que pedimos ganhamos! Se não pedimos (atitudes) não ganhamos nada e esse é o limite que separa quem faz seu destino e quem reza pelas dádivas divinas. A confiança é a qualidade de termos certeza de que somos capazes de alguma coisa e nunca conheci ninguém confiante que, em algum momento, não tivesse arriscado e apostado em si. Confiança é resultado de atitude e não vem de graça para ninguém.

                   Eu  não me prendo a nada para não ter nada a defender

Isso me lembra uma das mais perigosas armadilhas que armamos para nós mesmos; nossas coerências! Ser coerente é, antes de tudo, um compromisso com o passado, ou seja, com uma pessoa que não existe mais. Sabemos que mudamos constantemente por tudo que vivemos, vimos, lemos, aprendemos, etc., e não é lógico mantermos compromissos assim. A coerência é contra a maior qualidade dos sábios que é mudar de ideia, respeitando a pessoa que somos hoje. A palavra correta é “congruência”, isso significa que minha opinião ou ação está sempre atualizada, respeitando todas as mudanças que passei. Nos cobram a coerência ao invés da congruência, isso me cheira a poeira. Como disse certa vez o poeta Carlos Drummond de Andrade: “Nada é mais velho que o jornal de ontem”.

                          Eu não tenho pensamentos para assim poder ver

Que são os pensamentos? Na maioria das vezes são condicionamentos que recebemos e nos impõe definições de maneira de ver. Nossas “avaliações” de tudo que nos acontece sempre vêm de segunda mão. Fomos domesticados, desde criança e nos impuseram os conceitos que são a base de nosso pensamento. Todos, por exemplo, querem não ter preconceitos, afinal sabemos que eles são a maior ignorância possível a algum ser humano, mas precisamos “pensar” nossos pensamentos preconceituosos para conseguirmos uma atitude mais igualitária. Como vemos tudo com olhos velhos dos avós, pais, professores, cultura e religiões não conseguimos enxergar a verdade. São tantos véus nos nossos olhos, como diria madame Blavastsky, que precisamos dos desprender deles para podermos realmente enxergar. Talvez Castañeda tenha lido Fernando Pessoa quando, em de seus melhores poemas, nos disse: “se quer ver não pense…porque pensar é estar doente dos olhos.” Perdemos situações e pessoas demais em nossa vida, justamente porque “pensamos” quando as vemos. Não pense, não julgue e veja!

                   Eu não receio nada para assim poder lembrar de mim mesmo

E estamos aqui, diante de nosso maior amigo e inimigo que é o medo. Ter receio é ter medo, e isso sempre nos diz que estamos diante de alguma mudança. Ainda não conseguimos entender que só evoluímos e crescemos diante do enfrentamento do medo, que é simplesmente um mecanismo de defesa que nos avisa que estamos rumando para o desconhecido. Sem medo poderemos “lembrar de nós mesmos” justamente porque poderemos rumar para nossa missão na vida que é colocar em prática nossos talentos. A única jornada a que viemos percorrer na vida é do nosso autoconhecimento, nenhuma outra! E nada dá mais medo do que vencermos tudo que encobre nosso verdadeiro Eu, já que temos “medo” de nos afastarmos do conhecido, das rotinas, relações que receamos perder nessa busca. Muitas pessoas passam pela vida sem terem vivido um segundo sequer, justamente porque nunca se encontraram. O tempo vai passando e esquecer parece inevitável, mesmo que seja de si mesmo!

                                         Desprendido e natural….

Naturalmente Ser…

A caminhada fica leve, justamente porque não temos bagagem para carregar. Como viver fica um êxtase quando estamos congruentes, não julgamos ninguém, não tentamos mudar as pessoas e fazemos do que somos nosso trabalho. Evidentemente que nesse estágio estamos saudavelmente desapegados, entrando no fluxo natural da existência, afinal entendemos o medo e ele vira sempre uma motivação para seguirmos adiante estrada a fora. A tensão não faz mais parte do nosso dia-a-dia e aproveitamos tudo ao máximo, fazendo de cada situação um aprendizado, simplificando as coisas.

Isso não é utopia, mas perfeitamente possível, mas para isso precisamos enfrentar nossos medos e buscar o autoconhecimento incessantemente e relaxar. Não tenha medo de você mesmo! Nelson Mandela disse certa vez que temos medo de assumir toda a nossa grandeza.

Difícil discordar, não acha?

A Alegria

“Deveríamos estar sempre embriagados.

Tudo depende disso é a única questão.

Para não sentirdes o terrível fardo do tempo, que vos abate e empurra para o chão, embriagai-vos incessantemente.

Mas com que?

Com vinho, com poesia, com virtude, como quiserdes. Mas embriagai-vos!”

                                                                                            Charles Baudelaire

Esse trecho que ilustra a abertura desse artigo foi escrito em 1857 e fazia parte do livro “As flores do mal” e causou um escândalo na época. Poetas são assim mesmo; eles conseguem ver além da realidade, e, normalmente, só são mesmo entendidos muito tempo depois. Portanto, se você achou que nosso poeta estava pregando a embriaguez pura e simples é um engano. Na verdade ele nos clama a trazermos alegria a nossa vida, já que sem ela, tudo fica realmente muito chato!

Hoje a ciência pode comprovar isso desde que passou a estudar o funcionamento do cérebro. Cada vez que sentimos prazer, e isso vai desde uma boa comida, um banho relaxante, sexo, etc, esses estímulos obedecem aos mesmos mecanismos de funcionamento, e são os mesmo circuitos cerebrais que estão em funcionamento, independente de onde eles vem, seja de um prazer gustativo, táctil, uma leitura, troca de afeto ou qualquer outro. O que realmente importa, é que ao chegarem ao cérebro esses estímulos produzem uma sensação de bem estar.

Além do relaxamento, tão importante para o descanso dos músculos e sistema nervoso as sensações prazerosas trazem o grande benefício de nos conectarem ao “agora” nos tirando das preocupações que não param de nos afligir, principalmente em relação ao futuro e que mantém nosso sistema orgânico em constante tensão. Estamos formando novas conexões cerebrais a todo o momento e criando novas. Tudo que repetimos reforçam as já existentes e, quando estamos tensos demais, vamos fazendo disso nosso jeito de ser, já que nossas percepções são sentidas pelas nossas conexões mais fortes.

Momentos de alegria e diversão podem ser encarados como verdadeiros remédios naturais que nos mantém saudáveis, então não fica difícil nós estabelecermos uma relação muito curiosa: nos desgastamos, trabalhando muito, nos preocupamos demasiadamente para chegarmos ao ponto de nos permitirmos esses momentos com mais frequência, de termos essa alegria, só que para isso, muitas vezes não nos damos o direito desse relaxamento, de simplesmente fazermos aquilo que nos dá prazer até que cheguemos a esse ponto. Estabelecemos que para podermos “relaxar” precisamos alguns números expressivos em nossa conta. A pergunta que fica é se mesmo quando esse valor estiver lá, finalmente descansaremos um pouco, nos permitindo “viver”, ou continuaremos com medo?

Hoje já sabemos que essas substâncias produzidas pelo cérebro durante os momentos de alegria (endorfinas e encefalinas) são as que nos permitem ver as “cores” da existência. Sem elas tudo seria cinza, exatamente como as pessoas com depressão definem como sentem a vida. Não existem remédios para isso, já que os antidepressivos apenas atenuam os sintomas mais graves desse processo e só mesmo uma mudança de atitude e novas maneiras de se encarar o dia-a-dia podem trazer uma cura, se assim podemos chamar.

Infelizmente buscamos essa alegria em atalhos que nos levam para lugares piores, como álcool, drogas e excesso de comida. O cérebro tem a plena capacidade de produzir essas substâncias agradáveis de forma natural, para isso basta apenas que nos permitamos, e para começar, respeitar nossos tempos internos também ajuda. Nossa cultura diz que todos temos que acordar cedo e trabalhar até o entardecer, mas já sabemos há tempos que cada pessoa tem um horário do dia em que é mais produtiva, também nos dizem quando devemos comer, dormir e qual o dia certo para descansar. Assim realmente fica difícil e não é a toa que a Organização Mundial de Saúde afirma que até 2020 a depressão será a doença que mais incapacitará as pessoas para o trabalho.

Sei que as coisas são como são e não estou dizendo que devemos abandonar tudo e viver de prazeres sem fim. O que estou dizendo, baseado nos estudos da neurociência, é que temos a obrigação, de em prol de nossa saúde, nos proporcionarmos bons momentos. Se você estiver esperando que alguém faça isso por você, esqueça!

O prazer indica que estamos bem! Tudo na sua hora, sem stress. No calor, uma sombra, na fome se permita comer o que realmente tiver vontade, mesmo que de vez em quando. Transgredir normas, pequenas, médias ou grandes, de vez em quando, não antecipará sua morte muito menos assegurará uma passagem sem volta para o inferno. Essa ideia de que devemos sofrer para nos purificar faz parte do conjunto de bobagens ainda não discutidas que vigoram por séculos.

Sempre que puder, aproveite de suas portas (cinco sentidos) e se beneficie de alegria e prazer. Faça das coisas inevitáveis que nos cansam, mas das quais não podemos nos livrar, aquilo que aumentará ainda mais sua sensação de alegria depois. Pesquisas mostram que a quinta-feira é o dia que as pessoas mais se sentem bem, afinal, o final de semana está chegando, já as segundas-feiras são recordistas em acidentes cardiovasculares, já que começa mais uma semana de tensão e problemas… Certa vez ouvi uma propaganda no rádio que dizia que, para o otimista, para cada cinco dias de trabalho tem dois de férias! Esse é um exemplo de reinterpretarmos as coisas, tornando-as mais leves. Como já escrevi anteriormente, só as pessoas realmente livres tem a capacidade de dar novos significados às situações.

Ninguém nasceu para sofrer, ou só para trabalhar de sol a sol. Nos fizeram acreditar nisso e olha como estamos. Veja uma criança e lembre que uma época você não precisava de quase nada para rir e estar bem! Nesse aspecto, é interessante observar que as pessoas dizem que a infância é uma ótima fase não porque se brinca, mas porque “não nos preocupávamos”!

 Nascemos para Ser, e isso inclui muita alegria, divertimento, trabalho, compromissos e prazer. Aliás, já reparou que tudo que é bom é pecado ou engorda?

Você pode estar dizendo que já sabe tudo isso, que já refletiu sobre o assunto ou leu em algum outro lugar. Só que se isso ainda não se transformou em atitude, significa que você não sabe nada!

Somos nossas atitudes, o resto é informação que se consegue até de graça, como nesse artigo, por exemplo…

Para saber mais: “A fórmula da Felicidade” Stefan Klein ed. Sextante

Espelho, espelho meu…

“A triste verdade é que a vida humana consiste num complexo de opostos inseparáveis – dia e noite, nascimento e morte, felicidade e miséria, bem e mal. Nem sequer estamos certos de que um prevalecerá sobre o outro, de que o bem superará o mal ou a alegria derrotará a dor. A vida é um campo de batalha. Ela sempre foi e sempre será um campo de batalha. E, se assim não fosse, a existência chegaria ao fim.”

C. G. Jung

Em alguns artigos anteriores passamos rapidamente sobre um importante assunto no que se refere ao autoconhecimento e vamos nos aprofundar um pouco mais nessa oportunidade. Esse assunto chama-se “Sombrae nos convida a reconhecer a abraçar nosso outro lado, afinal só assim poderemos nos perceber completos.

Tudo que recebe luz faz sombra. Se o Ego (face exterior) é a luz, a Sombra representa as trevas, e é isso que nos torna humanos, possíveis das maiores bondades e das mais cruéis perversidades. Se temos no ego essa imagem de perfeição que queremos transmitir para que nos sintamos adaptados e respeitados,  é na sombra que está o que não aceitamos em nós mesmos e que gostamos de ocultar – nossa agressividade, vergonha, inveja, raiva, etc. Como podemos concluir, nunca na verdade sabemos quem nos comanda, não é mesmo? Justamente por isso que a divisão (diabolos em grego) é nosso inferno, e evolutivamente buscamos a unidade (divinus) para atingirmos nossa completude.

Usamos muito sinônimos quando falamos dessa nossa parte tão desagradável: nossos demônios internos, luta contra o diabo, descida ao inferno, noite escura da alma e até de “crise da meia idade”, quando nos enfurecemos e ficamos “possuídos” fazendo e dizendo coisas nunca antes imaginadas nem mesmo pelas pessoas que nos conhecem desde sempre.

Portanto, a Sombra é nosso lado negativo, soma de todos os atributos que pretendemos esconder, já que se aparecerem oferecerão risco à imagem ideal que temos de nós mesmos e que desejamos que os outros também tenham. Lidar diretamente com a sombra é uma jornada que certamente leva a pessoa a patamares superiores e, realmente, nos transforma definitivamente.

A sombra começa a se formar na infância quando, principalmente a partir dos 2 anos, a criança começa a descobrir que, para conservar o amor de seus pais e outras figuras referenciais, precisa começar a esconder partes suas que eles não gostam. Quem já não ouviu essas frases entre tantas outras:

– Que feio! Você precisa aprender a dividir as coisas!

– Papai e mamãe ficam muito tristes quando você não fica quieto!

– Meninos não choram!

– Não é bonito agir assim!

Assim, vamos colocando todas essas partes nossas em um canto escuro de nossa psique, onde fica tudo que nos dizem que é “errado” e “feio”.  Aqui no ocidente, por exemplo, a cultura cristã jogou durante séculos a sexualidade na sombra de todos nós e o que vemos hoje é justamente uma exacerbada  sexualização em tudo (até em desenhos animados) porque nossa Sombra sempre está a nossa espreita para tomar conta de nós quando abrimos o flanco.

E como ela aparece, ou seja, como nos damos conta de nossa Sombra? Simples: sempre que estamos criticando alguém ou determinada situação! Em psicologia, Freud chamava isso de projeção, que acontece quando lançamos sobre as outras pessoas nossos conteúdos inconscientes. Nunca se esqueça: os outros são apenas espelhos nos quais nos vemos o tempo todo!

Imagino que você já deve ter comentado com algum amigo determinado “defeito” de alguém e esse seu amigo disse que isso não o incomodava. Mas afinal, porque incomoda a você e não a ele? Justamente porque esse “defeito” faz parte de você e não dele!

Quando, lá na infância, por exemplo, você foi reprimido(a) por não compartilhar seus brinquedos com o amiguinho e foi forçado a fazê-lo, seu egoísmo foi jogado na Sombra e é por isso que hoje um ato egoísta que você presencia causa tanta ira e, às vezes, uma reação desproporcional. Espero que esse exemplo ajude a entender a questão da projeção.

Para ajuda-lo a descobrir suas projeções e sua Sombra, faça o seguinte exercício:

Faça uma lista sincera de todas as qualidades que não aprecia nos outros (vaidade, ciúme, ambição, etc.). Quando sua lista estiver pronta (não se assuste se ficar muito longa, é assim mesmo), destaque as características que além de desagradar, mais repudia e despreza nos outros. Essa segunda lista será um relatório bem próximo da verdade sobre sua Sombra, quer você goste ou não, acredite ou não.

Evidente que nem tudo que criticamos nos outros são projeções nossas (a maioria é), mas sempre que nossa reação é demasiadamente forte é sinal de que algo foi mexido nas profundezas do nosso inconsciente. Fica fácil então perceber que quando estamos muito bravos com alguém, estamos dominados pela Sombra e não é a toa que precisamos pedir desculpas dizendo: ”perdi a cabeça e falei bobagens…” Na verdade, o que foi dito não foi pelo seu Eu de consumo externo, mas pela sua Sombra, e é o que realmente você pensa, só que se envergonha.

Outra oportunidade de nos conhecermos melhor em relação à Sombra é nos shows humorísticos e piadas. Quando todos riem e você não acha graça e ainda fica bravo, é sinal de que uma parte sua foi exposta pela piada. Já quando rimos muito, significa que a história fala da parte da nossa Sombra que gostaríamos de ser e não conseguimos, já que não combinaria com nosso Ego.

Mas como tudo tem dois lados, a Sombra também tem seu aspecto positivo. Quando admiramos determinadas qualidades em outras pessoas também estamos nos vendo no espelho. São potencialidades nossas que poderemos desenvolver se trabalharmos sobre elas. Isso acontece quando nos projetamos em ídolos, professores, artistas, etc. Assim também acontece nos relacionamentos afetivos, onde projetamos sobre o outro, e vice-versa, os atributos positivos inconscientes. É claro que, com o tempo, vamos nos “decepcionando”, que nada mais é do que descobrir que o outro (a) não é o que esperava, ou seja, igual a mim.

A Sombra é um assunto para um grande número de artigos, mas penso poder ter ajudado a ampliar sua percepção de si mesmo. Só as pessoas que trazem sua Sombra para luz é que conseguem seguir o preceito do “não julgarás”. Se minha Sombra estiver escondida, aparece o julgamento, se estiver consciente dela, ao invés da crítica, me solidarizo com alguém que sofre do mesmo mal que eu.

Tem um ditado popular que diz: quando apontamos um dedo para alguém, três apontam para nós.  Pura verdade, para o bem e para o mal!

Seminário de Prática Clínica e um vídeo

Restam ainda algumas vagas para o seminário de prática clínica que estarei ministrando em São Bento do Sul. Aberto a estudantes, terapeutas e público em geral interessado no tema. Lá, estaremos trocando idéias e falando dos fundamentos de como vejo a psicoterapia e três dos principais assuntos que levam as pessoas ao consultório.

Será um final de semana de troca de idéias e de discussão dos problemas humanos. Mais detalhes ao lado, na “agenda”.

Segue abaixo um trailer do filme sobre a sombra. Se gostar, pode assistí-lo completo no Youtube.

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=tdEadXBlkmQ&feature=related[/youtube]

 

E agora?

“Se você está realmente saudável e não sabe o que fazer agora, a vida perde todo o sentido. Quando uma sociedade é pobre ela é feliz, quando enriquece torna-se triste.”

Osho – O cipreste no jardim

Você já ouviu falar da angústia sem por quê?

Como psicoterapeuta já ouvi falar muitas vezes quando do meu primeiro encontro com muitos clientes. A história é mais ou menos essa, com poucas variações:

“Na verdade, não sei exatamente porque estou procurando uma terapia… Não tenho um motivo específico, nada de complicado está acontecendo. Tenho um bom emprego (ou sou meu próprio chefe), tenho família, filhos, um bom carro, casa própria. Mas sinto uma certa angústia, um vazio, uma tristeza sem motivo…”

Recebemos desde que nos tornamos mais ou menos conscientes, uma espécie de roteiro de felicidade que vem pelo meio cultural, família e, é claro, pela mídia do que é necessário para sermos “felizes” ou sermos reconhecidos como pessoas bem-sucedidas e respeitadas. O que vimos acima é esse roteiro e o que acontece é que quando atingimos as metas estipuladas ficamos esperando que essa “felicidade” chegue, junto com a tranquilidade e a segurança de nos sentirmos fora de perigo.

A questão fundamental é justamente que essa felicidade não está relacionada diretamente a atingirmos as metas materiais ou sociais, mas a vivenciarmos nossos talentos de alguma forma. Enquanto estamos na busca desses objetivos tudo vai bem, afinal estou imaginando que quando cruzar a linha de chegada estará esperando por mim tudo que me foi prometido. Só que, para aqueles que chegam (e isso está acontecendo cada vez mais cedo), onde está a recompensa?

Evidentemente que o conforto material é bom, nos proporciona oportunidades e tudo mais, mas então qual a razão de pessoas abastadas economicamente se sentirem angustiadas?

A resposta é que elas não estão vivendo suas “vocações”, aquele talento com que todos nascemos e que, quando colocado em prática, mesmo como um passatempo, nos preenche e faz todo o resto (que não traz tanta alegria assim) ser encarado com naturalidade. Nenhuma pessoa nasceu sem um dom especial, e é essa vivência que trará o que nos disseram que viria quando cumpríssemos a lista de bens e ações exigidas pelo status quo. O ser humano, como parte integrante da natureza, precisa estar sempre em evolução, buscando algo, tendo um objetivo a atingir, se realizando de alguma forma. Assim como podemos observar em qualquer fruto, quando termina o crescimento, imediatamente chega a morte…

Só os animais ditos irracionais é que vivem apenas para “sobreviver”, para nós, humanos, espera-se mais!

Muitas vezes, fico me perguntando se esse número crescente de doenças autoimunes, ou seja, produzidas pelo nosso próprio organismo, não seriam um sinal de que não estamos fazendo o que deveríamos fazer? Não há nada de errado em cumprirmos esse script, mas se ele não está nos preenchendo, nos realizando, porque não abrirmos espaço, iniciando nossa busca a fim de descobrirmos em que somos realmente bons?

Lembre que não precisa ser nada de espetacular, de grandioso ou inédito. Precisa apenas fazer sentir-se bem! Desde qualquer atividade artística, manual, esportiva ou mesmo solidária, mas que faça você perder a noção do tempo enquanto pratica.

Quanto mais conforto obtemos, mais focamos nossa força em querer mais esperando que o momento da tranquilidade chegue no próximo carro, na reforma, no título que melhorará nosso currículo, etc.

Desista, não é isso!

Não é tão difícil encontrarmos pessoas realmente felizes, mas independente de sua posição financeira, o que elas têm em comum é essa vivência, esse sentir-se “inteiro”, em paz consigo justamente por estarem sendo e vivendo, mesmo que em períodos curtos, sua verdadeira natureza. Imagine então quem faz do seu talento seu trabalho? Essas pessoas realizam suas atividades com alegria e o sucesso financeiro é sempre uma consequência. São pessoas realmente ricas, já que estão felizes com o que possuem, mesmo querendo avançar financeiramente (que é normal), não fazem disso a razão de sua atividade.

Portanto, se você, caro leitor (a) está nessa corrida, proponho um pit stop para refletir se seu trabalho ou estudo está lhe levando a essa realização, ou a ser mais uma vítima do “conto da felicidade” que continua levando alguns a terem crises, ficarem doentes, depressivos, angustiados, comendo e bebendo em excesso, etc.

Caso se descubra seguindo nesse roteiro, que não terá um final feliz, pense no que gostaria de fazer, seja como trabalho ou divertimento, que traga alegria e uma realização pessoal (nessa hora, por favor, não se preocupe com que os outros vão pensar) e traga um tempero agradável a sua vida!

Quantas pessoas conhecemos que passaram por crises agudas, doenças graves e que depois desse evento mudaram completamente suas vidas e hoje estão plenamente adequadas e alegres? Elas entenderam a mensagem da doença e fizeram as correções de rumo necessárias. Outras não tiveram a mesma sorte e fica a questão se não é essa a diferença entre os que se curam e os que perecem?

Não espere que seu corpo mande um doloroso aviso de infelicidade; traga alegria, divertimento e faça o que lhe faz bem!

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