outubro 2011

Além do NORMAL (2a parte)

Você não existe para se tornar um robô e não existe para se tornar igual a mais ninguém. Você tem que se tornar você mesmo! Essa é a maior coragem do mundo, porque a sociedade inteira tenta forçá-lo a se tornar outra pessoa.

OSHO – O cipreste no jardim

 

 

Continuarei nessa semana o artigo anterior de mesmo nome, com o intuito de aumentar a abrangência do assunto. Por isso, caso não tenha sido lido, recomendo que o faça (está logo abaixo), para ter o entendimento amplo sobre o tema.

Se realmente acreditamos que todo o ser humano tem potenciais inexplorados, talentos não utilizados e que essa vivência é fundamental para sua saúde, no sentido mais amplo do termo, e se concordamos que o meio social tem cumprido a função de impedir o florescimento desses talentos, o que fazer?

Penso que uma educação que tivesse essa finalidade seria a saída. O que sempre acompanhamos é o sistema educacional servir a ideologia dominante. Hoje, a escola se dedica a formar mão de obra para o capital, apenas isso. Freud disse certa vez, com acerto, que só a arte seria capaz de libertar o ser humano da angústia existencial. Evidente que Freud não contemplava aspectos mais transcendentes da existência em sua teoria, mas é inegável que quando estamos praticando alguma forma de arte, o bem que isso traz é inquestionável! Mas hoje, a aula de educação artística é relegada e tratada de forma pouco séria. Entendo que a arte, para uma criança é muito mais importante para o seu desenvolvimento do que ensinamentos de matemática, geografia ou ciências que poderiam esperar uma idade mais favorável. Mas como a idéia não é libertar, mas “domesticar”, a educação é tratada da forma que é.

Mais uma vez citando Maslow, ele defendia a idéia de que esse desenvolvimento poderia se dar mais facilmente em um ambiente “eupsíquico”, que seria um meio favorável a essa prática. Isso significaria a convivência com pessoas que valorizam o desenvolvimento da consciência (transpessoal), o que permitiria uma facilitação do processo, na medida em que, em uma atmosfera segura podemos abandonar nossas defesas e medos e nos dedicarmos a experimentação. Hoje isso acontece em cursos e workshops que, felizmente, tem sido cada vez mais ofertados.

Esse estado de desenvolvimento, que revoga os condicionamentos e levam a verdadeira liberdade, já que não mais existe o medo e o apego é chamado pelas Tradições religiosas de diversas formas a saber:

Ele e ele tornaram-se uma só entidade. (Abuláfia, Judaísmo)

O Reino dos Céus está dentro de vós. (Cristianismo)

Atman (consciência individual) e Brahman (consciência universal) são um só. (Hinduísmo)

Da compreensão do Eu decorre a compreensão de todo este universo. ( Upanixades)

Aquele que conhece a si mesmo conhece seu Senhor. ( Islamismo)

O céu, a terra e o homem formam um só corpo. ( Neoconfucionismo)

 

Nesse momento entra em questionamento a meditação como meio de se atingir essa compreensão mais ampla da realidade. Penso que a meditação, seja pela técnica que for, por si só talvez não seja suficiente e não para todos. De alguma forma, noto que as pessoas que tem usufruído mais dos seus benefícios já tem algum tempo de “caminhada”, ou seja, conhecimentos teóricos, mudanças pessoais já realizadas que fazem da meditação algo que se encaixa dentro de um contexto. Aqueles que ainda não atingiram esses pré requisitos sempre tem pouca persistência no processo e não conseguem resultados, nem os mais iniciais como uma tranqüilidade maior, mais tolerância e uma percepção consciente das agitações da mente.

Diz a tradição, que depois que a consciência é transformada e ganha uma estabilização não se chegou ainda ao final da jornada. Depois que as questões mais profundas são resolvidas, uma paz interior é alcançada, existe um direcionamento para o sofrimento humano de forma geral, conduzindo a um sentimento que só quem chega nesse estágio pode descrevê-lo que é a compaixão. Isso quer significar que a pessoa se volta para o “outro”, com a intenção de levar essa luz encontrada às demais pessoas. Esse é o estágio que Campbell chamaria do “retorno do herói” que na verdade é o que aconteceu com todos aqueles que contribuíram para a humanidade.

Maslow e outros transpessoalistas defendem a idéia que essa evolução é tão essencial quanto o abrigo e a alimentação e que quando isso não é atingido desenvolvem-se doenças de toda a ordem que nos seus sintomas iniciais nunca são detectados pelos exames, já que é uma espécie de mal estar existencial que se somatiza no corpo de alguma forma. O que vemos é a tentativa de sanar essa angústia com compensações de toda ordem; alimentação exagerada, compras, drogas,  e outras formas de agregar alguma coisa ao meu “Eu” que me faça sentir melhor, diminuindo o sofrimento.

Na verdade, só uma consciência ampliada pode me dizer quem realmente sou, o que realmente quero. Ao final desses dois artigos fica a idéia de que tudo começa, que toda a busca se inicia pelo auto conhecimento, da descoberta de quem sou, para só assim iniciar uma caminhada que possa me levar de “volta para casa”…

 


Além do NORMAL

“A humanidade está a meio caminho entre as feras e os deuses”

Plotino

 

 

Como tudo evolui, isso também inclui as idéias ou conceitos do que se entende por desenvolvimento humano. Assim, hoje, a psicologia transpessoal* defende que o desenvolvimento psicológico prossegue ao longo da vida, ou seja, nossas emoções, sentido de moral, missão de vida e, é claro, senso de identidade continuam a crescer no que entendemos por idade adulta. Dessa forma, a idade adulta está longe de representar uma maturidade psicológica, já que por esse conceito, nunca paramos de mudar ou avançar na evolução da consciência. O que atrapalha esse entendimento é o fato de termos sempre o mesmo nome e um conjunto de ações repetitivas que nos dão a ilusão de uma unidade.

Por esse ponto de vista precisamos rever o conceito de normalidade, que diante desse potencial de crescimento, passa a ser algo que poderíamos chamar de um crescimento limitado. Segundo Abraham Maslow: “Aquilo que chamamos de normalidade, é na verdade, uma psicologia da média, tão medíocre e tão amplamente difundida que nem a percebemos como tal”. No Brasil, o professor Hermógenes (que está em vídeo de um artigo anterior) chamou de “Normose” essa patologia da normalidade. Ele talvez tenha definido ainda mais profundamente o conceito de Maslow. Para ele, a normose é o conjunto de normas, conceitos, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir que são aprovados pelo consenso ou pela maioria de uma  determinada sociedade. Em outras palavras, torna iguais pessoas diferentes, potenciais diferentes e talentos diferentes. Carl Jung chamava de participation mystique a primitiva inconsciência partilhada pela massa da espécie humana, assim mais uma vez, vemos que a consciência mais elevada sempre necessitará de esforço e de busca. Nada mais justo do que o “prêmio” para quem trabalha por ele.

Porém a questão que me parece mais profunda é que a  normose ou forças que impedem  o crescimento da consciência dos indivíduos não vem apenas da sociedade, mas de nós próprios.

Como já escrevi anteriormente nossa mente recusa o novo pela sua função primária de manter a vida. Essa função não se preocupa se estamos felizes ou não, apenas se estamos sobrevivendo. Assim, como a evolução sempre nos remete a novas situações, a entendimentos e percepções novas da realidade, abandonando assim modos já conhecidos de viver, sentimos medo dessa mudança. Como resultado desse processo, negamos nossos potenciais mais avançados. Essa recusa de crescer foi tratada por psicólogos e filósofos com termos diferentes, mas que valem a pena ser descritos para entendermos melhor isso. Para Erich Fromm, famoso psicólogo humanista, chamava de “mecanismo de fuga”, enquanto Maslow chamava de “complexo de Jonas”, referindo-se a lenda bíblica do personagem que tentou escapar de sua missão divina. Já para Kiergaard esse medo tinha o nome de “tranqüilização pelo trivial”. Outros adotaram um nome que prefiro: “repressão do Sublime”. A idéia central, portanto, é que nossos melhores potenciais permanecem estagnados porque a sociedade os reprime e nós os negamos. Aliás, certa vez, Nelson Mandela disse que “temos medo de assumir nossa grandeza”. Ainda sobre esse aspecto, é natural entender essa resistência em evoluir, já que sabemos que todo aquele que atingiu um certo grau de desenvolvimento e compreensão sempre será um solitário em relação ao curso geral da espécie humana, e está condenado a esse abandono até que outros atinjam o mesmo nível de compreensão.

Pelo aspecto social, um dos mecanismos que favorecem esse processo é o que se chama “coação para o meio termo biossocial”, que nada mais é do que uma força que empurra os extremos para um meio termo. Mas como isso funciona? Na verdade todas as qualidades excessivas ou insuficientes são incentivadas a uma espécie de equilíbrio. Se de um lado, por exemplo, uma pessoa tem uma grande tendência para a liderança é incentivada a se controlar enquanto que alguém muito submisso será apoiado a se impor mais em suas ações. Dessa forma teremos um perigoso equilíbrio que torna todos muito parecidos.  Já sabemos que a sociedade por seus mecanismos culturais tem a força de conduzir as pessoas para dentro de suas normas com o intuito de mantê-las sob certo controle.

Assim, o meio social ajuda a colocar-nos dentro de suas normas, mas cria obstáculos quando alguém quer ultrapassá-las. Basta olhar a história e ver inúmeros exemplos de grandes sábios que acabaram seus dias assassinados por saírem do “padrão”, mesmo que tempos depois tenham sido reconhecidos, mas já sem oferecer mais perigo ao status quo.

Tudo isso serve para nos perguntarmos: quais as capacidades especiais que tenho? Quais as minhas habilidades que me diferenciariam do comum? E, obviamente, o que eu poderia fazer para descobri-las? A frase de Plotino que abre esse artigo serve de resposta, querendo dizer que estamos a meio caminho do pleno potencial que temos como humanos.

É sempre interessante notar a angústia que todas as pessoas chegam, mesmo quando cumpriram o seu “programa de sucesso”. Esse desconforto é justamente a negação dessa individualidade, desse progresso de consciência não buscado.

Para não ficar muito longo, continuaremos essa abordagem em outro artigo, por hora fica a busca pelas respostas e a reflexão de nossa anulação.

 

*Psicologia transpessoal é uma abordagem da Psicologia não aceita pelo Conselho Federal de Psicologia e a-cientifica, ou seja, não possui fundamento científico algum, entretanto é considerada por Abraham Maslow (1908-1970) como a “quarta força”, sendo a primeira força a Psicanálise, seguida do comportamentalismo, e do Humanismo. É uma forma de sincretismo teórico, que abarca conteúdos de muitas escolas psicológicas, como as teorias de Carl G. Jung, Maslow, Viktor Frankl, Fritjof Capra, Ken Wilber e Stanislav Grof. Surgiu em 1967 junto aos movimentos New Age nosEUA, pelo pensamento de Maslow, que dizia que o ser humano necessitava transcender sua Psique, conectando-se a outras realidades, procurando pela Verdade, de forma a entender sua existência e ajudar a si próprio. (Wikipédia)

 

Para saber mais, recomendo a leitura do livro “caminhos além do ego” da editora Cultrix

Vitória sem luta

O grande guerreiro vence sem lutar.

Sun Tzu – A arte da Guerra


 

Preste atenção a essa estória:

“Certa vez, na antiga China, o sábio Ki Siao Tzu aceitou adestrar um galo de briga para o rei da região onde morava. Passados dez dias do início do trabalho, o rei perguntou se o galo já estava pronto para a briga. O treinador respondeu:

– Ainda não. Ele está vaidoso e arrogante.

Duas semanas depois, já com alguma impaciência o rei voltou a perguntar se a galo estava pronto para os combates. Dessa vez, a resposta do treinador foi:

– Impossível! Ele ainda reage a cada sombra e a cada ruído.

Passaram-se mais três semanas. O rei dessa vez chamou Ki Siao a sua presença e, mal disfarçando a insatisfação com a demora, pediu novamente notícias sobre o galo. Ki Siao responde:

– Nada… Ainda está com o olhar muito irritado e ar de triunfo.

Finalmente, dez dias depois, o rei, mais calmo, perguntou pelo galo. Desta vez, Ki Siao respondeu:

– Ele está pronto! Quando os outros galos cantam, isso não o incomoda mais. Quando se olha para ele, fica indiferente, como se fosse feito de madeira. Sua força interior é perfeita. Agora, os outros galos já não ousam se aproximar dele, pelo contrário, desviam-se e vão embora.”

 

Segundo a filosofia oriental essa estória ilustra a maneira de lidarmos com nossos embates na vida. Para eles, só quem não sabe lutar é que busca o conflito, já quem sabe lutar, prefere evitá-lo, buscando a paz.

Normalmente, os inexperientes procuram mostrar a força que possuem, os tolos, por sua vez, procuram aparentar uma força que não tem. Já o sábio, ignora as demonstrações externas e apenas corta seus próprios hábitos de desperdício, favorecendo o crescimento de sua força interior.*

Vivemos em um mundo cercado de conflitos por todos os lados. De certa forma sempre foi assim, mas no ritmo da vida moderna isso é ainda mais intenso. Lutamos por espaço em tudo. Nos empenhamos para adquirir símbolos de poder que agreguem valor a nossa identidade como carros, casas e bens materiais diversos. Estamos em uma eterna competição, baseados em uma idéia de que existe escassez. Nosso colega que senta ao lado no trabalho é, antes de tudo, um concorrente que preciso de alguma forma vencer na disputa dentro da empresa. Na escola, incentivamos a busca por destaque pessoal desde cedo, preenchendo o dia da criança com atividades que visam prepará-la para um futuro competitivo(?) afastando-as do que realmente precisam que é brincar. Tenho tido oportunidade de conhecer jovens que, no final da adolescência já se apresentam depressivos e com crise de ansiedade. Ao contarem suas histórias, percebo que desde cedo, cumpriam uma agenda de tantos compromissos: escola, aula de idiomas, informática, etc…

Medimos nosso sucesso de forma equivocada analisando apenas o patrimônio pessoal, que, quanto mais cresce, tem a contrapartida do desgaste das relações. Tudo isso para, como os tolos, demonstrarmos uma força que, obviamente, não temos. E é simples de verificar: Pergunte a si mesmo qual seu “número” de tranqüilidade. Seria um milhão, dois, três com mais alguns imóveis???

Quando que seu guerreiro vai repousar?

A resposta é: NUNCA!

Sempre o medo estará espreitando, a insegurança; será isso suficiente para que possa descansar? Não há nada de errado com o conforto material, ele demonstra que vencemos nesse aspecto, o problema  é acharmos que ele é a resposta para tudo. Que a vitória nesse aspecto é a vitória final! Se fosse, as pessoas bem sucedidas financeiramente não teriam problemas de ordem emocional. E elas tem, tanto quanto os que ainda não prosperaram.

Independente de tudo é fundamental trabalharmos nosso “Eu” através da busca do conhecimento de si. Fortalecer o interior diminui o medo e pode trazer a riqueza de estar satisfeito com o que temos. Mas fomos educados de forma a estarmos sempre insatisfeitos, nunca é suficiente, querer mais e mais é motivo de orgulho em nossa sociedade.

É preciso entender que aprendemos sobre nós mesmos através do envolvimento com os outros e do enfrentamento dos desafios em nosso meio. Mas o grande e principal problema é que todos os nossos conflitos na vida nada mais são do que projeções do grande conflito interno. Sempre será muito mais fácil que meu inimigos estejam no exterior, assim posso com facilidade apontar os “culpados ” pelo meu sofrimento.

Só encontraremos nossa paz quando nos resolvermos interiormente. Assim como nos ensina a estória, quando o galo serenou seu interior, tudo que acontecia fora dele se transformou. Por isso, os conflitos que travo hoje significam apenas que minha guerra interna persiste. Quando venço o meu grande combate, acabam todos os problemas exteriores. As dificuldades que a vida traz são encaradas com naturalidade e nunca estragam o meu dia, a semana, etc.

Nunca nos preparamos ou fomos ensinados a buscar o fortalecimento interior pela única via possível; a do autoconhecimento. Pelo contrário, as escolas apenas nos ensinam a sermos competitivos, reforçando o dogma da escassez criando um paradigma de vida que só traz ansiedade.

Procure lembrar que sua paz interior nunca poderá vir de nada que seja externo, já que isso sempre pode ser perdido, ou seja, não depende de mim, o que só faz aumentar o medo. Posso assegurar que mesmo que um dia você chegue a seu “número” ideal, existirá uma sensação de vazio, aquela angústia sem explicação. Quando essa hora chegar, lembre que você ainda não procurou a resposta no único lugar onde ela sempre esteve: dentro de você, na maneira como encara e dá significado a sua vida.

Não lute tanto, aprenda com o guerreiro sábio. Esse equilíbrio interior virá quando o foco da luta voltar-se para dentro. Nesse momento não haverá nada mais a ser conquistado exteriormente. Você terá vencido a única e verdadeira batalha que veio travar; a luta contra você mesmo, contra os condicionamentos e os paradigmas que te foram impostos.

O Alcorão, que também é um belo livro que merece ser lido (sem preconceitos), mostra que existem duas “guerras santas”: a pequena, quando a luta deve ser contra os inimigos do Islã e a grande, quando lutamos contra nós mesmos. Só devemos nos ocupar da “pequena” depois de vencer a “grande”. Em outras palavras: se resolva primeiro, depois se preocupe com os outros!

Olha que boa notícia: Sua paz só depende de seu próprio esforço!

 

  • A estória acima faz parte do livro: “Três caminhos para a paz interior” de Carlos Cardoso Aveline. Ed. Teosófica

 

DEPRESSÃO – O grande Vazio

” Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas”

Martha Medeiros

 

 

A depressão é uma doença que compromete o organismo em todas as suas esferas, ou seja; a parte física, os estados de humor e, em conseqüência, o pensamento. Dessa forma a depressão muda completamente a maneira como a pessoa percebe o mundo e interpreta a realidade, expressa suas emoções e, principalmente vê suas perspectivas em relação ao futuro. Um dos grandes problemas é que, quando nesse estado, a pessoa tem absoluta certeza que essa maneira de ver e sentir a vida de forma tão negativa nunca terminará. Em outras palavras, ela pensa que  não existe possibilidade de mudança, é uma condenação perpétua a tristeza e a negatividade.

Nessa hora, infelizmente, muitas pessoas ligadas diretamente à pessoa deprimida não conseguem entender que se trata de uma doença, ficam forçando uma maneira de ver a vida mais otimista, acusam a pessoa de estar fazendo “cena” e dão conselhos dos mais diversos que só atrapalham. Procuram, por exemplo, citar pessoas ou situação profundamente tristes e desesperadoras para que o deprimido faça comparações com seu atual momento, dando a entender que sua situação nem é tão ruim… Isso só faz piorar as coisas. Os mais ignorantes ainda dizem que é “falta do que fazer”, precisa “de um tanque de roupa para lavar” e outras barbaridades similares.

É muito importante entender que mesmo parecendo apática, a pessoa deprimida está em uma ansiedade profunda.  A ansiedade, como já dissemos em artigos anteriores, é um pensamento negativo ligado ao futuro. Assim a pessoa deprimida só consegue  pensar seu amanhã da pior forma possível. É justamente por isso, que nos quadros depressivos a pessoa pensa na morte como uma solução para o sofrimento que, no entender dela, nunca mais vai ter fim.

Assim, se o futuro é visto de forma tão negativa qual é a alternativa? Simplesmente voltar-se ao presente, a atividades que exijam atenção. Não importa muito o que seja essa tarefa, desde de que exija concentração. Ler, caminhar, conversar, um trabalho não tão rotineiro; tudo ajuda muito quando mantemos o cérebro completamente ativo, impedindo que os pensamentos viajem em direção ao futuro e a sensação ruim volte. Já sabemos que nosso metabolismo está ligado diretamente aos pensamentos, ou seja, pensamento negativo é igual a sensações físicas desagradáveis e isso se torna um círculo vicioso.

Todos nós devemos evitar o tédio, já que a ciência prova que o cérebro se aborrece com a ociosidade. É como diz o provérbio popular: “mente vazia (entediada, rotinizada) é a oficina do diabo”. Quando as células cinzentas do cérebro não têm nada em que se ocupar, vêm os pensamentos negativados, o medo e o desânimo como conseqüência inevitável. Fugimos instintivamente disso, basta perceber que, quando o momento da vida não é dos melhores, evitamos ficar sozinhos e ligamos a televisão, o rádio do carro, etc. Nem percebemos, mas sabemos que estar em ócio mental é pensamentos negativos na certa!

Os estudos mostram que nosso cérebro desalinha sempre que temos tarefas fáceis demais ou que tenha uma complexidade acima da nossa capacidade. Assim, nossa capacidade de concentração cai sempre quandp o que fazemos é fácil ou difícil demais. Sempre que estamos concentrados o cérebro libera um hormônio chamado dopamina, que é um lubrificante do intelecto e também nos dá a sensação de prazer de estarmos fazendo algo que nos faz melhores.

Por isso, quando estamos fazendo algo que realmente gostamos, por mais que o corpo físico seja exigido, descansamos mentalmente. Isso se dá pela concentração que a atividade prazeirosa traz em comparação como o sofrimento e angústia da ansiedade. Evite, portanto, aconselhar férias para alguém deprimido, já que terá mais tempo para sentir-se mal pelos pensamentos negativos.

Trabalhos feitos na Europa demonstram que o melhor remédio antidepressivo é uma caminhada de 45 minutos 3 vezes por semana*. Além dos efeitos físicos e químicos que essa simples atividade física produz, estamos tomando uma atitude de enfrentar a tristeza e buscarmos uma melhora. No caso da depressão, a atitude é tudo!

Quem está deprimido não tem ânimo nem motivação, isso só vem como resultado do esforço inicial buscando a melhora, portanto entenda e não cobre demais caso você esteja convivendo com alguém em depressão.

Aliás, sobre depressão poderíamos escrever um infinidade de artigos abordando suas diversas faces, mas a idéia é buscamos um entendimento mínimo, já que pela quantidade de remédios vendidos é provável que sempre tenhamos por perto alguém nessa situação.

Infelizmente hoje em dia, em minha opinião, os remédios antidepressivos são prescritos com muita facilidade. Com quadros de tristeza, de uma distimia, os pacientes já saem dos consultórios com uma receita e, obviamente, assumindo que estão depressivos. A vida é feita de momentos tristes e alegres, e aprender a lidar com eles faz parte do desenvolvimento. Já a depressão é um vazio, uma ausência, falta ânimo para tudo, levantar, tomar banho, cuidar de si minimamente e outros sintomas que nada tem a ver com não estarmos tão felizes por uma fase da vida, uma perda etc. Por favor, não entenda que sou contra os remédios, sou a favor, desde que aplicados nos casos realmente indicados. O remédio não cura, ele apenas busca uma estabilidade mínima para que a pessoa leve adiante seus compromissos. Se o motivo que provocou a depressão não for enfrentado e mudado, a vida será sempre na faixa cinza do “vou indo…”.

Não se anestesiam emoções, aprendemos com elas fazendo-as de ponte para um futuro melhor!

 

  • Para saber mais sobre essas pesquisas leia “A fórmula da Felicidade” – Stefan Klein. Ed. Sextante

 

 

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