setembro 2011

A Primavera e o princípio Feminino

“Quem dera pudesse todo homem compreender, ó mãe, quem dera
Ser o verão no apogeu da primavera
E só por ela ser

Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher.”

Super Homem, a música –  Gilberto Gil

 

Começou a primavera, a mais feminina das estações, sendo uma boa oportunidade para falarmos do princípio feminino e para isso me valerei da mitologia grega e duas personagens femininas que se completam.

 

Conta a mitologia que havia uma deusa chamada Deméter, soberana da natureza, responsável pelas colheitas, flores e tudo que era gerado pela terra. Regia os ciclos da natureza e todas as coisas vivas. Deméter era uma deusa matriarcal, simbolizando o poder das entranhas da terra, que para os gregos, não necessitava de nenhum reconhecimento espiritual dos céus. Diz-se que ela ensinou aos homens como plantar e arar a terra e, as mulheres, como moer trigo e fazer o pão.

 

Deméter morava com sua filha chamada Perséfone em completa harmonia e felicidade, razão pela qual, tudo frutificava e a natureza brindava a todos com sua abundância. Porém, como nada persiste, um dia Perséfone saiu para passear e conheceu Hades, o temível senhor das trevas   (símbolo da morte) que se encantou por sua beleza. Hades, ofereceu a Perséfone uma romã (fruta utilizada por escolas iniciáticas por seu simbolismo) e a bela jovem apaixonou-se por Hades e foi morar com ele nas profundezas da terra. Ocorre que Perséfone foi embora com Hades sem avisar sua mãe, que pensou ter ela sido raptada. A paixão, às vezes é mesmo assim…

 

Enfurecida pelo desaparecimento da filha Deméter ordenou que a terra secasse, recusando-se a devolver-lhe a abundância enquanto não encontrasse sua filha, saindo pelo mundo a procurá-la. Deméter nesse momento nos mostra como temos dificuldade de aceitar as mudanças bruscas em nossa vida, já que, mesmo depois de saber que sua filha tinha ido de vontade própria e que estivesse sendo tratada com todas as honras de rainha pelo esposo, permanecia irredutível em sua posição.

 

Os deuses do Olímpo, preocupados que todos morressem de fome pela postura de Deméter, pediram que Hermes intercedesse e tentasse um acordo. Hermes, faz-tudo e padroeiro dos embusteiros, encontrou uma saída  mediada para o fim do conflito.

 

Assim, ficou decidido que durante nove meses do ano Perséfone ficaria com a mãe e durante três meses, desceria às profundezas da terra para estar ao lado do marido.

 

Embora o acordo esteja sendo mantido, até hoje Deméter ainda não se conforma totalmente com ele. Assim, durante os três meses que a filha fica longe, sua tristeza faz com que as folhas caiam, a terra esfrie e nada produza… Porém, quando Perséfone vem ficar com sua mãe, a alegria de Deméter faz as flores desabrocharem e, estamos na primavera…

 

Os ritmos dos ciclos menstruais, as mudanças de humor que o acompanham, fazem da mulher intuitiva, aceitando e mostrando que é possível entender o lado irracional da existência. O temperamento da mulher, somatório de Deméter e Perséfone, estão relacionados aos ciclos da natureza, muito mais do que com a lógica, afeita ao princípio masculino. Por isso, quando um homem se liga de forma criativa as emoções, está em contato com seu lado feminino que Jung chamava de Ânima.

 

Simbolicamente, Perséfone representa o espírito preso no ventre da matéria (por isso se apaixonou pelo Deus da morte), enquanto Deméter simboliza o espírito renascido da carne, dando origem a uma nova entidade que resulta de ambas. Perséfone é a intuição, afinal ela mora três meses em “outro mundo” e Deméter é a ação e conclusão, representada pela colheita, final do processo.

 

Enfim, sobre isso poderíamos falar muito, mas a proposta é sempre uma reflexão para enriquecer nosso auto conhecimento. Por isso, sempre que a primavera chegar, lembre que a filha que habita o mundo dos mortos vem visitar sua mãe que mostra sua felicidade na exuberância das flores e frutos. Pode acontecer dos primeiros dias demorarem a chegar, mas não se preocupe, Perséfone sempre vem, mas também faz parte do princípio feminino um atraso, vez por outra…

 

A semana e a música

Nessa semana, estarei na quarta feira no Centro de Educação Infantil Robson Da Silva Breis. Estaremos conversando sobre como somos, porque somos e o que podemos fazer para mudar. No final de semana, em São Bento do Sul, estarei ministrando um seminário de numerologia, onde o assunto são os estados de consciência e sua evolução, além de aprendermos sobre nós mesmos, como entender melhor outras pessoas e como ajudá-las com esse saber tão antigo. Detalhes na agenda ao lado.

No clip a belíssima letra e música de Gilberto Gil que mostra ao homem que encontrar seu equilíbrio pode estar em seu lado feminino. Aliás, sobre isso, falaremos no futuro.

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Balada do louco

A música que ilustra o artigo dessa semana, é cantada por Nei Matogrosso com a intensidade necessária….

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A LOUCURA

Se o homem persistisse na sua loucura, tornar-se-ia sábio.

Willian Blake


Afinal, o que é loucura? Segundo a Wikipédia a definição é a seguinte:                                                Quem melhor do que Salvador Dali para exemplificar a arte como manifestação da loucura interior?

“A loucura ou insânia é, segundo a psicologia, uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados “anormais” pela sociedade. É resultado de doença mental, quando não é classificada como a própria doença. A verdadeira constatação da insanidade mental de um indivíduo só pode ser feita por especialistas em psicopatologia.

Algumas visões sobre loucura defendem que o sujeito não está doente da mente, mas pode simplesmente ser uma maneira diferente de ser julgado pela sociedade.”


Os sublinhados são meus.

 

Todos nós, normais (se é que isso seja possível), temos um Louco dentro de nós. Aquela parte sempre condenada pela mente consciente que, cheia de dogmas de certo e errado, como deve e não deve ser, nos empurra para uma vida de repetições que anula, muitas vezes, o que temos de melhor. Nosso Louco interior nos convida para a verdadeira vida que realmente queremos ter, sempre bloqueada pela mente reflexiva sempre muito cautelosa e cheia de medo.

A natureza mais profunda desse Louco é muito movida por instintos que nunca se bloqueiam por conceitos culturais. Podemos até dizer que ele é inocente e amoral, na medida em que simplesmente deseja e quer independente de ser “certo ou errado”. Assim, esse Louco faz essa ligação entre o nosso mais profundo Eu (caótico) e o Eu consciente, ordenado pelas regras e leis.

Essa natureza é muitas vezes cristalizada nas obras de arte, da música, poesia, etc., onde o artista se permite, sem bloqueios, fazer essa transposição do impossível para o mundo “real”.

Antigamente todas as famílias abastadas e a realeza tinham dentro de casa um “louco” ou “bobo” que se encarregava de, simbolicamente, manter por perto essa nossa parte que somos obrigados a negar para sermos aceitos e reconhecidos como “normais”. Para Sallie Nichols, a crença de que “manter um louco na corte afastava o mau olhado” não é uma superstição antiquada, mas representa uma verdade psicológica de grande valor.

Atualmente, nos permitimos dar vida a nosso Louco no carnaval e outras ocasiões, onde a própria sociedade cria datas para que demos vazão a essa loucura e, depois, voltemos à vida normal, com as regras de sempre.

Se nos permitirmos ouvir nosso Louco, talvez ele possa nos ensinar a voar e nos ofereça uma espécie de salvo conduto para viagens semelhantes, desde que o mantenhamos arrumados, sem perder a sua inocência. Interessante lembrar que, sempre que de alguma forma estamos cometendo alguma transgressão (de qualquer tipo), de acordo com o que é estabelecido como certo ou errado, nos sentimos muito vivos, e sempre dizemos: “estou fazendo uma loucura…”.

Porém é normal que nosso Louco seja posto de lado, afinal a insanidade é considerada algo muito grave hoje em dia, já que nos tira do controle, ou do controlável. Por isso, não é de se estranhar que cada vez mais se use álcool e outras drogas para podermos nos permitir uma loucura que, de “cara limpa”, seria impensada e mais do que proibida. Ou seja, quanto mais a sociedade for impiedosa com o considerado fora do normal, mais os recursos químicos serão necessários para substituir uma coragem de ser diferente.

Dito isso, penso que devemos dar mais ouvidos ao nosso Louco interior e reconhecermos nossa loucura e  sempre lembrar que muitas coisas e comportamentos hoje considerados normais, eram loucura há algum tempo atrás. Ria de si mesmo quando seu Louco se manifestar, e lembre que ele pode ser sua parte mais saudável, afinal se o mundo que vivemos está doente, não seria a loucura solução?

 

 

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