agosto 2011

Porque DECIDIR é tão difícil

O pior naufrágio é não partir…

Lema dos navegadores espanhóis da idade média

 

 

Tomamos decisões a cada momento, mesmo que nem percebamos que estamos fazendo isso. Nossas ações rotineiras nos tiram essa consciência, mas cada caminho, ligação telefônica, olhar para um lado ou outro, enfim, a cada ato nossa vida pode tomar rumos inimagináveis.

Porém existem ocasiões em que temos uma maior consciência de que estamos optando por um caminho, e até ocasiões da vida que são marcadas por escolhas. Nessas horas, a maioria de nós hesita muito antes de tomar uma decisão. Mas, afinal, porque essas decisões são tão difíceis e, às vezes, demoramos tanto para fazer a opção?

Penso que nossa grande intenção é ter a certeza de que estamos optando pelo caminho correto. Buscamos ter certeza de que não nos arrependeremos no futuro da escolha feita. Mas isso é realmente possível?

Claro que não! E essa impossibilidade leva em consideração dois aspectos absolutamente imaginários e irreais: o passado e o futuro.

O passado, através de minhas vivências anteriores, tem contra si o fato de que não sou mais aquela pessoa que teve as experiências em questão. Ocorreram em etapas anteriores de minha caminhada evolutiva, quando tomei decisões com os recursos que dispunha naquele momento, o que, com o tempo muda, já que aprendi com as experiências vividas.

O futuro muito menos, já que tento antever uma série de eventos e conexões futuras que dêem base a minha opção. É quase como acertar em uma loteria, já que espero ter controle sobre uma grande quantidade de eventos, muitas vezes envolvendo pessoas, situações, etc. Tudo isso precisa dar certo para que minha decisão seja coroada de êxito.

Qual então a saída? Já que não podemos levar em conta o que não mais existe (passado) e o que não sei se acontecerá (futuro) a única maneira é usar apenas o presente, quem sou hoje, o que quero hoje, o que gosto e prefiro hoje. Só que para isso, existe um ingrediente fundamental: o auto conhecimento. Se ainda nem sei quem sou, como posso fazer uma escolha coerente? Esse, em minha opinião, é o principal motivo que leva as pessoas a “empacarem” diante de algumas escolhas. Conversam muito, ouvem tantas opiniões que aumentam a dúvida ainda mais.

Qualquer decisão é melhor que a indecisão! Depois de iniciada a caminhada, não há nenhum problema em corrigir rumos, mas decidir é muito importante, com consciência do meu presente, o único aspecto realmente existente e confiável.

Além é claro de que a escolha, nos compromete com seu êxito, já que rumamos em direção ao objetivo. Decida e não olhe para trás, afinal, como dizem, caminhar olhando para trás nos impede de vermos os obstáculos que estão à frente, na sua maioria, fáceis de vencer. De mais a mais, quando não estou convicto, qualquer mínimo entrave já é visto como “sinal” de que escolhi errado.

Assuma a responsabilidade de suas escolhas! Só assim vem a confiança e o prêmio de nos sentirmos dono de nossa vida.

 

PERDAS

Diga teus apegos e te direi o quanto sofres.

Roberto Crema

Nessa semana, quero refletir com você sobre a questão das perdas. Dentro da dualidade da vida, as perdas só acontecem porque, antes houve ganhos. Tanto um como outro fazem parte de fato de estarmos vivos.

A vida, por definição, é algo que tem um fluir onde a mudança é inevitável. Mudamos fisicamente a cada momento (como já coloquei em texto anterior) e, portanto, de certa forma também “nos perdemos” na medida em que o Eu que era já não mais existe, seja pelas experiências, biologia, conhecimento, relações, etc. que nos transformam, quer queiramos ou não. Acredito que um dos motivos maiores do sofrimento das pessoas é a não aceitação dessa mudança, de querermos “congelar” nosso Ser em determinado momento da vida, com o que temos a nossa volta, em que estamos mais felizes e nunca mais mudarmos. Nessa hora, já começa um medo de “perder” esse Eu que está feliz e lá vem a angústia e ansiedade…

Essa saudável insegurança do processo de se estar vivo, que sempre nos torna criativos, dedicados a algo, motivados, só nos faz bem! Mas não, buscamos a anti-vida, a estagnação.

E é justamente aí, que entra nossa relação com tudo que entendemos que seja nosso, ou seja, que sou dono, que me pertence. Nesse rol além de bens materiais, posição social, temos nosso “patrimônio” de pessoas: amigos, pais, filhos e relacionamentos afetivos. Não conseguimos  pensar na idéia de que essas pessoas nos deixem, nem que seja quando morrem. Vinculamos a sua presença a nossa volta, nossa influência sobre elas como a razão de nosso bem estar. Logo, perdê-las, seria perder esse bem estar, e aí vem a dor quase insuportável quando alguém morre, se afasta, etc.

Não precisamos ir muito longe para ligar sem esforço tudo que foi dito até agora ao conceito de APEGO. As tradições orientais trabalham isso há séculos, mas aqui no Ocidente nossas principais religiões, logo, nossa cultura, fazem o contrário; enfatizam o apego valorizando uma cultura de sofrimento, afinal se não sofro é porque não amo… Que absurdo!!

Evidentemente que o que entendemos que seja morrer, por exemplo, também faz parte de apego. Se vejo a morte como fim, reajo de um jeito, se vejo como a continuidade da vida de outro modo, me consola. Isso explica, principalmente no Brasil, a imensa quantidade de cristãos que freqüentam outras religiões ou filosofias que tratam a morte não como um fim, apesar de isso se opor diretamente a religião “oficial”. Muito irônico!

Será que se me propor a aceitar as inevitáveis mudanças, que as pessoas possam deixar de estar do meu lado, seja por o motivo que for, isso me fará infeliz? Tenho repetido que nunca essa plenitude de estar em paz comigo chegará enquanto depender de pessoas ou situações para isso. Meu bem estar não pode estar fora do meu alcance. Buda em suas quatro nobre verdades deixa isso muito claro e até hoje não entendo como seu pensamento (não falei do budismo, da religião) não é estudado nos meios acadêmicos de psicologia, onde os ícones eram e são pessoas realmente inteligentes e que trouxeram contribuições, mas que estão a milhares de quilômetros da evolução de consciência que ele atingiu.

André Gide, filósofo e escritor, observou: “A infelicidade resulta de olhar ao redor e controlar o que se vê.”

Não há como estancar o fluir da vida…deixe que o que termina se vá…só assim você terá braços para abraçar o novo. Isso não quer dizer que não amamos, valorizamos ou sentimos falta, apenas que entendemos que a vida é assim! Não adianta resistir. Adianta?

 

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