agosto 2011

Amigos fiéis

Os animais são amigos muito agradáveis. Não fazem perguntas nem manifestam desaprovação.”

George Eliot

 

Cada vez mais, os animais têm sido utilizados com finalidade terapêutica, com ótimos resultados. Alguns (adestrados) participam em hospitais em um programa que tem demonstrado resultados muito eficientes.

De outra parte, segundo pesquisa recente, o mercado de acessórios e afins para animais ultrapassou no Brasil a marca de milhões anuais. Nos EUA, só para termos uma idéia, 63% das casas tem seus “mascotes”. Não há como negar que, cada vez mais, os animais têm ocupado um espaço cada vez maior na vida das pessoas.

A questão mais interessante é que esse espaço é ocupado para suprir carências afetivas profundas (na maioria dos casos), basta ver o estado de desconsolo quando alguém perde seu “companheiro bicho”.

Os animais de estimação sabidamente são capazes de trazer conforto, principalmente em momentos ou fases de solidão. Nessas horas, a troca de carinho e a atenção recebida do animal ajudam na liberação de hormônios importantes, atenuando o sofrimento. Além disso, os animais têm uma incrível capacidade, que está em desuso entre os humanos: perdoar! Por mais agressivo que possa ser o dono eventualmente com o animal, transferindo suas neuroses e frustrações, o “amigo” perdoa rapidamente e está novamente sempre disponível para uma brincadeira, dando plena atenção a seu dono. Isso sem contar que a maioria deles (cachorros, gatos, cavalos, coelhos e outros) são dotados de grande capacidade emotiva. Não é a toa que seus donos dizem que “só falta falar”. E ainda bem que não falam, já que eles podem nos ensinar que as atitudes valem muito mais que o discurso.

Penso que esse aumento do interesse pela convivência com animais de estimação esteja diretamente ligado ao isolamento a que estamos cada vez mais nos sujeitando pelo tipo de vida que levamos atualmente. Estamos em processo de solidão cada vez maior, mergulhando em nosso próprio mundo com nossos aparelhos cheios de recursos que dispensam a convivência, a troca de idéias e de interesse pelo outro.

É fácil de entender, já que os animais não nos frustram nem decepcionam. Podemos compartilhar com eles nossas angústias, segredos e desejos, sabendo que receberemos em troca um olhar de “eu te entendo”, sem julgamentos, críticas ou conselhos que, na maioria das vezes, não estamos dispostos a ouvir. Como não criar uma forte ligação emocional com um “amigo” assim?

Já está mais do que provado que a convivência com os bichos nos faz muito bem, com benefícios em uma gama imensa de doenças e dificuldades de toda a ordem. Mas sempre acho que nós, humanos, poderíamos fazer melhor que eles, afinal, temos mais recursos para isso, ou não temos?

Estamos doentes emocionalmente pela maneira que vivemos. Para isso é só buscar informações sobre a quantidade de antidepressivos e ansiolíticos vendidos atualmente no mundo todo.

Tudo a favor dos bichos! Mas onde vamos parar?

 


o Sal da Terra

Música de Beto Guedes que faz trilha do post dessa semana. Nem precisaria dizer mais, o poeta já cantou tudo!

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Liberdade X Igualdade

“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”.

Mahatma Gandhi

O famoso lema da revolução francesa “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” me faz pensar na possibilidade de encontrarmos esse equilíbrio na convivência entre as pessoas. Mas isso seria mesmo fácil de realizar?

Penso que não, afinal quando buscamos a liberdade como fundamento de qualquer sociedade, temos visto que aumenta muito a desigualdade entre as pessoas. Observamos isso hoje em dia em nosso mundo globalizado, com a fachada de liberdade patrocinada pelo capitalismo feroz que vivemos. Nunca houve na história, em meu entender, uma tamanha distância entre os ditos ricos e pobres. As fronteiras “desapareceram”, mas a exclusão aumentou como nunca.

Não é possível liberdade com oportunidades desiguais, afinal os detentores de recursos estão muito aptos ao acesso as oportunidades, agora não mais só em seus países, mas com portas abertas no mundo todo. Enquanto isso, os demais ficam cada vez mais alijados de quaisquer perspectivas, já que a globalização exige cada vez mais estudo e equipamentos de toda ordem impossíveis aos que tem pouco e lutam apenas para sobreviverem. Sobreviver não é viver, nunca foi! Por isso, entendo que o capitalismo falha pela exclusão e frieza da perspectiva do lucro sobre o social.

Por outro lado, para garantirmos oportunidades iguais a todos, o que a história nos mostra é que se torna necessário diminuir a liberdade das pessoas. Por mais paradoxal que possa parecer, como observamos nos modelos socialistas e  comunistas também mal sucedidos, pelo menos até agora.

Diante das experiências que a civilização tem vivido, é lícito perguntarmos por que, tanto a liberdade quanto a igualdade se mostram antagônicos quando deveriam ser complementares?

Parece que, obviamente, faltou a fraternidade que seria não só o elo de ligação, mas  que permitiria que funcionassem em conjunto! A fraternidade respeitaria esse direito as oportunidades bem como diminuiria essa distância abissal entre os abastados e miseráveis desse mundo pelo entendimento de que não se pode viver em paz enquanto, pelas estatísticas, três mil pessoas morrem de fome por dia.

Tudo isso não aconteceria se mudássemos nossa perspectiva. Desde épocas imemoriais os seres humanos têm sido criados por uma visão de vida voltada para a escassez, de que não há o suficiente para todos. Isso nos torna competitivos e, as escolas, desde cedo vão incutindo essa mentalidade nas crianças. Precisamos “chegar na frente” sempre, por que, segundo dizem, as oportunidades são poucas. Será que são mesmo?

Sobre isso poderíamos falar muitas e muitas horas. Posso estar sendo utópico e chamado de sonhador. Talvez seja mesmo. Não sei como fazer essa fraternidade funcionar na prática, mas o que sei é que do jeito que está não funciona mesmo!

O ser humano luta pela sua sobrevivência e isso é instintivo. Fica fácil observar a doença do modelo que vivemos pelo investimento que precisamos fazer em segurança. Estamos nos enclausurando cada vez mais para fugir dos bandidos ou dos excluídos?

A filosofia tem se debatido há séculos no dilema se somos bons ou maus por natureza. Eu particularmente acho que o bem é um potencial que todo o ser humano tem e que precisa de estímulo para se desenvolver, afinal isso é evolução, sendo, portanto, uma conquista.

Mas imagino como é difícil desenvolver esse potencial com tamanha injustiça e desigualdade. Não é fácil ser bom, honesto, correto e moral com fome e falta de perspectivas. Tem vezes que acho muita graça quando dizem que somos “civilizados”…

Aguardo suas opiniões.

 

 

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